tag:blogger.com,1999:blog-52623143792447167112024-03-13T04:49:08.040-07:00Abraxas | Floriano Martinshttp://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/http://www.blogger.com/profile/15464755224800829626noreply@blogger.comBlogger31125tag:blogger.com,1999:blog-5262314379244716711.post-11476860865421574202015-04-09T11:30:00.000-07:002015-04-09T11:32:43.528-07:00RENATA SODRÉ COSTA LEITE | Uma conversa com Floriano Martins<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-mXf7hMRsySA/VSbErZqASlI/AAAAAAAACEM/RB0K8njll3Y/s1600/Floriano%2BPortrait%2B%E2%82%A2%2B2015%2BAdriel%2BContieri%5Ba%5D.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-mXf7hMRsySA/VSbErZqASlI/AAAAAAAACEM/RB0K8njll3Y/s1600/Floriano%2BPortrait%2B%E2%82%A2%2B2015%2BAdriel%2BContieri%5Ba%5D.jpg" height="400" width="316" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<b><span style="font-family: "Georgia","serif";">RSCL</span></b><span style="font-family: "Georgia","serif";"> | </span><span style="font-family: "Georgia","serif"; mso-bidi-font-family: Helvetica;">Eu queria saber como começou esta sua conexão
com a escrita e com a arte. Não de influências, leituras e tal, mas em que
momento você escreveu o seu primeiro texto e para que foi. Você pensava em
viver de arte?</span><span style="font-family: "Georgia","serif";"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<b><span style="font-family: "Georgia","serif";">FM</span></b><span style="font-family: "Georgia","serif";"> | </span><span style="font-family: "Georgia","serif"; mso-bidi-font-family: Helvetica;">Eu sempre pensei em viver como algo
incondicional. A ideia de viver de algo jamais me atraiu. Acho que qualquer
tipo de sucesso na vida de um criador é uma consequência normal, embora não
seja exatamente indispensável. O que não se pode ter, mesmo, é o sucesso como
meta, como razão de ser daquilo que se faz. Eu fui copista, antes de ser
criador. Copiava com guache capas de livros do José de Alencar em papel cartão,
e copiava breves relatos eróticos. Neste caso eu copiava da transbordante e
luxuriosa imaginação da adolescência.</span><span style="font-family: "Georgia","serif";"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<b><span style="font-family: "Georgia","serif";">RSCL</span></b><span style="font-family: "Georgia","serif";"> | </span><span style="font-family: "Georgia","serif"; mso-bidi-font-family: Helvetica;">Quantos anos neste momento?</span><span style="font-family: "Georgia","serif";"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<b><span style="font-family: "Georgia","serif";">FM</span></b><span style="font-family: "Georgia","serif";"> | </span><span style="font-family: "Georgia","serif"; mso-bidi-font-family: Helvetica;">Não tenho bem certeza, mas imagino que algo em
torno de uns 14 anos. Meus pais haviam mudado de casa. Saímos do centro da
cidade para um bairro típico de classe média ascendente. Isto mudou a minha
convivência e certamente dessa mudança vieram as primeiras tentações da
criação.</span><span style="font-family: "Georgia","serif";"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<b><span style="font-family: "Georgia","serif";">RSCL</span></b><span style="font-family: "Georgia","serif";"> | Com 14 anos você já sentia o ímpeto
criador? Isso estava claro na época?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<b><span style="font-family: "Georgia","serif";">FM</span></b><span style="font-family: "Georgia","serif";"> | Quando morávamos no centro, na casa de
meus pais havia uma biblioteca que era ao mesmo tempo ampla e caótica, uma
mistura de tudo quanto se possa imaginar em termos de ambiente de leitura.
Nesta época também se ouvia uma variedade incrível de música em casa, porque
divergiam muito os gostos musicais de pai e mãe. Na escola e sobretudo a partir
dos novos amigos que me foram presenteados com a mudança de bairro eu completei
o caudal de diversidade dessa minha fonte de formação. Então aos 14 eu já vivia
esse fervilhar de espírito que nos torna um criador. Eu podia não saber em que
labirinto estava me metendo, mas certamente me sentia bem identificado com ele.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<b><span style="font-family: "Georgia","serif";">RSCL</span></b><span style="font-family: "Georgia","serif";"> | Eu sei que seu pai gostava de jazz.
Qual a música de que gostava sua mãe?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<b><span style="font-family: "Georgia","serif";">FM</span></b><span style="font-family: "Georgia","serif";"> | Minha mãe gostava de um cancioneiro
brasileiro mais sentimental, algo em torno de Sílvio Caldas e Orlando Silva.
Ela tocava piano na adolescência. No entanto, em grande parte pela doença de
meu irmão, ela teve uma vida muito sacrificada. Após a sua morte, eu acho que
ela não conseguiu retornar de seu mundo de ausência de tudo. Coincidiu com a
minha entrada na adolescência, minhas primeiras andanças por outros ares e logo
em seguida ela morreu.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<b><span style="font-family: "Georgia","serif";">RSCL</span></b><span style="font-family: "Georgia","serif";"> | Quantos anos havia de diferença entre
vocês? Como ele se chamava?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<b><span style="font-family: "Georgia","serif";">FM</span></b><span style="font-family: "Georgia","serif";"> | Seu nome era Marcos Vinicius, quatro
anos mais novo do que eu. Teve problemas em decorrência do parto e perdeu por
completo sua atividade motora. Isto exigiu de minha mãe dedicação integral, de
modo que eu acabei sendo um pouco criado pela avó materna.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<b><span style="font-family: "Georgia","serif";">RSCL</span></b><span style="font-family: "Georgia","serif";"> | E como foi esta criação paralela?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<b><span style="font-family: "Georgia","serif";">FM</span></b><span style="font-family: "Georgia","serif";"> | Minha mãe representa aquele mistério
maior que suponho cada um tenha em sua vida. Segundo me revela uma foto minha
diante dela, em meu primeiro ano de vida, era uma mulher dotada de imensa
delicadeza e transbordava alegria de viver. Eu convivi muito pouco com ela, tenho
fragmentos de memória que se impõem dentro do possível. Foi uma relação
interditada. Não me interessa falar em fatalidade. Esta sempre soa como um
infortúnio garantido, o que é ridículo. A vida de uma pessoa está repleta de um
conjunto tão variado de assonâncias e dissonâncias que é impossível prever o
desdobramento até mesmo de um sorriso. Os acertos ocasionais, com ares de
misticismo de quermesse, são fagulhas de uma crendice vulgar, mais do que
evidências de alguma conexão entre dois pontos. De qualquer modo, eu tive uma
infância repleta de incômodos inexplicáveis, todos da ordem do espaço por
habitar, até hoje não sei diferir certos escassos momentos de memória se
tiveram por cenário a casa de minha avó ou de meus pais. Além da curiosidade de
que não tenho uma única lembrança do caminho percorrido de uma casa à outra </span><span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-font-family: Georgia;">⎼</span><span style="font-family: "Georgia","serif";"> distavam entre si umas seis quadras </span><span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-font-family: Georgia;">⎼</span><span style="font-family: "Georgia","serif";">, se o fazia a pé ou de carro. Sequer
recordo a frente dessas casas. Em uma novela que escrevi eu identifiquei na
biblioteca existente na casa dos pais o portal secreto que me conduzia à casa
da avó. Uma espécie de <i>moto perpétuo</i>
de um rito de passagem. Eu ia e vinha, de um ponto a outro, ainda sem dar por
conta do que viria a ser.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<b><span style="font-family: "Georgia","serif";">RSCL</span></b><span style="font-family: "Georgia","serif";"> | </span><span style="font-family: "Georgia","serif"; mso-bidi-font-family: Helvetica;">Eu gostaria que me dissesse algo sobre essa
ponte energética entre seu irmão e sua avó.</span><span style="font-family: "Georgia","serif";"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<b><span style="font-family: "Georgia","serif";">FM</span></b><span style="font-family: "Georgia","serif";"> | Eu já cheguei a pensar que meu irmão
sequer tenha existido. A fotografia não é uma prova da realidade. A memória
menos ainda. Existir é a incógnita de uma equação cujas duas variáveis se
chamam resistir e desistir. Que não caiba dúvida quanto à fatalidade do
personagem que cada um de nós representa na vida, não sei. Acho que a
formulação está errada, dado que sempre que não coincide com o estabelecido
crucificamos o pensador e não o pensamento. Eu me sinto impregnado de meu irmão
e de minha avó, porque eles de algum modo representaram o papel de pai e mãe,
mesclando as impossibilidades de cada função. Já sei, é como salpicar estrelas
em um céu nublado. Mas não é fácil acordar diariamente sem as suas referências
mais primárias. Eu fui acordando assim, durante pelo menos a primeira década de
vida, eu tive que tornar o mundo disciplinado por uma magia lúdica. A intuição </span><span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-font-family: Georgia;">⎼</span><span style="font-family: "Georgia","serif";"> talvez meu sentido de resistência </span><span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-font-family: Georgia;">⎼</span><span style="font-family: "Georgia","serif";"> foi redefinindo os parâmetros de minha
relação com o mundo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<b><span style="font-family: "Georgia","serif";">RSCL</span></b><span style="font-family: "Georgia","serif";"> | </span><span style="font-family: "Georgia","serif"; mso-bidi-font-family: Helvetica;">Me deu vertigem ao incorporar as suas falas,
vertigem em estar em seu lugar, em ser você…</span><span style="font-family: "Georgia","serif";"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<b><span style="font-family: "Georgia","serif";">FM</span></b><span style="font-family: "Georgia","serif";"> | …Um arrepio na alma? (risos) Eu já
tive isto várias vezes. Há um momento em que a gente se ilude, achando que
domina essa volúpia, esse transbordamento. A vertigem melhora quando
incorporamos mais elementos a um acervo de técnicas ou quando aprendemos a
lidar com a ansiedade. Houve uma época em que eu me dizia que havia algo de
estratégico em tudo isto: eu lidava com tantas coisas, atirava para tantos
lados, criava tantas perspectivas de trabalho, que era impossível sentir o
baque das inevitáveis respostas negativas. De algum modo deu certo, pois jamais
tive crise de angústia ou identidade diante das recusas de produção e/ou
promoção de minha criação. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<b><span style="font-family: "Georgia","serif";">RSCL</span></b><span style="font-family: "Georgia","serif";"> | Mas havia uma base, um ponto em que
alguma referência literária lhe desperta e então você percebe que seu caminho
era o de um escritor, de um poeta.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<b><span style="font-family: "Georgia","serif";">FM</span></b><span style="font-family: "Georgia","serif";"> | A vida é brincalhona e se esconde
nesses intervalos em que não se deixa sequer entrever. Creio que muito de
nossas referências descobrimos ao acaso. Recordo que ali pelos 16 anos reuni
uns primeiros poemas e um amigo me levou à mesa de um decano destacado de nossa
poesia. Ao ler aquelas não mais do que umas 20 páginas me falou de <i>O guardador de rebanhos</i>, do Alberto
Caeiro. Eu fiquei caladinho, passando a impressão de ser tímido, porque jamais
havia lido Fernando Pessoa. A minha infância foi marcada pela leitura de José
de Alencar, Dostoievski, Shakespeare e
Milton. O poeta cearense que leu meus poemas se chama Francisco Carvalho, de
quem me aproximei muito posteriormente, mas até hoje acho que ele foi não
propriamente generoso, mas sim astuto, ao me indicar um caminho. Sabia que eu
sairia daquele nosso encontro à procura de todos os livros de Pessoa. De
qualquer modo, permaneceu uma inquietude: como posso sofrer a influência de
quem jamais li? Um dia compreendi que a razão disto tem menos a ver com o
ambiente limitado de quem se dedica a identificar influências do que com o fato
de que a vida se encontra definida por um vultoso e diverso traço de afinidades
com o que nos é visível ou invisível, não importa. Aos poucos fui aprendendo
que as mínimas experiências de vida são postas na panela da criação como
ingredientes que sabem ser tão indispensáveis ao prato final quanto os grãos de
conhecimento, as pedras de referência, o diapasão, as hortaliças do mistério,
os truques da memória. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<b><span style="font-family: "Georgia","serif";">RSCL</span></b><span style="font-family: "Georgia","serif";"> | Mas algo o perturbava de um modo que
até aqui me passa a impressão de que em seu momento você não sabia identificar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<b><span style="font-family: "Georgia","serif";">FM</span></b><span style="font-family: "Georgia","serif";"> | É verdade. Fui apanhado por algo maior
do que eu, naquele instante, dava conta ao menos de entender. Não se trata de
destino, de fatalidade. Creio que é uma espécie de disposição para o crime, de
reciprocidade de sinais entre causa e efeito. De algum modo eu estava ali
prontinho para ser aquele menino que não se encaixava em parte alguma de sua
vida. Eu vivia aquele momento em que uma janela não significa o espaço por onde
algo entra, mas sim a chance de escapar. E por vários anos eu tratei de escapar
e escapar e escapar… Demorou até eu compreender que a janela poderia funcionar
de outro modo. Eu me excedi em ser fugitivo de muitas coisas em minha vida. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<b><span style="font-family: "Georgia","serif";">RSCL</span></b><span style="font-family: "Georgia","serif";"> | Eu queria retornar à sua família, os
seus pontos de fuga, se assim os podemos chamar, são referidos como umas zonas
incômodas que necessitavam ajuste ou simplesmente exclusão de um mapa
existencial. Como você distinguia o papel que ocupavam aí o pai, a mãe, a avó,
o irmão, quem mais?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<b><span style="font-family: "Georgia","serif";">FM</span></b><span style="font-family: "Georgia","serif";"> | Naquele momento eu queria apenas ir
para o mais longe possível. O único que consegui foi abafar a atuação externa
de um espectro que seguiu pulsando. Os tempos se deram em uma cascata de
vertigens. Havia uma religiosidade informal na família, disfarçada pela
aceitação tácita do tema. Eu fui semanalmente levado a duas igrejas por minha
avó. A minha memória se atém às quermesses de uma - ela quase sempre arrematava
um frango assado envolto em celofane azul -, incluindo seu trágico incêndio.
Então passamos à outra igreja, para mim sem muito atrativo. Recordo que ela
recebeu ocasionalmente a visita de um bispo, e que tive que beijar-lhe o anel.
Esta cena de algum modo redigiu em meu espírito uma bula antepapal (risos). Meu
irmão vivia em seu mundo de ausência perene. Era algo indecifrável para a minha
infância. Eu queria tocar-lhe e que reagisse como qualquer pessoa. Eu talvez
não entendesse o que aquele silêncio completo significasse. Minha mãe era
devotada a ele, era seu sacerdócio. Meu pai era uma figura ausente no ambiente
doméstico, aos meus olhos, eu me lembro dele ouvindo sua música, quando surgiu
a televisão nos aproximamos muito, fascinados pelo espectro em si, mas lembro
bem que ele me levava ao cinema, nas manhãs de domingo eu me deliciava com
filmes como os de <i>Carlitos</i>, mas
especialmente com <i>O gordo e o magro</i>.
Já a avó, ela era a coluna central, o pé direito, quem garantia o fiel de uma
família que deu de cara com a morte do pai quando o filho mais velho tinha
apenas 18 anos. Lilia - era seu nome - ficou viúva muito jovem, de um
comerciante bem sucedido e muito mais velho do que ela. tinha diante de si um
desafio enorme. Esta foi a minha avó-mãe.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-MI9mp73dEgQ/VSbErRoAXjI/AAAAAAAACEI/Z2AfxYGwQV8/s1600/%5BMID%5D%2BCapa%2B05.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-MI9mp73dEgQ/VSbErRoAXjI/AAAAAAAACEI/Z2AfxYGwQV8/s1600/%5BMID%5D%2BCapa%2B05.jpg" height="320" width="205" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<b><span style="font-family: "Georgia","serif";">RSCL</span></b><span style="font-family: "Georgia","serif";"> | O que acho mais interessante em nossa
conversa é que ao responder você não se limita a encerrar o assunto, pelo
contrário, está sempre abrindo novas perspectivas. A sua poesia também é assim.
Você cria um mundo alucinante em que se misturam sonho e vigília. As drogas
alguma vez estiveram presentes em sua vida?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<b><span style="font-family: "Georgia","serif";">FM</span></b><span style="font-family: "Georgia","serif";"> | Eu jamais tive problema moral com as
drogas. Meu dilema com a maconha é que ela me deixava letárgico. Eu precisava
calibrar a voltagem de meus sentidos e a maconha me deixava preguiçoso. Caso eu
cheirasse cocaína, o efeito seria inverso e igualmente danoso. O álcool
permitia então concentrar e equilibrar a energia necessária à criação. O poeta Enrique
Molina, que também pintava, disse que uma distinção entre ambas - a poesia e a
pintura - é que o pintor, ao contrário do poeta, pode pintar o dia inteiro. A
energia acumulada em função da criação do poema se esvai de um jato, e nos
deixa momentaneamente vazios. Eu tinha muita dificuldade em me concentrar, de
modo que houve uma época em que eu necessitava de uma ajuda neste sentido, o de
acumular em meu íntimo a soma dos seis sentidos, a carga total de sua apreensão
do mundo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<b><span style="font-family: "Georgia","serif";">RSCL</span></b><span style="font-family: "Georgia","serif";"> | De qualquer modo, é muito difícil ter
acesso ao frasco de sua essência. Talvez ele se esconda por trás dessas
prateleiras tão múltiplas que vemos ao adentrar a sua oficina de criação. Quem,
por exemplo, é a mulher que fala em você?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<b><span style="font-family: "Georgia","serif";">FM</span></b><span style="font-family: "Georgia","serif";"> | Não chega a ser um truque, não há
intencionalidade nisto. Tocaste bem a escala mais alta de meus sentidos, não a
mulher, propriamente, mas o que está por trás do feminino e que nos escapa, ao
homem e à mulher, de um modo desastroso. Um dia alguém me disse que não há como
fugir de uma coisa na vida: sempre, em algum momento, acabamos por precisar
irremediavelmente do outro. E me disse como se aí radicasse alguma tragédia.
Mas esta é a maravilha da vida. A mulher que fala em mim, e não através de mim,
é a voz de uma compreensão desse falseamento da essência do ser. Não se trata
de uma evocação, seria uma visão simplória e marcada por certo machismo.
Tampouco é uma encarnação, porque não há transferência de mirador, eu não
empresto meu olhar à mulher. O que me atrai é esta confiança em uma irmanação
de sentidos, uma alquimia da percepção de que o mundo não se dá em isolado
senão como mercado ou usufruto religioso.A mulher que fala em mim é a única que
tem acesso a esse frasco de essências, assim mesmo, no plural, sem truques, insisto.
Eu não tenho interesse no criador como um intelectual. São dois planos
distintos, que se encontram como um acidente geográfico. Uma vez publiquei um
livro de ensaios chamado <i>A inocência de
pensar</i> e uma resenha, após elogiar o livro, disse ser inaceitável que o
pensamento fosse inocente. O mundo acadêmico está tão habituado a justificar ou
contradizer um pensamento já existente que por vezes esquece o frasco de
essência do mesmo. Isto nos leva a Goya e sua entranhável compreensão de que
"os sonhos da razão produzem monstros".<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<b><span style="font-family: "Georgia","serif";">RSCL</span></b><span style="font-family: "Georgia","serif";"> | Às vezes eu acho que você é um
pensador que, ao procurar algo para se expressar, encontrou a poesia por
acidente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<b><span style="font-family: "Georgia","serif";">FM</span></b><span style="font-family: "Georgia","serif";"> | É uma perspectiva fascinante. Tenho
por autores que sempre me inquietaram a mesma impressão, independente de serem
poetas ou não. Penso em Milan Kundera, Francis Bacon, Duke Ellington, Jorge
Luis Borges, Clarice Lispector, Keith Jarrett… Impossível estar com eles sem
entender o quanto há de expressão, digamos, filosófica em sua criação. Ao mesmo
tempo, dá-nos uma sensação de vazio o que se exibe como produto da arte
contemporânea, justamente por esta ausência de um pensamento. Houve um momento
talvez pior, em que essa figura do pensador era entendida como um libelo
ideológico. Revestir a criação artística de um preceito ideológico ou de um
roteiro de entretenimento, acaba por fazer com que o monstro criado se volte
contra seu fabricante e cuspa em nós, como o faz a arte em nossos dias, as
cinzas de sua angústia. O século XXI se encontra em uma espécie de sinuca de
bico, ainda sem aceitar o fato de que os dilemas de sua engrenagem (não importa
se na religião, na ciência, na arte) são frutos não do acaso, mas sim de
desvios de jogo, ou mais claramente: são resultados da prevaricação da
religião, da ciência, da arte, em relação ao mercado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<b><span style="font-family: "Georgia","serif";">RSCL</span></b><span style="font-family: "Georgia","serif";"> | Criação e pensamento se irmanam…<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<b><span style="font-family: "Georgia","serif";">FM</span></b><span style="font-family: "Georgia","serif";"> | Este é o ponto. Perdemos a ideia de
que o criador é parte do mundo. Estou lendo a correspondência ativa do García
Lorca a diversos amigos, escritores, editores, diretores de teatro, ele sempre
a manifestar preocupações em relação à presença de sua arte em seu tempo.
Vivemos em uma época em que a correspondência - em todos os sentidos, não
apenas na troca de cartas - se converteu em algo dispensável ou então marcado
por um carteado de troca de interesses. O homem então teria criado um alto
padrão tecnológico de comunicação para não comunicar-se mais consigo mesmo e o
outro que o definiria em essência? O que chamamos hoje de comunicação é uma
imposição de valores e não uma troca de percepções do mundo. Este é o tablado
em que viemos dar, onde quanto mais perto mais longe. O homem evita
reconhecer-se em si mesmo. Não importa a extensão da tragédia humana.</span><span style="font-family: Georgia, serif;"> </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Georgia","serif";"><br /></span></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-ES8QsS94BUY/VSbErsdpU0I/AAAAAAAACEQ/RV5p6UOxWBc/s1600/%5BMID%5D%2BCapa%2B06.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-ES8QsS94BUY/VSbErsdpU0I/AAAAAAAACEQ/RV5p6UOxWBc/s1600/%5BMID%5D%2BCapa%2B06.jpg" height="206" width="320" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Georgia","serif";"><br /></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Georgia","serif";"><b>Renata Sodré Costa Leite</b> é psicóloga e
reside em São Paulo. Esta entrevista foi realizada através do chat do Gmail,
nos primeiros dias de abril de 2015. Desenho de FM realizado por Adriel
Contieri. Reproduzimos ainda capa do livro <i>A
vida inesperada</i>, sugerindo ao leitor visitar nossa loja virtual: <a href="http://abraxasloja.blogspot.com.br/">http://abraxasloja.blogspot.com.br/</a>.
Contato: <a href="mailto:renata_costaleite@hotmail.com">renata_costaleite@hotmail.com</a>.<o:p></o:p></span></div>
http://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/http://www.blogger.com/profile/15464755224800829626noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5262314379244716711.post-6961811890121275982015-04-08T05:33:00.000-07:002015-04-08T05:36:31.324-07:00OLEG ALMEIDA | A maneira de estar no mundo de Floriano Martins<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-_Qn1LwR7RRc/VSUfWCNmwWI/AAAAAAAACDo/ckhTcZaaCkg/s1600/huelva%2B51.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-_Qn1LwR7RRc/VSUfWCNmwWI/AAAAAAAACDo/ckhTcZaaCkg/s1600/huelva%2B51.jpg" height="400" width="300" /></a></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 14.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Conheço Floriano Martins há vários anos. Já li seus poemas e sua novela lírica
Sobras de Deus; já vi alguns de seus quadros e fotos artísticas; já lancei mão
daquelas riquíssimas fontes de informação e prazer estético que representa a
Agulha Revista de Cultura, criada e dirigida por ele. “Mas que homem
renascentista é esse?” – sempre me perguntei, ao pensar na pasmosa diversidade
de seus interesses e áreas de atuação. Dia destes, convidei Floriano a
gravarmos uma pequena entrevista, e, simpático e gentil como de praxe, ele
aceitou o convite. Dispôs-se, apesar de muito atarefado, a conversar comigo
sobre a literatura latino-americana e seu amplo e multidimensional espaço nela.
[OA]</span></div>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Oleg Almeida: Qualquer pessoa que conhecer seu perfil, fica
admirada, igual a mim, com a envergadura de suas atividades criativas. Daí a
minha pergunta inicial. Quem é Floriano Martins em primeiro lugar: estudioso de
letras hispânicas e tradutor; ensaísta e crítico literário; artista plástico; <i>performer</i> e promotor de eventos culturais;
jornalista e editor? Ou poderíamos caracterizá-lo apenas com a antológica frase
de Carlos Drummond: Eu não disse ao senhor que não sou senão poeta?<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Floriano Martins: Não resta dúvida que
haverá sempre o poeta por detrás, com essa mescla de paixão e curiosidade por
tudo. Posso dizer que tive dois mestres em um tipo singular de aventura
alquímica, penso aqui em William Blake e Ludwig Zeller, pois em ambos gravuras
(Blake) e colagens (Zeller) funcionam como extensão do poema. Tardou muito até
a consciência, porém a intuição apontava na direção de que a linguagem a ser
visitada, identificada, modificada, reajustada, era o poema. De igual modo, nas
demais áreas – ensaio, tradução, edição, pesquisa – cada passo é dado em nome
da poesia. É o apetite do poeta que devora o mundo para recriá-lo.</span></div>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><div style="text-align: justify;">
</div>
<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">OA: Então lhe faço uma das minhas perguntas tradicionais. A que
momento remonta sua decisão de ser escritor e, notadamente, poeta: à infância
ou a uma idade mais madura? E essa decisão surgiu de repente, como um daqueles
raios que antecipam o aguaceiro, ou levou muito tempo para se cristalizar?<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">FM: O instinto sempre tratou de
atropelar a razão. Minha infância foi no centro de Fortaleza e o futebol era a
grande pedra de toque da meninada da rua. Como eu preferia os livros da
biblioteca de meu pai à bola, de algum modo ali já estava a primeira pista. No
entanto, eu também jogava, embora pessimamente. E adorava tênis de mesa e
natação, ao mesmo tempo em que montava com amigos uma espécie de palco
improvisado para dublagens, um arremedo de teatro no quintal de casa, onde o
ingresso era a cadeira, ou seja, cada um que levasse seu acento. Também era
deliciosamente atraído pelo cinema e o circo – recordo cada momento que passei
nessas arenas com meu pai – e a chegada da televisão foi algo inesquecível, em
especial pelo Gato Félix. A síntese de tudo isto é o que me define até hoje:
uma alegria de viver. Cada fragmento da existência possui um sabor relevante
para mim. A essência sempre esteve nos detalhes.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div style="background: white; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">OA: Você poderia citar alguns autores e obras que influenciaram
sua verve artística? Afinal de contas, nós todos somos... não digo epígonos,
mas, com certeza, alunos de alguém.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">FM: A literatura não gosta de algo que
para o mundo plástico é fundamental: a figura do copista. Hoje vejo claramente
que meu livro <i>Ruínas do silêncio</i> (1978) é uma espécie de tentativa
intuitiva de cópia de <i>Memórias do cárcere</i>, do Graciliano Ramos. De algum
modo também fui copista de textos de Khalil Gibrán e José de Alencar. Na
biblioteca de meu pai havia apenas dois livros de poesia: os sonetos de
Shakespeare e o <i>Paraíso perdido</i> de Milton. A narrativa e os comics – a
rigor, as adaptações de clássicos da literatura para a linguagem dos comics –
eram a minha paixão transbordante, de modo que somente muito depois é que
descobri a importância que Milton e Shakespeare (não os sonetos, mas sim as
tragédias) tiveram em minha formação. Quando se conversa com um escritor, em
geral se acredita que suas influências sejam literárias. Eu não saberia separar
a importância que tiveram em minha vida um livro como <i>Crime e castigo</i>
(Dostoievski) e o circo Tihany; o frenesi da imagem televisiva do Gato Félix
(seu humor silencioso, sua graça sem palavras) e os romances de José de Alencar
(em especial <i>O tronco do Ipê</i> e <i>Til</i>, embora recorde aqui que
cheguei a copiar, em guache, a capa de <i>O sertanejo</i>, porque houve um
momento em que me atraía copiar ou recortar figuras); as aventuras de livros
como <i>O último dos moicanos</i> (James Fenimore Cooper) e <i>O conde de Monte
Cristo</i> (Alexandre Dumas), e as sessões matinais aos sábados no Cine Art,
com meu pai, onde nos divertíamos, em especial com Stan Laurel & Oliver
Hardy, e Charles Chaplin… Não me esquivo à tua pergunta, mas a verdade é que eu
fui incorporando ao poema detalhes retirados de toda essa maravilha que por
vezes significa a vida de alguém: uma frase de humor, a dinâmica de um desenho,
um esgar, a delícia de um seio planejando escapar do vestido, o modo de
descrever uma cena, o meu poema foi aos poucos montando seu teatro. As leituras
fundamentam a escrita, técnica, estilo, porém a vida dá o tempero final.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div style="background: white; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">OA: Qual é o papel do surrealismo em sua vida? Você se considera
surrealista? Se não, a que vertente literária relacionaria seu estilo?<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">FM: Não, não pertenço a nenhuma
vertente literária. E o Surrealismo não se limita a uma vertente literária.
Declarar-se surrealista mal iniciado o século XXI pode soar anacrônico, um
século que se desgasta em fascínio tecnológico. Eu não me filiei ao
Surrealismo, propriamente – embora tenha integrado um grupo surrealista em São
Paulo –, mas sim descobri nele uma identificação que tinha já seus traços desde
minha infância. Eu creio que o Surrealismo deu um cheque-mate à própria noção
de filiação, mesmo em desacordo, em alguns momentos, com as ideias de Breton. É
bastante iluminador ler a série das entrevistas radiofônicas que Breton deu a
André Parinaud. As duas portas essenciais do Surrealismo se chamam Sade e
Lautréamont. Aos 14 anos fui visitado por uma edição portuguesa – eu não tinha
a menor ideia de sua raridade e clandestinidade – de <i>120 dias de Sodoma</i>.
Este livro me fez somar tudo o que havia se passado comigo até então, incluindo
leituras, e foi o catalisador de certa e valiosa perda da inocência. Graças a
ele ganhei uma sugestiva consciência de muitos aspectos de minha vida. Até onde
me lembro, mesmo já diante da obra de um Salvador Dalí, eu não tinha
conhecimento do Surrealismo. A poesia surrealista veio aos poucos, em parte
através de Murilo Mendes, Paul Éluard e o García Lorca de <i>O poeta em Nova
York</i>. Leituras avulsas. Passo a me interessar pelo Surrealismo muito tempo
depois, quando descubro o abismo existente na literatura brasileira em relação
à América Hispânica. Um amigo me presenteou a obra completa do peruano César
Vallejo, volume cuja introdução mencionava alguns poetas que me eram
completamente desconhecidos. O autor desse estudo era o também peruano Américo
Ferrari, a quem um dia acabei entrevistando. A minha ignorância foi a chave.
Tratei de buscar livros e contatos com uma irrefreável fome. Algumas pessoas
foram fundamentais neste primeiro momento: os chilenos Pedro Lastra e Ludwig
Zeller, o venezuelano Eugenio Montejo, o espanhol Jorge Rodríguez Padrón,
dentre outros, foram a minha generosa estação multiplicadora. Ainda não havia
Internet, então a correspondência exigia uma medida de obstinação hoje
impensável. Aos poucos fui compreendendo que o Surrealismo se destacava nessa
costura de fios estéticos com que eu ia mapeando a banda hispânica de nosso
continente. Tive a sorte de encontrar com vida a surrealistas como o chileno
Enrique Gómez-Correa e o argentino Francisco Madariaga, entrevistando-os. Então
o Surrealismo foi se revelando em outra dimensão – essa que Madariaga
considerava mais uma boda do que uma ruptura –, de modo que o convívio com seus
meandros me levou a verificar e historiar a ambiguidade com que o mesmo se deu
na América. Repriso esses detalhes para que entendas que o Surrealismo não
entra em minha vida como uma paixão estética, digamos, mas antes como a
necessidade de investigar o silêncio de que padecia (padece ainda) na cultura
brasileira.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div style="background: white; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">OA: Apercebem-se, em sua novela <i>Sobras de Deus</i>, nítidos traços de um extenso poema em prosa, algo
que me faz lembrar os belíssimos textos de Baudelaire, Turguênev, Lautréamont.
Você acredita na síntese das artes, ou seja, nos gêneros híbridos dentro do
processo de escrita e nos que transcendem este processo, como a poesia visual?
Existe, nesse contexto, certa ligação entre as suas veias de escritor e artista
plástico?<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">FM: Eu não entendo muito a obsessão das
classificações, sempre me parece algo indicativo de uma pobreza de espírito.
Isto de “poesia visual”, por exemplo. É algo essencialmente vazio de
significado. A imagem poética apresentada na forma de uma metáfora é visual. A
descrição de uma cena, em um simples comentário em um filme policial, pode ser
tanto visual quanto poética. O mundo permanece o mesmo, representado pelo que
aparenta ser e o que poderia ser. O mesmo teatro de sempre, o mesmo palco de
imagens transbordantes. Resta saber como o homem – em nosso caso particular, o
artista – se comporta diante de seu próprio mundo. Eu não sou artista plástico.
Durante certo tempo lidei com a colagem e agora me fascina tanto a fotografia
como sua utilização na mescla com o desenho na composição do que se chama de
novela gráfica. Certamente que acredito na síntese das artes, embora sejam
perceptíveis e atrativas as linhas de horizonte que sugerem um ambiente próprio
para cada uma delas. <i>Sobras de Deus</i> é uma novela autobiográfica. A
mescla de gêneros é natural, porque o meu poema se enriqueceu tanto com
diversas leituras – aqui incluindo as crônicas policiais, o cinema épico, as
fotonovelas pornográficas – que me fascina deslocar caracteres de um ambiente
para outro, compondo uma partitura que seja uma espécie de fusão de notações
distintas de ritmos e cores. <i>Sobras de Deus</i>, neste sentido, é poema, é
teatro, é cinema.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div style="background: white; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">OA: Sendo um reconhecido especialista em letras ibero-americanas,
como você avaliaria, de modo geral, o estado presente da poesia nos países de
expressão espanhola? Há quem fale, em nossa época da desumanização tecnológica,
no iminente colapso do gênero. Tal previsão é correta ou não?<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">FM: Quanta mistura de tema! Eu não
creio que poderia aqui, em uma simples resposta à tua carinhosa entrevista,
abordar a diversidade das “letras ibero-americanas” – aí incluindo o Brasil.
Veja bem, acabo de regressar de um encontro de poetas na Nicarágua. Ali estavam
mais de 100 poetas de uns 50 países. Matemática fácil: dois poetas por país.
Quase nenhuma poesia. Evidente que eventos culturais são eventos políticos
montados de acordo com as possibilidades, que se definem pelas relações de sua
organização com mecanismos diplomáticos. Sempre que mencionas a poesia eu penso
que estás em referência ao poema. O poema tem por trás de si o poeta. O poeta,
por vezes, em um mundo de expressão caótica como o nosso, sofre um golpe
curioso: o de não corresponder à exigência de defesa de sua estética em outro
formato que não o escrito. Temos aí um quesito: as formas de apresentação do
poema. Poetas leem mal seus poemas, não sabem como se comportar em público,
exageram no que chamam de atenção para si, sequer sabem como ajustar um
microfone etc. Não se trata de “desumanização tecnológica” ou carência de
adaptação, mas antes de uma clara falta de percepção acerca do desenho natural
do mundo em que vivemos, cuja maravilha ou deformação é de nossa inteira
responsabilidade. Não vamos agora pôr a culpa em Deus pelo estado de
decrepitude existencial a que chegamos. Não há colapso de nada. Não tenho senão
rejeição a toda leitura catastrófica da realidade. Somos medíocres porque nos
tornamos medíocres. Dito isto, observo ainda que estamos em estado pleno de
ignorância mútua, no que diz respeito à cultura de nossos países. Somos uns
desconhecidos de nós mesmos. Cultura é reflexo de experiência de vida, ela
avança de acordo com a diversidade e intensidade com que nos relacionamos com a
tradição (não somente a nossa, em isolado) e suas perspectivas de reajuste –
intenções, méritos, fracassos etc. A tecnologia não desumaniza o homem. Ela é
parte do homem, desde a ponta de flecha, a descoberta do fogo, até os catálogos
virtuais de contratação de amantes. A tecnologia é a cara do homem. É curioso
observar que toda vez que o homem não consegue encarar seu reflexo diante do
espelho ele culpa a tecnologia. Eu adoro uma cerveja gelada e o teclado com que
me correspondo com o mundo (graças a ele respondo a esta entrevista). Não
importa que recursos utilizamos, o mundo é humano. Se avança ou retroage, segue
sendo humano. Suas desgraças e suas conquistas serão sempre humanas. Adolf
Hitler e The Beatles não são extraterrestres.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div style="background: white; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">OA: E como se insere o Brasil neste
cenário da literatura continental? As tendências que se manifestam aqui são as
mesmas de lá, ou o Brasil trilha um caminho particular? O intercâmbio entre as
comunidades lusófona e hispano-falante vem dando frutos?<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">FM: O Brasil, como disse tão bem Tom
Jobim, é um país para profissionais. Na semana passada eu deveria fazer uma
conferência na Embaixada do Brasil na Nicarágua. Optei por uma conversa
informal. Levei comigo uma poeta canadense, pois imaginei que o público
carinhosamente agendado pelo adido cultural brasileiro tivesse interesse em
conhecer um pouco mais de poesia. O Brasil é um grande ausente de si mesmo pela
natureza comportamental de um dilema de origem mal resolvido. Eu não tenho
problemas com o Brasil, mas sei identificar os dilemas que o país tem consigo
mesmo. Não por seu decantado gigantismo, mas antes por um temor a afirmar-se
como uma identidade cultural. É o país da festividade, dos excessos do
carnaval, do futebol, do samba, porém se esquece que essas máscaras ocultam, de
um lado, um sagaz oportunismo de uma casta que se especializou em dissecar o
país, de outro a frouxidão de artistas e intelectuais que não se comprometem
com as necessidades essenciais da cultura brasileira. Nenhum governo tem
agendado até o momento uma pauta de discussão dos dilemas existenciais de um
país em busca de sua fundação como nação. Meu trabalho de aproximação entre as
culturas hispano-americanas e brasileiras tem sido mais percebido nos países
hispano-americanos. O Brasil, de algum modo, não faz a menor questão de contar
com um Floriano Martins. São 14 anos de dedicação à publicação da </span><i style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Agulha
Revista de Cultura</i><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">. Somos mais do que pioneiros – em um país em que a
manchete é tudo –, somos a consistência de um diálogo aberto entre culturas.
Até onde entendo, esta deveria ser a função prioritária do Ministério da
Cultura. Mas onde está o MinC que até hoje sequer enviou um e-mail de
agradecimento por uma das quase 100 edições da </span><i style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Agulha Revista de Cultura</i><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">.
Ah lá fora! Sim, a tua pergunta. Viajo sempre, traduzo, organizo edições, há um
carinho imenso. Respiremos. Esteticamente o ambiente possui sua delicadeza de
percepção. O Brasil tem optado por uma constante recaída em um plano
parnasiano, nossa poética é marcada pelo excesso formalista e, em especial, por
certa alienação entre o poeta e sua vida. Na América Hispânica há um pouco de
tudo, até porque se expôs a mais experiências estéticas do que o Brasil. Aqui
ainda somos viciados na figura do herói, a todo instante buscamos um
referencial, o que é sinal de que não temos ainda uma cultura consciente de si
mesma. Puro caipirismo. Daí o reflexo na política, no futebol, na mídia etc.,
de um país sempre obcecado pela invenção de um herói – não importa que se chame
Neymar ou Joaquim Barbosa.</span></div>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><div style="text-align: justify;">
</div>
<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">OA: Sabe-se que não é fácil publicar
obras líricas, já que, na opinião quase unânime das editoras comerciais, “a
poesia não vende”, e o próprio autor nem sempre está em condições de bancar a
publicação de seu livro. O que você acha do “custo-benefício” do trabalho
poético?<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">FM: As razões do mercado não são nunca
as razões da boa leitura. As razões do ego sequer se aproximam das razões da
poesia. Porém mercado e ego juntos são uma dimensão nova para a prevaricação
entre como um autor se mostra e como ele é recebido por seu público. Ao
contrário do que me dizes, é cada vez mais fácil publicar. Há libretos em
excesso. Poesia em carência. Não creio que a ideia do vendável tenha se
modificado muito no que diz respeito à poesia. Assim que não entendo nunca de
que eventual falha de mercado os poetas reclamem. A poesia jamais foi uma peça
de mercado. A tua pergunta sugere uma discussão profissional especificamente no
que diz respeito às leis de mercado. Ou seja, se escrevo, publico e não vendo,
ops, o que diabos ainda estou fazendo aqui? A arte intrinsecamente é uma
contradição social? Ela existe em função de apontar desajustes em um ambiente
social? Quando Lautréamont disse que a poesia deveria ser feita por todos,
pensava em uma sociedade em que a fluência do humano estivesse em ritmo tão bom
que todos seríamos artistas? Em uma sociedade como a brasileira, já respondemos
sinceramente a alguma dessas questões?<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div style="background: white; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">OA: Finalizando a entrevista, gostaria de lhe fazer outra pergunta
habitual. O que é a poesia para você: modo de viver ou compulsão psicológica,
estado de espírito ou passatempo favorito, ocupação intermitente ou necessidade
imperiosa? </span><br />
<span style="background-color: transparent; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span>
<span style="background-color: transparent; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">FM: A ideia do “passatempo favorito” me
indigna, porque sei que tem sido assim para a tradição lírica oficial
brasileira. Eu não me preocupo por definir minhas atitudes. Sei a que elas
correspondem, uma identidade de espírito, minha maneira de estar no mundo. É
seguir viagem. Abraxas.</span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div align="center" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: -webkit-center;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-mhsPRApIg7M/VSUgsh-OT8I/AAAAAAAACDw/xx97ic2gUcc/s1600/Sem%2BT%C3%ADtulo-2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-mhsPRApIg7M/VSUgsh-OT8I/AAAAAAAACDw/xx97ic2gUcc/s1600/Sem%2BT%C3%ADtulo-2.jpg" height="166" width="400" /></a></div>
</div>
<div style="background: white; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=5262314379244716711" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"></a><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br />
Floriano Martins (Fortaleza,
1957). Poeta, editor, ensaísta e tradutor. Criou em 1999 a Agulha Revista de
Cultura, revista de circulação pela Internet. Coordenou (2005-2010) a coleção
“Ponte Velha” de autores portugueses da Escrituras Editora (São Paulo).
Atualmente coordena a coleção “O Começo da Busca” das Edições Nephelibata
(Santa Catarina). Organizou algumas mostras especiais dedicadas à literatura
brasileira para revistas em países hispano-americanos: “Narradores y poetas de
Brasil” (Blanco Móvil, México, 1998), “La poesía brasileña bajo el espejo de la
contemporaneidad” (Alforja, México, 2001) e “Poesía brasileña” (Poesía,
Venezuela, 2006). Também organizou a mostra “Poesia peruana no século XX”
(Poesia Sempre, Brasil, 2008), ao mesmo tempo em que foi corresponsável pelas
edições especiais “Poetas y narradores portugueses” (Blanco Móvil, México,
2003), “Surrealismo” (Atalaia Intermundos, Lisboa, 2003) e “Poetas y prosadores
venezolanos” (Blanco Móvil, México, 2006). Esteve presente em festivais de
poesia realizados em países como Chile, Colômbia, Costa Rica, República
Dominicana, El Salvador, Equador, Espanha, México, Nicarágua, Panamá, Portugal
e Venezuela. Trabalha ainda com fotografia, colagem e design, tendo realizado
exposições e capas de livros. Curador da Bienal Internacional do Livro do Ceará
(Brasil, 2008) e membro do júri do Prêmio Casa das Américas (Cuba, 2009) e do
Concurso Nacional de Poesia (Venezuela, 2010). Professor convidado da
Universidade de Cincinnati (Ohio, Estados Unidos, 2010). Tradutor de livros de
Federico García Lorca, Guillermo Cabrera Infante, Alfonso Peña, Juan
Calzadilla, Eduardo Langagne e Pablo Antonio Cuadra. Autor de livros como Tres
estudios para un amor loco (poesia, México, 2006), Duas mentiras (poesia,
Brasil, 2008), Teatro imposible (poesia, Venezuela, 2008), Sobras de Deus
(narrativa, Brasil, 2008), A inocência de Pensar (ensaio, Brasil, 2009), Fuego
en las cartas (poesia, Espanha, 2009), Autobiografia de um truque (prosa
poética, Brasil, 2010), Delante del fuego (poesía, México, 2010), e Escritura
conquistada. Conversaciones con poetas de Latinoamérica (2 tomos, entrevistas,
Venezuela, 2010).<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br />
Oleg Almeida (Bielorrússia, 1971): poeta e tradutor, sócio da União
Brasileira de Escritores (UBE/São Paulo), colaborador das mídias impressas e
eletrônicas. Autor dos livros de poesia Memórias dum hiperbóreo (2008) e
Quarta-feira de Cinzas e outros poemas (2011) e de numerosas traduções do russo
(Diário do subsolo e O jogador de Fiódor Dostoiévski; Pequenas tragédias de
Alexandr Púchkin; Canções alexandrinas de Mikhail Kuzmin) e do francês
(Pequenos poemas em prosa de Charles Baudelaire; Os cantos de Bilítis de Pierre
Louÿs). Mais informações: www.olegalmeida.com.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; text-align: -webkit-center;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><a href="http://www.carmovasconcelos-fenix.org/revista/eisFluencias/eisFluencias_junho_2013_3_23-13.htm">www.carmovasconcelos-fenix.org/revista/eisFluencias/eisFluencias_junho_2013_3_23-13.htm</a></span><span style="font-family: Georgia, serif;"><o:p></o:p></span></div>
http://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/http://www.blogger.com/profile/15464755224800829626noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5262314379244716711.post-54912479046477874262015-03-24T05:30:00.001-07:002015-03-24T05:34:50.739-07:00COLEÇÃO DE AREIA | ARC Edições<table border="0" id="table8" style="background-color: silver; width: 100%px;"><tbody>
<tr><td align="center"><a href="http://www.jornaldepoesia.jor.br/BHCAlivro01.pdf"><img alt="I. Escenas tomadas de un teatro imposible, de Floriano Martins" border="0" src="http://www.jornaldepoesia.jor.br/CAcapa01.jpg" height="200" hspace="2" vspace="5" width="132" /></a></td><td align="center"><a href="http://www.jornaldepoesia.jor.br/BHCAlivro02.pdf"><img alt="II. Puerta lateral, de Jorge Rodríguez Padrón" border="0" src="http://www.jornaldepoesia.jor.br/CAcapa02.jpg" height="200" hspace="2" vspace="5" width="132" /></a></td><td align="center"><a href="http://www.jornaldepoesia.jor.br/BHCAlivro03.pdf"><img alt="III. El alcohol de los estados intermedios, de Gladys Mendía" border="0" src="http://www.jornaldepoesia.jor.br/CAcapa03.jpg" height="200" hspace="2" vspace="5" width="132" /></a></td><td align="center"><a href="http://www.jornaldepoesia.jor.br/BHCAlivro04.pdf"><img alt="IV. Autorretrato, de Floriano Martins" border="0" src="http://www.jornaldepoesia.jor.br/CAcapa04.jpg" height="200" hspace="2" vspace="5" width="132" /></a></td><td align="center"><a href="http://www.jornaldepoesia.jor.br/BHCAlivro05.pdf"><img alt="V. Lienzo sobre óleo, de Jorge Tamargo" border="0" src="http://www.jornaldepoesia.jor.br/CAcapa05.jpg" height="200" hspace="2" vspace="5" width="132" /></a></td></tr>
<tr><td align="center"><a href="http://www.jornaldepoesia.jor.br/BHCAlivro06.pdf"><img alt="VI. Eros en... canto, de Bella Clara Ventura" border="0" src="http://www.jornaldepoesia.jor.br/CAcapa06.jpg" height="200" hspace="2" vspace="5" width="132" /></a></td><td align="center"><a href="http://www.jornaldepoesia.jor.br/BHCAlivro07.pdf"><img alt="VII. Intuiciones y obsesiones, de Susana Wald" border="0" src="http://www.jornaldepoesia.jor.br/CAcapa07.jpg" height="200" hspace="2" vspace="5" width="132" /></a></td><td align="center"><a href="http://www.jornaldepoesia.jor.br/BHCAlivro08.pdf"><img alt="VIII. Los trazos de Pandora, de Martín Palacio Gamboa" border="0" src="http://www.jornaldepoesia.jor.br/CAcapa08.jpg" height="200" hspace="2" vspace="5" width="132" /></a></td><td align="center"><a href="http://www.jornaldepoesia.jor.br/BHCAlivro09.pdf"><img alt="IX. Antología personal y otros poemas, de Gary Daher" border="0" src="http://www.jornaldepoesia.jor.br/CAcapa09.jpg" height="200" hspace="2" vspace="5" width="132" /></a></td><td align="center"><a href="http://www.jornaldepoesia.jor.br/BHCAlivro10.pdf"><img alt="X. Ceniza por cascada hembra, de Milagro Haack" border="0" src="http://www.jornaldepoesia.jor.br/CAcapa10.jpg" height="200" hspace="2" vspace="5" width="132" /></a></td></tr>
<tr><td align="center"><a href="http://www.jornaldepoesia.jor.br/BHCAlivro11.pdf"><img alt="XI. El libro del padre, de Cristino Cortes" border="0" src="http://www.jornaldepoesia.jor.br/CAcapa11.jpg" height="200" hspace="2" vspace="5" width="132" /></a></td><td align="center"><a href="http://www.jornaldepoesia.jor.br/BHCAlivro12.pdf"><img alt="XII. O livro invisível de William Burroughs, de Floriano Martins" border="0" src="http://www.jornaldepoesia.jor.br/CAcapa12.jpg" height="200" hspace="2" vspace="5" width="132" /></a></td><td align="center"></td><td align="center"><a href="http://www.jornaldepoesia.jor.br/BHCAlivro13.pdf"><img alt="XIII. Antes que a árvore se feche, de Floriano Martins" border="0" src="http://www.jornaldepoesia.jor.br/CAcapa13.jpg" height="200" hspace="2" vspace="5" width="132" /></a></td><td align="center"><a href="http://www.jornaldepoesia.jor.br/BHCAlivro14.pdf"><img alt="XIV. Vlía, de Freddy Gatón Arce" border="0" src="http://www.jornaldepoesia.jor.br/CAcapa14.jpg" height="200" hspace="2" vspace="5" width="132" /></a></td></tr>
</tbody></table>
<br />
<div style="text-align: center;">
<span style="color: red; font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: x-small;"><b>CLICAR NA CAPA DO LIVRO A QUE DESEJAR TER ACESSO</b></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: large;"><b>ARC Edições</b></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Novo endereço | Rua Poeta Sidney Neto 143 Água Fria 60811-480 Fortaleza CE Brasil</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><a href="http://arcagulharevistadecultura.blogspot.com.br/">http://arcagulharevistadecultura.blogspot.com.br/</a></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">floriano.agulha@gmail.com | arcflorianomartins@gmail.com</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
http://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/http://www.blogger.com/profile/15464755224800829626noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5262314379244716711.post-81601006252553129882015-03-06T19:03:00.000-08:002016-02-14T18:45:37.221-08:00A OUTRA VOZ DO TEMPO | Cronologia de vida e obra<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<o:p><span style="color: #990000; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b>FLORIANO MARTINS</b></span></o:p><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0" class="MsoNormalTable" style="border-collapse: collapse; mso-padding-alt: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-table-layout-alt: fixed; mso-yfti-tbllook: 480;">
<tbody>
<tr>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 41.7pt;" valign="top" width="56"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="color: #595959;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">1957<o:p></o:p></span></span></b></div>
</td>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 445.65pt;" valign="top" width="594"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-kOfZTZrNItM/VPpqKjsXvHI/AAAAAAAABvk/2GPxomGwhug/s1600/%5BFoto%5D%2B1959%2BFortaleza%2B01.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://4.bp.blogspot.com/-kOfZTZrNItM/VPpqKjsXvHI/AAAAAAAABvk/2GPxomGwhug/s1600/%5BFoto%5D%2B1959%2BFortaleza%2B01.jpg" width="178" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Nasce em 30 de junho, em Fortaleza,
Ceará. Filho de Floriano José Martins Benevides e Maria Consuelo Feijó
Benevides, recebe o nome de Floriano Benevides Júnior.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<br /></div>
</td>
</tr>
<tr>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 41.7pt;" valign="top" width="56"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="color: #595959;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">1970<o:p></o:p></span></span></b></div>
</td>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 445.65pt;" valign="top" width="594"><div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Morte do único irmão, Marcos Vinicius,
aos 9 anos de idade. Dessa época relembra, em entrevista a Wanderson Lima, a
caótica biblioteca do pai, onde iniciou-se leitor: “Recordo a bagunça que era
a biblioteca de meu pai, com livros e revistas e jornais de toda ordem. De
poesia, por exemplo, havia apenas o volume dos sonetos de Shakespeare e um
exemplar do <i>Paraíso perdido</i> de
Milton. Do ponto de vista literário, fui criado entre romances e gibis,
inclusive as inúmeras adaptações de clássicos da literatura mundial para o
formato fotonovela, bastante comum na época.” (<i>dEsEnrEdoS</i> # 8, Teresina/PI,
janeiro de 2011).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<br /></div>
</td>
</tr>
<tr>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 41.7pt;" valign="top" width="56"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="color: #595959;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">1971<o:p></o:p></span></span></b></div>
</td>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 445.65pt;" valign="top" width="594"><div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Escreve uns primeiros contos e ao
assiná-los muda o nome para <b>Floriano Martins</b>, em homenagem a seu pai. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<br /></div>
</td>
</tr>
<tr>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 41.7pt;" valign="top" width="56"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="color: #595959;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">1975<o:p></o:p></span></span></b></div>
</td>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 445.65pt;" valign="top" width="594"><div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Decide não frequentar mais a escola.
Convívio intenso com gente ligada, principalmente, à música e ao teatro. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<br /></div>
</td>
</tr>
<tr>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 41.7pt;" valign="top" width="56"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="color: #595959;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">1976<o:p></o:p></span></span></b></div>
</td>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 445.65pt;" valign="top" width="594"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-S6zHjof2kFk/VPprgltxfRI/AAAAAAAABvs/6s9EFgMkX4U/s1600/%5BFoto%5D%2B1974%2BRecife%2B02.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://2.bp.blogspot.com/-S6zHjof2kFk/VPprgltxfRI/AAAAAAAABvs/6s9EFgMkX4U/s1600/%5BFoto%5D%2B1974%2BRecife%2B02.jpg" width="200" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Em edição fora de mercado, edita seu
primeiro livro de poemas, <i>Composição</i>,
juntamente com o artista plástico Alano de Freitas (Edição do Autor,
Fortaleza). Vive um romance tempestuoso que o leva para o interior da Bahia,
em um acidentado convívio com centros espíritas e terreiros de Umbanda.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<br /></div>
</td>
</tr>
<tr>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 41.7pt;" valign="top" width="56"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="color: #595959;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">1978<o:p></o:p></span></span></b></div>
</td>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 445.65pt;" valign="top" width="594"><div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Retorna a Fortaleza. Morte de sua
mãe, aos 51 anos de idade. Casa-se em maio com Socorro Nunes. Publica <i>Ruínas de silêncio</i> (poemas), com
fotografias de Paulo Aécio (Edição do Autor, Fortaleza). O livro foi escrito
sob o impacto da leitura da autobiografia <i>Memórias
do cárcere</i>, de Graciliano Ramos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<br /></div>
</td>
</tr>
<tr>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 41.7pt;" valign="top" width="56"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="color: #595959;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">1979<o:p></o:p></span></span></b></div>
</td>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 445.65pt;" valign="top" width="594"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-T_f7X4yT2EA/VPpu8tJoFMI/AAAAAAAABwg/hgmJ0MlyDq4/s1600/1979%2BFM%2B%5BFortaleza%5D%2B3.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="135" src="https://2.bp.blogspot.com/-T_f7X4yT2EA/VPpu8tJoFMI/AAAAAAAABwg/hgmJ0MlyDq4/s1600/1979%2BFM%2B%5BFortaleza%5D%2B3.jpg" width="200" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Surge o número único da revista <i>Siriará</i>, de um grupo homônimo do qual
participou e que teve a singularidade de reunir escritores de várias gerações
e tendências na literatura cearense. Publica <i>Nenhuma correnteza inaugura minha sede</i>, com desenhos de Itamar do
Mar (Edição da Universidade Federal de São Carlos, São Paulo).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<br /></div>
</td>
</tr>
<tr>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 41.7pt;" valign="top" width="56"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="color: #595959;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">1980<o:p></o:p></span></span></b></div>
</td>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 445.65pt;" valign="top" width="594"><div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Trabalha como desenhista na Imprensa
Oficial do Ceará, por um período de 10 meses.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<br /></div>
</td>
</tr>
<tr>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 41.7pt;" valign="top" width="56"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="color: #595959;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">1981<o:p></o:p></span></span></b></div>
</td>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 445.65pt;" valign="top" width="594"><div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Morte de seu pai, aos 51 anos de
idade. Poucos dias depois nasce sua filha, Flora. Publica <i>Di versos em versos</i>, com ilustrações
de Caú (Edições Lauro Maciel Jr., Fortaleza). Ingressa, através de concurso
público, no BNH – Banco Nacional da Habitação.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<br /></div>
</td>
</tr>
<tr>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 41.7pt;" valign="top" width="56"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="color: #595959;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">1982<o:p></o:p></span></span></b></div>
</td>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 445.65pt;" valign="top" width="594"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-t9X0Mg9vD-U/VPprxYMRm9I/AAAAAAAABv0/kOHXNRy1Bzo/s1600/%5BFoto%5D%2B1982%2BFortaleza%2B01.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://3.bp.blogspot.com/-t9X0Mg9vD-U/VPprxYMRm9I/AAAAAAAABv0/kOHXNRy1Bzo/s1600/%5BFoto%5D%2B1982%2BFortaleza%2B01.JPG" width="145" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Publica <i>O amor pelas palavras</i>, com xilogravura de Norberto Onofrio em sua
capa (Editora Trote, Rio de Janeiro).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<br /></div>
</td>
</tr>
<tr>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 41.7pt;" valign="top" width="56"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="color: #595959;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">1983<o:p></o:p></span></span></b></div>
</td>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 445.65pt;" valign="top" width="594"><div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Passa a residir em São Paulo. Traduz
o livro <i>Altazor</i>, do chileno Vicente
Huidobro, em parceria com o poeta Francisco Carvalho, como exercício de maior
aproximação da língua espanhola.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<br /></div>
</td>
</tr>
<tr>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 41.7pt;" valign="top" width="56"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="color: #595959;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">1985<o:p></o:p></span></span></b></div>
</td>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 445.65pt;" valign="top" width="594"><div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Agosto – Nasce seu segundo filho, André.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<br /></div>
</td>
</tr>
<tr>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 41.7pt;" valign="top" width="56"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="color: #595959;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">1986<o:p></o:p></span></span></b></div>
</td>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 445.65pt;" valign="top" width="594"><div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Retorna a Fortaleza. Com a extinção
do BNH, é transferido para a CEF – Caixa Econômica Federal.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Abril – Tem início sua participação
no <i>SLMG – Suplemento Literário Minas
Gerais</i>, sob a direção de Paschoal Mota, em Belo Horizonte. Ali publica
traduções de ensaios, prosa e poesia de autores como Ernesto Sábado, Georges
Bataille, William Blake, Pier Paolo Pasolini, Octavio Paz, Hans Arp, Vicente
Huidobro, Álvaro Mutis, dentre muitos outros, assim como entrevistas a poetas
hispano-americanos e brasileiros.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<br /></div>
</td>
</tr>
<tr>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 41.7pt;" valign="top" width="56"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="color: #595959;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">1987<o:p></o:p></span></span></b></div>
</td>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 445.65pt;" valign="top" width="594"><div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Novembro – Publica <i>As contradições terríveis</i>, plaqueta
mesclando poemas e colagens (Edições Lauro Maciel Jr., Fortaleza). Ao
resenhá-la para o jornal <i>Tribuna do
Ceará</i>, observa José Alcides Pinto que a poesia de FM “possui, sem dúvida,
esse ritmo mágico, que se adivinha através das linhas de composição, como a
pauta musical, com tamanha leveza de forma e montagem dos poemas”, logo
concluindo que “a poesia de Floriano Martins apresenta uma nova estética da
arte, na forma e montagem do poema, com o aproveitamento das vanguardas,
diga-se, em tempo, um acréscimo – contribuição valiosa, expressiva, do que
existe de mais novo: sintaxe e sintagma, signo e símbolo se integram para a
invenção maior de sua poemática.” (suplemento <i>Literarte</i>, Fortaleza, 20/02/1988).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Dezembro – Tem início sua
participação como tradutor no suplemento <i>Prosa*Verso</i>,
sob a coordenação de José Emílio-Nelson, do jornal <i>Comércio do Porto</i>, em Portugal. Ali publica traduções de
importantes poetas hispano-americanos (Roberto Juarroz, Vicente Huidobro,
César Vallejo, Rosamel del Valle, Alfredo Silva Estrada, Severo Sarduy,
Enrique Molina, José Emílio Pacheco, Pablo Antonio Cuadra, Oliverio Girondo,
Octavio Paz, Eugenio Montejo, dentre muitos outros).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<br /></div>
</td>
</tr>
<tr>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 41.7pt;" valign="top" width="56"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="color: #595959;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">1988<o:p></o:p></span></span></b></div>
</td>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 445.65pt;" valign="top" width="594"><div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-IP5CHmYS_Vw/VPuH4Vjvp_I/AAAAAAAABzg/YN4_oc7j-hQ/s1600/Alfonso4.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://1.bp.blogspot.com/-IP5CHmYS_Vw/VPuH4Vjvp_I/AAAAAAAABzg/YN4_oc7j-hQ/s1600/Alfonso4.JPG" width="200" /></a></div>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Agosto – Cria o jornal <i>Resto do mundo</i>, dedicado à tradução de
ensaio e poesia de vários outros idiomas. Até março de 1990 saem 4 números,
incluindo textos de autores como Carlos Germán Belli, Antonin Artaud, René
Char, José Lezama Lima, Javier Sologuren, Gottfried Benn, Gonzalo Rojas,
Xrístos Láskaris, dentre muitos outros. Em depoimento a Alfonso Peña, Martins
esclarece: “No início dos 80, começo a descobrir a América Hispânica, um
mundo inteiramente novo para mim”, relatando que “O jornal <i>Resto do mundo</i> surge da necessidade de
fundar um espaço especificamente dedicado à difusão de literaturas
desconhecidas no Brasil. O dilema foi o mesmo de sempre, pelo qual já
passamos todos nós, editores em qualquer lugar do mundo. Não havia suporte
financeiro para dar continuidade à aventura editorial. Meus primeiros
contatos com o Surrealismo na América Latina coincidem com este período.
Claro que antes conhecia as <i>residências</i>
nerudianas, porém falo aqui de uma outra dimensão do Surrealismo, mais
profunda (do ponto de vista da linguagem e também do caráter da escrita e de
seu autor) e que possui um tônus distinto do Surrealismo europeu. Na época eu
me correspondia com estudiosos como os espanhóis Jorge Rodríguez Padrón e
Ángel Pariente, e também com o romeno Stefan Baciu. Foram anos de uma
correspondência muito intensa, sobretudo com Rodríguez Padrón. Registrei tudo
isto na forma de entrevistas.” (Entrevista constante do livro <i>Conversas</i>, de Alfonso Peña. San José,
Costa Rica, 2014).<span style="color: red;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<br /></div>
</td>
</tr>
<tr>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 41.7pt;" valign="top" width="56"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="color: #595959;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">1990<o:p></o:p></span></span></b></div>
</td>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 445.65pt;" valign="top" width="594"><div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">22/05 – Nota de imprensa, não assinada,
a respeito do jornal <i>Resto do mundo</i>,
observa ser surpreendente “a novidade de suas páginas e, sobretudo, a enorme
capacidade de recepção das produções atuais que, desse modo, mantêm o leitor
perfeitamente informado e, por isto, totalmente partícipe do que ocorre
atualmente no mundo. Esse é o signo desta revista: a modernidade; embora
tampouco abandone, e certamente por isso mesmo, aquilo que Octavio Paz,
sempre tão lúcido, denominou a ‘tradição da vanguarda’, como, por exemplo, o
melhor da herança surrealista.” (<i>Página
Libre</i>, Lima, Peru, 22/05).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<br /></div>
</td>
</tr>
<tr>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 41.7pt;" valign="top" width="56"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="color: #595959;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">1991<o:p></o:p></span></span></b></div>
</td>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 445.65pt;" valign="top" width="594"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-Ma2kVyrlbJ0/VPptX8ghiDI/AAAAAAAABwM/ogPyeM5775I/s1600/books.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://4.bp.blogspot.com/-Ma2kVyrlbJ0/VPptX8ghiDI/AAAAAAAABwM/ogPyeM5775I/s1600/books.png" width="298" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Agosto – Publica <i>Cinzas do sol</i>, pelo selo Mundo Manual Edições (Nova Friburgo/RJ).
Em entrevista realizada por Luiz Alberto Machado em 2010, FM assinala: “<i>Cinzas
do Sol</i> está pautado por um acidente, ou pelo acaso objetivo. O personagem
central do livro corresponde à minha avó materna. Encontrava-se prostrada à
cama, muito doente, claramente à espera da morte. Diante dela, pensando na
intensa vitalidade com que conduziu seus dias, por muito pouco resisti à
vontade de matá-la. Saí dali e não voltei mais a vê-la. Ao chegar em casa,
abri aleatoriamente as páginas de <i>Le coupable</i>, do Georges Bataille, e
salta diante de mim a frase: ‘A vida é um efeito de instabilidade, de
desequilíbrio’, logo seguida de um não menos revelador ‘Mas é a fixidez das
formas o que a torna possível’. A partir de então, eu deixo de ser apenas um
observador e passo a descobrir-me também como personagem de minha escrita.” (<i>O guia de poesia</i>, 02.07.2010).<span style="color: red;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Dezembro – Publica <i>Sábias areias</i>, pelo selo Mundo Manual
Edições (Nova Friburgo/RJ). Ao resenhá-lo para o jornal <i>O Escritor</i>, observa José Alcides Pinto que este livro é um
escândalo, “no sentido de experiência-limite, em sua vazante de
verticalidades e suntuosos extremos no tratamento com a linguagem. Recorre a
uma forma clássica e às imagens mais subterrâneas (íntimas tão somente dos
verdadeiros iniciados) de uma mística já perdida no tempo, para ‘narrar’ – há
um sutil elemento narrativo que percorre todo o livro, que o torna por inteiro
um único poema, em seus 33 sonetos brancos, ‘sonetos de areia’, como bem
salienta o autor – um mágico cenário de circunstâncias e tensas vozes em que
se dá um diálogo entre o homem e sua mãe perdida (‘mãe infundada’, ‘mãe
perdendo seus filhos’, ‘mãe de todas as noites’, ‘mãe serena dos
relâmpagos’), imagens se desdobrando vorazmente” (São Paulo, abril de 1992).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<br /></div>
</td>
</tr>
<tr>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 41.7pt;" valign="top" width="56"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="color: #595959;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">1992<o:p></o:p></span></span></b></div>
</td>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 445.65pt;" valign="top" width="594"><div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Integra um grupo surrealista sediado
em São Paulo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Julho – Colagens suas participam da
mostra “Surrealismo”, realizada no NAC – Núcleo de Arte Contemporânea, em São
Paulo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Setembro – Assina o prólogo de <i>Aluvião rei</i>, de Sérgio Lima (& etc
Edições, Lisboa, Portugal). Neste mesmo mês aparece a edição de <i>El corazón del infinito (Tres poetas
brasileños)</i> (Cuadernos de Calandrajas, Toledo). O libreto reúne
entrevistas a Sérgio Lima, José Santiago Naud e Sérgio Campos. A tradução
espanhola esteve a cargo do diretor da revista <i>Calandrajas</i>, Jesús Cobo. Logo na apresentação, observa Martins:
“à Margem de um fluxo experimental (concretismo, processos, práxis) que, em
torno dos anos 60, tomaria de assalto as veias pouco abertas (no que pese os
esforços de certa linha modernista) da poesia brasileira, tomava corpo, como
é comum a todos os tempos e lugares, a obra de autores aos quais importava
menos a rigidez acadêmica das escolas literárias do que o movimento em si da
poesia, sua dinâmica incessante. Não duvido em afirmar que em tais atitudes
isoladas (…) radica a expressão maior de nossa poesia, desde os inícios do
modernismo em <st1:metricconverter productid="1922.”" w:st="on">1922.”</st1:metricconverter>
(“Diálogos incessantes da poesia”). <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<br /></div>
</td>
</tr>
<tr>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 41.7pt;" valign="top" width="56"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="color: #595959;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">1993<o:p></o:p></span></span></b></div>
</td>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 445.65pt;" valign="top" width="594"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-anQEmibunQM/VPpumU6AOtI/AAAAAAAABwU/gxM_b081YMM/s1600/1990%2BS%C3%A9rie%2B%23%2B1.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://1.bp.blogspot.com/-anQEmibunQM/VPpumU6AOtI/AAAAAAAABwU/gxM_b081YMM/s1600/1990%2BS%C3%A9rie%2B%23%2B1.jpg" width="200" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">08/05 a 18/07 – Colagens suas
integram a mostra “América Latina e o Surrealismo”, sob a curadoria geral de
Heribert Becker, realizada no Museu Bochum, Colonia, Alemanha.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<br /></div>
</td>
</tr>
<tr>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 41.7pt;" valign="top" width="56"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="color: #595959;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">1994<o:p></o:p></span></span></b></div>
</td>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 445.65pt;" valign="top" width="594"><div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Publica <i>Tumultúmulos</i> pelo selo Mundo Manual Edições (Nova Friburgo/RJ). A
Dedalus Book publica <i>The myth of the
world – Surrealism 2</i>, antologia reunindo nomes como André Breton, Robert
Desnos, Antonin Artaud, Jacques Prévert, Magloire Saint-Aude, Eugenio
Granell, Ghérasim Luca, em um total de 47 poetas em todo mundo. A edição
inclui a íntegra de <i>Cinzas do sol</i>,
em tradução de Margaret Jull Costa (Londres, Inglaterra, com distribuição na
Austrália, Canadá e Nova Zelândia).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<br /></div>
</td>
</tr>
<tr>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 41.7pt;" valign="top" width="56"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="color: #595959;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">1995<o:p></o:p></span></span></b></div>
</td>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 445.65pt;" valign="top" width="594"><div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">18/03 – O suplemento <i>Sábado</i>, jornal <i>O Povo</i>, em Fortaleza, sob a direção de Lira Neto, publica a
edição especial “Mundo mágico” (inteiramente dedicada à poesia na América
Hispânica, com ensaios, traduções e entrevistas de Floriano Martins). <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">17/06 – O suplemento <i>Sábado</i>, jornal <i>O Povo</i>, em Fortaleza, sob a direção de Lira Neto, publica a
edição especial “Barrados no baile” (inteiramente dedicada à poesia
brasileira, com ensaios e entrevistas de Floriano Martins).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<br /></div>
</td>
</tr>
<tr>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 41.7pt;" valign="top" width="56"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="color: #595959;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">1996<o:p></o:p></span></span></b></div>
</td>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 445.65pt;" valign="top" width="594"><div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Decide demitir-se do emprego público,
passando a dedicar-se a atividades culturais (produção, tradução, curadoria
etc.).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">09/05 a 02/06 – Colagens suas
integram a mostra “A imagem da revelação”, sob a curadoria geral de Sérgio
Lima, realizada no Espaço Expositivo Maria Antonia, em São Paulo, como parte
da programação da “Homenagem ao centenário de André Breton”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">13/05 – participa da mesa-redonda “A
linguagem plástica do surrealismo”, realizada no Espaço Expositivo Maria
Antonia, em São Paulo, como parte da programação da “Homenagem ao centenário
de André Breton”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<br /></div>
</td>
</tr>
<tr>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 41.7pt;" valign="top" width="56"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="color: #595959;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">1997<o:p></o:p></span></span></b></div>
</td>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 445.65pt;" valign="top" width="594"><div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Afasta-se do grupo surrealista. Sobre
o tema, comenta em entrevista a Consuelo Tomás: “Como havia nitidamente uma
distorção em relação à leitura do Surrealismo no Brasil, me vinculei a um
grupo surrealista, a partir daí chamando a atenção para os laços de nossa
cultura com o Surrealismo. Sigo firme nisto, mas lembro que minha poesia não
corresponde unicamente àquele universo estético geralmente associado ao
Surrealismo.” (Suplemento <i>Talingo</i>, <i>La Prensa</i>, Panamá, maio de 2000).<span style="color: red;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Setembro – Leitura de poemas no
Centro Cultural São Paulo, ocasião em que distribui o libreto <i>Alma em chamas</i> (36 páginas, em formato
CD) gratuitamente no local (Edições Resto do Mundo).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<br /></div>
</td>
</tr>
<tr>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 41.7pt;" valign="top" width="56"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="color: #595959;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">1998<o:p></o:p></span></span></b></div>
</td>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 445.65pt;" valign="top" width="594"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-tWxgKhYzjV4/VPpu-p5aWuI/AAAAAAAABwk/er_8vFrA8YM/s1600/%5BMidia%5D%2B1998%2BS%C3%A3o%2BPaulo%2B01.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="145" src="https://4.bp.blogspot.com/-tWxgKhYzjV4/VPpu-p5aWuI/AAAAAAAABwk/er_8vFrA8YM/s1600/%5BMidia%5D%2B1998%2BS%C3%A3o%2BPaulo%2B01.jpg" width="200" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">20/05 – Lançamento de <i>Escritura conquistada (Diálogos com poetas
latino-americanos)</i>, na livraria Livros & Letras, em Fortaleza. Em
nota de redação do jornal <i>O Estado de
S. Paulo</i>, destaca-se que o volume “reúne entrevistas do autor com os
principais expoentes da poesia da América Latina contemporânea e propõe, por
meio do diálogo, a aproximação entre esses dois territórios que,
absurdamente, não se reconhecem. O livro encoraja o intercâmbio de culturas e
é fruto do trabalho de mais de uma década do poeta, tradutor e crítico
literário Floriano Martins” (suplemento <i>Especial
Livros Domingo</i>, São Paulo, 05/07). Em nota de redação da revista <i>Común Presencia</i>, destaca-se que “as
lúcidas perguntas que o autor formula nos conduzem pelas mais diligentes
preocupações referentes à criação e alcançam um intercâmbio eficaz entre os
autores e as línguas, assim encontrando uma eficaz irradiação do poético”
(Bogotá, Colômbia, outubro de 1998). Ao resenhá-lo para o jornal <i>O Povo</i>, Claudio Willer observa que FM
é “um entrevistador com estilo próprio” e que “sua intenção é, sempre,
mostrar a singularidade de cada autor através de sua própria voz”, concluindo
que “desse procedimento resultam textos que são quase ensaios em parceria, a
quatro mãos, densos e instigantes, além de informativos; e que apresentam uma
perfeita continuidade com os poemas publicados na sequência de cada uma das
entrevistas” (suplemente <i>Vida &
Arte</i>, Fortaleza, 13/08). Ao resenhá-lo para a revista <i>Paréntesis</i>, Miguel Gomes observa: “A
aparente heterogeneidade deste livro, mais do que lhe ser contrária,
constitui uma de suas qualidades. Graças a ela, a produção lírica do continente
adquire a consistência de um múltiplo rumor, um encontro animado de vozes
cuja energia surge da dissensão e dos inesgotáveis caminhos que esta abre.
‘Livro de todos nós’, ‘palco crepitante onde a América Latina pratica o
fervor de sua palavra poética’, ‘diálogo de poetas que tecem um encantamento
de fios soltos’: curiosamente, frases como essas, que Martins emprega na
introdução do volume, podem ser retomadas para valorar com justiça o
resultado de seus esforços.” (México, dezembro de 1999).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">08/07 – Lançamento de <i>Escritura conquistada (Diálogos com poetas
latino-americanos)</i>, no Campus Avançado de Pau dos Ferros, da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Agosto – A Fundação Memorial da
América Latina, através de sua coleção “Memo”, de ensaio e ficção, publica <i>Escrituras surrealistas</i> (São Paulo). <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-sNqx2VySefM/VPuIX31znjI/AAAAAAAABzw/kRkJHrAPIS4/s1600/ED32.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://3.bp.blogspot.com/-sNqx2VySefM/VPuIX31znjI/AAAAAAAABzw/kRkJHrAPIS4/s1600/ED32.jpg" width="151" /></a></div>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">05/08 – Lançamento de <i>Poemas de amor</i>, de Federico García
Lorca, tradução e prefácio de Floriano Martins, na livraria Livros &
Letras, em Fortaleza. Pela mesma Ediouro (Rio de Janeiro), neste ano também é
publicada a tradução de FM do livro <i>Delito
por dançar o chá-chá-chá</i>, de Guillermo Cabrera Infante. Com a morte do
escritor cubano, o jornal português <i>Diário
de Notícias</i> inclui em seu obituário um depoimento de Martins que diz:
“Trata-se de um volume de contos que também pode ser tido como uma trama
romanesca, uma vez que os personagens saltam de um conto para outro, com suas
obsessões e a mesma exuberância com que Cabrera sempre tratou a linguagem. E
o ponto em questão, ambíguo sempre, mescla enigma e fracasso. São componentes
estimulantes que requerem do tradutor uma identificação com esse mundo
abissal que habita o romancista cubano. Neste sentido, Guillermo Cabrera
Infante (1929-2005) possui um estilo desafiador, em que o próprio ambiente
linguístico (Caribe) contribui para este mergulho em um mosaico fascinante e
revelador, com sua variedade infinita de modulações. Traduzi-lo, portanto,
engrandece-nos inevitavelmente.” (<i>DN</i>,
Lisboa, Portugal, 23/02/2005).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">17/08 – Lançamento de <i>Escritura conquistada (Diálogos com poetas
latino-americanos)</i>, no Parlamundi, em Brasília. <o:p></o:p></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-gxFe2pceshQ/VPpvcjC3xfI/AAAAAAAABws/ibCbfmmcKBs/s1600/Capa%2BAlma%2Bem%2Bchamas.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://1.bp.blogspot.com/-gxFe2pceshQ/VPpvcjC3xfI/AAAAAAAABws/ibCbfmmcKBs/s1600/Capa%2BAlma%2Bem%2Bchamas.jpg" width="146" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">11/11 – Lançamento de <i>Alma em chamas</i>, na livraria Livros
& Letras, em Fortaleza. Ao resenhá-lo para o jornal <i>O Povo</i>, Claudio Willer observa que “essa ‘mescla de devaneio e
exatidão’, nas palavras do autor, é opaca pela espessura; sombria pela
seriedade; enfática, reiterativa, pela gravidade do que diz; complexa por
ser, entre outras coisas, poesia sobre poesia, espelhando a erudição do
autor. O conjunto de dezenas de trechos, alternadamente versificados e em
prosa, dividido em sete partes, é, na verdade, um só poema. A família
literária à qual pertence é a dos autores, no século XX, de poemas extensos,
que procuraram restaurar a épica e recuperar um cosmos, uma totalidade.”
(suplemento <i>Vida & Arte</i>,
Fortaleza, 11/11). A este respeito também escreve o chileno Rolando Toro, ao
dizer que o livro “põe em relevo as dimensões caóticas e míticas da
existência. Seus poemas são uma permanente ‘criação atual’ no sentido de
Alfredo Auersperg; afundam no tumulto, na complexidade, no caos criador. Seu
projeto poético é subversivo, alheio aos valores convencionais, ao formalismo
e à ‘poesia concreta’. Floriano Martins entra com determinação nas trevas da
alma, sem eludir o êxtase de viver ou a devoção pelo sagrado.” (<i>Diario de Los Andes</i>, Trujillo,
Venezuela, 24/09/2000).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<br /></div>
</td>
</tr>
<tr>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 41.7pt;" valign="top" width="56"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="color: #595959;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">1999<o:p></o:p></span></span></b></div>
</td>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 445.65pt;" valign="top" width="594"><div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">23/03 – Profere palestra sobre
revistas literárias na América Latina no seminário “Produção de Revistas”, na
livraria Livros & Letras, em Fortaleza.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Junho – A Fundação Memorial da
América Latina, através de sua coleção “Memo”, de ensaio e ficção, publica <i>Dois poetas cubanos</i>, ensaios de Jorge
Rodríguez Padrón traduzidos por FM (São Paulo). <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">11/08 – Leitura dinâmica de <i>O livro invisível de William Burroughs</i>,
colagem de textos de Floriano Martins e William Burroughs, com a participação
de Claudio Willer, Paschoal da Conceição e Graça Berman, como parte da
programação do ciclo de palestras e leituras dramáticas “Os limites da
literatura: autores rebeldes, excêntricos, marginais, malditos”, no auditório
da Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">15/09 – Lançamento do número único de
<i>Xilo – Revista de Cultura e Mídia</i>,
dirigida por Floriano Martins e Adriano Espínola, na livraria Ao Livro
Técnico, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, em Fortaleza.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Outubro – Passa a assinar uma crônica
mensal na série “Arte pela arte” do <i>Jornal
da Tarde</i> (São Paulo, 1999-2001).<o:p></o:p></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-2OM0k0WS9jU/VPpvpxvArwI/AAAAAAAABw0/Q5A8euXKFzg/s1600/ARClogo02.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="101" src="https://1.bp.blogspot.com/-2OM0k0WS9jU/VPpvpxvArwI/AAAAAAAABw0/Q5A8euXKFzg/s1600/ARClogo02.jpg" width="200" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Dezembro – Cria a <i>Agulha Revista de Cultura</i>. Entrevista
a Afonso Machado traz o seguinte depoimento de FM: “<i>Agulha</i> surge em dezembro de <st1:metricconverter productid="1999. A" w:st="on">1999. A</st1:metricconverter> partir de agosto
do ano seguinte assume comigo a direção o Claudio Willer. Naquela ocasião
publicamos uma edição especial, com a nova estrutura da revista, reunindo o
que de melhor havíamos publicado até então. Este passa a ser o novo número
inaugural da revista. Na ocasião, o editorial observava o seguinte: ‘Em um país onde cresce com
profusão a navegação na Internet, sendo patente o desdobrado índice de
investimento de capital estrangeiro em tal atividade, <i>Agulha</i> preocupa-se
quando menos em conciliar meio e mensagem. É sua clara intenção veicular um
tratamento de matérias que não incorra no desgaste abusivo, banal e
recorrente que hoje define genericamente o que se convencionou chamar de
jornalismo cultural.’”. (Rio de Janeiro, 07/2008).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<br /></div>
</td>
</tr>
<tr>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 41.7pt;" valign="top" width="56"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="color: #595959;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">2000<o:p></o:p></span></span></b></div>
</td>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 445.65pt;" valign="top" width="594"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-WBqISsWLzEA/VPpwEQlqBcI/AAAAAAAABw8/sf6T2MX1kYA/s1600/%5BFoto%5D%2B2000%2BPanam%C3%A1%2B01.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="146" src="https://2.bp.blogspot.com/-WBqISsWLzEA/VPpwEQlqBcI/AAAAAAAABw8/sf6T2MX1kYA/s1600/%5BFoto%5D%2B2000%2BPanam%C3%A1%2B01.jpg" width="200" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Março – A Fundação Memorial da
América Latina, através de sua coleção “Memo”, de ensaio e ficção, publica <i>Três entradas para Porto Rico</i>, ensaios
de José Luis Vega, com organização, tradução e prefácio de FM (São Paulo). <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">10/05 – Profere a conferência “Modernismo
na literatura hispano-americana e o surrealismo na América Latina”, na
Universidad de Panamá, Ciudad Panamá, Panamá.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">18/05 – Lançamento de <i>Alberto Nepomuceno – Em nome da ousadia</i>,
biografia do compositor, no Centro Cultural Banco do Nordeste, em Fortaleza.
FM não está presente, em função de temporada que passa na América Central. Ao
resenhá-lo para o jornal <i>O Estado de S.
Paulo</i>, João Luiz Sampaio observa que “Martins ressalta ser necessária uma
distinção entre o que era considerado nacionalismo para Nepomuceno e o
significado adquirido pelo termo após a Semana de Arte Moderna. ‘O modernismo
propõe um nacionalismo regionalizante, folclorizante, enquanto para
Nepomuceno era importante somar as experiências internas e externas em prol
de uma identidade cultural brasileira.’ Para que houvesse esse diálogo, no
entanto, era preciso que o Brasil fundasse suas próprias vozes poéticas,
deixando de ser eco daquilo que se passava na Europa, busca que marcou o
trabalho de Alberto Nepomuceno.” (<i>Caderno
2/Cultura</i>, São Paulo, 26/11).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-3LrXWTXBvCc/VPuIwijJwVI/AAAAAAAABz4/KkB6Zi3roxg/s1600/%5BMidia%5D%2B2000%2BPanam%C3%A1%2B02.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="232" src="https://1.bp.blogspot.com/-3LrXWTXBvCc/VPuIwijJwVI/AAAAAAAABz4/KkB6Zi3roxg/s1600/%5BMidia%5D%2B2000%2BPanam%C3%A1%2B02.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">20/05 – Lançamento de <i>A nona geração</i>, de Alfonso Peña
(traduzido, prefaciado e editado no Brasil por Floriano Martins), na Galeria
Andrómeda, em San José, Costa Rica. Nota de imprensa, assinada por Fabio
Agrana, destaca que “o poeta brasileiro Floriano Martins se queixou do
excesso de formalismo na poesia de seu país e afirmou que se sente como um
‘bicho estranho’ por ser um dos poucos no Brasil que combinam teatro, barroco
e surrealismo em seus poemas. Ensaísta e tradutor, Martins, de 44 anos,
aproveitou o encontro que manteve com poetas panamenhos no final de semana
passado para falar de sua poesia, seus projetos e as correntes literárias que
predominam em seu país. FM se encontra no Panamá realizando um giro de um mês
e esta semana se muda por alguns dias para Costa Rica, onde deve apresentar
um livro de contos do autor costarriquense Alfonso Peña.” (<i>Tragaluz</i>, Panamá, 21/05).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">23/05 – Lançamento de <i>Alma em chamas</i>, incluindo leitura de
poemas, realizado no Instituto Tecnológico de Costa Rica, em Florencia de San
Carlos, Costa Rica.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">25/05 – Profere a conferência “A
modernidade da poesia hispano-americana”, no Centro de Estudos Brasileiros da
Embaixada do Brasil, em San José, Costa Rica.<o:p></o:p></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-GerJtDewX9s/VPpwiyxe9EI/AAAAAAAABxE/Bfu6XdAOaDU/s1600/%5BFoto%5D%2B2000%2BPanam%C3%A1%2B02.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="146" src="https://3.bp.blogspot.com/-GerJtDewX9s/VPpwiyxe9EI/AAAAAAAABxE/Bfu6XdAOaDU/s1600/%5BFoto%5D%2B2000%2BPanam%C3%A1%2B02.jpg" width="200" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">27/05 – Apresentação do espetáculo
“Altares do caos” (poesia, música e dança), realizado no Museu de Arte
Contemporânea, em Ciudad Panamá, Panamá. Concepção, textos e direção de
Floriano Martins. Direção musical de Domingo Muñóz. Participação do grupo de
dança moderna dirigido por Vielka Chú.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">25/07 – Lançamento de <i>A nona geração</i>, de Alfonso Peña
(incluindo uma exposição do artista Eduardo Eloy, que assina capa e
ilustrações internas da edição), na Galeria Ignez Fiúza, em Fortaleza.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Integra o grupo de artistas que cria
o INGRAV – Instituto da Gravura do Ceará.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<br /></div>
</td>
</tr>
<tr>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 41.7pt;" valign="top" width="56"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="color: #595959;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">2001<o:p></o:p></span></span></b></div>
</td>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 445.65pt;" valign="top" width="594"><div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">A revista <i>Caras</i> encarta em uma de suas edições um libreto intitulado <i>A melhor poesia do mundo (poetas
estrangeiros)</i>, incluindo poemas de García Lorca, Shakespeare, Baudelaire,
Petrarca e Fernando Pessoa. FM assina a tradução dos poemas de Lorca. A coleção
“Poetas de Orpheu”, da Maneco Livraria & Editora, publica <i>Extravio de noites</i> (Caxias do Sul/RS).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Janeiro – Cria a <i>Banda Hispânica</i>, primeiro banco de dados na Internet dedicado
exclusivamente à poesia de língua espanhola. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">28/07 – Convidado do Fórum Internacional
2001, da Academia Guanajuatense de Arte y Cultura, realizado em Guanajuato,
México.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><st1:metricconverter productid="17 a" w:st="on">17 a</st1:metricconverter> 19/08 – Convidado do Colóquio Internacional “O
surrealismo: atualidade e subversão”, realizado na Faculdade de Ciências e
Letras, Universidade Estadual Paulista, em Araraquara, São Paulo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-x4F5qhGv_Fg/VPpwwIRAlgI/AAAAAAAABxM/dXEuv9ZtFnk/s1600/Capa%2BCinzas%2Bdo%2Bsol.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://4.bp.blogspot.com/-x4F5qhGv_Fg/VPpwwIRAlgI/AAAAAAAABxM/dXEuv9ZtFnk/s1600/Capa%2BCinzas%2Bdo%2Bsol.jpg" width="132" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Setembro – Ediciones Andrómeda
publicam <i>Cenizas del sol – poemas y
esculturas</i>, de Floriano Martins e Edgar Zúñiga, em tradução de Benjamin
Valdivia e Saul Ibargoyen (espanhol) e Margaret Jull Costa (inglês) (edição trilíngue,
San José, Costa Lima).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Dezembro – A Escrituras Editora
publica <i>O começo da busca. O
surrealismo na poesia da América Latina</i>, em sua coleção Ensaios
Transversais. O livro mescla estudo sobre o surrealismo e antologia poética,
reunindo autores de vários países do continente. Ao resenhá-lo para o <i>Estado de Minas</i>, observa Maria Esther
Maciel que o livro “não vem apenas mapear vozes importantes do surrealismo
latino-americano ou reconstituir, por uma via alternativa, parte da história
da poesia moderna brasileira que a historiografia literária oficial esqueceu,
desprezou ou rasurou, mas também convidar o leitor a exercitar, em meio ao
‘horizonte dos utensílios’, que define o nosso tempo, os poderes
revitalizantes da imaginação” (Belo Horizonte, 13/04/2002). Coincide com a
poeta brasileira o espanhol J. M. Pérez Corrales, ao resenhar este livro no
jornal <i>El Día</i>, quando diz tratar-se
de “uma antologia fundamental, que afronta com seriedade o controvertido tema
da atividade surrealista sul-americana e que será a partir de agora um ponto
de referência inevitável (embora não nos reste dúvida de que o academicismo
universitário o ignorará por todo o tempo que possa)” (suplemento <i>Archipiélago Literario</i>, Tenerife,
Ilhas Canárias, 09/07/2002).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<br /></div>
</td>
</tr>
<tr>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 41.7pt;" valign="top" width="56"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="color: #595959;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">2002<o:p></o:p></span></span></b></div>
</td>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 445.65pt;" valign="top" width="594"><div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Juntamente com Maria Estela Guedes,
organiza um número especial da revista <i>Atalaia
Intermundos</i>, dedicado ao surrealismo. Universidade de Lisboa, Portugal.<o:p></o:p></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-bKgFuA2Rx3M/VPpxC9kByDI/AAAAAAAABxU/EnbmsrDRkts/s1600/Revista%2BAlforja.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://4.bp.blogspot.com/-bKgFuA2Rx3M/VPpxC9kByDI/AAAAAAAABxU/EnbmsrDRkts/s1600/Revista%2BAlforja.jpg" width="137" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">03/05 – Lançamento de <i>Alforja – Revista de Poesía</i> # 19,
edição especial dedicada à poesia brasileira organizada por Floriano Martins,
na Casa del Risco, San Ángel, Ciudad de México. Ao comentar a edição para o
jornal <i>El Universal</i>, Rodrigo Flores
observa: “O editor, ensaísta e poeta Floriano Martins, que reuniu este
material abundante, tanto em extensão como em riqueza artística, apontou que
a revista mostra um ‘exercício de honestidade intelectual’ e que a soma de
vozes que oferece não representa os gostos do antologista. Em entrevista para
o jornal <i>El Universal</i>, Martins, que
dirige duas revistas de literatura no Brasil, disse que o que mais levou em
conta ao reunir as vozes que aparecem neste número de <i>Alforja</i> é que a antologia não fosse apenas uma mostra de versos,
‘mas sim que tivesse também a visão crítica desses poetas que são também
ensaístas ou editores’. Para a elaboração da antologia, foram consideradas
tanto a poesia ‘permitida’, aquela que se divulga nos meios de comunicação,
quanto a que pertence ao ‘rio subterrâneo’, ao qual são afins muitos poetas
marginais: ‘Abrir espaços é o que faço com as duas revistas que dirijo. Não
para buscar concordância. Abrir espaços para sua discussão.’ Martins disse
que desta maneira se configurou uma ‘visão aberta e ampla’ da produção
poética do Brasil atual.” (suplemento <i>Cultura</i>,
México, 04/05).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<br /></div>
</td>
</tr>
<tr>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 41.7pt;" valign="top" width="56"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="color: #595959;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">2003<o:p></o:p></span></span></b></div>
</td>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 445.65pt;" valign="top" width="594"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-x_tKmh7QdNg/VPpyHJmN4FI/AAAAAAAABxc/de5WMg5PBZk/s1600/2004%2BFM%2B%5BPorto%5D%2B2.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://1.bp.blogspot.com/-x_tKmh7QdNg/VPpyHJmN4FI/AAAAAAAABxc/de5WMg5PBZk/s1600/2004%2BFM%2B%5BPorto%5D%2B2.jpg" width="160" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Aventura-se por quase dois anos em
viagens contínuas a Portugal, percorrendo várias regiões do país.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">11/11 – Profere conferência na
Academia Brasileira de Letras sob o tema “O Surrealismo no Brasil”, como
parte do ciclo Vanguardas e Pós-Modernismo. No ano seguinte a ABL reúne todas
as conferências em um volume duplo intitulado <i>Escolas literárias no Brasil</i> (Coleção Austregésilo de Athayde,
Rio de Janeiro, 2004).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<br /></div>
</td>
</tr>
<tr>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 41.7pt;" valign="top" width="56"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="color: #595959;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">2004<o:p></o:p></span></span></b></div>
</td>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 445.65pt;" valign="top" width="594"><div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Ediciones B (Santiago, Chile)
publicam <i>El bacalao – Diatribas
antinerudianas y otros textos</i>, em compilação de Leonardo Sanhueza, volume
crítico sobre Pablo Neruda reunindo textos de vários autores, dentre eles
Vicente Huidobro, Juan Ramón Jiménez, Octavio Paz, Guillermo Cabrera Infante
e Enrique Lihn. A edição inclui um ensaio de FM.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Março – A Editora Gótica (Lisboa,
Portugal) publica <i>Nós/Nudos – 25 poemas
sobre 25 obras de Paula Rego</i>, de Ana Marques Gastão, em tradução para o
espanhol de FM.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><st1:metricconverter productid="11 a" w:st="on">11 a</st1:metricconverter> 28/03 – Convidado do 1º Festival Mundial de Poesia,
organizado pelo Conselho Nacional da Cultura, em Caracas, Venezuela.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Outubro – Convidado da 4ª Feira do
Livro no Zócalo, sob o tema “A cidade um livro aberto”, realizada na Cidade
do México, México. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<br /></div>
</td>
</tr>
<tr>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 41.7pt;" valign="top" width="56"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="color: #595959;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">2005<o:p></o:p></span></span></b></div>
</td>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 445.65pt;" valign="top" width="594"><div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-p2ggStwK5h4/VPuJGbYnwKI/AAAAAAAAB0A/Nc0at-DEhkw/s1600/homenagem.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://4.bp.blogspot.com/-p2ggStwK5h4/VPuJGbYnwKI/AAAAAAAAB0A/Nc0at-DEhkw/s1600/homenagem.jpg" width="132" /></a></div>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Março – Com a publicação dos livros <i>Homenagem à realidade</i>, de Cruzeiro
Seixas e <i>A idade da escrita e outros
poemas</i>, de Ana Hatherly – ambos organizados e prefaciados por FM –, passa
a assinar a coordenação editorial da coleção “Ponte Velha”, da Escrituras
Editora, exclusivamente dedicada à publicação no Brasil de autores de língua
portuguesa dos demais países dessa comunidade linguística. Em entrevista a
Edson Cruz, aclara: “A <i>Ponte Velha</i>
surge em 2003, com a publicação de livros da Ana Marques Gastão e do António
Osório. Nestes dois primeiros títulos ainda nem aparece o nome da coleção. No
ano seguinte eu viajo para Portugal, ali conheço a Ana Marques Gastão e
também a Rosa Alice Branco. É a Rosa Alice quem facilita os contatos com Nuno
Júdice e Pedro Tamem, que são os dois autores seguintes da coleção, ao lado
dela própria (livro este que traz prefácio meu), quando então já aparece pela
primeira vez o nome <i>Ponte Velha</i>. Já
neste mesmo ano eu assumo, na prática, a coordenação da coleção, embora ainda
apareçam os nomes de António Osório e Carlos Nejar como coordenadores
(somente em 2007 é que ambos são devidamente situados pela editora como
criadores da coleção e não coordenadores).” (<i>Blog da Escrituras Editora</i>, 06/08/2009).<span style="color: red;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">09/03 a 09/04 – Assina a curadoria da
exposição “Cidades”, retrospectiva da obra plástica de Hélio Rôla, realizada
no Memorial da Cultura Cearense, no Centro Cultural Dragão do Mar, em
Fortaleza.<o:p></o:p></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">10/03 – A Embaixada da Venezuela no
Brasil rende homenagem ao livro <i>Escritura
Conquistada</i> (1998) em noite intitulada “Tributo a Poesía Iberoamerica”,
incluindo leitura de poemas (Brasília). <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Outubro – Convidado da XII Semana
Internacional da Poesia, em Caracas, Venezuela.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><st1:metricconverter productid="18 a" w:st="on">18 a</st1:metricconverter> 24/10 – Convidado do ChilePoesía – Festival Mundial
de Poesia, em Santiago, Chile.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Novembro – A editora Letras
Contemporâneas (Florianópolis/SC) publica <i>A
condição urbana</i>, antologia bilingue da poesia do venezuelano Juan
Calzadilla organizada e traduzida por Floriano Martins.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<br /></div>
</td>
</tr>
<tr>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 41.7pt;" valign="top" width="56"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="color: #595959;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">2006<o:p></o:p></span></span></b></div>
</td>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 445.65pt;" valign="top" width="594"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-N6qElSW6XLw/VPpy-n1EbDI/AAAAAAAABxs/OpUy9YrTFH8/s1600/Capa%2BFM%2BTres%2BEstudios%2Bpara%2Bun%2BAmor%2BLoco.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://1.bp.blogspot.com/-N6qElSW6XLw/VPpy-n1EbDI/AAAAAAAABxs/OpUy9YrTFH8/s1600/Capa%2BFM%2BTres%2BEstudios%2Bpara%2Bun%2BAmor%2BLoco.jpg" width="123" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Julho – Alforja Arte y Literatura
(México) publica <i>Tres estudios para un
amor loco</i>, em tradução de Marta Spagnuolo. No prefácio, José Ángel Leyva
observa que “o jogo fosforescente, luminoso de seus versos provoca efeitos
múltiplos no espectador-leitor. Com habilidade de saltimbanco ou domador
obriga as imagens a realizar acrobacias conceituais e emotivas. Dota-as de
sensualidade, sujeita-as à gravidade dos corpos para evitar que se desvaneçam
no ar, na incontinência ou no automatismo verbal. O autor faz jogos,
malabarismos em espelhos simbólicos onde se adverte a tradição – da vanguarda
–, seus significados.”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Huerga & Hierro Editores (Madri,
Espanha) publicam <i>Antología de poesía
brasileña</i>, organizada por Floriano Martins e José Geraldo Neres, com capa
e mostra gráfica de Hélio Rola.<o:p></o:p></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-7C8Vin-jLAs/VPpypDj85JI/AAAAAAAABxo/t69KZMZOazM/s1600/2006%2BFM%2B%5BFortaleza%5D%2B16.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="139" src="https://4.bp.blogspot.com/-7C8Vin-jLAs/VPpypDj85JI/AAAAAAAABxo/t69KZMZOazM/s1600/2006%2BFM%2B%5BFortaleza%5D%2B16.jpg" width="200" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">11/07 – Apresentação de “Teatro
impossível” (mostra múltipla de poemas, canções, fotografias, colagens e
vídeos), no Centro Cultural Banco de Nordeste, em Fortaleza. Matéria do
jornal <i>O povo</i> do mesmo dia traz o
seguinte comentário de Floriano Martins: “A mostra reflete uma condição
mestiça, de vivência e defesa estética. É esta minha inquietude por abraçar
muitas linguagens, e provocar o limite máximo de suas impossibilidades”.
(Caderno <i>Vida & Arte</i>,
Fortaleza/CE).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Setembro – O Taller Editorial El Pez
Soluble (Caracas, Venezuela) publica, em edição bilíngüe, <i>La noche impresa en tu piel</i>, em
tradução de Marta Spagnuolo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-UjLg7_cMg2g/VPuKefR-I-I/AAAAAAAAB0U/91EP9oVsPik/s1600/%5BFoto%5D%2B2005%2BCuiab%C3%A1%2B03.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="150" src="https://4.bp.blogspot.com/-UjLg7_cMg2g/VPuKefR-I-I/AAAAAAAAB0U/91EP9oVsPik/s1600/%5BFoto%5D%2B2005%2BCuiab%C3%A1%2B03.JPG" width="200" /></a></div>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><st1:metricconverter productid="16 a" w:st="on">16 a</st1:metricconverter> 24/09 – Coordena os painéis do Fórum de
Integração Sul-Americana da
LiterAmérica – Feira Sul-Americana do Livro, Governo do Mato Grosso, em
Cuiabá. Em entrevista concedida a Lorenzo Falcão, observa: “Insisto em preferir
falar em diálogo e não em integração. Os ganhos em tal relação se verificam
dos dois lados e é importante ter sensibilidade para livrar-se do sentimento
danoso de arrogância que sempre adotamos em relação aos vizinhos. A
contribuição maior que se pode dar reside justamente na escolha dos
convidados, buscando nomes que não se sustentem apenas no prestígio – cujo
prestígio seja uma decorrência do trabalho – e que disponham de condições de
articular desdobramentos, porque nada se resolverá através unicamente do
Fórum ou de qualquer outra ação isolada. Não há uma mágica possível para
fomentar esse diálogo de maneira substanciosa e duradoura. Ter na
LiterAmérica poetas e narradores que desempenham alguma função crítica,
jornalística e editorial, por exemplo, é já um parâmetro inicial para se
propor uma consequência do diálogo, inventariando planos de produção e
difusão da produção cultural em toda a América do Sul. Evidente que todo
evento requer as suas figuras circenses, as vedetes com seu ego cintilante,
porém me parece que se deva apostar a menor quantidade possível de fichas em
tal artifício. Convidar editores e adidos culturais, por exemplo, para
verificar perspectivas de convênios editoriais, é outro aspecto a requerer
definição.” (<i>Overmundo</i>, Cuiabá, Mato Grosso, 19/03).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><st1:metricconverter productid="27 a" w:st="on">27 a</st1:metricconverter> 29/09 – Convidado do I Colóquio de Estudos
Literários Contemporâneos, do Centro de Artes e Comunicação da Universidade
Federal de Pernambuco, em Recife.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><st1:metricconverter productid="02 a" w:st="on">02 a</st1:metricconverter> 06/10 – Convidado do V Festival Internacional de
Poesia de El Salvador, realizado pela Fundação de Poetas de El Salvador, em
San Salvador.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><st1:metricconverter productid="02 a" w:st="on">02 a</st1:metricconverter> 11/11 – Convidado do III Congresso de Poesia
Canária “La Laguna en Poesía”, em Tenerife, Ilhas Canárias, Espanha.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<br /></div>
</td>
</tr>
<tr>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 41.7pt;" valign="top" width="56"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="color: #595959;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">2007<o:p></o:p></span></span></b></div>
</td>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 445.65pt;" valign="top" width="594"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-DkiP6qn--ds/VPpza0Aql_I/AAAAAAAABx0/0gVBzoqq2yM/s1600/Capa%2BDuas%2Bmentiras.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://2.bp.blogspot.com/-DkiP6qn--ds/VPpza0Aql_I/AAAAAAAABx0/0gVBzoqq2yM/s1600/Capa%2BDuas%2Bmentiras.jpg" width="142" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Ediciones Andrómeda (San José, Costa
Rica) publicam <i>Poemas para leer en voz
alta</i>, antologia de Claudio Willer organizada e prefaciada por Floriano
Martins, em tradução de Eva Schnell. O Projeto Dulcineia Catadora (São Paulo)
publica <i>Duas mentiras</i> (poesia). No
prefácio, Claudio Willer observa que este livro “transmite a impressão de que
seu autor se esconde, ao adotar uma <i>persona</i>
feminina. E mais, de que resolveu promover uma inflexão, mudança radical, se
compararmos este livro com sua produção anterior – por exemplo, <i>Alma em Chamas</i>, seu livro de 1998 –
que poderia ser perfilada ao barroco, ou, antes, a um surrealismo metafísico,
além de ser associada a algumas das grandes construções de fragmentos que, na
modernidade, ocuparam o lugar da epopeia. Aqui, não: o que temos é linguagem
quase sempre direta, fluente, de poucas imagens. No lugar da sugestão
promovida pela imagética de origem simbolista, há descrições, um percurso
minucioso pelas regiões, desvãos e reentrâncias do corpo, por gradações e
nuances do erótico. Tudo muito real, nada mentiroso. Poderia ser um depoimento,
se o autor fosse aquele – aquela, no caso – que fala. Mas não é. Resta saber
se esta é a voz de outro (de outra) ou se sua própria voz é a voz do outro.”
</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-Y8qGDQLiohk/VPuUl60DRjI/AAAAAAAAB0k/hHIlS65VLu8/s1600/2009%2BRep%C3%BAblica%2BDominicana%2B06.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="148" src="https://1.bp.blogspot.com/-Y8qGDQLiohk/VPuUl60DRjI/AAAAAAAAB0k/hHIlS65VLu8/s1600/2009%2BRep%C3%BAblica%2BDominicana%2B06.JPG" width="200" /></a></span></div>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"> Convidado do 1º Festival Internacional de Poesia e da X Feira Internacional
do Livro da República Dominicana, em Santo Domingo. Uma nota de imprensa,
assinada por Alfonso Quiñones, informa que “Floriano Martins presenteou a
todos com três poemas interessantes que conseguiram empatia com o público
graças à leitura em espanhol realizada por uma poeta mexicana. Eram poemas
bem brasileiros, que falavam de orgasmos e outras belezas.” (<i>DiarioLibre</i>, 01/05). A poeta mexicana
a que o jornalista se refere é María Baranda, que acompanharia Martins em
outras leituras em sua estadia na capital dominicana. Nesta mesma época, o
poeta organizou, a pedido da Fundação Biblioteca Ayacucho, da Venezuela, um
volume dedicado à poesia de Carlos Drummond de Andrade, primeiro título da
importante coleção projetado como edição bilíngue, e que jamais foi publicado
por divergências entre a editora venezuelana e os herdeiros do poeta
brasileiro. O extenso estudo introdutório deste volume foi inserido no livro <i>A inocência de pensar</i>, que Martins
publicaria em 2009.<o:p></o:p></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-89raPapHZFk/VPpzmu2TdKI/AAAAAAAABx8/sr-N5tuueZA/s1600/Capa%2BFM%2BTeatro%2BImposible.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://1.bp.blogspot.com/-89raPapHZFk/VPpzmu2TdKI/AAAAAAAABx8/sr-N5tuueZA/s1600/Capa%2BFM%2BTeatro%2BImposible.jpg" width="134" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span lang="ES">A
Fundación Editorial el Perro y la Rana (Caracas, Venezuela) publica <i>Teatro imposible</i>, com tradução de
Marta Spagnuolo. </span>Em entrevista a Álvaro
Alves de Faria, Martins afirma haver optado por “recuperar poemas de
alguns de meus livros, ao lado daqueles publicados apenas em periódicos e a
eles acrescentar novos escritos, dando ao conjunto identidade e estrutura
próprias. <i>Teatro Imposible</i> é o resultado de uma leitura da minha
poética situada em um ambiente mais dramático, dentro de uma vertente teatral
que busco cada vez mais intensamente.” (Jornal <i>Rascunho</i>, Curitiba, 03/2007).
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">04/09 – Profere a conferência
“Surrealismo no Brasil” no Centro Universitário Fundação Santo André (São
Paulo), da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-qb_MKBeAiJQ/VPuVWRbMLfI/AAAAAAAAB0s/OKdJfTMPoDc/s1600/Capa%2BMundo%2BM%C3%A1gico.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://2.bp.blogspot.com/-qb_MKBeAiJQ/VPuVWRbMLfI/AAAAAAAAB0s/OKdJfTMPoDc/s1600/Capa%2BMundo%2BM%C3%A1gico.jpg" width="138" /></a></div>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><st1:metricconverter productid="27 a" w:st="on">27 a</st1:metricconverter> 30/09 – Convidado da FLIPORTO, Festa Literária
Internacional de Porto de Galinhas, em Pernambuco. Para esta ocasião prepara
(organização, tradução e apresentação), com Lucila Nogueira, o livro <i>Mundo mágico: Colômbia – Poesia colombiana
no século XX</i>, antologia que reúne as 40 vozes mais expressivas da lírica
colombiana (Edições Bagaço, Recife/PE).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><st1:metricconverter productid="27 a" w:st="on">27 a</st1:metricconverter> 29/11 – Assina a curadoria do “I Encontro de
Agentes Culturais Latino-americanos” (reunião de trabalho com agentes do
Brasil, Colômbia, Chile, Cuba, México, Peru, República Dominicana e
Venezuela), no Teatro José de Alencar, em Fortaleza. Nota de imprensa
assinada pela redação do <i>Diário do
Nordeste</i>, resume que: “segundo Floriano Martins, o objetivo do encontro é
trocar experiências que possam servir de base para uma política do livro e da
leitura que não esteja voltada apenas para o lado comercial. ‘Com isto, não
estamos deixando o mercado de lado. Mas a ideia é que deixemos de ser
comandados pelo mercado editorial e sejamos guiados pela cultura’, explicou.”
(<i>Caderno 3</i>, Fortaleza, 27/11).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<br /></div>
</td>
</tr>
<tr>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 41.7pt;" valign="top" width="56"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="color: #595959;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">2008<o:p></o:p></span></span></b></div>
</td>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 445.65pt;" valign="top" width="594"><div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-6nUceXenW_U/VPuH4jKWtHI/AAAAAAAABzk/dRPtm8wWf4M/s1600/ag63capa6.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://2.bp.blogspot.com/-6nUceXenW_U/VPuH4jKWtHI/AAAAAAAABzk/dRPtm8wWf4M/s1600/ag63capa6.jpg" width="162" /></a></div>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">O projeto Baluerna/Cuadernos del
viajero (Cáceres, Espanha) publica <i>Los
párpados ardientes del último relámpago</i>, em tradução de Antonio Sáez
Delgado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">08/04 – Profere a conferência “Poemas
digitais”, acompanhada de projeção de imagens de sua obra plástica, no MuBE –
Museu Brasileiro da Escultura (São Paulo). <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">10/04 – Recebe o Prêmio Antonio Bento
2007, da ABCA – Associação Brasileira de Críticos de Arte, pela direção da <i>Agulha Revista de Cultura</i>, solenidade
realizada em São Paulo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-xSIgDF4v1F4/VPpz-A8bvGI/AAAAAAAAByM/TDpLOHnJsjg/s1600/%5BDisco%5D%2B2007%2BBrincos%2Bdo%2Bmar%2Be%2Bo%2Binfinito.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://4.bp.blogspot.com/-xSIgDF4v1F4/VPpz-A8bvGI/AAAAAAAAByM/TDpLOHnJsjg/s1600/%5BDisco%5D%2B2007%2BBrincos%2Bdo%2Bmar%2Be%2Bo%2Binfinito.jpg" width="186" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">11/04 – Show musical de lançamento do
disco <i>Brincos do mar e o infinito</i>
(em parceria com Mário Montaut) e do livro <i>Duas mentiras</i> (2007), no espaço Vila Teodoro, em São Paulo. Sobre
o disco, nota não-assinada no <i>Diário do
Nordeste</i> observa: “A poesia de Floriano está embebida pela musicalidade
de Montaut. Uma convivência que permite alguns parceiros extras entre
referências universais, judaicas, flamencas e pops mesclando-se em um
itinerário rumo a um infinito lírico não-piegas e surrealista, que não abre
mão do erotismo e de referências iconoclastas.” (<i>Caderno 3</i>, 25/03/2008).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Maio – Convidado do 5º Festival
Mundial de Poesia – Casa Nacional de las Letras Andrés Bello (Caracas,
Venezuela). As Edições Nephelibata (Desterro/SC) publicam a novela <i>Sobras de Deus</i>. Em texto que se
manteve inédito, Iosito Aguiar observa que “apesar de lidar com loucura,
poetas e impossibilidades vitais, o estilo rico, mas seco e objetivo do
autor, evidencia uma ausência, a ausência da música que, ressaltamos,
parece-nos intencional. A maestria na manipulação imagética, leva-o a
prescindir da intenção melopaica. Sua dicção nos conduz a uma “prosa de
câmara”, acentuando com sua linguagem certo mal-estar linguístico, presente
em Kafka, Artaud e Beckett, como expressão de um mundo em ruínas onde todos
os valores humanos foram ou estão sendo aniquilados, pois: ‘Dar pela falta
dos tecidos imutáveis de que é feito cada vida, leva o mesmo e imprevisível
tempo que fiá-la’”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-Xs6LZHPzn2E/VPp0OimSqcI/AAAAAAAAByU/YCdlDxfIrUU/s1600/Capa%2BFM%2BUn%2BNuevo%2BContinente.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://4.bp.blogspot.com/-Xs6LZHPzn2E/VPp0OimSqcI/AAAAAAAAByU/YCdlDxfIrUU/s1600/Capa%2BFM%2BUn%2BNuevo%2BContinente.jpg" width="123" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span lang="ES"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Lançamento
de <i>Un nuevo continente – Antología del
surrealismo en la poesía de nuestra América</i> (Monte Ávila, 2007), em
Caracas, Venezuela.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Setembro – Convidado do II Festival
Internacional de Escritores “Literatura en el Bravo” (Ciudad Juarez, México).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><st1:metricconverter productid="12 a" w:st="on">12 a</st1:metricconverter> 21/11 – Assina a curadoria geral da 8ª Bienal
Internacional do Livro do Ceará, sob o tema “A aventura cultural da
mestiçagem”, evento realizado no Centro de Convenções, em Fortaleza. Em nota
de imprensa assinada pela redação, o escritor Gary Daher destaca que o
curador “é o primeiro nome que nos chega ao pensar nas atividades literárias
de todo o Brasil. Sua atuação o há transformado no procurador cultural por
excelência, colocando-se seu nome entre os principais gestores culturais do
mundo latino-americano.” (<i>El Día</i>,
Bolívia, 30/11).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<br /></div>
</td>
</tr>
<tr>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 41.7pt;" valign="top" width="56"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="color: #595959;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">2009<o:p></o:p></span></span></b></div>
</td>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 445.65pt;" valign="top" width="594"><div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">A Global Editora inclui FM no volume
dedicado aos anos 70 em sua coleção de antologias geracionais intitulada <i>Roteiro da poesia brasileira</i> (15
volumes). Este volume vem organizado por Afonso Henriques Neto que, acerca da
poesia de Martins, observa que o poeta “retoma o contato com a tradição
surrealista, operando uma total abertura da imaginação poética com extrema
vitalidade”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Fevereiro – Convidado do V Festival
Internacional de Poesia de Granada (Nicarágua). O projeto jornalístico
virtual <i>Via Política</i> (<a href="http://www.viapolitica.com.br/principal.php">www.viapolitica.com.br/principal.php</a>), dá início à seção “Sala de retratos”, série de
artigos e ensaios de FM que funcionam como perfis de figuras fundamentais às
artes e à cultura em vários países.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><st1:metricconverter productid="02 a" w:st="on">02 a</st1:metricconverter> 11/02 – Integra o quadro de jurados do Prêmio Casa
das Américas, realizado em Cienfuegos e Havana (Cuba).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-mT8oC9x2X1M/VPuWiBOURNI/AAAAAAAAB04/vUMUa3y9TMw/s1600/Capa%2BM%C3%A1scaras%2Bde%2BOrfeu.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://1.bp.blogspot.com/-mT8oC9x2X1M/VPuWiBOURNI/AAAAAAAAB04/vUMUa3y9TMw/s1600/Capa%2BM%C3%A1scaras%2Bde%2BOrfeu.jpg" width="134" /></a></div>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Março – A Secretaria de Estado da
Cultura da República Dominicana publica a antologia <i>Máscaras de Orfeo – Poesía brasileña y dominicana</i>, organizada e
prefaciada por Floriano Martins e Basílio Belliard (Santo Domingo). <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">20/04 a 03/05 – Convidado da XII
Feira Internacional do Livro da República Dominicana, que teve o Brasil como
país convidado de honra (Santo Domingo).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Maio – A Escrituras Editora publica <i>A inocência de pensar</i>. Ao resenhar o
livro para o jornal <i>Folha de S. Paulo</i>,
Reynaldo Damazio observa que neste livro “o poeta Floriano Martins reúne
ensaios, resenhas e entrevistas que marcam seu esforço militante em defesa de
uma arte encantatória, inspirada, oriunda da experiência surrealista.
Literatura, cultura e artes plásticas são discutidas com a preocupação de
revelar um viés diverso do acadêmico, como na abordagem do poeta José
Santiago Naud, na entrevista com o historiador Sânzio de Azevedo, ou na
lembrança do cronista Milton Dias. Mesmo nos artigos dedicados a poetas
consagrados, como Manuel Bandeira, Carlos Drummond e João Cabral – ainda que
apoiados em bibliografia igualmente consagrada –, o autor tenta revelar um
aspecto menos destacado. A defesa do surrealismo, ainda que às vezes menos
explícita, percorre os textos sobre a arte de Max Ernst, Amadeo Modigliani e
Hans Arp, ou sobre a literatura de Ghérasim Luca, Michel Roure e Robert
Graves. </span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-5zyNvI71ivc/VPubSMEysfI/AAAAAAAAB2A/CK9POEsn7bg/s1600/Capa%2BFM%2BA%2BInoc%C3%AAncia%2Bde%2BPensar.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://1.bp.blogspot.com/-5zyNvI71ivc/VPubSMEysfI/AAAAAAAAB2A/CK9POEsn7bg/s1600/Capa%2BFM%2BA%2BInoc%C3%AAncia%2Bde%2BPensar.jpg" width="131" /></a></span></div>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Num trecho de Graves reproduzido no livro talvez esteja a chave para
entender a visão poética de Martins: ‘a função da poesia é a invocação
religiosa da musa; sua utilidade é a mescla de exaltação e de horror que a
sua presença suscita’. Difícil, no entanto, é crer na inocência do
pensamento, ainda que ironicamente.” (São Paulo, novembro). Em entrevista a
Edson Cruz, o próprio Martins fala sobre o livro: “O título é uma bela luz
que me foi dada pela leitura da correspondência entre Guimarães Rosa e Curt
Meyer-Clason. A inocência referida relaciona-se com a alma limpa de vícios e
lugares-comuns. Os temas abordados no livro o são sem conflito canônico, sem
interferência dogmática. Uma leitura despojada de artifícios acadêmicos e que
naturalmente se relaciona com essa condição renascentista tão bem lembrada
por Jacob Klintowitz no prefácio. Os ensaios surgiram em momentos distintos,
como componentes de uma visão de mundo que segue se renovando”. (<i>Blog da Escrituras Editora</i>,
06/08/2009). <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">A Apenas Livros (Lisboa, Portugal)
publica <i>A alma desfeita em corpo</i>,
em sua coleção “Naturarte”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><st1:metricconverter productid="02 a" w:st="on">02 a</st1:metricconverter> 23/07 – Fotografias suas integram a I Mostra
Internacional de Poesia Visual e Experimental (Caracas, Venezuela), realizada
na Escola de Artes Plásticas Armando Reverón.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">16/07 – Poemas seus são lidos por
Joana Ruas no evento “Noites com poemas”, realizado na Biblioteca Municipal
de Cascais (Portugal).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-jMqObXRvfkQ/VPua7wDHgGI/AAAAAAAAB14/bUz82MAJe68/s1600/FM%2B%26%2BCarolina%2BCalvo-P%C3%A9rez.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="150" src="https://4.bp.blogspot.com/-jMqObXRvfkQ/VPua7wDHgGI/AAAAAAAAB14/bUz82MAJe68/s1600/FM%2B%26%2BCarolina%2BCalvo-P%C3%A9rez.jpg" width="200" /></a></div>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">28/08 a 05/09 – Convidado do Festival
Internacional da Cultura (Tunja, Colômbia), onde apresenta o espetáculo
“Poemas digitais”, que mescla poesia, fotografia, vídeo e música, com a
participação especial de Carolina Calvo-Pérez.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><st1:metricconverter productid="09 a" w:st="on">09 a</st1:metricconverter> 17/10 – Convidado do Foro Ibero-americano sobre
Bibliodiversidade e do III Salão do Livro Ibero-americano de Huelva
(Espanha). Nesta ocasião é feito o lançamento do livro <i>Fuego en las cartas</i>, edição bilíngue em tradução da mexicana
Blanca Luz Pulido (Colección Palabra Ibérica, Punta Úmbria), em que Martins
lê poemas do livro ao lado da poeta mexicana Marianne Toussaint Ochoa. O
livro, contudo, não havia ficado pronto, sendo reapresentado na edição do ano
seguinte do mesmo evento.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><st1:metricconverter productid="01 a" w:st="on">01 a</st1:metricconverter> 04/12 – Assina, juntamente com Norberto Codina, a
curadoria do evento “Fundação Casa das Américas – 50 anos de cultura e
revolução”, realizado em Fortaleza, na Casa José de Alencar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">09/12 – O jornal <i>O Povo</i> informa seu afastamento da curadoria da Bienal Internacional
do Livro do Ceará, cuja segunda edição sob seus cuidados estava prevista para
2010, reproduzindo parcialmente e-mail recebido pela redação, onde afirma:
“Sempre foi meu entendimento o de que um evento como este, não apenas, mas,
sobretudo, considerando o fato de que é possível graças à utilização de
recursos públicos, deva ampliar as fontes de conhecimento da população e não
restringir-se a um universo viciado de ofertas culturais”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<br /></div>
</td>
</tr>
<tr>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 41.7pt;" valign="top" width="56"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="color: #595959;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">2010<o:p></o:p></span></span></b></div>
</td>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 445.65pt;" valign="top" width="594"><div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-kFTWdXMrQtg/VPugKFnpMNI/AAAAAAAAB3A/nhZiohXbNMo/s1600/Logo%2BBanda%2BHisp%C3%A2nica.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="54" src="https://2.bp.blogspot.com/-kFTWdXMrQtg/VPugKFnpMNI/AAAAAAAAB3A/nhZiohXbNMo/s1600/Logo%2BBanda%2BHisp%C3%A2nica.jpg" width="200" /></a></div>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Janeiro – Cria o Projeto Editorial
Banda Lusófona, banco de dados na Internet dedicado exclusivamente à poesia
de língua portuguesa. Converte a Banda Hispânica (01/2001) em Projeto
Editorial Banda Hispânica, criando ali uma nova revista, <i>Agulha Hispânica</i>, em substituição ao projeto anterior da <i>Agulha Revista de Cultura</i>. Entrevista
feita por Wanderson Lima traz comentário de Martins sobre os projetos
citados: “A
rigor, a alteração se deu em função de uma necessidade de criar uma
publicação essencialmente direcionada para a cultura de língua espanhola.
Crescemos muito na <i>Agulha Revista de
Cultura</i>. De repente, comecei a perceber que eu estava me afastando um
pouco de meu projeto original de intercâmbio e difusão da cultura de língua
espanhola em relação ao Brasil. Foi então uma decisão estratégica aguardar
que a <i>Agulha Revista de Cultura</i>
concluísse da forma mais perfeita possível um ciclo, com seus 70 números
publicados ao longo de 10 anos. […]. Pude então organizar os dois projetos,
hoje intitulados Projeto Editorial Banda Hispânica e Projeto Editorial Banda
Lusófona, inserindo no primeiro deles a edição de uma nova revista, a <i>Agulha Hispânica</i>. Juntamente com ela,
criamos a Coleção de Areia, projeto editorial de livros virtuais. Encerramos
o primeiro ano de atividade dessa nova fase com a publicação de seis números
da revista e dez títulos da coleção.” (<i>dEsEnrEdoS</i> # 8, Teresina/PI,
janeiro de 2011). Retoma a edição da <i>Agulha Revista de Cultura</i>, desta vez
tendo como editor assistente o poeta e tradutor Márcio Simões, veiculando
matérias em vários idiomas. Cria o selo ARC Edições, concentrando nele todos
os projetos virtuais.<span style="color: red;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Janeiro a março – Professor convidado
no seminário “Correntes de vanguarda na América Latina”, da Universidade de
Cincinnati (Ohio, Estados Unidos).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">02/03 – Apresentação do vídeo <i>A efígie suspeita</i> (poesia, fotografia,
vídeo e música), no Taft Research Center, Universidade de Cincinnati (Ohio,
Estados Unidos).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-wFzZdlGKFsE/VPufyqtTtAI/AAAAAAAAB24/_v0fCQamaX8/s1600/Capa%2BFM%2BEscritura%2BConquistada%2BI.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://4.bp.blogspot.com/-wFzZdlGKFsE/VPufyqtTtAI/AAAAAAAAB24/_v0fCQamaX8/s1600/Capa%2BFM%2BEscritura%2BConquistada%2BI.jpg" width="132" /></a></div>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Maio – Convidado do 7º Festival
Mundial de Poesia – Casa Nacional de las Letras Andrés Bello, em Caracas,
Venezuela. <span lang="ES-MX">Lançamento de <i>Escritura
conquistada – Conversaciones con poetas de Latinoamérica</i>, edição
ampliada, 2 volumes, publicada pela </span><span lang="ES">Fundación Editorial El Perro y La Rana (Caracas,
Venezuela). </span>Ao comentar este livro,
Manuel Iris observa que “não deixa de ser interessante que seja um poeta de
língua portuguesa quem se lance a esta nada modesta empresa. Conhecedor
profundo da poesia latino-americana, Floriano Martins transita de uma região
a outra da língua espanhola na América, sendo sempre um convidado com o
privilégio de quem vê as coisas de fora: a perspectiva. Em seu país, Brasil,
também incluído no livro que agora trato – inclusão que é em si mesma uma
chamada de atenção para aqueles que ao falar de literatura latino-americana
se esquecem de nosso vizinho lusófono – sua posição histórica e pessoal é
distinta, pois essa é a tradição em que nasceu e se desenvolve. Sua voz ali
situada é uma voz que, embora afastada no exercício de interlocutor, fala
desde dentro, dando ao diálogo igual interesse, porém de outro modo.”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Setembro – A TV Ceará realiza com
Floriano Martins uma das edições de seu programa <i>Crônicas do Ceará</i>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><st1:metricconverter productid="09 a" w:st="on">09 a</st1:metricconverter> 17/10 – Convidado do 2º Foro Ibero-americano sobre
Bibliodiversidade e do IV Salão do Livro Ibero-americano de Huelva (Espanha).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Outubro – Organiza, juntamente com
seu diretor, Eduardo Mosches, a edição comemorativa dos 25 anos de existência
da revista <i>Blanco Móvil</i>, da qual
sempre foi efetivo colaborador (“Perguntas sobre literatura e vida”. <i>Blanco Móvil</i> # 115-116, México).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-EVmeyTkn8bw/VPudetyk8PI/AAAAAAAAB2M/1rLziOYl-Ac/s1600/Floriano%2BMartins%2B%5BSta%2BCatarina%2B2010%5D%2B06.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="150" src="https://4.bp.blogspot.com/-EVmeyTkn8bw/VPudetyk8PI/AAAAAAAAB2M/1rLziOYl-Ac/s1600/Floriano%2BMartins%2B%5BSta%2BCatarina%2B2010%5D%2B06.jpg" width="200" /></a></div>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">21/10 – Lançamento da coleção “O
começo da Busca”, que coordena para as Edições Nephelibata
(Florianópolis/SC). Segundo a editora, a coleção “procura evidenciar autores
e títulos de literatura de línguas espanhola e portuguesa, dos raros aos
jovens autores, criando no Brasil uma não usual fissura de perspectiva
editorial”. Os livros são em edição artesanal e com tiragem limitada. Os
primeiros títulos publicados foram: <i>O
portão dourado</i> (contos de Jacob Klintowitz), <i>O caracol privado </i>(prosa poética de Aldo Pellegrini) e <i>Autobiografia de um truque</i> (prosa
poética de Floriano Martins).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Novembro – Afasta-se da coordenação
editorial da coleção “Ponte Velha”, da Escrituras Editora. O poeta, ensaísta
e tradutor mexicano Benjamin Veldivia publica o volume <i>Delante del fuego</i>, em que reúne suas traduções de poemas de FM
(Guanajuato, México)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<br /></div>
</td>
</tr>
<tr>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 41.7pt;" valign="top" width="56"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="color: #595959;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">2011<o:p></o:p></span></span></b></div>
</td>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 445.65pt;" valign="top" width="594"><div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Durante o período em que esteve à
frente da curadoria da Bienal Internacional do Livro do Ceará, Floriano
Martins deixou preparada a edição de alguns livros que seriam posteriormente
publicados pela Secretaria da Cultura do Ceará: a recuperação de textos sobre
a formação do Ceará, do indigenista Thomaz Pompeu Sobrinho; a obra completa
do brasileiro Américo Facó; a tradução de um volume crítico sobre a
mestiçagem na América Hispânica, do nicaraguense Pablo Antonio Cuadra
(tradução em parceria com Petra Ramos Guarinon); e a tradução de uma
antologia de poesia mexicana organizada por Eduardo Langagne.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-j4KUV1U6t_0/VPue50pCEXI/AAAAAAAAB2g/z5YXGGQpYTk/s1600/Inven%C3%A7%C3%A3o%2Bdo%2BBrasil.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://3.bp.blogspot.com/-j4KUV1U6t_0/VPue50pCEXI/AAAAAAAAB2g/z5YXGGQpYTk/s1600/Inven%C3%A7%C3%A3o%2Bdo%2BBrasil.jpg" width="200" /></a></div>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Julho – Tem início em páginas duplas
dominicais, no caderno “DC Ilustrado”, dirigido por Lorenzo Falcão, do <i>Diário de Cuiabá</i>, a série “Invenção do
Brasil”, que totaliza 50 entrevistas feitas por FM a brasileiros de diversas
áreas culturais.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Novembro – viaja ao México e
encontra-se com a editora Maria Luisa Passarge, de La Cabra Ediciones, com
quem esboça alguns projetos editoriais, que incluem a preparação de
antologias de poetas da Bolívia, dos Estados Unidos (parceria com Thomas Rain
Crowe) e da Alemanha (parceria com Viviane de Santana Paulo). Da capital
mexicana segue para Oaxaca, sendo hóspede do casal Ludwig Zeller e Susana
Wald. Ali começa a preparação – através de entrevistas e fotografias de seu
acervo – de um livro sobre a pintura de Susana Wald.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<br /></div>
</td>
</tr>
<tr>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 41.7pt;" valign="top" width="56"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="color: #595959;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">2012<o:p></o:p></span></span></b></div>
</td>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 445.65pt;" valign="top" width="594"><div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Viaja à Austrália para acompanhar o
nascimento de seu segundo neto, Levi. Dois anos antes havia ali nascido Maya,
e entre eles Elise, esta última em Fortaleza. Em período de quase dois meses
que passa em Sidney, escreve um livro a quatro mãos com o poeta Manuel Iris,
mexicano residente nos Estados Unidos. Duas outras descobertas na criação
compartilhada se dão inicialmente com a brasileira Viviane de Santana Paulo,
e em seguida com a dominicana Farah Hallal. FM também viria a escrever poemas
a quatro mãos com a boliviana Vilma Tapia Anaya e os brasileiros Beatriz Bajo
e Contador Borges.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Com a criação do selo editorial Sol
Negro Edições (Natal, RN) surgem três novos livros de FM, <i>O livro invisível de William Burroughs</i>
(teatro), <i>Abismanto</i> (poesia,
parceria com Viviane de Santana Paulo) e <i>Vicente
Huidobro & Hans Arp. III novelas exemplares & 20 poemas
intransigentes</i> (organização, prólogo, tradução).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-oOWtb8RcsuE/VPufJhX2kbI/AAAAAAAAB2o/g_eUq9UK3M8/s1600/_MG_9596.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="133" src="https://2.bp.blogspot.com/-oOWtb8RcsuE/VPufJhX2kbI/AAAAAAAAB2o/g_eUq9UK3M8/s1600/_MG_9596.jpg" width="200" /></a></div>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">25 de junho a 17 de agosto – “Na mão
de Adão cabem todos os sonhos”, primeira exposição individual de fotografias
de Martins, no Espaço Cultural Citibank (São Paulo), sob a curadoria do
crítico Jacob Klintowitz. No catálogo da mostra, afirma o curador: “Floriano
Martins não é exatamente um fotógrafo, mas um inventor de imagens
fotográficas. A máquina, o computador e o laboratório, são seus instrumentos,
da mesma maneira que o pincel e o pigmento são instrumentos do pintor. Ele
constrói minuciosos cenários, planeja todos os detalhes das cenas ao ar livre
e, simultaneamente, se deixa conduzir pelo improviso, pelo que a paisagem, os
modelos humanos e a sua imaginação, sugerem. É deste cadinho, que ferve
substâncias variadas, que emergem estas encantadoras cenas. Ao mesmo tempo em
que parecem infinitas em suas possibilidades de automodificação, estas
fotografias têm uma inquietante estabilidade. Estas estranhas cenas e a sua
inesperada beleza, vieram para ficar.” Em galeria virtual criada por Martins
(<a href="http://agulhafloriano.wix.com/florianomartins">http://agulhafloriano.wix.com/florianomartins#</a>!), observa o crítico de arte Carlos M. Luis: “As
fotos eróticas de Floriano Martins constituem, neste sentido, a expressão de
uma arte que os alquimistas praticaram mediante suas permutações. Em seu caso
a carnalidade das imagens nos brindam a chave de uma <i>ars combinatória</i> em vias de se transformar em <i>ars amatoria</i>, onde as zonas erógenas
se mantêm em contato voluptuoso, ao mesmo tempo em que parecem sussurrar
versos retirados da grande tradição da poesia amorosa de todos os tempos.”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Maio a julho – três fotografias suas
integram uma coletiva do Museu Itinerante Ultragaz, sob a curadoria de Jacob
Klintowitz. Composta por 40 obras de 12 renomados artistas brasileiros e que
percorreu várias cidades brasileiras.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Setembro – Tem início em páginas
duplas dominicais, no caderno “DC Ilustrado”, dirigido por Lorenzo Falcão, do
<i>Diário de Cuiabá</i>, a série “Invenção
da América”, com entrevistas realizadas por FM a escritores, músicos,
pintores, ensaístas de todo o continente americano. No mesmo período integra
o conselho editorial da revista <i>InComunidade</i>
(Portugal), passando a colaborar assiduamente com a mesma no envio de
matérias suas e de inúmeros outros autores.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<br /></div>
</td>
</tr>
<tr>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 41.7pt;" valign="top" width="56"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="color: #595959;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">2013<o:p></o:p></span></span></b></div>
</td>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 445.65pt;" valign="top" width="594"><div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-Aa3WlVKYi2I/VPuZfRhJNGI/AAAAAAAAB1s/wsQz3tb-0lo/s1600/SDC15480.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="150" src="https://3.bp.blogspot.com/-Aa3WlVKYi2I/VPuZfRhJNGI/AAAAAAAAB1s/wsQz3tb-0lo/s1600/SDC15480.JPG" width="200" /></a></div>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Janeiro – A <i>Agulha Revista de Cultura</i> ressurge, em sua fase II, desta feita
com a presença de Márcio Simões como editor adjunto. A Sol Negro Edições
publica <i>Sobre surrealismo</i>, ensaios
do argentino Aldo Pellegrini, com organização, tradução e prefácio de FM<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Fevereiro – Convidado do IX Festival
Internacional de Poesia de Granada (Nicarágua).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-BGZjIbrKEH4/VPuZbfnjIyI/AAAAAAAAB1k/dP9x-9_amh0/s1600/DSC02682.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="150" src="https://2.bp.blogspot.com/-BGZjIbrKEH4/VPuZbfnjIyI/AAAAAAAAB1k/dP9x-9_amh0/s1600/DSC02682.JPG" width="200" /></a></div>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Junho – Lançamento em São Paulo de <i>Lembrança de homens que não existiam</i>,
série de poemas seus e desenhos de Valdir Rocha, primeiro livro impresso
publicado pela ARC Edições, que até então vinha publicando apenas títulos
virtuais.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">As Edições Nephelibata (Santa
Catarina) publicam o volume duplo <i>Memória
de Borges</i>, organizado, traduzido e prefaciado por FM, que reúne algumas
das principais entrevistas dadas pelo argentino no período de 1964 a 1985.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Outubro – Convidado do programa
"O que é poesia", da Casa das Rosas, curadoria e mediação de Edson
Cruz, onde fala sobre poesia, fotografia, vídeo e música (São Paulo, 26/10).<o:p></o:p></span></div>
</td>
</tr>
<tr>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 41.7pt;" valign="top" width="56"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
</td>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 445.65pt;" valign="top" width="594"><div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<br /></div>
</td>
</tr>
<tr>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 41.7pt;" valign="top" width="56"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="color: #595959;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">2014<o:p></o:p></span></span></b></div>
</td>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 445.65pt;" valign="top" width="594"><div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-qjQdVntdFBc/VPufitUmsXI/AAAAAAAAB2w/MV0DNJ_8qWk/s1600/%5Blivro%2BFM%2B%26%2BMI%5D%2BCapa%2B2.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://3.bp.blogspot.com/-qjQdVntdFBc/VPufitUmsXI/AAAAAAAAB2w/MV0DNJ_8qWk/s1600/%5Blivro%2BFM%2B%26%2BMI%5D%2BCapa%2B2.jpg" width="133" /></a></div>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">ARC Edições inicia o ano com a
publicação de dois novos títulos de FM: <i>Em
silêncio</i> e <i>Overnight medley</i>,
ambos escritos a quatro mãos, o primeiro em parceria com a brasileira Viviane
de Santana Paulo e o segundo com o mexicano Manuel Iris, sendo este uma edição
trilíngue, com traduções ao espanhol (Juan Cameron) e ao inglês (Allan
Vidigal). A Pantemporâneo (São Paulo) publica <i>O sol e as sombras</i>, nova experiência conjunta entre Floriano
Martins e Valdir Rocha, agora reunindo poemas e gravuras em metal. Como destaca
o artista em uma das orelhas do livro, "Os presentes poemas de Floriano,
comparados com outros de sua obra, são, ao meu sentir, mais narrativos,
soltos e espontâneos".<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Fevereiro – Convidado do X Encontro
Iberoamericano de Poesia "Carlos Pellicer" (Villahermosa, Tabasco,
México).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">A Sol Negro Edições publica <i>Bronze no fundo do rio</i>, edição
bilíngue de poemas do venezuelano Miguel Márquez, com tradução e mostra de 31
fotografias em cores de FM.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Setembro
– Convidado do 4º Salão do Livro de Guarulhos (São Paulo). Na mesma semana
grava o vídeo <i>Abismo minucioso</i>,
experiência de criação automática, proposto por Valdir Rocha e dirigido por
Pipol (<a href="http://youtu.be/fzN1DOEmg8w" title="http://youtu.be/fzN1DOEmg8w">http://youtu.be/fzN1DOEmg8w</a>, TV Cronópios).<o:p></o:p></span></div>
</td>
</tr>
<tr>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 41.7pt;" valign="top" width="56"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
</td>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 445.65pt;" valign="top" width="594"><div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<br /></div>
</td>
</tr>
<tr>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 41.7pt;" valign="top" width="56"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="color: #595959;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">2015<o:p></o:p></span></span></b></div>
</td>
<td style="padding: 0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; width: 445.65pt;" valign="top" width="594"><div class="MsoNormal" style="margin-left: 7.95pt; text-align: justify; text-indent: -7.95pt;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">ARC Edições dá início à migração de
todo o acervo editorial da <i>Agulha Revista
de Cultura</i> para novo endereço:
<a href="http://arcagulharevistadecultura.blogspot.com.br/">http://arcagulharevistadecultura.blogspot.com.br/</a>, projeto paralelo ao da
criação de um banco de dados com toda a obra de FM: <a href="http://abraxasflorianomartins.blogspot.com.br/">http://abraxasflorianomartins.blogspot.com.br/</a>.
<o:p></o:p></span></div>
</td>
</tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
http://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/http://www.blogger.com/profile/15464755224800829626noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5262314379244716711.post-75577843371438980432014-10-12T07:18:00.000-07:002014-11-03T12:59:15.010-08:00MAR DE MARES | Fragmentos roubados ao tempo<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-MJBcrSQkyuU/VDqNWnyXa9I/AAAAAAAABPs/aI34Gei0cec/s1600/Floriano%2BMartins%2B(Huelva%2C%2B2009)%2B9.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-MJBcrSQkyuU/VDqNWnyXa9I/AAAAAAAABPs/aI34Gei0cec/s1600/Floriano%2BMartins%2B(Huelva%2C%2B2009)%2B9.jpg" height="239" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">POESIA E POEMA<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>GC</b> Floriano, para você que
realidade é a palavra?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Antes de pensar nela como
unidade isolada, me atrai a ideia de palavra dada e modo de ver. Portanto, ao invés
de ficar a degustar-lhe como andorinha que solitária jamais fará verão algum, me
ponho a propiciar um encontro gozoso, uma orgia de significância, de valores. Esta
é a realidade que me interessa na palavra, a das inúmeras possibilidades de acasalamentos
significantes que elas permitem entre si.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>GC</b> Para a mística a palavra
é dotada de poder mágico, para a filosofia a palavra é conceito, para a literatura,
ela é metáfora, afinal, quantas são as faces da palavra?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Não se pode contrapor a
essencialidade mística a um plano conceitual ou metafórico. Situar essas unidades
em isolado é não perceber que elas existem como Unidade, ou seja, que são o que
são justamente por serem complementares, por haver entre elas uma ligação intrínseca,
cuja dinâmica constitui a realidade como a entendemos. Importa descobrir quantas
faces tenha a palavra? Desde que não nos limitemos a um mero exercício isolante,
que tenha como conseqüência única a geração de uma ideia distorcida de que uma coisa
é a realidade da palavra e outra a realidade humana. Aliás, muito da poesia brasileira
que se veicula hoje, já a partir do Concretismo, poderia ser comentada à luz dessa
distorção.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>GC</b> E a poesia, é inspiração
ou técnica, ou ambas?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Tampouco aqui interessa
ficar a dissecar esses elementos de uma química cuja importância radica justamente
no resultado. É preciso uma certa técnica para jogar ar nos pulmões da ideia, por
exemplo. Ao mesmo tempo, se técnica é prática, a grosso modo, como adquiri-la sem
partir do nada? Olhar para ambos os aspectos sem excessos de romantismo ou artificialismo.
Técnica não se contrapõe à liberdade. Nenhuma arte sobrevive sem ambas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">(<i>Entrevista concedida a
Gustavo de Castro, s/d</i>)<o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoListParagraph" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: center;">
<span lang="ES"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">* *
*<o:p></o:p></span></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">FF</span></b><span lang="ES"> Usted como poeta, ¿cómo vive
la libertad de su palabra? <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Não há uma agenda mágica
a ser seguida. O dia é feito de um amontoado de expectativas, surpresas, acertos.
Eu sou um franco-atirador. A liberdade de minha palavra me custa sangue existencial,
porém sem dramas, sem excessos de auto-estima. A rigor, viver não é um exercício
fácil para ninguém. Acho que os artistas em nosso tempo tendem a valorizar em demasiado
sua condição, justamente quando menos correspondem às expectativas em torno de suas
obras e atitudes. Há um teatro da imagem, algo patético. Tenho muito trabalho pela
frente. Apenas isto.<o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">(<i>Entrevista concedida a
Franklin Fernández, 2006</i>)<o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoListParagraph" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: center;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">* * *<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>MM</b> Toquei na <i>Inspiração</i>, palavra quase que absolutamente
repudiada pela crítica e grande parte dos artistas. Salvador Dalí, no entanto, tinha-a
como um dos itens indispensáveis à toda crítica, exegese. Drummond, ao final da
vida, teve uma compreensão parecida e foi duramente criticado pelo João Cabral por
isso. Já o Chico e a Clarice Lispector assumiam que lhes era impensável a criação
fora desse estado. E você, como escreve? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> É uma bazófia qualquer rejeição
à inspiração, porque ela parte de um diálogo, do estar aberto, receptivo, ao que
se passa no mundo, a começar pelas inquietações individuais. No fundo, o que se
dá é a velha luta cartesiana de situar a razão como fonte única de conhecimento.
Não parece incrível que poetas brasileiros recusem a inspiração em um país tão profundamente
marcado pelo catolicismo? A que Deus nos entregamos tão cegamente?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">(<i>Entrevista
concedida a Mário Montaut, 2002</i>)<o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoListParagraph" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: center;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">* * *<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Arte não é disputa, mas antes afirmação de uma perspectiva
outra a ser considerada. Arte não impõe, o que faz é discordar de mecanismos viciados,
e o faz não teoricamente mas sim com a presença estética de suas pretensões.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">(<i>Entrevista concedida a
Mário Montaut, 2002</i>)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b><span lang="ES"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">SURREALISMO<o:p></o:p></span></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">JB</span></b><span lang="ES"> ¿Existe el surrealismo hoy,
dónde, cómo?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">FM</span></b><span lang="ES"> Siguen existiendo dos perspectivas
del <i>surrealismo</i>: la formación grupal,
que todavía se puede verificar en varios países – en nuestro continente, en Brasil,
Chile y Estados Unidos, por ejemplo –, y la afirmación de un estado de espíritu,
la búsqueda de las fuerzas del instinto, del sueño, del subconsciente, al mismo
tiempo que una afirmación de la realidad. Todo esto, de una manera y otra, absolutamente
integrado con la libertad y el amor, al decir de Pellegrini, que “configuran la
vida integral del hombre”.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">(<i>Entrevista concedida a
Jorge Boccanera, s/d</i>)<o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoListParagraph" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: center;">
<span lang="ES"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">* *
*<o:p></o:p></span></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">MS</span></b><span lang="ES"> Probablemente el siglo de los <i>ismos</i>… ¿No te parece que podría ser interpretada como una opción “trasnochada”
la de reivindicar el surrealismo a principios del siglo XXI, practicamente un siglo
después de su nacimiento y teniendo en cuenta que también el pensamiento freudiano
-su indudable base- ha sido superado por la propia psicología? <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Certa vez o inglês A. Alvarez lembrou que o Romantismo recebeu, no Surrealismo,
um novo impulso, não propriamente em função dos escritos de Freud, mas sim “por
intermédio de uma versão nebulosa e inflada do que se pensava que Freud queria dizer”,
ou seja, não era a psique que estava na alça de mira dos surrealistas, mas antes
todo um mistério que envolvia o assunto. Não queriam compreender os sonhos mas vivê-los,
expressar-se através da criação “da mesma forma e com a mesma força que os sonhos”.
Disse Magritte que “o surrealismo reinvindica para a vida desperta uma liberdade
parecida com a que temos no sonho”. E Arp acrescentou um molho poético: “Nossos
atos são atos de sonhadores, de nadadores enigmáticos”. Baudelaire, graças a seu
“gosto pelo Infortúnio”, no dizer de Éluard, era considerado pelos surrealistas
um poeta fundamentalmente moderno, juntamente com Lautréamont e Rimbaud. O sentido
de rebelião que se buscava no Romantismo interessava aos surrealistas, embora Breton
tenha frisado que somente se atingisse um paroxismo, caso contrário se tornaria
“uma aventura barata” – o que é lícito dizer de qualquer instância. Agora, a atualidade
do Surrealismo pode ser vista a partir de uma colocação de Breton: “Não se trata
aqui de uma poética: entregamos o produto do pensamento pelo que vale”. Concluímos
o século XX com uma ideia completamente fraudulenta do valor intrínseco das coisas.
É como se o homem deixasse de ser o homem e sua circunstância e passasse a ser apenas
a circunstância. Me parece que o Surrealismo tem sido observado mais pelos erros
do que pelos acertos. O estado de ânimo a que se referia Artaud para justificar
a existência do Surrealismo me parece essencial trazê-lo para nosso tempo. Vivemos
em uma sociedade inteiramente domesticada, alheia ao motor da inércia que a define.
O Surrealismo ainda pode atuar através de um sentido de libertação do espírito.
Se o problema é de corte histórico, que se mude o nome, não importa que não se chame
mais Surrealismo. Seguirá valendo a urgência de <i>mais realidade</i>. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">(<i>Entrevista concedida a
Mónica Saldías, 2002</i>)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoListParagraph" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: center;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">* * *<o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>MEG</b> Tu consideras-te um poeta
surrealista?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Eu diria que a minha poesia
não se afasta de mim em momento algum, que está intimamente ligada ao que eu sou
e faço. Por qualquer ângulo que se observe – o político, o amoroso, o poético –,
a minha vida integra-se à perfeição à matéria queimante de meus versos. Não caberia,
portanto, ater-te a ortodoxia de espécie alguma, o que me torna um surrealista,
sim, desde que não se limite, de má fé, sua ação a uma condicionante historicista
em isolado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>MEG</b> Sabes que a tua poesia,
como a de tantos outros poetas, mesmo os da tua antologia, só é classificável como
surrealista por motivos históricos e de depoimento formal dos autores, e aliás é
preciso acreditar neles quando dizem: “Eu sou, ou era surrealista!”. Do ponto de
vista poético, ela é moderna, manifesta como a de todos nós o contacto com as obras
surrealistas, mas não há nela nenhuma conformação com imposições formais… À parte
a escrita automática, de resto abandonada, como é que tu identificas um poema surrealista?
E mesmo a escrita automática, como saber se é automática ou não, mesmo que o autor
garanta que sim?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> O automatismo, a perspectiva
onírica, o mergulho mais intenso no erotismo da linguagem, a percepção de uma dimensão
insondável do selvagem, o dilaceramento das imagens culminando com certa atmosfera
visionária, o elo intrigante com o barroco no sentido do transbordamento (fulgor)
das formas, são aspectos que podem ser observados para além de um diapasão genérico
do moderno, ou seja, aspectos que não podem ser encontrados nas manifestações do
cubismo, por exemplo. Acrescentemos ainda aí o fascínio pela aventura em seu caráter
primordial de entrega ao desconhecido, os relatos de deriva, de amores loucos etc.
Creio que tanto na forma como no discurso é plenamente possível se perceber a presença
do Surrealismo, mas sempre atento ao fato que não se deve restringir-lhe a atuação
a um plano estético isoladamente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>MEG</b> O que há no surrealismo
de tão sedutor, que continua a congregar poetas no Brasil e nos outros países da
América Latina?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> É bem possível que a sedução
venha desse princípio irredutível de liberdade que orienta o Surrealismo. Mas é
também possível que se veja aí algum artifício de certo <i>facilismo</i> da criação poética. Daí a leitura equívoca de que tudo o que
não faz sentido é surreal, como se costuma ouvir com relativa frequência. Diz o
poeta guatemalteco Luiz Cardoza y Aragón que “escrever não é cifrar nem decifrar:
é balbuciar o estupor de ser”. Pois bem, essa identificação mútua e ampla, no sangue
e na letra, com o que se faz, com a criação, é o que revela o Surrealismo como sendo
o princípio maior a ser buscado, aquilo a que o argentino Enrique Molina se referia
como sendo um “humanismo poético”. Creio que esta é a raiz essencial da sedução
do Surrealismo, e o que o torna sempre atual, pois além de todo tempo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>MEG</b> Floriano, tu dizes que no
Brasil o surrealismo é ignorado deliberadamente. De que modos práticos se manifesta
esse abafamento e em favor de quê?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Essencialmente em favor
da tradição formalista, racionalista, cartesiana, positivista, cientificista, da
cultura brasileira. Acrescente-se aí as manifestações castradoras do nacionalismo,
em suas diversas facetas. Não nos esqueçamos que os dois principais momentos de
uma presença do Surrealismo entre nós coincidem com o Modernismo e o Concretismo.
Agora, por outro lado, é preciso cuidar também para não criar uma versão falseada
desse abafamento. Há que se discutir claramente todas as zonas de conflito de uma
cultura que, regra geral, tem sido escrita privilegiando focos de interesses particulares
em detrimento da veracidade dos fatos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">(<i>Entrevista concedida a
Maria Estela Guedes, 2002</i>)<o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoListParagraph" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: center;">
<span lang="ES"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">* *
*<o:p></o:p></span></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">FF</span></b><span lang="ES"> Usted mantiene una “relación
entrañable” con el surrealismo, pero no se considera un surrealista, sino un defensor
del surrealismo, alguien que ha hecho suya la defensa del surrealismo… </span>¿Por qué?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Eu não sei se cabe mais
esta afirmação, de ser um poeta surrealista. Evidente que ao ler a minha poesia
não há como não pensar na forte influência, no diálogo intenso com o surrealismo.
Mas há outros componentes, uma aclimatação do surrealismo a outras instâncias no
âmbito da configuração de uma poética. No Brasil o único <i>ismo</i> que vingou foi o modismo. Eu tenho chamado atenção para a importância
do surrealismo, suas percepções e derivações ao longo da cultura brasileira, mas
ninguém quer saber disto. Há uma geração nova interessada, mas isto também pode
ser apenas mais uma onda. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">FF</span></b><span lang="ES"> ¿Del surrealismo en nuestro
continente se tiene una idea bastante imprecisa?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Absolutamente imprecisa.
No próprio caso venezuelano podemos pensar em Vicente Gerbasi, Juan Sánchez Peláez
e Juan Liscano como figuras referenciais desta imprecisão. O primeiro teve uma participação
importante em forma de diálogo e difusão, sem admitir vínculo expresso em momento
algum; o segundo declarou sempre sua filiação <i>oscura</i>; e o terceiro buscou restringir o campo de ação do surrealismo
e negou qualquer influência que sua poesia tenha sofrido, mesmo em um livro como
<i>Cármenes</i>. E depois esta cegueira do Stefan
Baciu – por sinal, jamais contestada pelos venezuelanos –, de situar José Antonio
Ramos Sucre como um precursor do Surrealismo. A imprecisão, em âmbito continental,
vem em grande parte da ignorância, do desconhecimento do que houve, da maneira como
o surrealismo era percebido nos diversos países. É plenamente possível conversar
com alguém entendido em Surrealismo na Colômbia e ele não saber da existência de
um surrealista no Paraguai ou na Guatemala, por exemplo. Sem falar na rejeição natural
ao que vinha da Europa, a necessidade do novo mundo fundar a sua própria existência
– como se isto fosse possível sem antecedentes & afinidades. Nos anos 60, por
exemplo, em várias partes do continente há uma boa revitalização do Surrealismo,
mesclando situações não tão distintas como Beat Generation e Nadaístas, El Techo
de la Ballena e El Corno Emplumado etc.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">(<i>Entrevista concedida a
Franklin Fernández, 2006</i>)<o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">POÉTICA E PROCESSO CRIATIVO<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">FF</span></b><span lang="ES"> ¿El verdadero protagonista
de sus poemas es usted, o es una figura a medias real, a medias mítica: el poeta?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> É sempre uma mescla, porque
nós mesmos temos algo de mítico e até mesmo de real. Há quem duvide da parcela de
realidade que caracteriza a existência de um poeta? Pois esta dúvida é justamente
a raiz de todo grande poema.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right; text-indent: 18pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">(<i>Entrevista
concedida a Franklin Fernández, 2006</i>)<o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right; text-indent: 18pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: center;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">* * *<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoListParagraphCxSpLast" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span class="apple-style-span"><b>LF</b></span><span class="apple-style-span"> A poesia de Floriano Martins
parece se apresentar (me corrija se estiver errado) com uma forte carga racional,
embora não dispense o lado emocional. Fale, explique de onde vem e como nasce a
poesia desse nordestino.</span><span class="apple-converted-space"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> <span class="apple-style-span">Eu não vejo motivo para separar tais elementos. Não o separamos
em nenhum instante de nossas vidas, de maneira que fazê-lo em relação à identificação
de uma poética é contribuir para o afastamento entre arte e vida. A poesia nasce
sempre de um atrito, é fruto de uma zona conflitante do ser em seu convívio com
o outro que traz consigo. Se estamos a falar do poema e não da poesia, ou seja,
como surge este objeto mágico, em meu caso há certa complexidade, porque geralmente
crio interiormente, como se fossem esboços, embriões, todo um traçado imaginário
de um livro inteiro, ou quando menos de um largo poema, que sempre se mostra como
capítulo de um livro e de tal forma se articula com os demais trechos, de maneira
a estabelecer uma unidade. Mas evidente que este riscado originário vai se modificando,
consciente e inconscientemente, até que chega um momento em que se decide a saltar
para o papel, a assumir um corpo. Este segundo momento é medido por certa volúpia
da escrita, quase uma possessão, onde simplesmente deixo que jorre toda aquela matéria
ígnea que vinha se desenhando em meu íntimo. Desconfio que esta descrição mínima
dê para se fazer uma ideia acerca do estalo da criação em mim.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right; text-indent: 18pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">(<i>Entrevista
concedida a Lorenzo Falcão, 2006</i>)<o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right; text-indent: 18pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoListParagraph" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: center;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">* * *<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AS</b> O que te impulsiona a escrever?
Já sofreu alguma violência?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Não creio na criação artística
que não seja um descarnar-se, uma violação de códigos, travas, conceitos, de maneira
que o artista busque desentranhar-se, compreender-se, afirmar-se. Um elemento muito
forte em minha poética está relacionado com o sentimento de perda, seja a dor de
quem perde alguém querido ou a dor de alguém se desfazendo de si mesmo, perdendo
contado com sua humanidade intrínseca.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AS</b> Na sua obra você dá maior
ênfase sempre à transgressão sexual? Você acha que essa é uma transgressão privilegiada?
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Toda a violência do mundo
tem por componentes centrais a religião e a sexualidade. Por vezes confundem-se
entre si. Não esqueçamos que a transgressão é intrinsecamente uma violência. Cercear
ou romper: nos dois casos a presença de um radicalismo. E conceitos como beleza
e bondade também possuem uma ordem a ser violada. A sexualidade é o componente básico
de nossas sociedades reprimidas. A seu redor se cultiva toda natureza de preconceitos
e impedimentos de uma compreensão real dos fatos. Mas qual transgressão sexual seria
possível hoje, quando um falso liberalismo se implanta e faz com que os tolos da
terra se sintam plenos de liberdade?<o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AS</b> Quando você escreve sente
estar escrevendo contra alguém, contra algum autor ou contra algum determinado estado
das coisas?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Ninguém escreve a favor,
nem mesmo o texto de uma campanha publicitária ou de apresentação de metas de um
candidato a qualquer cargo. Toda escrita é contra. A reflexão é um dispositivo de
discordância, mesmo quando concordamos com algo. O que importa saber é se tornamos
a escrita indicativo de uma vingança pessoal ou de afirmação de um princípio. Contra
o que escrevo? Contra o isolamento que o homem impôs a si mesmo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AS</b> Você se arrepende de algum
excesso?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Não, não. Os excessos não
foram feitos para o arrependimento.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<span lang="ES"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">(<i>Entrevista concedida a Alex Sanghikian, s/d</i>)<o:p></o:p></span></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoListParagraph" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: center;">
<span lang="ES"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">* *
*<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">FF</span></b><span lang="ES"> ¿La muerte constituye un motivo
poético en su poesía?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Há sempre duas perspectivas
envolvendo um tema dessa natureza: a apreensão do conceito em si e a experiência
particular. A morte me toca mais por este segundo plano, considerando que convivi
com a perda de toda a minha família. Houve aí um <i>insight</i> que fez aparecer leituras de infância, que despertou motivos,
conexões etc. Naturalmente este ambiente se amplia, define toda uma perspectiva
estética, e hoje a morte funciona como um <i>motivo</i>
bem acentuado, considerando a perspectiva criminal que lastimavelmente define a
sociedade humana.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right; text-indent: 14.2pt;">
<span lang="ES"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">(<i>Entrevista concedida a Franklin Fernández, 2006</i>)<o:p></o:p></span></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoListParagraph" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: center;">
<span lang="ES"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">* *
*<o:p></o:p></span></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">AP</span></b><span lang="ES"> Cuéntanos de tus “presentaciones
integrales” en variados lugares, donde poesía, imagen visual y elementos sonoros
conforman el universo de Floriano Martins.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">FM</span></b><span lang="ES"> Las variaciones ocurren de
acuerdo con las posibilidades físicas del espacio para el que me invitan. Ya fue
posible realizar una lectura dramática de un collage de textos míos y de William
Burroughs, montado mediante la técnica del <i>cut-up</i>
usada por Burroughs. En el escenario, cuatro actores, una escenografía improvisada
y la voz en <i>off</i> del propio Burroughs y
algunas canciones de él con Tom Waits. Esto fue en San Pablo, donde también, en
2008, di una conferencia sobre fotografía digital incluyendo la proyección de imágenes
fijas y en movimiento y canciones. Cierta vez, en Panamá, fue posible montar, en
un adorable ambiente de creación colectiva, un espectáculo ligando poesía, música
y danza. En Ceará, en 2007, hice una lectura de poemas mezclada con proyección de
imágenes fijas y en movimiento, canciones y banda sonora. Como trabajo también con
letras de canciones, fotografía, collage, lo que he intentado es crear un espectáculo
teatral reuniendo todos estos elementos. Para 2009, preparo una muestra de collages,
fotografías digitales, objetos, poemas, video, canciones y banda sonora, elementos
que actuarán conjuntamente en torno a un punto estético único. Por supuesto que
esto no me aparta del libro, este temor absurdo que se tiene de que las tecnologías
suplanten al libro. Al contrario, refuerza la idea de que el arte necesita siempre
ampliar su espectro de manifestación, de que no le interesa la sustitución sino
el incremento, la suma, la multiplicación.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">(<i>Entrevista concedida a
Alfonso Peña, 2009</i>)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">COLAGEM<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FFF</b> Como cuidas das figuras que recortas?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Não recorto figuras para
um arquivo, tanto quanto não faço anotações para poemas. Tenho a dificuldade em
mim das coisas se guardarem para depois, dado o desprendimento de minha natureza,
talvez. O tempo da colagem, cada trabalho em si, possui a extensão do que a peça
julga necessário para se concluir. Creio que se dá uma espécie de convulsão interior,
até que tudo se dissipe. O que faço, isto sim, são anotações de memória; vão se
tecendo insinuações, pequenos traços, sombras etc. Em parte, recorto figuras de
memória; em parte, me entrego ao vertiginoso jogo do acaso. Creio que as figuras
que não forem localizadas naquele momento em que me sento para definir a colagem,
digamos, para montá-la, não estavam, por uma outra razão, prontas para aquela peça.
Como as imagens de um poema – ainda que traga comigo uma necessária ideia geral
daquilo que pretendo. Nada mais que isto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FFF</b> Gostaria que falasses um pouco do teu entendimento
de colagem como um teatro de imagens, um drama, uma representação.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Criamos desde o silêncio,
desde o invisível. Toda a criação é diálogo, ou seja, busca estabelecer um diálogo
entre ser e mundo. Tudo o que julgamos fundar: a representação de um desejo, um
dramatizo, o drama coletivo de nossas experiências individuais. Não vejo razão para
a colagem ser dissociada do poema, do teatro, do cinema. Lidamos com imagens, em
toda e qualquer circunstância da expressão artística. Creio que reside na fusão
do dramático com o lírico o toque mais fascinante, mais profundo, que se pode imprimir
ao objeto artístico. A dinâmica de uma colagem deve ser também a dinâmica de uma
representação, de um teatro de imagens.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FFF</b> Por que dizes que a colagem é reencarnação?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Segundo o Budismo, o que
vivemos como homens é o estagio mais elevado do Carma. Assim me parece que a ação
que sofre a imagem no âmbito da colagem, qualquer que seja o estágio anterior, irá
viver ali o seu grande momento de esplendor, de magnitude. Algo como um ressurgimento,
mas baseado na ideia de que esteve anteriormente em preparo para a debulha de seu
fulgor.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FFF</b> De que maneira tua poesia penetra na colagem e vice-versa?
Existe realmente uma realmente uma relação direta, tal como se observa nos trabalhos
de Sérgio Lima, nos quais ele transcreve, quase que literalmente, suas colagens
para a poesia?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Não vejo razão para que
se estabeleça, em meu caso, uma dissociação entre poema e colagem. Fazes referência
ao Sérgio Lima e poderíamos acrescentar o chileno Ludwig Zeller. Se acaso nós fizéssemos
um filme ou uma escultura, decerto esta outra faceta de nossa expressão artística
comungaria com as demais. Isto se dá por uma afinidade de natureza estética, de
principio estético. Seja como for, discordo quando falas em transcrição literal,
o que acabaria por tornar dispensável uma das duas expressões: o poema ou a colagem.
Creio que há um diálogo e uma complementação, em uma palavra: comunhão. Reitero
aqui a minha atração pelas bodas do dramático com o lírico. Através do poema, tenho
conseguido expressar melhor esta minha intenção. Sou um aprendiz ainda menor no
que diz respeito a colagem. De qualquer forma, por esta vertente sigo e me enrosco
e torno a seguir. O poema me parece também ter equacionado melhor os aspectos rítmicos.
O fato é que o pouco exercício da colagem (incluindo o pensar menos nela – e isto
por uma razão mesma do envolvimento maior com o poema) faz com que pese mais um
prato da balança, porém isto não interfere no acima declarado. Imagine que canções
não comporia Modigliani ou que poemas não escreveria Keith Jarrett…<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">(<i>Entrevista concedida a Fernando Freita Fuão,
1998</i>)<o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">FORMAÇÃO, INFLUÊNCIAS, INFÂNCIA<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AS</b> Até que ponto você se vê
como um transgressor? Seus hábitos são contestatários?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Eu diria que sou naturalmente
contestatário. Franco-atirador desde jovem, tendo abandonado escola, cidade, amores,
e saído em busca de alguma razão de ser, desde então tenho a vida pautada pelo que
se poderia chamar de exceção. Aí havendo transgressão de códigos, não resta dúvida.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AS</b> Quais são suas influências
literárias?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Eu tenho menos influências
literárias do que musicais, pictóricas e teatrais. Na verdade, me interessam aqueles
artistas que buscam uma totalidade, cuja obra está arraigada por um sentimento de
mundo que ultrapassa os limites do meramente artístico, o ato estético em isolado.
Citar nomes por vezes sugere equívoca presunção. Mas há uma trilha bem medida de
diálogos que me leva de William Blake a Roberto Piva, por exemplo, passando por
José Lezama Lima, Georges Bataille e Robert Graves.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<span lang="ES"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">(<i>Entrevista concedida a Alex Sanghikian, s/d</i>)<o:p></o:p></span></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoListParagraph" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: center;">
<span lang="ES"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">* *
*<o:p></o:p></span></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">GB</span></b><span lang="ES"> Cuales son las influencias más fuertes en tu escritura?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> O ritmo vertiginoso que encontro na música de Keith Jarrett, o transbordamento
de imagens que sugere a poesia de Lezama Lima, a multiplicidade de vozes que confirmam
um diálogo entre poética e plástica em William Blake, a descida aos subterrâneos
do mito na obra ensaística de Robert Graves, eis aí algumas identificações, muito
mais do que propriamente influências.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">GB</span></b><span lang="ES"> Cómo nace tu pasión por la poesía hispanoamericana? Hablanos
un poco de tu trabajo al respecto…<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Nasce de um espanto meu ao descobrir a grandeza de vozes como Vallejo, Herrera
y Reissig e Huidobro, ao mesmo tempo em que confirmação de minha ignorância completa
a respeito do tema. O pouco que antes havia lido, em Cardenal, Borges (poemas) e
Neruda, jamais havia provocado tal espanto. Desde então tomei como tarefa quase
única minha tratar de descobrir essa poesia e difundi-la em meu país. Naturalmente
que isto requer uma disciplina e mesmo uma teimosia impressionantes. Os obstáculos
são muitos, tanto no sentido de se descobrir autores e livros quanto, e principalmente,
no sentido de se encontrar meios para a difusão desta poesia em um país completamente
cego a tal realidade poética. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<span lang="ES"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">(<i>Entrevista concedida a Gabriela Bruch, 2002</i>)<o:p></o:p></span></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoListParagraph" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: center;">
<span lang="ES"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">* *
*<o:p></o:p></span></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">FF </span></b><span lang="ES">¿Desde cuándo escribe? ¿Podría
recordarnos algún suceso que ilustrará en torno a los orígenes de su vocación poética?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Algo como uma queda da escada
ao buscar livros mais ao alto na biblioteca de meu pai ou então a mãe brigando comigo
por haver recortado figuras em suas revistas sagradas? Estes são indícios de uma
vocação poética? Haverá uma vocação poética? A predestinação acaso não é uma discreta
forma de presunção? Na adolescência eu roubava livros em livrarias e amigos poetas
me repreendiam com sua altíssima moral baseada na propriedade privada. Até que ponto
a vocação confunde talento e teimosia? Algum talento eu devo ter, mas o que pesa
mesmo deve ser uma incorrigível obstinação.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">FF</span></b><span lang="ES"> ¿Cuál es su relación con las
artes plásticas?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Muitos livros em casa, na
infância, casa de meus pais, revistas em quadrinhos (<i>comics</i>), edições fascinantes chamadas de fotonovelas, que eram adaptações
de clássicos da literatura mundial, e também o nascedouro da televisão; as manhãs
de domingo que meu pai me levava ao cinema; tudo isto teve um peso extraordinário.
Eu usava guache e reproduzia algumas das ilustrações dessas revistas, capas de romance,
e ao mesmo tempo recortava figuras como quem está montando um pequeno acervo. Mas
fazia tudo isto de forma embaralhada, ouvindo música de todo tipo e devorando os
livros da biblioteca de meu pai, que era uma biblioteca absolutamente caótica, onde
se encontrava a literatura clássica russa, o teatro elisabetano, manuais de fabricação
de aviões de guerra, <i>comics</i> do western
italiano etc. <o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right; text-indent: 18pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">FF</span></b><span lang="ES"> ¿Influencias en su poesía?
</span>¿Las hay?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Sim, há poetas e livros
que foram fundamentais para mim. Posso recordar tanto um livro como <i>A luta corporal</i>, do brasileiro Ferreira Gullar,
quanto meu primeiro contato com uma antologia do chileno Humberto Diáz-Casanueva.
Nos dois casos havia tanto de voracidade existencial quanto de requinte de linguagem.
Mas o território das influências – sempre prefiro o termo <i>diálogo</i> – jamais se limitou às leituras, menos ainda apenas de poesia.
Na infância foram de grande importância para mim, ao lado da leitura de uma romance
como <i>Crime e Castigo</i>, de Dostoievski,
ou dos <i>comics</i>, a presença da música, seguida,
na adolescência pelas artes plásticas, o cinema e o teatro. Mas evidente que há
um denominador comum nisto tudo, e eu diria que é a tragédia, no aspecto teatral
do termo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right; text-indent: 18pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">(<i>Entrevista
concedida a Franklin Fernández, 2006</i>)<o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right; text-indent: 18pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 18pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">CONTEMPORANEIDADE<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><em><b><span lang="ES-CO" style="font-style: normal;">HAT</span></b></em><em><span lang="ES-CO" style="font-style: normal;"> El estado de la poesia brasileña
cuando comenzaste a publicar. </span></em><i><span lang="ES-CO"><o:p></o:p></span></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">FM</span></b><span lang="ES"> </span><span lang="ES-CO">He
comenzado a publicar tempranamente, y en realidad considero una infelicidad asomarse
tan de inmediato a los primeros escritos. Pero es un desafío que creo haber vencido.
Me siento por completo ajeno a mi generación, dado que había una patología del yo,
un egocentrismo excesivo del cual yo no me sentía partícipe. Luego esa condición
pasó a ser una decoración; es decir, el descubrimiento del yo hacía posible llegar
a una comprensión del mundo en el que el hombre no fuera simplemente víctima. Pero
los poetas no tenían mucho más que su propio ego para ofrecer. Y un ego, separado
de la vida misma, no puede ser más que una decoración. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">(<i>Entrevista concedida a
Harold Alvarado Tenorio, 2002</i>)<o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoListParagraph" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: center;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">* * *<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AS</b> Você julga que sua escrita
é mais transgressora, mais radical do que a de seus contemporâneos?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Qual a extensão de minha
contemporaneidade? A todo instante descubro alguém de quem nunca havia ouvido falar.
Melhores, piores? Há uma imensa dose de bobagem em tudo isso. Não somos piores ou
melhores em relação a nada. Cabe somar e não diminuir. O que se passa com minha
aparente contemporaneidade é que se confunde sujeição ao mercado, afeições burocráticas
e influências de ordens diversas (incluindo o nepotismo), com renovação de valores,
confirmação de uma tradição, riscos a serem cumpridos. Nada que diferencie minha
geração – se há uma identificável – do que lhe é anterior.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<span lang="ES"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">(<i>Entrevista concedida a Alex Sanghikian, s/d</i>)<o:p></o:p></span></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoListParagraph" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: center;">
<span lang="ES"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">* *
*<o:p></o:p></span></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">GB</span></b><span lang="ES"> Cual es el panorama de la poesía actual en Brasil? <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Quase nada se alterou no panorama da poesia brasileira ao longo do século XX.
Ou seja, segue havendo uma inclinação ao formalismo e ao monólogo, e tal inclinação
define o que se poderia chamar de tradição oficial. Ao mesmo tempo, encontramos
um largo rio subterrâneo, de vozes que nadam contra a corrente dessa tradição. Tornar
este rio subterrâneo conhecido requer um esforço gigantesco e nisto se encontram
empenhados alguns raros abnegados.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">GB</span></b><span lang="ES"> Cómo se inserta tu obra en ese panorama?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Naturalmente como uma contra-tradição, sobretudo se pensarmos em um elo que
se percebe ali entre Barroco e Surrealismo, ponte mágica impedida em um Brasil que
jamais buscou relacionamento algum com a riquíssima poesia hispano-americana.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">(<i>Entrevista
concedida a Gabriela Bruch, 2002</i>)<o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoListParagraph" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: center;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">* * *<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AAF</b> Por fim, em que a poesia de Portugal se diferencia da do Brasil
e em que a poesia do Brasil se diferencia da de Portugal. Qual o benefício dessa
informação poética entre os poetas dos dois países? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Estas comparações correm
um sério risco de estabelecer equívocos de âmbito hierárquico. Após o período áureo
das vanguardas, a margem de lá do Atlântico retomou seu apego pela tradição, e talvez
se possa ver aí demasiado receio de meter-se em novas aventuras estéticas. Na margem
de cá, criou-se um estado frenético de obsessão pela vanguarda, rejeitando estruturas
poéticas enganosamente entendidas como tradicionais (ou mesmo caducas). Mas isto
em linhas gerais. Seria quando menos ingênuo (ou mesmo irresponsável) determinar
um comportamento padrão nas duas situações. Inclusive porque sempre haverá dois
planos em que se move a criação artística: a superfície em que reinam as virtudes
do imediato e do transitório, e o rio subterrâneo por onde teimam os pecados do
apuro e da permanência.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">(<i>Entrevista concedida a
Álvaro Alves de Faria, 2008</i>)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: center;">
<span lang="ES"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">* *
*<o:p></o:p></span></span></div>
<div align="center" class="MsoListParagraphCxSpLast" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">FF</span></b><span lang="ES"> Algo que me llama la atención
de usted, es el contacto permanente con jóvenes poetas, aconsejándoles sobre el
verdadero sentido de la poesía. ¿Qué le recomienda a los poetas emergentes de mi
país?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Absolutamente nada, porque
os conselhos nunca existiram para ser seguidos. Que se danem, que tratem de encontrar
uma voz própria, que morram, que se irritem, que desistam, qualquer coisa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">(<i>Entrevista
concedida a Franklin Fernández, 2006</i>)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText">
<br /></div>
<div align="left" class="MsoBodyText">
<b><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">MODERNISMO,
NACIONALISMO, PROVINCIANISMO<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoBodyText">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>RM</b>
Qual é a opinião que sustentam (ainda que não seja totalmente uniforme) perante
as grandes figuras canonizadas posteriores ao Modernismo (Bandeira, Drummond, Murilo
Mendes, Cabral de Melo Neto, etc.).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b>
Particularmente vejo que o Modernismo no Brasil ainda enfrenta um considerável dilema:
a relação entre as vozes que não foram amplamente discutidas e uma leitura excessiva
das contribuições daqueles nomes centrais. Trata-se de um duplo problema: de caráter
interno, de interesses na definição de um cânone, e externo, pela ausência de comparação,
por exemplo, com o equivalente período na América Hispânica, o que certamente nos
permitiria alcançar uma visão menos passional dos desdobramentos estéticos ocorridos
no Brasil.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">(<i>Entrevista
concedida a Rodolfo Mata/Regina Crespo, 2001</i>)<o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoListParagraph" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: center;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">* * *<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AS</b> O que você acha sobre o
marketing da rebeldia atual? Ou seja, muitos são rebeldes apenas para posar como
tais na mídia. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> A pergunta já traz consigo
a resposta. Estamos rendidos pelas campanhas publicitárias, articulações no congresso
etc. Somos um país em franco estado de degradação humana. Há um falso humanismo
anunciado pelo sociólogo que nos preside. Quaisquer pontos estatísticos que anunciem
uma melhora, o fato é que carecemos de compreensão de nosso papel no mundo, os brasileiros
não sabem o que representam, são sempre essas vítimas do futebol ou das grades de
armação política, faturação irregular, ajustes fiscais. Falar em rebeldia entre
nós é uma piada. Mas poderíamos dizer: algo funciona no Brasil: a anulação de disjunções?
Se concordamos eliminamos toda uma suposta categoria de dissidentes. Mas vamos:
música, teatro, dança, poesia, romance etc., onde localizamos essa afirmação de
um novo pensar, de uma confirmação estética, desdobramento anímico, segmento onírico,
tradição, o que seja? Em parte alguma. Afirmar um Brasil quando menos curioso pela
indigesta relação ao que representa internacionalmente sua cultura e a medíocre
condição de gestor de um folclore distorcido e castrador, este sim, é um marketing
a ser discutido, contestado, sim, desde que se apresente algo e em tal sentido,
por mínimo que seja.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">(<i>Entrevista
concedida a Alex Sanghikian, s/d</i>)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: center;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">* * *<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoListParagraphCxSpLast" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>WL</b> Há alguns anos, tem surgido revisões críticas do Modernismo
tanto no âmbito ensaístico, como se vê nos trabalhos de Paulo Franchetti e Rodrigo
Petronio, quanto em teses acadêmicas defendidas em universidades gaúchas e nordestinas.
Exemplifico a direção dessa revisão com um breve trecho de Paulo Franchetti; para
Franchetti a eleição do Modernismo como ponto de culminância de nossa atividade
literária acarreta dois problemas: “Em primeiro
lugar, essa escolha tende a gerar uma apreciação esquemática dos períodos imediatamente
anteriores, que, por necessidade argumentativa e pela adoção das bandeiras modernistas
pelo historiador literário, acabam sendo apresentados como zonas cinzentas, sem
relevo, em que apenas se destacam os anúncios do que está por vir. (…) Em segundo
lugar, a mesma ideia de chegada promove uma narrativa em que a literatura brasileira
vai se formando como organismo ou sistema ao mesmo tempo em que a nação, sendo esse
momento de autonomia ou completude a segunda fase modernista. Essa perspectiva promoveu
(…) um recrudescimento da identificação romântica entre o nacional e o estético,
entre a construção nacional e a construção estética, que durante os anos 1960/1970
deu origem à perversa polarização entre ‘esteticismo’ e ‘participação’ que marcou
os debates literários e a cena cultural brasileira de modo geral”. Sua posição sobre
o modernismo, sobre Mário e Oswald em especial, tem sido ambivalente. Poderia falar
um pouco a respeito. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM </b>Ambivalente? Será que perdi alguma parte da conversa?
Vamos fazer o seguinte: reproduzo aqui, como reforço à tua lembrança da boa reflexão
do Paulo Franchetti um trecho de ensaio do Lêdo Ivo, uma valiosa analogia que traça
entre o “Ensaio sobre a história da literatura brasileira” (1836), de Gonçalves
de Magalhães e as artimanhas de nosso Modernismo de 22. Diz lá o poeta: “A teoria
literária de Magalhães não se limita, pois, a pregar a autonomia estética, numa
correlação de forças que, abrangendo a apropriação do pecúlio romântico ocidental,
corresponde ao primeiro movimento de antropofagia cultural do Brasil, nesse particular
antecipando o Modernismo de 1922, o qual, em muitos dos seus aspectos, é uma rumorosa
e festiva repetição do primeiro e seminal Modernismo deflagrado em 1836, como o
comprovam os seus manifestos assemelhados, a postura selvático/internacionalista
de alguns de seus corifeus, e ainda a presença de um francês em seu processo de
detonação. Em lugar de Ferdinand Denis, como anunciador de uma nova verdade estética,
temos a figura de Blaise Cendrars, cujo <i>Kodak
</i>foi decerto o espelho em que Oswald de Andrade se mirou para produzir <i>Pau Brasil</i>.” Este ensaio, não fosse mais
ampla a luz que lança sobre o cenário de nosso Modernismo, valeria tão-somente pela
centelha de curiosidade em relação a aspectos pouco conhecidos de nossa história
literária. Não sei onde detectas ambivalência no que penso acerca de Mário e Oswald
de Andrade. Jamais declarei a mínima simpatia pela poesia de ambos, menos ainda
no que diz respeito a teorias e regências do Modernismo. Mas confesso que o tema
já me aborrece, demasiado monocórdio, como se essas fossem acaso <i>as</i> peças fundamentais desse momento na cultura
brasileira.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right; text-indent: 14.2pt;">
<span lang="ES"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">(<i>Entrevista concedida a Wanderson Lima, 2010</i>)<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText">
<br /></div>
<div align="left" class="MsoBodyText">
<b><span lang="ES"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">ESCRITOR
& SOCIEDADE<o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoBodyText">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">TL </span></b><span lang="ES">¿Qué nos dice de la vigencia o no
del compromiso social del escritor?<b><i><o:p></o:p></i></b></span></span></div>
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">FM</span></b><span lang="ES"> El
tema ha perdido vigencia, porque ha sido ubicado de una manera imperativa. La participación
social o política del poeta debe partir de él mismo, no puede imponérselo la sociedad.
El poeta tiene derecho a no querer nada con nada. Su escritura es ya un compromiso.
Es curioso que a los poetas se les pida una posición política, pero no se le exige
a los políticos una posición poética.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">(<i>Entrevista concedida aos
editores da revista </i>Tropel de luces<i>, 2004</i>)<o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: center;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">* * *<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoListParagraphCxSpLast" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A criação artística não parte senão de uma afirmação
individual e tal afirmação se dá sempre no sentido de questionar os valores do tempo
em que se vive. O artista é essencialmente alguém que se interpõe a qualquer padrão
sistêmico de condução social. O que se dá é que o “amortecimento progressivo” a
que te referes age em todos os sentidos, brutalizando ou idiotizando a existência
humana. Seu raio de ação, contudo, não interfere exatamente na criação, mas antes
revela o caráter abjeto de uma espécie de gente que oportunamente se faz passar
por artista. O idiotismo imperante é que nos torna a todos reféns de uma indústria
cultural.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">(<i>Entrevista concedida a
Mário Montaut, 2002</i>)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: center;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">* * *<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoListParagraphCxSpLast" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AS</b> Como você se situa politicamente,
esquerda ou direita?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> A situação, em se tratando
de política, já de muito não passa de um jogo de interesse. O Brasil é um país de
larga experiência de prevaricações políticas. Toda a nossa história está pautada
por negociações que extrapolam a noção de política como uma ciência humana. Interessa-me
a honestidade intelectual e a busca de um humanismo poético. Não me servem de nada
os gastos conceitos de direita e esquerda.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AS</b> Você já se sentiu discriminado,
maldito, como escritor?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Sim, sim. Vivo em uma terra
maldita. Daqui saíram artistas como José de Alencar, Alberto Nepomuceno, Antonio
Bandeira, Chico Anísio, e jamais foram percebidos como, digamos, orgulhos da terra.
Sou o tradicional maldito na própria casa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">(<i>Entrevista concedida a
Alex Sanghikian, s/d</i>)<o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">CÂNONE LITERÁRIO<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AS</b> Qual a sua opinião sobre
os escritores canônicos, os que privilegiam o estético ante o conteúdo? Como você
se situa a nesse sentido? Você acha que um dos dois lados tem maior importância?
O transgressor ou o canônico?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> O canônico é uma imposição
ou uma aceitação? A tentativa de um clássico imposto goela abaixo soa patético.
A ideia de um cânone como defendida por Harold Bloom é restritiva e pouco salutar
para a compreensão dos desdobramentos estéticos em nossas culturas. Não tenho pela
conta de canônico um privilégio do estético. Mas pensemos: se invertemos a polaridade,
o equívoco se reproduz. Se me apresentas o transgressor como alguém que cultua o
conteúdo acima do aspecto estético, então estamos perdidos, de um lado ou de outro.
A velha máxima sobre arte revolucionária: chorar a morte da mãe ou caprichar no
batom não significa nada isoladamente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">(<i>Entrevista concedida a
Alex Sanghikian, s/d</i>)<o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">POESIA E LITERATURA HISPANO-AMERICANA<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>RM</b>
O contato com o universo hispano-americano é uma prioridade da revista <i>Agulha</i>? Por quê?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> O espaço latino-americano
é nossa ambientação indiscutível, política e culturalmente. Em toda a história os
brasileiros não consideraram tal perspectiva. Muitos dos males que nos afligem radicam
nessa ausência de percepção para um diálogo entre culturas. Isto para nós, sim,
é que é prioritário. Como há um abismo visível no que respeita à América Hispânica,
entende-se que cuidar de fundar laços seja essencial para a revista. Está certo.
E temos feito mais neste sentido do que todos os governos e empresários da cultura
em nossos países. E não o fazemos movidos por um <i>frisson</i> expansionista, de afirmação de fronteiras, mas antes na busca
de se estabelecer um lugar de encontro onde possam conviver as particularidades.
De qualquer maneira, o universo editorial da <i>Agulha</i> não se esgota aí.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">(<i>Entrevista concedida a
Rodolfo Mata/Regina Crespo, 2001</i>)<o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoListParagraph" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: center;">
<span lang="ES"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">* *
*<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">HV</span></b><span lang="ES"> Hace un tiempo, como unos treinta
años, Octavio Paz en su libro de ensayos <i>El
signo y el garabato</i>, planteó una interrogante polémica en torno a la literatura
hispanoamericana y la brasileña: “La literatura iberoamericana es doble: la escrita
en portugués y la escrita en castellano”. De alguna manera nos lleva a pensar en
una geografía dividida. A estas alturas de la historia iberoamericana y sus nuevas
relaciones políticas, podemos afirmar que éstas han cambiado lo suficiente. Tú,
que eres un conocedor de la realidad literaria del continente crees que<span style="color: red;"> </span>se puede, de una vez por todas, pensar en una poesía latinoamericana.
No sientes que aún hay barreras entre nosotros. Nos interesa más un autor impuesto
por el mercado del libro, que un libro de un autor nuestro. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">FM</span></b><span lang="ES"> No creo que tenga habido cambios
significativos. Personajes como Octavio Paz, por ejemplo, están marcados por cierta
ambigüedad: sus acciones no corresponden al color de sus críticas. Los principales
intelectuales, los más influyentes y actuantes, en Latinoamérica, dime, ¿cuántos
efectivamente trabajaron o trabajan en nombre de esa integración? Los encuentros
decisivos entre culturas se logran a través de la acción sistemática de que son
ejemplos ediciones de libros y revistas, traducciones, organización de eventos internacionales
etc. Ya no se puede decir que los gobiernos sean los únicos culpables, porque artistas
e intelectuales han cumplido también su papel de mantener la cultura ibero-americana
aislada entre sus 20 países, independiente del hecho de que 19 de ellos hablen español
e solamente uno hable portugués. El problema jamás estuvo en el idioma.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<span lang="ES"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">(<i>Entrevista concedida a Hermes Vargas, 2010</i>)<o:p></o:p></span></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center; text-indent: 14.25pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center; text-indent: 14.25pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">MÚSICA<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Acho valioso o trabalho do Almir Chediak, de grande
importância em um país onde não se percebe a presença de um projeto estético em
quase nenhum de nossos intérpretes. Todos atiram a esmo à espera de uma aprovação
do mercado. Chediak sistematizou uma série de valiosos encontros entre bons intérpretes
e alguns de nossos melhores compositores. É uma lástima deparar-se com a lassidão
ou negligência de repertório em intérpretes como Alcione ou Gal Costa, além do desperdício
imenso de talento em uma Paula Toller ou na Cássia Eller – esta, a exemplo da Elis
Regina, deixou-se estupidamente morrer. Aos poucos a chamada MPB foi se tornando
essa pasta babosa que inclui todo um musak preparado para atender à pista de imbecilidade
da televisão. O curioso é que boa parte do elenco que poderia ao menos conduzir
este processo com um pouco menos de indulgência, fez questão de tornar-se seu propagador,
quase um emissário. Não há rock nacional. Esta é outra bobagem. Há apenas rock.
Mesmo que um chinês componha um bom tango, ninguém na China o entenderá como um
tango nacional. Será sempre tango. Como sempre jazz. Como sempre samba. O Cazuza
se aproximou melhor do blues do que propriamente do rock. A essência da cultura
brasileira é a mestiçagem. O que temos de mais rico está baseado justamente na mistura.
O choro ou a bossa nova, por exemplo, vêm desse sentimento nato de mestiçagem. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">(<i>Entrevista concedida a
Erico Baymma, 2007</i>)<o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">* * *<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Acho que nosso samba sincopado seria
bem recebido pelo Zappa. Imaginemos a patética situação de um kamikaze quando em
pleno vôo de morte falha o motor e não há como atingir o alvo ou sequer como retornar.
Por vezes olho a maneira como, no Brasil, toda uma faixa criativa, uma parcela <em>a priori</em> sensível de uma cultura,
vem <i>reagindo</i> aos próprios impulsos, como toda uma sociedade artística se
mostra, como estão todos reagindo em função de mercado, pensando da maneira mais
frívola, enfim: não há mais <i>ação</i>, uma atitude surpreendente, tudo é ajuste
contratual e ajuste sempre em favor do contratante. A despersonalização, por sua
vez, não é sinalização de autismo. A afirmação <i>esnobe</i> de um ego comporta
mais isolamento do que a despersonalização quando esta mergulha no sem nome para
fazer emergir uma compreensão de aspectos que nos identificam, que nos são comuns.
Evidente que isto está muito presente no caso do universo poético de um Chico Buarque.
A maneira como ele é “muitos e muitas” é uma coisa interessante. Observe que, no
geral, as pessoas lêem – não os críticos, não os acumuladores de teses vazias –
Fernando Pessoa como sendo o mesmo em qualquer heterônimo. Todos somos influenciados
apenas por Pessoa, sobretudo os que negam tal influência. Claro que a <i>evidência</i>
de uma obra está diretamente ligada ao raio de sua influência. Contudo, evidência
não quer dizer importância, é certo. Há evidências frustrantes. Como entender que
Francisco Mignone tenha influenciado bem menos os músicos brasileiros do que Villa-Lobos?
Como entender o esquecimento em que caiu toda a obra de Abel Ferreira? Como entender
que raramente se fale entre nós de Camargo Guarnieri? Desta maneira é que ninguém
toca no aspecto da <i>despersonalização</i> na poética de Chico Buarque, pelo simples
fato de que somos corruptíveis pelo ego, somos uma cultura de aparências, onde raramente
a visão aprofundada da realidade tem uma compreensão, o entendimento de uma maneira
de ser. Frank Zappa é uma referência muito cara ao nosso diálogo justamente por
essa ausência de ruptura que se verifica na cultura brasileira. Quem rompe com o
que em todo um itinerário de nossa criação artística? Não temos alguém que tenha
sido tão cáustico na crítica ao <i>way of life</i> brasileiro, e não me venha ninguém
dizer que o <i>jeitinho brasileiro</i> não equivale de alguma maneira ao <i>way
of life</i> estadunidense. Pessoa expôs toda uma sociedade, entre afirmação, chacota
e recusa, percebeu maneiras distintas de tratar de cada assunto. É um caso extremo
de despersonalização no sentido de afirmação de algo bem maior, na arte, do que
um gozo de umbigo. Zappa esteve no mesmo fio, percebeu o quanto era (e a situação
piora) ágrafa a sociedade que se estava implantando nos Estados Unidos. Ironizava-a,
de todo modo, mas sem perder a conexão com uma perspectiva visceral da existência
humana. Zappa é uma espécie de último grande romântico ativo. Neste sentido, Chico
Buarque se aproxima dele. É interessante que seja nome ligado a teatro, música,
romance. Há uma ruptura natural de gêneros e bem antes de todo esse modismo atual
que não faculta senão o que pode haver de mais amorfo e danoso em qualquer expressão
artística. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">(<i>Diálogo com Mário Montaut
sobre Frank Zappa, 2004</i>)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b><span lang="ES"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">TRADUÇÃO<o:p></o:p></span></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">GB</span></b><span lang="ES"> Se puede traducir poesía? Hablanos de tus traducciones mas importantes…<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Claro que se pode traduzir poesia. O que não se pode é achar que essa operação
te torna um poeta. Há também que cuidar para não deixar-se levar pela vaidade de
querer melhorar o original. Traduzir poesia é um ato indispensável de superação
de uma condição babélica que o homem impôs a si mesmo. Creio que importa mais falar
do que propiciamos com a tradução do que de seus obstáculos linguísticos, estilísticos
etc. Em meu caso a tradução é parte inseparável desse projeto de trazer para o Brasil
toda a riqueza de uma tradição poética hispano-americana.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">(<i>Entrevista concedida a
Gabriela Bruch, 2002</i>)<o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoListParagraph" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: center;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">* * *<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FB</b> No trabalho de tradução
de um poema, quais os recursos utilizados para se promover a fidelidade à subjetividade
da obra?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Eis um tema sempre complexo,
em grande parte por sua simplicidade que por vezes soa como um insulto. A lendária
solução diz que não devemos nunca sofrer a tentação de tentar melhorar o original.
Obviamente não iremos muito longe sem o conhecimento da língua e certa sensibilidade
poética para desativar as minas rotineiras da tarefa tradutória. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">(<i>Entrevista
concedida a Fabrício Brandão, 2008</i>)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoListParagraph" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: center;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">* * *<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AAF</b> Fale desse seu trabalho de tradução e por que sua preferência
para autores hispanos-americanos? Como ocorreu essa aproximação com esses poetas
e escritores? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> A tradução é um trabalho complementar da pesquisa e da edição. Não sou um
tradutor profissional. Mais recentemente traduzi uma antologia do venezuelano Juan
Calzadilla (Letras Contemporâneas, Sta. Catarina, 2005) e sai em abril, pela também
catarinense Edições Nephelibata, uma 2ª edição de <i>A nona geração</i>, volume
de contos do costarricense Alfonso Peña. Preparo agora o 2° volume de <i>O começo
da busca</i>, cujo volume inicial a Escrituras publicou em 2001. Este volume complementar
tem seu ambiente ampliado, incluindo poetas surrealistas de todo o continente. Para
tanto, contei com a participação de Éclair Antonio Almeida Filho, nas traduções
do inglês e do francês. Este livro se soma a uma 2ª edição de <i>Un nuevo continente</i>,
abrangente antologia do surrealismo em todo o continente, que se prepara para editar
a Monte Ávila Editores, da Venezuela. A rigor, devo mencionar que tanto Almeida
Filho quanto a argentina Marta Spagnuolo, têm sido cúmplices valiosos neste trabalho
de tradução, o que tem permitido uma mais ampla circulação de textos e autores.
Graças ao Almeida Filho, por exemplo, temos publicado mais recentemente na <i>Agulha</i>
autores do Canadá e Estados Unidos. Meu interesse pela literatura hispano-americana
já ultrapassa a casa de 25 anos e basicamente radica na necessidade de se fazer
acordar este nosso país para fundar um diálogo continental.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">(<i>Entrevista concedida a
Álvaro Alves de Faria, 2007</i>)<o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoListParagraph" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: center;">
<span lang="ES"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">* *
*<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">AP</span></b><span lang="ES"> Otra de tus pasiones es la
traducción de textos poéticos y narrativos. Siempre se ha considerado que el traductor
“camina al borde del abismo”, “al filo de la navaja”. ¿Eso se siente, Floriano,
al traducir a Cabrera Infante y a García Lorca?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">FM</span></b><span lang="ES"> Mencionas dos variaciones del
mismo crimen. La inclinación lúdica que propicia la convivencia con la obra de los
autores nombrados camina por regiones distintas. Los diminutivos en García Lorca,
por ejemplo, contrastan con los juegos semánticos en Cabrera Infante. Traduje, del
cubano, un libro en que los textos sufren variación de lenguaje y abordaje mientras
un mismo tema se mantiene como matriz. Traduje, de García Lorca, una antología de
poemas de amor preparada por la editorial que me contrató. Los dos autores tenían
antecedentes notables con referencia a sus traductores en el Brasil. Yo tengo siempre
mucho recato en lo tocante a esa confusión –cuyo hilo conductor es puro ego– de
considerar al traductor una especie de coautor. Bien sabemos de la tendencia más
ortodoxa que da al traductor el derecho de interferir en el original, lo que en
la práctica es un desastre, excepto cuando esta es una operación inevitable. Me
gusta mucho usar el cine como referencia para muchas cosas en nuestro tiempo, no
tanto por la manera como el <i>arte</i> cinematográfico
envuelve otras artes, sino más que nada pensando en conexiones prácticas, y aquí
el ejemplo sería la presencia de leyendas en filmes extranjeros, asunto válido en
y para cualquier país. No hay mayores absurdos de traducción que los que se cometen
en las leyendas de las películas. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<span lang="ES"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">(<i>Entrevista concedida a Alfonso Peña, 2009</i>)<span style="font-size: 9pt;"><o:p></o:p></span></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="background: white; color: #0a0909; font-size: 8pt;">[Este coletânea de fragmentos de entrevistas integra
o livro<span class="apple-converted-space"> </span><i>O hábito do abismo
(Entrevistas com Floriano Martins)</i>, de Márcio Simões (ARC Edições:
Fortaleza, 2013).]</span><span style="font-size: 10pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
http://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/http://www.blogger.com/profile/15464755224800829626noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5262314379244716711.post-7890751183901984332014-10-12T06:56:00.001-07:002014-10-12T06:56:46.979-07:00CIBERCULTURA EN TIEMPOS DE ANALFABETISMO GLOBAL | Entrevista a José Ángel Leyva<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-rC-LxDQHgKM/VDqIctJ11-I/AAAAAAAABPg/RFOqnuAoU68/s1600/Floriano%2BMartins%2B%26%2BJos%C3%A9%2B%C3%81ngel%2BLeyva%2B(Punta%2BUmbr%C3%ADa%2C%2B2009)%2B1.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-rC-LxDQHgKM/VDqIctJ11-I/AAAAAAAABPg/RFOqnuAoU68/s1600/Floriano%2BMartins%2B%26%2BJos%C3%A9%2B%C3%81ngel%2BLeyva%2B(Punta%2BUmbr%C3%ADa%2C%2B2009)%2B1.jpg" height="304" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 14.2pt; text-align: justify;">
<span lang="ES"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Conozco desde hace diez años a Floriano
Martins (Brasil, 1957), primero en la virtualidad y tiempo después en persona, en
mutuos desplazamientos y complicidades entre México y Brasil. Supe de él porque
su nombre pululaba en la Red como abejas en primavera. Sabía que existía porque
amigos comunes me hablan de su apariencia y su infatigable dinamismo cibernético,
además del empuje de <i>Agulha</i> en toda América Latina. Tiempo después lo vi
desempeñarse con éxito en la gestoría cultural en acciones como la Bienal del libro
de Ceará, en la elaboración de numerosas antologías literarias, entrevistas culturales,
traducciones, investigaciones sobre fenómenos como el surrealismo y en torno a personajes
del mundo intelectual y artístico, además de su trabajo editorial. Pero sobre todo,
Martins circulaba y circula en Internet con sus poemas visuales y verbales. Su trayectoria
como agente cultural está asentada de manera particular en sus proyectos <i>Revista
Agulha Hispânica</i> y Editorial Banda Hispánica. Si no fuese porque lo conozco
bien y nos une una amistad entrañable, seguiría cautivo de mis dudas iniciales,
cuando me cuestioné, ¿no será Floriano Martins una invención de cibernautas brasileños,
no será un virus electrónico o una marca registrada? Pero no, Floriano existe y
se desempeña de manera global, solitaria, desde su casa en Fortaleza, en el Barrio
de Aldeota. Esta conversación se hizo en chat, mirándonos las caras y escuchando
nuestras voces, escribiendo. Comenzamos… [<b>JAL</b>]<b><o:p></o:p></b></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">JOSÉ ÁNGEL LEYVA</span></b><span lang="ES"> Eres una persona formada en el Brasil de las máquinas
Olivetti, en el ritmo de la tecla mecánica y la hoja en blanco. Eres lo que llamamos
un migrante cibernético. ¿Cómo fue tu transición hacia la computación y el descubrimiento
de Internet como herramientas de comunicación y creación?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">FLORIANO
MARTINS</span></b><span lang="ES"> El mundo no ha pasado así de una era para otra, por efecto
mágico. Todo sigue aún mezclado y de algún modo bien confuso. El encantamiento con
los aparatos tecnológicos ha llevado a muchas equivocaciones. Internet no es una
herramienta de creación. No se trata de una guitarra, un bolígrafo o una cámara
fotográfica. Es una herramienta de transmisión de la creación, o sea, una herramienta
de comunicación. Por supuesto, sorprende su inmediatez en una época casi agotada,
justamente por la ansiedad de lo inmediato. Nuestras sociedades son movidas por
efecto de marketing; son sociedades que sufren a diario la tempestad de las frases-efecto
del mundo de la publicidad. Hacer que circule cultura por las venas de la Internet
es un desafío permanente. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">JAL</span></b><span lang="ES">
En un país continental como Brasil es difícil tejer un sistema de comunicación individual
con una comunidad tan vasta de poco más 200 millones de habitantes. Tú lo has hecho
no sólo en tu país sino entre los países de habla hispana y portuguesa desde tu
estudio y con el empeño de una araña que amplía su red de contactos estratégicos.
¿Qué ha representado el proyecto </span><i><span lang="ES">Agulha</span></i><span lang="ES">/Banda Hispánica?
¿Qué sorpresas has tenido en tus expectativas de comunicación y culturales?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">FM</span></b><span lang="ES"> El milagro está en la locura. El primer plano fue la creación de lo que llamas
red de contactos estratégicos. Hoy contamos con 150 mil direcciones electrónicas
vigentes, confirmadas, un número en permanente actualización. En los primeros diez
años trabajaba conmigo en la coedición de <i>Agulha –Revista de Cultura--</i> el
poeta Claudio Willer. Esta revista cerró sus actividades editoriales el año pasado.
Creí necesario concentrar mi trabajo en dos bases concretas, las culturas de lenguas
española y portuguesa. Así que desde enero de 2010 traté de crear el Proyecto Editorial
Banda Hispánica y el Proyecto Editorial Banda Lusófona. Son dos espacios de difusión
de la poesía de más de 20 países en el mundo. Además, el Proyecto Editorial Banda
Hispánica incluye la revista <i>Agulha Hispânica</i> y una colección de libros virtuales,
Colección de Arena. Trabajamos para abrir y ampliar los puentes de contacto entre
todas esas culturas. Es indispensable la presencia de contactos en varios sitios,
en grados distintos. Los más cercanos a nosotros, en términos de complicidad, son
las revistas <i>La Otra</i> (www.laotrarevista.com, México –una relación que existe
desde sus primeros momentos, cuando todavía se publicaba la revista <i>Alforja</i>),
<i>Matérika</i> (www.materika.org, Costa Rica), <i>TriploV</i> (http://revista.triplov.com,
Portugal) y ahora más recientemente la brasileña <i>Via Política</i> (www.viapolitica.com.br/principal.php).
Pero a través de estas mismas publicaciones, así como de otras, tenemos actuación
en el mundo impreso, en proyectos editoriales que tratan también de la publicación
de libros, entre ellos la revista <i>Blanco Móvil</i> (www.blancomovil.com, México)
y las Ediciones Nephelibata (http://edicoesnephelibata.blogspot.com/, Brasil). En
nuestro caso, el mundo posible está definido por la presencia constante del <i>Jornal
de Poesia</i> (www.jornaldepoesia.jor.br), donde estamos anclados. El acceso a los
dos proyectos es: www.jornaldepoesia.jor.br/bhportal.html y www.jornaldepoesia.jor.br/blportal.htm.
Además contamos también con una página en Facebook: www.facebook.com/home.php?#!/pages/Floriano-Martins/126010980763188?ref=mf,
que permite una más amplia circulación. Creo que sólo con mencionar la existencia
concreta de esos puentes de comunicación ya estamos hablando de expectativas atendidas,
de la riqueza de un proyecto que avanza y avanza y avanza. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">JAL</span></b><span lang="ES">
También está el Portal brasileño </span><i><span lang="ES">Cronopios</span></i><span lang="ES">, que señala una movilización de
más de 2 millones de páginas ¿Cuál es la relación o relaciones directas entre la
realidad virtual, el soporte electrónico en el que trabajas, y la realidad real
que vives cotidianamente? ¿Qué cambios adviertes ha sufrido tu persona en la toma
de decisiones y en la manera de sentir y definir el mundo global y el local?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">FM</span></b><span lang="ES"> Es increíble esa facilidad para hablar de Internet como si fuera un ser vivo.
Imaginemos los cambios favorables a cualquier actividad humana cuando uno alcanza
nuevas herramientas, más modernas y con nuevas capacidades exploratorias. Por supuesto
que es una maravilla manejar un coche automático. Pero detrás de la máquina estará
siempre el hombre y el cambio verdadero está definido por su actuación. Es indiscutible
que las relaciones de trabajo ganan en su relación con el tiempo y espacio en que
se mueven, es una obviedad. Por otro lado, no veo la importancia de buscar comparaciones
entre las dos cosas.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">JAL</span></b><span lang="ES">
Hay una lucha entre ese mundo virtual, de lectores y conversadores, navegantes,
comunicadores, exploradores y la realidad de nuestros países, el analfabetismo total
y funcional. Hay grandes sectores de la población que están al margen de este avance
tecnológico y este espacio que habitamos los cibernautas porque aún no arriban a
la lecto-escritura: sociedades ágrafas en su mayor parte. ¿Cómo vislumbras esta
contradicción, estas dos velocidades educativas en el contexto de nuestros países
latinoamericanos?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">FM</span></b><span lang="ES"> La gente que vive o está al margen de la realidad no tiene que ver propiamente
con las herramientas, sino con la violencia con que tratamos de estructurar nuestras
sociedades. Siempre hubo analfabetismo total y funcional, con o sin Internet. La
velocidad con que circulan las informaciones es un espejismo: nos hace creer que
las cosas están peores. Tampoco mejores. Vivimos en una parálisis capaz de enloquecernos
sólo de pensarla. Son de una barbarie total las formas como nuestras sociedades
tratan temas básicos como educación, salud, habitación y la asistencia social en
sus patrones más elementales. Lo peor de todo eso es que siempre que uno habla de
los errores de nuestras sociedades apunta todos los dedos hacia los gobernantes.
Es preciso entender que un intelectual o un artista, al formar parte de un gobierno,
sea como secretario de cultura o como presidente de una biblioteca nacional, es
parte del juego. No veo entonces una contradicción con lo que sugiere la pregunta.
A juzgar por el casi inexistente porcentaje de compromiso de la clase intelectual,
además de los visibles negocios generados en nombre de la caída de calidad en el
arte, sometido a los caprichos de la llamada cultura de masas, yo diría que los
más cultos son los verdaderos incultos. Son los verdaderos criminales. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">JAL </span></b><span lang="ES">¿Crees
que el ciberespacio fomente o provoque una nueva sensibilidad, un nuevo diálogo,
una nueva lecto-escritura?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">FM</span></b><span lang="ES"> Como un nuevo bolígrafo o una nueva guitarra…<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">JAL </span></b><span lang="ES">¿Qué
es lo mejor y lo peor que vives en ese nuevo hábitat cultural llamado Internet?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">FM</span></b><span lang="ES"> No considero lo peor en ningún sentido. Toda la basura que circula en Internet,
por ejemplo, es la basura humana, no tiene que ver propiamente con la herramienta.
El hombre es el principio y fin de todas las cosas, el rey absoluto de la gracia
y desgracia en la tierra. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">JAL</span></b><span lang="ES">
Dices que Internet moviliza un mundo de basura informativa y cultural. Si algo produce
esta sociedad de consumo son desechos. Creíamos haber ganado tiempo con las herramientas
electrónicas pero ahora nos enfrascamos al dilema de la confusión y la discriminación
informativa, la ciberbasura. ¿Cuál es tu experiencia en este aspecto, entre tu tiempo
y tus resultados creativos?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">FM</span></b><span lang="ES"> Lo que pasa es que no cambiamos de hombre –ni de hambre, si pensamos en nuestra
hambre milenaria de poder--. Detrás de las máquinas está el mismo hombre. El escenario
sigue con su raíz en la educación. La cultura es un reflejo de la sociedad. La educación
funciona como su casa motriz, la fuente de cambios. Pero la educación no implica
sólo conocimientos, también incluye despertar y estimular la sensibilidad, la generosidad,
la complicidad, el sueño, en fin, tratar de ubicar al hombre en su sitio terrenal,
social, cósmico. Sucede que no llegamos a buen término ni siquiera en la educación,
como mero instrumento de transmisión de conocimiento. La basura que circula en Internet
tiene por lo menos tres fuentes principales. La primera es la violencia de los virus,
la estupidez criminal de gente que simplemente desea el mal del otro. La segunda
es la tempestad de anuncios, la vorágine de la publicidad. La tercera es esa mezcla
de inocencia y vanidad que hace que la gente sienta la necesidad de presentarse,
de mostrarse, de exhibirse, ya sea mostrando un texto, una obra de arte, sus fotos
familiares, sus confesiones, sus puntos de vista sobre una infinidad de temas, etc.
Pero todo es parte del mismo circo, además, reflejo exacto de nuestro tiempo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">JAL</span></b><span lang="ES">
Es cierto, la tecnología no hace mejores personas. Solemos pensar que gracias a
estas nuevas herramientas de comunicación e información se democratizan las sociedades,
pero ¿quién nos salva de ese Mundo Feliz descrito por Aldous Huxley o del 1984,
del Gran Hermano, de Orwell? Poco a poco, el mercado también muda sus barreras de
peaje para imponerlas a los navegantes de la Red. ¿Has reflexionado sobre la gratuidad
de tu labor y la imposibilidad de llevarla a cabo cuando cada acción tenga un costo
y una acción legal para el cibernauta? Que de hecho ya las tiene.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">FM</span></b><span lang="ES"> Nosotros tenemos dos áreas de actuación en que cobramos algo. La colección
de libros virtuales y la realización de documentales. Es verdad que el Gran Hermano
en este caso se llama el Gran Mercado. Pero siempre regresamos al punto de partida,
al nido de la parálisis humana. El problema no está en el mercado, sino en su práctica
en proporciones deshumanas. Por supuesto que es plenamente posible ofertar servicios
artísticos y culturales de buena calidad por Internet, de manera contractual, o
sea, como un trabajo igual a lo que se realiza en otros ambientes de comunicación.
Desde ya pensamos que para el proyecto cultural que realizamos lo mejor sería convertirlo
en una fundación. Ya veremos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">JAL</span></b><span lang="ES">
Por último ¿puedes imaginar, y cómo, tu vida profesional e intelectual sin estas
herramientas de la cibercultura?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">FM</span></b><span lang="ES"> Por supuesto que no. Es una prueba de que algo en el hombre puede cambiar,
¿no? (risas) Pero sabemos muy bien que, en general, los artistas e intelectuales
no se acercan mucho a Internet y todavía menos en el sentido como nos aproximamos
quienes realizamos el trabajo que aquí estamos tratando. Es lo mismo, por ejemplo,
con las revistas impresas. Hay dos o tres poetas que se interesan en crear revistas
para divulgar la poesía, y millares de poetas que desean simplemente publicar sus
poemas. <span style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">[2010]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="font-size: 8pt;">[Entrevista
concedida a José Ángel Leyva, originalmente publicada na revista <i>UIC. </i></span><i><span lang="ES" style="font-size: 8pt;">Foro Multidisciplinario de la Universidad
Intercontinental</span></i><span lang="ES" style="font-size: 8pt;"> # 18. México, octubre de 2010.</span><span lang="ES" style="font-size: 8pt;"> </span><span style="font-size: 8pt;">Integra o livro <i>O
hábito do abismo (Entrevistas com Floriano Martins)</i>, de Márcio Simões (ARC
Edições: Fortaleza, 2013).]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
http://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/http://www.blogger.com/profile/15464755224800829626noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5262314379244716711.post-23724948677770654872014-10-12T06:51:00.001-07:002014-10-12T06:51:30.516-07:00ÀS VOLTAS COM O LIVRO-OBJETO E SUAS SOMBRAS | Entrevista a Madeline Millán<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-BFQ32pHwmpc/VDqHOEl604I/AAAAAAAABPY/Plak-vdxF5c/s1600/FM%2BTrem.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-BFQ32pHwmpc/VDqHOEl604I/AAAAAAAABPY/Plak-vdxF5c/s1600/FM%2BTrem.jpg" height="240" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 14.2pt; text-align: justify;">
<span lang="ES"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Esta larga introducción
o historia puede saltarla el lector, las entrevistas son un modo de conocer a alguien
a quien deseamos mirar de más cerca, en otra dimensión más humana. Con esto en mente,
les cuento cómo es un poeta que se le va develando a otro poeta por caminos de la
poesía y de la amistad. Nos conocimos en el sur de España, muy concretamente durante
el Otoño Cultural Iberoamericano de Huelva. Decir conocernos es mucho. En una esquina
de una larga mesa regada de poetas de México, Puerto Rico, República Dominicana,
El Salvador, Colombia, Argentina, Brasil y otros países, cenan los poetas y editores
Uberto Stabile, Ángel Leyva, Floriano Martins y Eduardo Mosches (con quien compartí
más, al otro lado de la mesa). Yo sé que están allí pero en aquel final también
estaba <i>finis terrae</i>. No fue sino en un bus camino a la casa en Moguer donde
había vivido el poeta Juan Ramón Jiménez, que intercambiamos unas palabritas. El
poeta Ángel Leyva, a quien conocí por haber publicado en <i>Alforja</i> hace más
de 10 años y luego habernos visto brevemente en un evento de libros y poesía en
el Zócalo, nos presenta. Estos son los antecedentes de este breve encuentro. No
dijimos mucho, apenas habremos tímidamente sonreído desde nuestros asientos vecinos.
Se acabó allí el diálogo, no dijimos más. Regreso a Nueva York y FM, si no me equivoco,
a Brasil. Días después, me llega un correo de FM y le comento que su revista <i>Agulha</i>
ya no me llega por este medio. Entonces, iniciamos conversaciones salpicadas de
descubrimientos maravillosos. El poeta y editor comienza a enviarme fotografías
y canciones. Nuestro intercambio cibernético inicia con FM en medio de un proyecto
poético-fotográfico del Sr. Seriotis, nombre que le pusimos a uno de sus personajes,
pues mi primera impresión de él fue, según le confesé más tarde, que era muy serio.
Y tal seriedad no hacía sino preludiar la complicidad de nuestra risa. Cómo me hace
reír FM, llena mis días de sorpresas que no terminan de sucederse. La última, un
“malentendido” que a mí me da por reír de lo lindo. Le había estado contando sobre
un maravilloso enamoramiento que estaba ocurriéndome después octubre (fecha cuando
nos conocemos). Le digo, “te cuento el milagro pero no el santo”. Pasan nueve meses
y un día le anuncio que ese amor cibernético a la distancia parecía entrar a otra
dimensión. El sueño de luz que iba a parir, tenía que soñarlo sola para entrar a
un nuevo estado de conciencia. Entonces FM me responde, “No te enojes, pero hasta
ahora había pensando que hablabas de mí”. El Sr. Seriotis, el de las continuas sorpresas
que pensaba que iba a enojarme, me hizo reír con ganas una vez más, aligerando el
peso de ese momento difícil; tirándole el ancla a su amiga enamorada y llenando
las horas con sus renovadas y necesarias alegrías. Porque el humor de FM es tan
ilimitado como sus ideas. Pero, lo más importante, no termino de descubrirlo. Esta
entrevista surge a mi regreso del Encuentro Internacional de Poetas en Zamora, México,
que realiza exitosamente Roberto Reséndiz en junio. Durante mi estancia tuve la
suerte de escuchar a poetas que hacían con la poesía todo lo que la imaginación
les permitiera. Movida por la curiosidad y el deseo de saber más, entrevisté a dos
poetas mexicanos (a la poeta y editora Mónica González y a Mario Dux Castel). Ellos
me obsequiaron con libros-objetos. Me interesó explorar un tema por el que ya venía
intrigada a partir del frasco de poesía, <i>Dosis,</i> de la poeta puertorriqueña
Mayda Colón. Dentro del pomo aparecen unos poemas que se abren al lector de forma
no convencional. En uno de los correos de Floriano me dice que le interesa apasionadamente
el asunto. Y yo comienzo una pregunta y otra y otra. Sí. La entrevista que ahora
van a leer. [<b>MM</b>]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">MADELINE
MILLÁN</span></b><span lang="ES"> Floriano, cuéntanos de todos tus mundos posibles. Si puedes
resume y termina en la próxima pregunta. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">FLORIANO
MARTINS</span></b><span lang="ES"> El mundo posible es el mundo de la supervivencia. Mis mundos
son todos imposibles. ¿Cómo hago para terminar eso en la próxima pregunta?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">MM</span></b><span lang="ES"> (ese tipo de preguntas o comentarios como el anterior son los que recibo continuamente
de FM y me hacen sonreír, pasarla bien) Sigamos. ¿Cómo se define la plástica y la
poesía? ¿Cómo la defines tú desde tu experiencia creativa? Supongo que las definiciones
van a sufrir cambios, como si la frontera de las definiciones para un poeta fuera
un protocolo que va a cruzarse ilegalmente. ¿Haces eso?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">FM</span></b><span lang="ES"> La creación artística habita el territorio de la indefinición, así que no cabe
en el sentido taxidermista que <i>mueve</i> el mundo de las definiciones. Yo tengo
cruzado las fronteras visibles con naturalidad, gracias a la fuerza de mis escritos.
No importa que trabaje con una computadora, una cámara fotográfica, pinceles, grabadoras
u otros instrumentos. Pero en la creación lo que cuenta son las fronteras invisibles.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">MM</span></b><span lang="ES"> Según lo que me respondas te preguntaré la próxima pregunta o te comento a
manera de diálogo. No estamos frente a frente, por lo cual, imitamos la conversa
con necesarias pausas. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">FM</span></b><span lang="ES"> Bueno, entonces imitemos ahora el sonido de una máquina que repite incesante
que no es hombre, no es hombre, no es hombre, por más que lo desee. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">MM</span></b><span lang="ES"> ¿Por qué no se es hombre por más que se desee? <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">FM</span></b><span lang="ES"> Es todo un dilema de la criatura que busca su identidad frente la fascinación
de ser el creador. Hablamos con espantosa facilidad en inteligencia artificial y
nos olvidamos que una canción es una creación, así como un robot, y los dos, cada
uno a su modo, ganan vida propia. ¿Y cómo saber si quieren regresar a la matriz,
<i>back to the egg</i>, si quieren ser dios? Es una trampa, o sea, ese es un dilema
siempre del creador, jamás de la criatura.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">MM</span></b><span lang="ES"> ¿Si es lo invisible lo que tenemos, cómo hace el artista para que pueda verse,
leerse, oírse? Digamos, cuando existe la necesidad de comunicar.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">FM</span></b><span lang="ES"> Yo creo que la comunicación en arte es este puente que conecta los dos mundos,
visible e invisible. El lector de mis poemas es invisible para mí, pero yo soy visible
para él, de alguna manera, a través del poema. Pero sin buscarlo, sin desearlo.
No estoy seguro de que sea esta la fuente de la creación, eso que llamas de necesidad
de comunicar. Yo creo más en una necesidad de comunicarse, o mejor, de uno descubrirse
a sí mismo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">MM</span></b><span lang="ES"> (He reflexionado en otras ocasiones sobre este asunto de la comunicación, no
me explico cómo la usé de esta manera. Lo que demuestra que, tal como el asunto
de la inspiración del que se nos pregunta todavía, siempre está ahí el dilema de
“explicar” lo que hacemos, el cómo, etc.)<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span lang="ES"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Háblame, en relación
a la pregunta anterior, sobre la historia de tu trabajo de poeta. Es larga, intensa,
heterogénea, pero algo podrás contar. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">FM</span></b><span lang="ES"> Yo no sé si propiamente larga, pero sí es intensa. La locura que era recibir
todas las informaciones desde la infancia, con la música distinta que escuchaban
mis papás, con la llegada de la televisión, el cine mudo, los <i>cómics</i>, las
fotonovelas, los libros desordenados de temas múltiples de la biblioteca de mi padre,
todo eso no me dejaba tiempo para pensar en separar el mundo en géneros, yo quería
todas las cosas juntas, allí, al mismo tiempo. Bueno, entonces la primera manifestación
fue eso de cortar figuras con tijeras y también la cosa típica de copistas, yo reproducía
en guache y cartón las portadas de algunas novelas. Después nos juntamos en dos
o tres chicos en la calle y montamos un espectáculo de música en el patio de mi
casa, palco y platea improvisados, y presentábamos imitaciones de canciones brasileñas
y extranjeras. Todo eso era la vibración espontánea con que el arte me tocaba. Después
pasé a escribir cuentos, casi todos eróticos, hasta donde los recuerdo, en parte
porque estaba enloquecido con la lectura de un libro en particular, los <i>12o días
de Sodoma</i>, del Marqués de Sade. Aunque antes otros libros tuvieron su importancia,
este fue el libro que me llevado a escribir. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">MM</span></b><span lang="ES"> Haces fotografía, creo que pintura, música etc. ¿Cómo se mueve el poeta si
tu poesía se mueve contigo en esos otros formatos? ¿Lee tu lector cosas parecidas
en muchas de tus fotografías? ¿Existen puntos de contacto, convergencia, obsesiones?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">FM</span></b><span lang="ES"> Sí, la poesía está en todo. Ahora demos un salto porque todo eso lo recupero
como expresión artística mucho tiempo después. Es verdad que desde el primero libro
había un cuidado con el diseño gráfico, eso de invitar a un artista, un fotógrafo
para que creara cosas a partir de los poemas, y también el hecho de que llegué a
tocar (por suerte no ha demorado a visitarme la conciencia de que era un músico
malísimo), la convivencia con gente de teatro y música, el trabajo con música en
teatro, pero en esa época ya me había tocado el poema, así como el deseo de componer
letras de canción popular. De todo eso ha quedado el poema, por un largo tiempo,
escribía y escribía, sin parar. Y leía, pero manteniendo la diversidad en la lectura:
novelas, poemas, ensayos, <i>cómics</i>, un poco de todo, incluso cosas no literarias.
Siempre hubo esa vorágine de traer de todo para dentro, la mirada obsesiva por descubrir
varios mundos al mismo tiempo. Y luego llega el gusto por la cosa crítica (ensayos,
entrevistas, artículos para el periodismo cultural) y la traducción. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">MM</span></b><span lang="ES"> Estuve recibiendo, prácticamente desde el inicio de nuestras charlas cibernéticas,
muchos de tus poemas y fotografías, por separado, pero también fotografías con poemas.
Llevaban títulos con nombres de mujeres. ¿Es un libro con tus fotos y con poemas?
¿Cuál es la historia detrás de esos textos con fotos? <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">FM</span></b><span lang="ES"> Antes de las fotografías los <i>collages</i>. El trabajo con las tijeras, haber
conocido al surrealismo y las naturalezas muertas. Luego el deseo de trabajar solamente
con cosas mías, así que pasé a fotografiar las imágenes que después utilizaría en
los cortes, primeramente con tijeras, pero en seguida en la computadora. Pero ahora
la técnica de corte ya no me seduce, la relación amorosa más intensa pasa a ser
con las sobre-posiciones, buscando los espacios invisibles entre dos o tres imágenes,
así como desvelando los puntos en común entre la figura y el paisaje. El poema,
la imagen poética, sale a buscar otros modos de manifestarse y encuentra la fotografía
como este segundo plan de realización. La fotografía como una extensión del poema.
Cuando están juntos pueden ser percibidos como complementos uno del otro, pero cuando
actúan solos son perfectamente independientes. Las primeras experiencias fueron
en palco, la lectura de poemas acompañada de la proyección de las imágenes que luego
ganaron movimiento a través del montaje de videos que tratan de incorporar también
la música. Los videos son montados a partir de la construcción de maquetas utilizando
las fotografías impresas en varias dimensiones y objetos. Posteriormente gana cuerpo
la idea de un libro que pudiera ser el sitio de encuentro de eses lenguajes todos.
Detalles de producción no lo permitió la realización de la idea original, así que
sale el libro, pero solo con poemas y fotografías. No es una pérdida, para nada,
porque planeamos el libro dentro de este nuevo espíritu, solamente un maridaje entre
dos lenguajes. Ya el mundo de las mujeres, mejor, del femenino, de la sensibilidad,
la pasión, y sus tormentos, dolores, violencias, los amores imposibles, todo eso
es más antiguo y ya había tratado del tema en otros libros, muy especialmente en
uno que se llama <i>Estudios de piel</i> (2004), libro en que mezclo varios lenguajes
(poema, prosa poética, narrativa, crónica policial etc.) y que está relleno de personajes
femeninos. Ahora en el caso de la fotografía tiene que ver particularmente con esa
relación entre paisajismo y figurativismo que busco fusionar en algo propio, así
que el cuerpo femenino encuentra abrigo en el mismo sitio que los ambientes naturales
(montes, volcanes, árboles, cielos, lagos, todo) y juntos apuntan en la dirección
de otra imagen. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">MM</span></b><span lang="ES"> Llegamos a la parte central que origina esta entrevista: El libro-objeto. ¿Qué
historia, en general, nos puedes narrar? ¿Quiénes te anteceden o qué te sirve para
hacer un libro-objeto? Tal vez quieras ampliar más sobre la respuesta anterior o
decirnos si tiene algún proyecto similar.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">FM</span></b><span lang="ES"> Fines de los años 70, siglo pasado, he hecho un librito de poemas con la presencia
de un artista plástico y sus trabajos en tinta china. La edición de este librito
fue artesanal en el formato de hojas sueltas en un sobre (A4) que tenía en la portada
una viñeta de otro artista. Esa condición artesanal era su disfraz de libro-objeto
(risas). Pero lo más importante siempre me pareció la idea de buscar el otro, un
cómplice, una pareja, sea en la creación en sí o en su producción. Años después
miro los destrozos de una iglesia y pienso que sería el escenario perfecto para
la escritura de un libro. Invito un fotógrafo amigo y por allí pasamos algunas mañanas
sacando fotos y anotando imágenes. El libro, ahora impreso como un libro común,
tenía cierta rusticidad en su <i>design</i>, buscando equivalencia con el ambiente
plástico y poético del contenido. Ya en 2004 conozco a un escultor en Costa Rica
cuyo trabajo está hecho con los horcones de una vieja iglesia en su país. Di inmediato
me quedé apasionado por los personajes que desentrañaba de la madera y lo invité
a hacer un libro conmigo. El resultado – ahora en mejores condiciones editoriales
– tenía la misma raíz, o sea, el diálogo entre creadores y la producción de un objeto
de arte, la concepción del libro como un objeto de arte. Pero que no se alejará
del entendimiento del libro como un objeto de lectura. No estaba buscando un obstáculo
a la lectura o convirtiendo al libro en escultura. Sigo creyendo en esa mesa de
encuentros, en que los soportes son reflejos del tipo de diálogo que uno mantiene
con el otro, una consecuencia del diálogo. Ahora mismo busco llevar a palco lenguajes
con que trabajo: poemas, letras de canciones, fotografías, objetos, videos y escenario,
todo eso naturalmente con la presencia de músicos, arregladores, bailarines y una
cantora, desde ya pensando en la edición de todo en un libro/cd/dvd/catálogo que
de alguna manera se pueda mirar como un libro-objeto, sí, pero sin perjuicio del
desfrute corriente de sus lenguajes. Como puedes notar, tengo otra lectura del tema,
por la suma de lenguaje tal vez. Es como lo que hace, por ejemplo, Peter Greenaway
en una película como <i>The pillow book</i>, en que arte y vida se mezclan en una
relación intertextual intrigante. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">MM</span></b><span lang="ES"> Hemos estado hablando precisamente de ese proyecto que tendrá libro/cd/dvd/catálogo,
y tenemos la intención de robar un banco, tema aparte que, mientras tanto, estamos
practicando a través de esta entrevista. Dime, qué propuesta podemos adelantar en
el tiempo a través de esta entrevista y que podrimos enviar a amigos y futuros mecenas.
Abrirnos a un cooperativismo como el que se hacen entre diversas editoriales. Imagina
que vas a describir las partes de ese proyecto respondiendo a qué, cómo, quiénes,
cuándo. Espero de ese modo, con la idea del libro-objeto, probar que en verdad quien
piensa fuera del libro tradicional está pensando en el presente y en el futuro de
lectores curiosos. Como dijeron dos de los entrevistados, el libro-objeto, para
ellos surge de la necesidad de conquistar audiencias jóvenes que asocian la lectura
con algo aburrido (Dux) y comienza con los supuestos mandamientos escritos en una
piedra. Es un gancho para ellos, en parte, teniendo claro que el libro-objeto también
es un diálogo abierto, en continua búsqueda y movimiento. Entonces, cuenta.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">FM</span></b><span lang="ES"> Yo pienso que no puede haber nada más aburrido que salir a conquistar audiencias.
No creo en la lectura como algo agotado. Lo que pasa es que escritores y mercado
editorial llenaran el mundo de mala literatura. El lector está como perdido en medio
a ese basural sin fin. Y lo digo exactamente como lector, y lector apasionado, que
no comprende otra manera de serlo. Y que además no cree propiamente en lectura,
sino en relectura. Lo que hago en esa suma de géneros y áreas de creación tiene
que ver únicamente con mi hambre estética. Me preguntas sobre los proyectos en curso
y son dos: por las Ediciones Andrómeda, de Costa Rica, está por salir un libro que
se llama <i>La efigie sospechosa</i>, que reúne poemas y fotografías. Es un librito
mágico que tiene la traducción de Marta Spagnuolo (Argentina), un prefacio de David
Cortés Cabán (Puerto Rico) y al final el mismo editor, Alfonso Peña (Costa Rica)
me hace una entrevista. Me encanta la idea de proporcionar un encuentro, en un mismo
libro, de todos ellos, amigos en la vida y en el arte. El otro proyecto, sí, este
necesita de un mecenas, es la grabación de un disco reuniendo los compositores con
quien he trabajado como autor de letras de canciones. El disco debe incluir también
un catálogo con un ensayo fotográfico. La idea es un poco más amplia porque al disco
debe sumarse la producción de un show con músicos, videos y la creación de un escenario
a partir de mis fotos y objetos. El proyecto se llama <i>Amores visibles invisibles</i>,
y tiene que ver con esa relación entre luces y sombras que es el sello sagrado del
amor. No creo en el arte como un gancho, sino como un pescado. No es la oportunidad,
sino el alimento.<span style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">[2010]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 8pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">[Entrevista concedida a Madeline Millán.
Originalmente publicada em <i>Agulha
Hispânica</i><strong><span style="font-weight: normal;"> # 5 – Fortaleza-CE, Brasil – setembro de
2010.</span></strong> Integra o livro <i>O hábito do abismo (Entrevistas
com Floriano Martins)</i>, de Márcio Simões (ARC Edições: Fortaleza, 2013).]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
http://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/http://www.blogger.com/profile/15464755224800829626noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5262314379244716711.post-34383293218475579842014-10-12T06:41:00.002-07:002014-10-12T06:41:54.899-07:00TODAS AS COISAS À MINHA VOLTA A PARTIR DE UMA PERSPECTIVA DA POESIA | Entrevista a Adlin Prieto<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<br /></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: -14.2pt;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-ZvEAdLKNCjo/VDqE9P8tpBI/AAAAAAAABPE/bjuJYlVzi4k/s1600/Floriano%2BMartins%2B2010%2B(18).jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-ZvEAdLKNCjo/VDqE9P8tpBI/AAAAAAAABPE/bjuJYlVzi4k/s1600/Floriano%2BMartins%2B2010%2B(18).jpg" height="275" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 14.2pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span lang="ES">Floriano Martins (Fortaleza,
1957) es un hombre que no necesita presentación. Su pasión por la literatura hispanoamericana,
especialmente por la poesía, ha rebasado las fronteras genéricas, geográficas, lingüísticas
y temporales. Poeta, ensayista, traductor, editor, agente cultural, crítico e historiador
de la literatura contemporánea es autor de los libros: <i>Escritura Conquistada
(Diálogos con poetas latinoamericanos, </i>1998) y <i>El inicio de la búsqueda (El
surrealismo en la poesía de América Latina, </i>2001) por nombrar sólo algunos.
Entre sus libros de poesía sobresalen: <i>Alma en llamas</i> (Brasil, 1998), <i>Cenizas
del sol</i> (Costa Rica, 2001), <i>Estudios de
piel</i> (Brasil, 2004) y <i>Tres estudios para un amor loco</i> (México, 2006).
En la actualidad dirige, junto a Claudio Willer, la revista <i>Agulha</i> (</span><a href="http://www.revista.agulha.nom.br/" target="_blank"><span lang="ES">www.revista.agulha.nom.br</span></a><span lang="ES">), publicación de circulación virtual que este año recibió el Premio Antônio
Bento de la ABCA –Asociación Brasileña de Críticos de Arte– como mejor vehículo
de comunicación cultural del país, y es coordinador del proyecto <i>Banda Hispánica</i>,
del <i>Jornal de Poesia </i></span><span lang="ES">(</span><a href="http://www.jornaldepoesia.jor.br/bhportal.htm"><span lang="ES" style="color: windowtext; mso-ansi-language: ES; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: ES-VE; text-decoration: none; text-underline: none;">www.jornaldepoesia.jor.br/bhportal.htm</span></a><span lang="ES">)</span><span lang="ES">. Dentro de su importante labor de difusor de la literatura, coordina la próxima
Bienal Internacional del Libro de Ceará que se realizará en noviembre de 2008.
[<b>AP</b>]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">ADLIN PRIETO</span></b><span lang="ES"> A pesar de ser un hombre
tan polifacético, el oficio de poeta priva en usted por sobre los otros. </span>¿Por qué?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FLORIANO
MARTINS</b>
Quando digo que sou essencialmente poeta evidente que isto não me restringe à criação
de poemas. Significa dizer que lido com todas as coisas à minha volta a partir de
uma perspectiva da poesia. Significa dizer que pragmatismo ou lucidez organizativa
são aspectos que não seriam possíveis em mim se antes não houvesse um sentido poético
avançando firme. Desta forma, o trabalho como produtor, pesquisador, ensaísta, tradutor
e editor persiste de forma complementar ao poeta que sou, e não como uma atividade
à parte ou de caráter mais decisivo em minha vida. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">AP</span></b><span lang="ES"> Su obra poética está signada
por la “tradición” barroca y surrealista, es decir, por un espíritu de libertad,
por la experimentación formal, por el exceso (en el mejor sentido del término),
por una apuesta y un compromiso por/con la creación. </span>¿Cómo se relaciona esto con
sus otros roles? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Eu sinceramente não creio
que o espectro possa definir-se somente no âmbito do barroco e do surrealismo. Há
uma variedade de referenciais identificáveis por mim e há também a parte inconsciente
que fala independente do que pensemos a respeito. Há também as referências não-literárias,
que eu diria são ainda mais fortes em minha poesia. Todo aquele mundo espectral
que salta das gravuras de um William Blake ou das síncopes dos concertos de Keith
Jarrett. Este ir e vir no tempo, referências pan-temporais. Estruturas cênicas.
Uma paixão especial pelo enredo (narrativa, teatro, cinema, <i>comics</i>), pela trama. Todos estes são aspectos
essenciais para a minha poesia. As demais atividades em que estou envolvido são
como os diversos pontos necessários para se fiar uma teia existencial. Minha relação
com todos estes pontos está na raiz do <i>Abraxas</i>
com que habitualmente me despeço dos amigos: um sinal de integridade em tudo o que
faço.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">AP</span></b><span lang="ES"> ¿Sus reflexiones sobre la dimensión
política del arte responden a la relación de intimidad que el surrealismo proponía
entre vida y obra, al humanismo poético? <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Ah o <i>humanismo poético</i> de que falava Enrique Molina,
este magnífico poeta argentino, cuja poesia, com aquele caudal imagético que é intensamente
amazônico, um mergulho na selva do ser, com uma profundidade que não se separa em
momento algum do que lhe é exterior, um equilíbrio magnífico alcançado entre o léxico
e a vertigem das imagens. Sim, o político é parte de nós, e deve sê-lo com a mesma
intensidade do erótico, do místico, enfim, a mesma intensidade orgânica, porque
não há metafísica sem seu correspondente orgânico, assim como não há arte que seja
verdadeiramente expressiva sem sua consciência de atuação. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">AP</span></b><span lang="ES"> Sus <i>collages</i> apuestan por un discurso otro alejado de las limitaciones de
la disposición tipográfica. Pienso en <i>Estudios
de piel</i> (2004) y <i>Alma en llamas</i> (1998)
por ejemplo. ¿Cómo se vincula este tipo de imagen, que al fin y al cabo sigue siendo
una representación de la escritura, con la palabra poética?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> A princípio tratava-se de
um diálogo entre duas formas de manifestação criativa, porém do ponto de vista do
poético. Mesmo quando eu fazia colagens não necessariamente para incluí-las em meus
livros, eram sempre pensadas como uma conversa com este ou aquele campo de visão
da linguagem poética. Hoje o diálogo permanece. Evidente que ganhou maior cumplicidade,
porém com um equilíbrio mais nítido entre o poético e o plástico. As duas linguagens
funcionam hoje como representação uma da outra, em igual intensidade. E se representam
igualmente estando ambas em um mesmo cenário ou atuando em separado. Penso agora
finalmente em fazer uma exposição somente com as colagens, por exemplo, o que antes
me parecia algo improvável. Assim como o poema foi buscar para si recursos do teatro,
da crônica policial, do romance, as colagens se apropriaram de recursos ligados
à escultura e ao vídeo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">AP</span></b><span lang="ES"> <i>Alma en llamas</i> (1998) es un libro donde el ser palpita y las pasiones
galopan sin menoscabo de la razón e incluso de lo filosófico. Lo trágico y lo lírico
también están presentes, sobre todo en el extenso poema titulado “Los tormentos
miserables del lenguaje y las seducciones del infierno en los instantes trágicos
del amor de Barbus y Lozna”. ¿A qué respondió la escritura de este poema en español?
¿Por qué decidió publicarlo en portugués e incorporarlo a este texto? </span>¿Cómo se vinculó con el resto
de la publicación?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> A decisão veio da constatação
de que o exercício criativo começava a dar sinais de repetição, quando as soluções
poéticas davam volta em torno delas mesmas. Escrever em outro idioma forçaria a
eliminação desses pequenos vícios retóricos. Foi uma decisão valiosa, que resultou
em um acento mais forte dessa relação entre os recursos líricos e trágicos de minha
poesia. Este largo poema, “Los tormentos miserables del lenguaje y las seducciones
del infierno en los instantes trágicos del amor de Barbus y Lozna”, permitiu uma
aproximação maior de meus escritos em relação ao teatro. Foi inclusive decisivo
na publicação de um livro intitulado <i>Teatro
Imposible</i> (Venezuela, 2008). O poema situa-se nos domínios do amor impossível
sob vários aspectos. A parelha que é separada pela morte de um de seus componentes
também pode ser uma leitura do mito do Andrógino. O livro <i>Alma em chamas</i> (Brasil, 1998) está armado como um cenário multifacetado
dos grandes conflitos existenciais. Supondo a existência de um protagonista único
que atravessa todo o livro, as variações se dão na forma de capítulos, passando
por dilemas como a perda dos familiares, o amor impossível, os tormentos da linguagem,
as fraturas sociais etc. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">AP</span></b><span lang="ES"> ¿Qué significó escribir en
una lengua otra un poema propio y traducirlo luego al idioma materno?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Não foi propriamente uma
tradução. Como se tratava de um poema meu, pude então alterar passagens em que melhores
soluções foram encontradas sugeridas pela nova sintaxe. Além disto, quando fui publicar
a versão original, que integra o livro <i>Tres
estudios por un amor loco</i> (México, 2007), uma vez mais surgiram novas opções
no caso de várias passagens. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">AP</span></b><span lang="ES"> ¿Por qué traducir, fungir de
traductor? ¿En su caso hay algo lúdico en ello, en el acto de trocar las palabras
para convertir el texto que es en el que va a ser?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Em geral, tradutores tendem
a considerar-se, em relação aos autores que estão traduzindo, cúmplices na criação.
Não há dúvida que se trata de cumplicidade, embora na maior parte dos casos se trate
mesmo de um negócio. O negócio da tradução. Agora, não estou bem certo de que a
cumplicidade possa ser entendida no sentido de uma criação paralela, como se a tradução
fosse um gênero literário. A diversidade cultural está, sob vários aspectos, fundada
na diversidade lingüística. E não me refiro à língua pura e simplesmente, porém
a seus matizes e acentos, o que faz com que se distinga o modo de expressar-se de
vários povos que falam a mesma língua. Há ainda as distinções de natureza estilística,
do grau de experimentação do léxico e da ortografia etc. Muito disto naturalmente
se perde na tradução. Muito mais do que os aspectos ligados a ritmos e rimas, por
exemplo. Eu me sinto um cúmplice do autor que estou traduzindo mais no sentido de
que assim contribuo a reduzir o abismo que o separa de leitores do meu próprio idioma.
E o faço com toda a honestidade que a cumplicidade requer. Nada mais. Quando ao
aspecto lúdico que mencionas, eu diria que a tradução permite uma intimidade maior
com a obra que estamos lendo. Seria algo mais intensamente erótico do que a leitura.
Creio que quando traduzimos um texto é quando verdadeiramente vamos para a cama
com ele.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">AP</span></b><span lang="ES"> En cuanto a la relación lengua/arraigo,
¿comparte la postura del novelista carioca Per Johns: </span><span lang="ES-AR">“El
arraigado es uno con su lengua. </span>El bilingüe es dos y ninguno”?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Este é um ardil. Pobre poliglota,
o que seria então? (risos) Evidente que a língua nos distingue, nos permite a multiplicidade
cultural, por exemplo. Porém a diversidade de caráter percebido dentro de uma mesma
comunidade lingüística nos leva a pensar que falta algo na consideração do Per Johns.
De uma maneira geral somos dois e nenhum independente da condição bilíngüe. Somos
dois e nenhum porque a realidade em nosso tempo, particularmente em nossos países,
nos leva a uma condição existencial no mínimo ambígua. A rigor, nos leva a um esfacelamento
do caráter. Vivemos em sociedades atônitas que não sabem (mais) dar uma resposta
equilibrada à avalanche de ansiedades que nos são cotidianamente impostas. De alguma
maneira, o grande exílio hoje se verifica dentro da língua, ou mais: dentro do ambiente
cultural em que age cada língua.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-AR">AP</span></b><span lang="ES-AR"> ¿Cómo se despierta su interés
por la traducción? ¿Responde, de alguna manera, a sus vinculaciones con la literatura
en español? <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Sim, eu comecei a traduzir
exatamente do espanhol, motivado por uns livros que ganhei de presente cujos autores
eram desconhecidos no Brasil. Foi meu primeiro impulso: traduzir alguns poemas para
publicar na imprensa em meu país. Não recordo bem se César Vallejo ou Vicente Huidobro
ou Oliverio Girondo. Logo surgiram possibilidades de traduzir autores ingleses,
italianos e galegos. Aos poucos fui conhecendo melhor o idioma espanhol e, sobretudo,
me apaixonando pela diversidade estética de suas literaturas, algo impressionante.
Até que passei a traduzir somente do espanhol, já com um propósito distinto, que
assumia uma conotação política e me distanciava da condição de tradutor apenas em
seu âmbito mercadológico, de contrato editorial. Eu quero recordar aqui uma aventura
que foi de grande importância para mim: quando eu morava em São Paulo, na primeira
metade dos anos 80 do século passado (ah como é estranho falar em século passado),
tive a ousadia de propor a um grande poeta do meu Estado (Ceará), Francisco Carvalho
(1927), um exercício de tradução que, a rigor era um exercício de convívio mais
intenso com a obra em questão, do livro <i>Altazor</i>,
do chileno Vicente Huidobro. Carvalho é um poeta fundamental, cuja poesia foi de
grande importância em minha adolescência, de maneira que sua concordância possuía
para mim um significado à parte. Ao longo de alguns meses traduzimos os 7 cantos
de <i>Altazor</i>, conversamos a respeito etc.
Jamais pensamos em publicar o livro. Para nós, o que estávamos ali realizando era
um ritual de intensificação de nosso conhecimento do espanhol e da poesia em si.
<span lang="ES">Foi uma valiosa experiência.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">AP</span></b><span lang="ES"> ¿Desde
cuándo y por qué ha establecido vínculos con escritores de habla española</span><span lang="ES">?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Vamos diversificar o sentido
do que chamas “vínculos”. Há o sentido do conhecimento através da leitura, assim
como outros: o convívio pessoal, a correspondência epistolar e até mesmo a aproximação
por natureza contratual. Na infância não era comum acesso a literatura de língua
espanhola, de maneira que demorei muito a conhecer qualquer literatura neste idioma.
Seguramente Cervantes foi o primeiro. Porém o impacto maior foi quando li Federico
García Lorca. Li Pablo Neruda antes, porém não me causou a mesma impressão. É curioso
que eu tenha lido primeiramente, em português, autores que depois foram traduzidos
por mim. Dois exemplos: o próprio García Lorca e o cubano Guillermo Cabrera Infante.
Outro vínculo fundamental foi de natureza epistolar. Creio que o mais importante
destaque aqui é minha extensa correspondência com o crítico espanhol Jorge Rodríguez
Padrón, que me ensinou muito a respeito de poesia hispano-americana. A partir deste
diálogo pude conhecer muitos autores, dando início a um extenso contato epistolar
que define todo o trabalho que sigo realizando. Pela ordem, o último vínculo é o
do abraço físico, da troca de olhares, da amizade finalmente conquistada e definida.
Este vínculo não é possível sem a presença das viagens. Conheço praticamente todos
os países de língua espanhola. E tenho me encontrado com inestimáveis expressões
literárias desses países nos diversos encontros internacionais que compartilhamos.
É fundamental destacar a existência desses eventos, que permitem o diálogo, a descoberta,
a confirmação, a continuidade de uma série de projetos sem os quais nosso abismo
cultural seria ainda mais intenso e violento. Ainda me indagas o motivo para tudo
isto, para meu vínculo com esta literatura. Embora eu ache que está bastante implícito
em nossa conversa destaco que havia uma biblioteca na casa de meu pai, que foi responsável
pela minha formação literária em um primeiro momento, e que quando comecei a ouvir
nomes da literatura de língua espanhola soavam estranhos para mim, todos desconhecidos.
<span lang="ES">Isto significava uma falha de formação. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">AP</span></b><span lang="ES"> </span><span lang="ES">¿Cómo circula la poesía de expresión española, sobre todo la latinoamericana,
en Brasil?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Não circula. A ideia de
circulação é o primeiro equívoco que deve ser explicado. Editar e circular são duas
coisas distintas. Creio que isto se passa em grande parte do mercado editorial no
mundo. Por vezes temos um convênio que permite a edição de um livro. Porém o livro
não circula, não há distribuição, ou divulgação ou venda. O autor está publicado
no país, e até tecnicamente impedido de que volte a ser reeditado, porém sem circulação
alguma. Isto é o que se passa com a grande maioria da literatura de língua espanhola
no Brasil, ou seja, à exceção de casos como Jorge Luis Borges, não há circulação.
Nada. É preciso insistir neste detalhe: não conhecemos no Brasil a grande literatura
de língua espanhola, com sua extensa e intensa diversidade, de épocas, estilos e
países. Nada. Algumas editoras se interessam pelo tema, porém há em muitos casos
uma imensa dificuldade na negociação de direitos autorais com a família, quando
se trata de autores mortos. Há um abismo cultural imenso entre nossos países. Uma
possibilidade de se remediar tal situação? Apoio institucional. Não digo apoio financeiro
isoladamente, mas sim, sobretudo, apoio na liberação de direitos autorais. A criação
de co-edições entre editora brasileira e governo desses países, isto seria brilhante.
Já avançamos algo no que diz respeito a uma parceria com Portugal. Há editoras brasileiras
interessadas na criação de coleções dedicadas à literatura hispano-americana. Mas
precisam de apoio institucional. Há que pagar direitos autorais, tradutores etc.
<span lang="ES">Tudo isto é fundamental.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">AP</span></b><span lang="ES"> ¿Más
allá de las ferias de libros y las bienales de Literatura, hay un espacio dentro
del campo cultural brasileño para la literatura escrita en español? </span>¿La academia
brasileña la aborda como objeto de estudio? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Não, não temos a menor preocupação
com o idioma espanhol, o que inclui sua literatura. Mesmo a atenção para acordos
comerciais, acordos de fronteira, eles não consideram a importância do conhecimento
da língua. A literatura em si é um objeto absolutamente à parte dentro deste ambiente
de negociação de poderes de fronteira. Insisto no termo, porque não me parece que
nossos países estejam interessados em uma vital cumplicidade de definição de espaço
político de ação comum no sentido de auto-preservação da América Ibérica ou algo
similar. O mercado editorial no Brasil tem uma única porta aberta: para o que reza
a intempérie dos mercados editoriais na Espanha e Estados Unidos. Esta minha experiência
como curador de uma Bienal Internacional do Livro no Brasil me diz – e lamento profundamente
ter chegado a tal conclusão – que não há interesse algum entre nossos países por
uma aproximação cultural. O governo venezuelano está possuído por uma obsessão de
controle continental à qual ele não corresponde senão de maneira impositiva. O governo
brasileiro, por sua vez, até hoje não percebeu a importância de um diálogo com a
América Hispânica. A Academia, segundo, tua pergunta, é um esteio insignificante,
ela não representa nada que não seja a definição de um programa de governo. Acaso
imaginas a Academia Brasileira de Letras propondo cursos de língua espanhola e uma
série de conferências com autores de língua espanhola? Há isto na Venezuela, em
relação a escritores brasileiros? Há um Centro de Estudos Brasileiros na Embaixada
do Brasil em Caracas. O que ele tem feito pela difusão da literatura brasileira
na Venezuela? Há algo assim na Embaixada da Venezuela em Brasília? O que se tem
promovido ali? A relação cultural entre nossos países é meramente retórica, querida.
Devo agradecer imensamente aos esforços da Fundación Biblioteca Ayacucho, pela publicação
de vários autores brasileiros. Devemos isto aos venezuelanos. Porém as nossas academias,
que essencialmente são os nossos governos, não estão interessadas no assunto.<span style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">[2010]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 8pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">[Entrevista
concedida a Adlin Prieto. Originalmente publicada na revista virtual <i>El
Hablador</i> # 16. Lima, Peru. 10/07/2010. Integra o livro <i>O hábito do
abismo (Entrevistas com Floriano Martins)</i>, de Márcio Simões (ARC Edições:
Fortaleza, 2013).]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
http://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/http://www.blogger.com/profile/15464755224800829626noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5262314379244716711.post-1352240575670694482014-10-12T06:31:00.000-07:002014-10-12T06:44:34.350-07:00NASCENDO TODOS OS DIAS | Entrevista a Manuel Iris<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 14.2pt; text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-nOylvQmsQkI/VDqFXAK8X_I/AAAAAAAABPM/anRYBTZLILM/s1600/Floriano%2BMartins%2B%26%2BManuel%2BIris%2B2010.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-nOylvQmsQkI/VDqFXAK8X_I/AAAAAAAABPM/anRYBTZLILM/s1600/Floriano%2BMartins%2B%26%2BManuel%2BIris%2B2010.jpg" height="255" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span lang="ES">D</span><span lang="ES">ifícil es hablar
de los amigos sin ser injustamente duro. Difícil es hablar de quien se admira sin
ser injustamente lisonjero. Por ambos motivos, en lugar de hablar de él, me propongo
dejar hablar a Floriano Martins. El presente diálogo es una repetición, ahora sobre
el papel, de varias charlas sostenidas en Cincinnati, Ohio, lugar en el que nos
conocimos –invitado por el poeta Armando Romero, Floriano fue mi profesor de un
curso sobre Vanguardias y Surrealismo en América Latina durante los primeros meses
del 2010– y compartimos una gran cantidad de conversaciones que hasta hoy se continúan.</span><span lang="ES"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 14.2pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span lang="ES">Antes que con su biografía literaria y artística, quiero presentarlo con una
anécdota: habiendo visitado la poblada y aleatoria oficina de Armando Romero, llena
de ocultos papeles (manuscritos de varios poetas amigos suyos, ejemplares casi únicos
de revistas ahora legendarias de todo el continente, libros dedicados por diversos
escritores) Floriano se ofreció a ordenarla, y lo hizo hasta el grado de poner en
orden alfabético cada uno de los libros. No pude evitar sorprenderme de lo que motivaba
su gesto –necesidad de orden, de sistema– y le dije: <i>¿Por qué te pesa tanto ese
desorden, no que eres surrealista? </i>Riéndose contestó: <i>Claro, cabrón. Yo no
desordeno, pongo otro orden a las cosas y para eso tienen que estar ordenadas. Además,
hay que saber construir lo que se pretende destruir</i>.</span><span lang="ES"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 14.2pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span lang="ES">Creo que lo anterior da un claro indicio de su talante artístico, su rigurosa
fiesta. Por lo demás, sus datos bio-bibliográficas son muchos, pero digo solo algunos:
N</span><span lang="ES-TRAD">ació en Fortaleza, Brasil, en 1957. Poeta,
editor, ensayista y traductor, se ha dedicado, en particular, al estudio de la literatura
hispanoamericana, sobre todo en su poesía. </span><span lang="ES">Dirige el Proyecto Editorial Banda Hispánica. Es coordinador de la colección
“Ponte Velha”, de autores de lengua portuguesa, de Escrituras Editora (San Pablo,
Brasil), lo mismo que de la colección “O Começo da Busca”, de las Edições Nephelibata
(Santa Catarina, Brasil). Curador de la Bienal Internacional del Libro del Ceará
(2008). Profesor invitado de la Universidad de Cincinatti (Ohio, Estados Unidos).
</span><span lang="ES-TRAD">Fue parte del jurado que concedió, en el
2009, el premio de poesía de Casa de las Américas, al poeta Lêdo Ivo. Crítica sobre
su obra, así como entrevistas y textos suyos de poesía o sobre música y plástica
se han publicado en Brasil y el extranjero. Sin duda, Martins es una de las figuras
más importantes del ambiente cultural brasileño contemporáneo. </span><span lang="ES"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 14.2pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span lang="ES-TRAD"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Aquí dejo, pues, expuesto este diálogo. [<b>MI</b>]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 14.2pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-MX">MANUEL
IRIS </span></b><span lang="ES-MX">No es secreto que además de poeta eres también narrador,
escritor de letras para canciones populares, ensayista, fotógrafo y creador de <i>collages</i>;
ni tampoco se ignora que como apreciador del arte eres apasionado del cine, el jazz
y la plástica experimental que se extiende del <i>grafiti</i> hasta el <i>comic</i>
y la novela gráfica. El rango de tus posibilidades creativas y apreciativas es amplísimo,
lo que me lleva a preguntarte ¿has llegado a ello como resultado de una poética
personal, o ha sido tu poética personal un derivado de esta diversidad creativo-contemplativa?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">FLORIANO
MARTINS</span></b><span lang="ES"> Mis recuerdos de infancia son un desborde completo en términos
de experiencia y contemplación, incluso sin que las dos cosas se separen entre sí.
Era como un desafío a la creación. La biblioteca alucinada de mi papá, con sus libros
de varios temas y su desorden absoluto. La música distinta que disfrutaban papá
y mamá. Los amigos reunidos alrededor de la radio en un primer momento y luego la
llegada de la televisión, con la magia de la animación. La colección de fotonovelas
de mi mamá con adaptaciones de los clásicos de la literatura, y la colección de
<i>comics</i> de mi papá. Las mañanas de domingo en que mi papá me llevaba al cine.
Ahí estaba yo naciendo todos los días, creando íntimamente. Mi mejor manera de expresión
eran las copias que hacía, en una mezcla irregular de crayón y pasteles, de algunas
portadas de novelas: uno debe siempre comenzar como copista, es lo mejor. Así es
que mi infancia me ha dado la primera noción, aunque sea por pura intuición, de
algo que luego descubriría a través del surrealismo: la intensa relación entre arte
y vida. Pero también en esos misterios es imposible saber quien ha llegado primero,
si el huevo o la serpiente. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-MX">MI</span></b><span lang="ES-MX"> Existen artistas que escriben un solo libro aunque hagan muchos </span><span lang="ES">–</span><span lang="ES-MX">pensemos en Roberto Juarroz
y su <i>Poesía vertical, </i>o en la compacta obra de Pedro Lastra</span><span lang="ES">– </span><span lang="ES-MX">y otros que cierran cada
libro en sí mismo, siendo su obra completa un diario de navegación por distintos
senderos </span><span lang="ES">–</span><span lang="ES-MX">pienso en Eugenio
Montejo, por decir alguien</span><span lang="ES">–</span><span lang="ES-MX">. Visto así ¿cómo concibes tu obra? ¿Es una que se expande, o una sumatoria
de haceres diferentes?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-MX">FM</span></b><span lang="ES-MX"> Yo sé que en la creación busco lo que se pueda llamar de pincelada única,
según la definición del maestro Shintao. Creo en la seducción del carácter casi
<i>mediúnico</i> de la creación, algo que necesita establecer una relación inmediata
entre lo que llevamos adentro y lo que está afuera en deseo intenso de comunicación.
Pienso en mi obra como una expresión automática de esa búsqueda. Y jamás pienso
solamente en libros. Lo que más estimo ahora, por ejemplo, es justamente salir del
libro hacia la plástica, la música, el teatro, lo que sea. Lo que no quiere decir
que rechazo al objeto libro, que me sigue encantando, pero señala una búsqueda continua
de expansión. Siempre la expansión. Los registros muy repetidos de una obra, lo
mismo que la confiada obsesión por nuevos registros, son cosas que pueden dañar
los secretos de su realización. Hago una distinción entre la repetición y las variaciones
sobre el mismo tema. Sinceramente pienso hoy en la poesía del argentino Roberto
Juarroz como algo muy aburrido, lo mismo que el brasileño Manuel de Barros. Sobre
todo porque me parece que este abuso en la repetición de un mismo registro puede
parecer un facilismo, cierta comodidad frente a la creación.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-MX">MI
</span></b><span lang="ES-MX">Es claro que los artistas actuales, en cualquier género,
se esfuerzan por no ser clasificables y consideran un anacronismo la adhesión a
cualquier escuela o ideología estética. Frente a ello te revelas surrealista y,
queriéndolo o no, actualizas con ello la noción misma de surrealismo, cuya historia
conoces mejor que nadie. ¿Por qué identificarse (adherirse, acaso) a una corriente
estética en los escépticos tiempos actuales? ¿Cómo llegaste a ello?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-MX">FM</span></b><span lang="ES-MX"> Tal vez simplemente como una forma de rechazo a lo que llamas <i>escépticos
tiempos actuales</i>. Mis primeras afinidades intelectuales con el surrealismo son
fruto del descubrimiento de que en Hispanoamérica se hacía una brillante relectura
del surrealismo sin que en nada tomásemos eso en cuenta en Brasil, al mismo tiempo
en que allí se elegían como piezas de culto los experimentos de lenguaje, ya en
la fase de aburrida repetición. Así, sentí la necesidad de ampliar un poco las posibilidades
de lectura. Lo que pasa es que nunca en mi vida he pensado en las cosas solamente
para mí, los regalos que recibo son parte de mi mundo y tengo la necesidad entrañable
de compartirlos con los demás. No importa la forma de conocimiento, tengo siempre
que pasarla adelante. Dos segundos después de haber leído al que fue para mí el
primer poeta surrealista en español –no estoy seguro, pero creo que fue el peruano
César Moro– pienso en traducirlo y publicarlo, que es una forma de compartir. No
creo en la clasificación como un anacronismo. En las artes, muchas <i>escuelas</i>
tienen todavía un inmenso potencial de aportes que pueden ser valiosos para los
artistas de mi tiempo. Por supuesto lo que señalo no tiene que ver con la adhesión
a estas escuelas, sino con tener cuidado de los vicios impuestos a los términos.
La vigencia del surrealismo, por otro lado, es algo complejo, porque en mucho se
parece a la reproducción poco inspirada de inquietudes pasadas. Hay muchísima mala
creación (poesía y plástica) ofrecida como surrealismo que es realismo inconsecuente
(risas). Yo no sé qué fijación es esa de imponer al surrealismo una falta absoluta
de disciplina. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-MX">MI
</span></b><span lang="ES-MX">Eres un surrealista que hace sonetos y que gusta de Garcilaso.
Eres también un poeta brasileño que conoce la tradición poética latinoamericana
escrita en español como pocos poetas que nacieron hablando esa lengua. Por supuesto,
conoces al dedillo la tradición literaria en lengua portuguesa. En tu poesía puede
verse una hermosa mezcla de estas dos tradiciones, y de la música y la plástica
de América y Europa. Pregunto entonces: ¿Te asumes como poeta brasileño, poeta en
lengua portuguesa, poeta latinoamericano? O bien ¿de dónde, poéticamente, vienes?
¿Acaso importa?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-MX">FM</span></b><span lang="ES-MX"> (risas) Es que tenemos una idea equivocada del surrealismo, como si fuera
una escuela inconsecuente de improvisaciones. La improvisación, al contrario, es
algo que requiere un grado intenso de intimidad con la creación. La escritura automática
siempre fue el motivo de toda esa mala lectura del surrealismo. Lo que le importa
a toda la gente que no gusta de surrealismo es desautorizarlo por el resultado de
algunas obras. Por supuesto que en la creación artística lo que importa es el resultado
estético. Pero en el surrealismo, como en cualquier otra circunstancia, hay de todo,
lo mejor y lo peor, en términos de resultado. Además, hay esa cosa intensa de la
relación entre vida y obra que permite que las malas intenciones digan de un tipo
que es mal artista por haber sido mala gente. El mismo surrealismo incurrió en eso
con la expulsión, en el período clásico, de muchos de sus grandes artistas, porque
Breton los consideraba mala gente. </span><span lang="ES"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span lang="ES-MX">En
Brasil Jorge de Lima y el mismo João Cabral de Melo Neto hicieron sonetos surrealistas.
El segundo acabó por rechazar todo esto en su primer libro, que tenía el sugestivo
título de <i>Piedra de sueño</i>. Yo no comprendo la pelea de los poetas –pienso
que es una trampa que se alimenta solamente de los malos poetas– con las formas.
El formalismo, así comprendido en su afinidad con el positivismo, se cumple no por
el uso de la forma –al final todo es forma, incluso lo informe y dale filosofía
de bodega–, sino por su tratamiento, la obsesión en presentar el mundo simplemente
reducido a su forma, sin otra esencia que la forma.</span><span lang="ES"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span lang="ES"> </span><span lang="ES-MX">El surrealismo ha tratado
de recuperar las otras posibilidades de esencia de la creación, cuya fuente quemante
es la vida y la vida percibida en su multiplicidad, gracias a la presencia del individuo.
Y aquí recupero el tema de tu pregunta. Vengo de ese magma de la multiplicidad donde
ya no importa mi color, credo o nacionalidad. En mi juventud había una colección
que se vendía en quioscos, libritos que contaban un poco de la cultura de cada país,
acompañados de un disco con la música y unas fichas con recetas de la culinaria
de esos países. La colección se llamaba <i>Pueblos y Países</i>. Yo la hice completa
y me encantaba conocer la música y la comida de países los más insólitos para mí.
La música de Laos, la comida de México. Era riquísimo conocer todo eso. La primera
vez que saqué un pasaporte fue para ir a Panamá. Ya sabía un poco de su música y
su comida. La colección tenía entonces su magia que se convertía en realidad. Ya
sabes que lo que escribo tiene un poco de todo eso, pero no funciona si no tiene
la salsa que se llama Floriano Martins, especial solamente para mi culinaria, mi
creación. Seguro que no sirve para más nada.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-MX">MI
</span></b><span lang="ES-MX">Al leerte se sabe que eres un poeta lleno de palabras,
caudaloso y celebrador de la vida, la belleza y el placer. El erotismo es para ti
celebración de la existencia y el cuerpo femenino </span><span lang="ES">–</span><span lang="ES-MX">ya en tu plástica, ya en tu poesía</span><span lang="ES">–</span><span lang="ES"> </span><span lang="ES-MX">es
un evento natural como el paisaje o la tormenta. Fuera de lo escrito, personalmente
sé que eres un hombre que ríe y que sonríe, que gusta de vivir. Dejando fuera esta
clara coherencia entre tú y tu obra, ¿cuál es la relación entre poesía y el mundo?
¿Cómo, poéticamente, te relacionas con la realidad? <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-MX">FM</span></b><span lang="ES-MX"> La vaina <i>tremenda</i> del cotidiano. Me voy a la panadería, tengo buenas
relaciones con el gerente del banco –aunque no le pida plata jamás–, cambio de carro
cuando es necesario, tengo hoy la suerte de que mis hijos ya están crecidos y bien
criados por mí, comparto mi vida con intensa afinidad con mi mujer, pero sobre todo
he conquistado una condición valiosa: saber que a la realidad no le gusta mucho
ser tratada como tal. Hasta aquí tenemos mi relación con ella, y me parece que lo
que quieres saber es sobre el maridaje de mi poesía con ese personaje de la película
de terror que se llama realidad, <i>La Realidad</i> (risas). Antes hay que preguntar
lo que quiero con la poesía, y la tengo como un ejercicio de provocaciones que no
alcanza nada si no despierta en uno la sensación de que le hace falta el piso. La
sensación de asombro o desorientación en el arte me parece fundamental. No importa
que se trate de un plan místico, sexual, político, sino que la resultante sea esa
sensación de que aquí me hace falta algo. Un hoyo, un abismo, algo de mí que no
comprendo. Es lo que busco en la realidad del arte, como creador o como espectador.
Además la otra, la pobre musa de las películas <i>trash</i>, bueno, eso me recuerda
una observación de Francis Bacon al decir que Magritte trastocaba la concepción
usual de la realidad de manera que la hacía más perceptible. A veces la realidad
está simplemente flotando en el aire, y el arte lo que puede hacer es decirle cuan
real es.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-MX">MI
</span></b><span lang="ES-MX">Antes de ser poeta fuiste músico y siempre has sido un
notable lector. ¿Cómo ha cambiado, de antes a ahora, tu relación con tu arte y con
el arte en general? ¿Cómo resultan los reencuentros con obras de arte que alguna
vez te sobrecogieron al contemplar o crearlas?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-MX">FM</span></b><span lang="ES-MX"> No me venga con la mala hierba del pasado. La música siempre fue parte de
mis obsesiones. En la juventud me creía músico, lo que traigo felizmente al recuerdo
por dos razones: la amistad que hice con músicos, algunas la mantengo hasta hoy
y son de las más importantes de mi vida, y la vivencia entre ellos, el ambiente,
teatros, bares, ensayos, todo eso enriqueció mi vida. Pero el arte es siempre un
reflejo de la celebración de la vida. Ya sabemos que he comenzado bien, afortunadamente
bien, con toda la improvisada disciplina de la multiplicidad. Ya no recuerdo donde
leí a alguien diciendo que no creía en la lectura, sino en la relectura. Bueno,
estoy de acuerdo, pero al mismo tiempo no creo en reencuentros, sino en encuentros.
Hace poco en Cincinnati estuve frente a una obra de El Greco que había visto en
libros por toda mi vida. No puedo decir que haya sido un reencuentro. Cuando estuve
en Bilbao hace pocos años dentro de una amplia retrospectiva de Calder, por ejemplo,
igual. Es como besar. Es lo que Borges no comprendía: es el mismo pero es otro.
Pero también indagas sobre las obras creadas. Mi espíritu crítico comanda la fiesta
y la primera sensación que tengo es la de encontrar un error mío. Soy adicto a eso:
descubrir errores. Por eso finalmente descubro lo que me ha interesado más en Sade
que en Lautréamont: la fijación del primero por desvelar errores.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-MX">MI
</span></b><span lang="ES-MX">A diferencia de lo que es costumbre de los poetas actuales,
jamás te has dedicado a la academia. Sin embargo has sido invitado a la universidad
de Cincinnati (EEUU) como profesor residente para dar un curso sobre surrealismo
y vanguardias, al lado del poeta Armando Romero. Según sé, esta experiencia con
la academia no ha sido dolorosa. ¿Cuál ha sido, pues, la historia de tu distancia
con la academia, y cuál es tu evaluación de la experiencia en Cincinnati?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-MX">FM</span></b><span lang="ES-MX"> Yo no creo en poetas actuales. Los poetas son esencialmente inactuales.
La academia no es propiamente dolorosa. A mí siempre me pareció más inútil que dolorosa.
Yo creo en el aporte útil a la sociedad del escritor. Cierta vez he protagonizado
una pelea, en un periódico en mi ciudad, con gente de la academia porque yo afirmé
que esa gente era literalmente financiada por la comunidad y no le retribuía el
beneficio de su supuesto saber adquirido. Es la cosa enfermiza de la mentalidad
de semidioses. Estados Unidos tiene una particularidad en ese tema. Yo no tengo
formación académica, pero tengo mi comprobado saber en el área en que trabajo. Las
universidades en Estados Unidos aceptan mi comprobación de saber, valoran la realidad
expresa en mi currículo, sin importarles las fuentes de mi conocimiento. Tú sabes
que eso es imposible en nuestros países, adictos de las formas más sospechosas de
promociones. La experiencia en Cincinnati fue reconfortante en el sentido de que
se puede buscar en Estados Unidos otras oportunidades de seminario. La misma UC
(<i>University of Cincinnati</i>) podría —como cualquier universidad— mejorar su
lectura de la literatura de lengua española, actualizándola en términos de tiempo
histórico y también buscando relaciones más estrechas con las culturas hispanoamericanas.
La dirección de UC podría mejor invitar su núcleo de maestros a configurar los temas
de cada periodo, para que los estudiantes, jóvenes como son y muy interesados en
el estudio, descubran el puente posible entre la literatura clásica y contemporánea.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-MX">MI
</span></b><span lang="ES-MX">Atípicamente, eres un poeta que usa con destreza los medios
electrónicos para la promoción de la literatura en general y de tu propia obra.
Has fundado y dirigido revistas literarias completamente electrónicas que ahora
son un referente en América Latina, y recientemente abriste una nueva cuenta de
Facebook por tener ya 5000 personas agregadas en la cuenta regular. Por estos medios
y otros muchos eres un gran promotor cultural que además prepara libros, elabora
antologías, escribe prólogos etc. ¿En qué momento se puede hacer todo y cómo compaginar
con ello las labores del artista?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-MX">FM</span></b><span lang="ES-MX"> ¿Esto es una propuesta de matrimonio? (risas) La pasión está por sobre el
tiempo, es lo que siempre he pensado. Hace pocos días en una película alguien contesta
una pregunta de igual naturaleza afirmando que la razón es que no tiene vida personal.
Yo creo que siquiera la esquizofrenia puede ser tratada como vida impersonal. Lo
peor de nuestro tiempo es el abismo que nos impusieron de que ciertas profesiones
llevan una vida impersonal, como los políticos. Tal vez los farsantes son los que
llevan una vida más personal que los demás, justamente por la comprensión de los
mecanismos de despersonalización. Yo no creo en falta de tiempo. El tiempo es una
medida de nuestra relación con el mundo. Si me hace falta el tiempo, es que me hace
falta algo en mí. Por supuesto que no pienso en las 24 horas de los relojes.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-MX">MI</span></b><span lang="ES-MX"> Luego de hablar de medios de comunicación que involucran miles de personas
te pregunto algo que jamás desaparece ¿qué hace un artista con su soledad? ¿Cómo
es en ti la soledad del artista?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-MX">FM</span></b><span lang="ES-MX"> Es una dimensión muy peligrosa, especialmente por su ambigüedad. La mano
con que se nos regala una cosa puede ser la misma con que se nos toma otra. Hay
la frivolidad de la soledad. Hay la angustia de la soledad. Yo creo que nuestro
tiempo tiene una idea confusa acerca de la soledad, dada por la estrategia de mercado
de llenar la vida de sus clientes de oportunidades… de mercado. Es que vendemos
de todo, lo único que hacemos hoy es vender cosas. Para la soledad, pastillas o
recreaciones. Pero la soledad es una tecla explosiva en el ser humano. La soledad
es un poco como la mamá del individuo. Es lo que creo que más hace falta en el arte
actualmente. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-MX">MI</span></b><span lang="ES-MX"> El problema del tiempo ha sido abordado desde siempre como tópico poético.
En tu poesía y en tu plástica se conjuntan la eternidad y el instante en la experiencia
erótica, amorosa, siendo la materialización de ésta el cuerpo femenino o la observación
del mismo. Sin embargo, quiero preguntarte aquí por otro tipo de tiempo, fuera de
la literatura, o acaso dueño de ella: ¿qué opina Floriano Martins que pasará con
su obra, cómo será leída su poesía en el futuro? Sobre esto mismo, ¿cómo lees al
Floriano anterior? ¿Cómo cambia el tiempo a tu poesía?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-MX">FM</span></b><span lang="ES-MX"> No cuentes con verme dominado por la trampa de la presunción, querido. Sería
absolutamente tonto decir que pasará con mi obra en el futuro. En general tomará
el curso de buena parte de las obras, el camino de la desatención. En mi país, sobre
todo. Pero no puedo tener ese tema entre mis preocupaciones. Observo lo que ha pasado
con los demás, con muchos poetas con distintos grados de importancia, y simplemente
no quiero preocuparme con eso. Lo que puedo es tratar de mirar mis exigencias, afinar
mis obsesiones, lo que me lleva a buscar mejores definiciones estructurales para
mis libros, cambiar versos, rever imágenes etc. La misma experiencia erótica que
mencionas, por ejemplo, está poseída por varios fuegos a lo largo de los últimos
15 años, desde su acento místico en un librito publicado en 1992, <i>Sábias Areias</i>
(<i>sabias arenas</i>), hasta la relación buscada actualmente de establecer un romance
entre la figura y el paisaje. </span><span lang="ES"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span lang="ES-MX"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Pero
aquí te cuento una cosa. Este libro, <i>Sabias Arenas</i>, ya en su título nos lleva
a una curiosidad. Es que en Brasil ya se puede hablar de una tradición de juego
de palabras, trocadillos o canjes irresponsables de sonidos de pronto risibles pero
sin aporte crítico o discusión aceptable. Como una broma, pero que puede llegar
hasta un grado de influencia que comprometa la comprensión en serio de su objeto.
Y ya no sabemos de que reírnos. El chiste tiene un principio, sus reglas, su disciplina.
Pero en Brasil tratamos de manera irresponsable al trocadillo, como si fuera la
subversión de todo, incluso del mismo trocadillo. Cuando algo llega hasta este punto,
lo que se comprende es que ya no sabe nada de sí, y pasa a copiar los manuales…
de chistes, de obsesiones, de todo. Si no hay sentido en nada, pasemos a la gran
revolución: crear una sociedad absolutamente sin sentido. Todavía no llegamos a
eso en Brasil, pero si fuera por nuestros artistas, sobre todo la gente de las letras,
ya seríamos pura ficción. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-MX">MI</span></b><span lang="ES-MX"> Comprendo lo que dices, pero no entiendo cómo salió todo eso del título
de tu libro, <i>Sabias arenas</i>. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-MX">FM</span></b><span lang="ES-MX"> Es verdad, el trocadillo no percibido del título es lo que le da sentido
(risas). El adjetivo en portugués (<i>sábias</i>) corresponde al sustantivo (sabbia)
en italiano, o sea, es una trampa en que las arenas se mueven por toda parte. Todavía
más que un juego de palabras, nos lleva a una relación circular relacionada con
la misma estructura del libro, una serie de <i>mantras</i> que asumen la forma de
décimas, sugestiva relación entre la lírica de oriente y occidente. Es un libro
curioso también porque trata de la conflictiva relación –incluso amorosa– entre
el poeta y su madre. Lo que digo es que nada fue comprendido en este libro. Un crítico
en España, Jorge Rodríguez Padrón, fue el único a señalar las relaciones aquí referidas.
Evidente que no digo que el problema de la realidad brasileña tenga que ver con
su mala recepción de mis libros. Mi referencia arriba tiene que ver con cosas que
asumen una connotación cada día más grave. Escenario en que nadie me parece interesado
en siquiera comentar a respecto.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-MX">MI
</span></b><span lang="ES-MX">Me consta la existencia de poetas jóvenes que te leen y
admiran. Es quizá porque tu actitud poética y vital es plenamente juvenil, fresca,
sin dejar de tener una raíz en cada una de las tradiciones de las que tu poesía
abreva. A pesar de saber que es un lugar común, no rechazo preguntarte ¿qué consejo
darías a los poetas jóvenes?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-MX">FM</span></b><span lang="ES-MX"> ¿En serio? Reservaste al final de la entrevista la peor impresión que los
lectores puedan tener de mí. Lo que soy es toda mi vida. Yo no pienso jamás en el
personaje, no llevo una vida en función de él, el tipo que escribe, que es famoso,
que es mayor, no importa. Hace 53 años que tengo la misma edad (tal vez un poco
menos hoy), lo que quiere decir que acompaño con naturalidad mis altos y bajos,
el rostro sincero de cada sensación, todo. Lo mejor que puedo decir a un joven poeta
es que si acaso nos encontramos trate de pagar la cerveza.<span style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">[2010]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 8pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">[Entrevista concedida a Manuel Iris.
Originalmente publicada em <i>Agulha
Hispânica</i> # 4. Fortaleza, julho de 2010. Integra o livro <i>O hábito do
abismo (Entrevistas com Floriano Martins)</i>, de Márcio Simões (ARC Edições:
Fortaleza, 2013).]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
http://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/http://www.blogger.com/profile/15464755224800829626noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5262314379244716711.post-27353615387996432512014-10-12T06:20:00.002-07:002014-10-12T06:20:56.156-07:00OPÇÃO PELA DISSIDÊNCIA | Entrevista a Márcio Simões<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right; text-indent: 16.5pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-bIbheHEI1Gc/VDqAHrMDAwI/AAAAAAAABOs/QJPGpYc9daA/s1600/Floriano%2BMartins%2B02.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-bIbheHEI1Gc/VDqAHrMDAwI/AAAAAAAABOs/QJPGpYc9daA/s1600/Floriano%2BMartins%2B02.jpg" height="320" width="241" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 14.2pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>F</b>loriano Martins (Brasil,
1957) é um dos poetas mais interessantes atualmente em atividade na cena cultural
do país. Com um discurso consistente e ampla erudição, escapa dos lugares comuns
e vem minando vícios reflexivos consolidados em nosso panorama cultural. Sempre
disposto ao diálogo, não recuou quando aproveitei uma de nossas trocas eletrônicas
de mensagens para crivá-lo de questionamentos, na esperança de extrair um pouco
deste escuro ouro incendiado que escorre dos mananciais poéticos das existências
vívidas e liricamente demarcadas. [<b>MS</b>]
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>MÁRCIO
SIMÕES</b> Diante
deste panorama que lucidamente você aponta (desigualdades sociais e culturais marcantes,
ao lado de uma massificação cabalmente realizada, torpeza nas relações humanas,
necessidade de um conhecimento mais plural e detalhado do mundo e do próprio país
pelos escritores etc.), ainda é possível um papel na “sociedade” para a poesia e
o poeta? Seria preciso ou possível fomentar, mesmo que em embrião, uma “microssociedade”
ou “cultura” paralela, alheia ao comércio e vaidades literárias? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FLORIANO
MARTINS</b>
Talvez caiba rever os conceitos de sociedade e poeta, a ver se no Brasil nos encaixamos
em algo que possa assim ser chamado. A sociedade brasileira, do ponto de vista cultural,
está constituída de forma acidental e irregular. Seja pela perversão com que traçamos
o mapa urbano do país, ao longo de nossa história – o acentuado desprezo pelo interior
contrastando com a fascinação irrefletida pelo litoral –, seja pela maneira calhorda
com que praticamente todos os nossos governantes trataram da educação. Por outro
lado, nossos poetas raramente reclamaram para si um papel a ser desempenhado nessa
sociedade. Evidente que não me refiro àquele equívoco papel que deforma a estética
em nome de uma frustrante atuação política. A linguagem poética, por exemplo, jamais
foi pensada como um elemento constituinte de uma sociedade, como um valor cultural
a enriquecer sua formação. De maneira que em meio ao comércio das vaidades eu não
sei se sobrevive algo de humano na poesia ou na sociedade no Brasil.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>MS</b> Tendo em mente algumas linhas
de pensamento correntes, você acredita que a literatura, numa sociedade massificada,
injusta e muito pouco ética, vem correndo o risco de se tornar, por um lado, apenas
repetição, subproduto destes fatores e mera reprodutora dos valores ostensivos do
sistema vigente? E, por outro, espécie de “realismo” que a torna “esgoto” para onde
confluem a expressão dos “recalques e podridões” do humano?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Eu penso que há muito estamos
produzindo uma série infinita e despreocupada de relançamentos – e não me refiro
aqui a reedições e sim ao caráter reciclável da escrita. Não se trata de literatura,
mas antes de cultura de massas. Envolve as demais artes, colocando-as todas na condição
de passatempo. É muito curioso observar que escritores sempre se sentiram uma entidade
à parte, e que agora se encontrem, como artistas que são, porque afinal o que produzimos
todos – poetas, músicos, pintores, dramaturgos – é arte, que agora se encontrem
todos reunidos pelo pior, como títeres de uma indústria cultural que subverte a
lógica e todos aceitamos tacitamente não haver distinção entre produção artística
e produção industrial, como se escrever um romance, por exemplo, fosse apenas fase
de um processo industrial. O indivíduo desaparece duplamente, como criador e como
espécie humana. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>MS</b> Ainda é viável um sentido
de resistência e crítica no trabalho literário, uma vez que o próprio poeta – como
se ouve dizer – está forçosamente inserido nesta estrutura social para sua sobrevivência
e atuação? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Este é um dos argumentos
mais torpes a que alguém pode recorrer. Artistas sempre comeram, casaram, compraram
instrumentos de trabalho e todos sobreviveram e seguem sobrevivendo. Se uns foram
mais felizes ou desafortunados que outros, creiamos em destino ou não, esta balança
ou funil sempre fez parte da vida dos criadores. No caso dos escritores, a história
está repleta dos que trabalham em bancos, dão aulas, receberam heranças familiares,
tiveram livros adaptados para o cinema ou simplesmente recorreram ao mais comum
dos truques de sobrevivência: buscaram uma parceria amorosa que os sustentasse.
Aqueles que se renderam facilmente que não me venham com o argumento de que a sociedade
os forçou a tanto. A vida nunca é fácil, por mais que aparente sê-lo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>MS</b> As ideias de rebeldia e desregramento – oriundas
da poesia – esgotaram-se ao se tornarem produtos – se pensarmos na indústria da
música e no modismo envolvendo a cultura das drogas, cada vez mais afastada de qualquer
sentido e valor, bem como na “institucionalização” dessas atitudes, relacionadas
a uma faixa etária – ou ainda é possível uma rebeldia e um desregramento autênticos
como meios viáveis para o poético, uma vez que, segundo dizes “vivemos numa sociedade
domesticada”?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> É verdade, nos convertemos
em um imenso zoológico, que é o melhor exemplo de sociedade domesticada. Agora,
as ideias se esgotam e talvez este seja um de nossos dilemas, o de que queremos
aplicar ao dia de hoje ideias que foram valiosas em outra circunstância. Eu sinceramente
não gosto dessa leitura da arte como fonte de rebeldia e desregramento da forma
datada como estes conceitos são interpretados. É puro saudosismo. Não tem cabida
querer povoar o século XXI com Baudelaire, Rimbaud, Artaud, Pasolini, Jim Morrison.
Românticos, simbolistas, surrealistas, <i>beatniks</i>,
tiveram um papel inestimável e valem como balizas, como referenciais substanciosos
da cultura. Em uma de minhas viagens ao exterior, alguém indagou sobre Paulo Coelho.
É comum esse tipo de clichê, o sujeito vem do Brasil, terra de samba, carnaval,
futebol, Paulo Coelho e corrupção. Eu estava sem muito apetite para a polêmica neste
dia e me saí com a frase: <i>houve uma época
em que o Paulo Coelho era o maior problema da literatura brasileira; hoje é o menor</i>.
Depois mastiguei bem o que disse de rompante e vejo que é exatamente isto. Sorte
dele que inventamos uma tolice maior. Todo grande criador em qualquer tempo é naturalmente
rebelde e rompe com as regras que são as características de sua época. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>MS</b> Você escreveu que acredita
que “a realidade se expressa de maneira mais viva e desimpedida quanto mais lhe
permitimos multiplicar-se em infinitas e transbordantes máscaras”. Em que medida
esta realidade de que você fala se relaciona com a realidade construída e reafirmada
cotidianamente pelos meios de comunicação de massa, por exemplo?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> O termo está perfeito: “realidade
construída”. É outra forma de ficção, estou certo? O argentino Borges disse certa
vez que não há melhor exemplo de literatura fantástica do que a Bíblia. A mídia
representa este papel em nosso tempo, o de construção de uma realidade fantástica
em substituição à vida cotidiana. E o faz com tamanha propriedade justamente anulando
a diversidade. E com tremendo sarcasmo se reporta a alguns profetas da ficção científica
como palpites sem maior expressividade do ponto de vista real. Voltamos ao tema
da arte convertida em passatempo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>MS</b> Ainda sobre as “máscaras”,
Octavio Paz afirmou que “se a ficção do poeta devora a pessoa real, o que resta
é um personagem: a máscara devora o rosto. Se a pessoa real se sobrepõe ao poeta,
a máscara se evapora e com ela o poema mesmo, que deixa de ser uma obra para converter-se
em documento. Isto é o que ocorreu com grande parte da poesia moderna”. Entendendo
que a afirmação de Paz é correta para a maior parte da poesia que vem circulando
no Brasil, você parece se inserir num outro polo, com uma poesia que poderíamos
chamar de “dramática”, pela multiplicidade de vozes e ausência de uma única “persona
poética”, como ocorre na lírica tradicional. Você também afirmou que “a literatura
não é nada”, ecoando o “Todo o resto é literatura” de Verlaine. Isto me leva a uma
série de reflexões sobre as relações entre o poeta e a poesia, sintetizadas nas
seguintes questões: Acha que a poesia perde quando o poeta limita sua expressão
ao universo de sua <i>persona</i> social? Qual
seu entendimento da poesia e da relação desta com a literatura? E como se relacionam
para você projeto poético e projeto de vida? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Começo pelo mexicano Octavio
Paz, que curiosamente acabou por se converter em um tipo repleto dos maus hábitos
que sempre criticou nos outros. O poeta acabou devorado por uma máscara que construiu:
a soberba com que situou a si mesmo como figura magistral e insuperável na lírica
mexicana. Não fosse por esse deslize de caráter, teria hoje um lugar mais tranqüilo
na tradição poética de seu país. Entre poetas portugueses, é comum conversarmos
sobre a demasiada presença de Fernando Pessoa na lírica de Portugal, ele, Pessoa,
um desses monstros sagrados que chegam a preocupar pelo grau de influência de sua
obra. No caso do poeta mexicano, a influência foi determinada por uma questão de
poder literário, o que é bem distinto. Não nego que não tenha abordado, no ensaio
literário, aspectos fundamentais para a lírica em nosso tempo, embora suas ideias
não tenham de autorais senão no aspecto do regente que soube melhor reunir o que
estava no ar. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Mas vamos às tuas reflexões. Não creio que seja o
caso de perda. O poeta sabe com que elementos deve lidar e a proporção com que deve
situá-los em sua obra. A resultante disto é que vai definir se houve perda ou não.
Isto de querer inventar um mundo distinto, uma querela entre poesia e literatura,
é outra pequena falácia. Eu não tenho a minha vida um minuto que seja fora do que
crio, querido. Insisto no termo criação porque é disto que se trata. Lido com uma
boa variedade de pincéis, que passam pelos assuntos literários, onde muitos têm
dificuldades de inserir a letra de canção popular, a fotografia como recurso plástico
que pode enriquecer meu poema, as atividades dadas como intelectuais de tradutor,
ensaísta, as incursões jornalísticas etc. O meu projeto, a rigor muito espontâneo,
não é poético, e sim intensamente visceral.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>MS</b> Parece ser impossível hoje
o trabalho poético sem um largo substrato reflexivo, no entanto, o poeta não pode
reduzir-se ao pensador, como você equaciona a racionalização e a necessidade de
entrega aos impulsos no momento da escrita? Como se desenrola seu processo criativo?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Sempre foi. Não se cria
irrefletidamente, ao mesmo tempo em que nenhuma criação deve se limitar unicamente
aos esboços, às anotações de intenção. É uma tolice criar uma impossibilidade de
diálogo entre essas duas instâncias. Eu poderia simplesmente dizer que crio vivendo,
que no fluxo diário de minha vida os poemas vão jorrando. Não é bem verdade. Busco
certa disciplina, fico atento a leituras que se inter-relacionam, como estar vendo
um filme e de repente aquilo lhe puxa para um verso lido em um poema e este poema
traz consigo a recordação de que foi lido sobre os seios de uma mulher enquanto
o vinho que tomavam por acaso era o mesmo que a cena no filme menciona. O trabalho
fotográfico que venho fazendo agora – e adoro que uma amiga, Tânia Tomé, poeta de
Moçambique, o tenha percebido como “<span class="apple-style-span">um entranhar de carnes entre os versos</span>” – é uma seqüência do verso,
seu desdobramento que poderia ser na forma de um filme. Aprendi isto muito com a
relação entre poema e colagem que encontrei no chileno Ludwig Zeller. A rigor a
arte não para quieta. Por vezes, quem não sai do canto é o artista.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>MS</b> Pensando numa distinção
em voga na historiografia literária, que propõe a separação entre uma poesia “cerebral”,
“meditada” e outra “de inspiração” e “entusiasmo” (na qual se inseriria o surrealismo),
faz sentido a separação, ou seria um mero maniqueísmo esquemático? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Uma tolice que não tem mais
tamanho. Mas que agrada aos poetas, por situá-los em uma condição superior. O que
o surrealismo propunha era livrar-se dos excessos da razão e não estabelecer tal
maniqueísmo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>MS</b> Você tem sido um dos responsáveis pela reformulação
do que se entende na historiografia literária por surrealismo, ao mesmo tempo em
que aponta a “falácia conceitual” e a “derrocada do sentido” como elementos definidores
do nosso tempo. Acredita que há relação entre as duas coisas? Crê que no meio da
confusão generalizada uma voz coerente e independente possa ser mais facilmente
ouvida? Qual o papel da Internet neste contexto, uma vez que suas ações vêm ganhando
visibilidade por esse meio?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Eu sinceramente creio que
este papel é ainda muito pequeno nessa releitura da atuação do surrealismo em nosso
continente. Não se trata propriamente de reformulação. Como disse em seminário na
Universidade de Cincinnati (primeiro trimestre de 201o), e que consta do livro que
escrevi e que serviu de base para este evento, a ausência de um estudioso que fosse
criterioso em relação aos desdobramentos do surrealismo em todo o continente, sem
situar as perspectivas estéticas do movimento, agravou a percepção de sua real influência
em nossa cultura. O surrealismo no continente americano deixou de ser visto como
um aspecto fundamental na construção de uma vanguarda americana, e passou a ser
visto como amém ao espírito vanguardista europeu. E agora o cuidado é também no
sentido de evitar que o tema não caia na malha enganosa da história como algo que
pertence ao passado, nada mais. A Internet é todo um capítulo à parte, estamos apenas
ao princípio de uma impressionante expansão de meios e aos poucos vamos nos livrando
da pior armadilha de qualquer inovação tecnológica aplicada à arte e à cultura,
a de confundir meio e mensagem.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>MS</b> Você pode falar um pouco de sua trajetória? Você
estreia precocemente aos 21 anos, em 1978, mas sua poesia atual surge com o início
da década de 90, o que aconteceu nesse entremeio? Foram anos de amadurecimento?
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> O amadurecimento não é uma
estação de águas. Está aqui presente o tempo todo. O buraco de tempo entre 1978
e 1992 foi preenchido por muitas coisas, inclusive a publicação de livros. Sim,
livros em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Fortaleza… Acontece que um dia eu dei
por conta de um detalhe, o de que eu era um cronista e não um poeta, naquele sentido
em que eu me distanciava de minha escrita, não me inseria nela senão como observador.
Uma bela manhã e a conjunção de fatos assim descritos: a visita ao leito de morte
de minha avó materna, a canção “Guilty” na histórica gravação de Joe Cocker, o livro
<i>A experiência interior</i> de Georges Bataille,
e um vinho branco de má qualidade levaram-me à mesa de centro na sala de minha casa
onde por três manhãs vivi um ritual que resultou na escrita de <i>Cinzas do Sol</i> – poema mágico que já foi publicado
no Brasil, Inglaterra, Costa Rica e Venezuela –, onde se dá justamente este surgimento
do autor como personagem do que escreve. Foi uma mudança radical em minha poética,
que antes não padecia de ausência de voz própria, mas que então encontrava uma outra
que lhe era mais atrativa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>MS</b> Sua poesia concentra sua inventividade no plano
semântico e expressivo, enquanto sintática e morfologicamente parece ser mais linear,
articulando-se inclusive em torno do “tu”, praticamente ausente da linguagem oral
no Brasil, não há aí o risco de artificialização da linguagem, afastando-a das modulações
do português falado e ouvido neste canto do mundo?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Um poeta mexicano recentemente
me disse que era curioso um cara falando em vanguardas, destacando-se como estudioso
das vanguardas, ao mesmo tempo com um poema clássico. Eu não sei se o problema está
na linguagem da escrita ou em sua correspondência cotidiana. Lembro que o Henri
Matisse certa vez observou uma coisa brilhante, algo mais ou menos assim: <i>se eu não posso enriquecer a fala popular, por
que tenho então que empobrecê-la?</i> Acho que nós artistas estamos caminhando em
um mundo muito curioso, que estima pela pobreza espiritual, pela pobreza estética,
enfim, por toda sorte de pobreza. É o que parece, que cultuamos a pobreza como a
grande riqueza de nossa época. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>MS</b> Em entrevista, você afirmou que “se não há poesia,
temos que entender que isto se dá pela ausência do elemento humano”. Nesse sentido,
sua atuação tem sido pautada tanto pela prática como pela cobrança de “honestidade
intelectual” por parte de pesquisadores e escritores, crês que valor humano e envergadura
de pensamento são, de maneira geral, fatores desconsiderados na apreciação atual
de literatura? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Sinceridade, sobretudo.
Eis a palavra temida. Claro, claro, não há música ou poema ou teatro, sem a atuação
do humano em seu sentido radical, na presença sanguínea do criador. Agora, inventamos
uma sociedade desonesta em que os artistas não são vítimas e sim parte dela. Acabamos
com tudo, nossa época é de pura prevaricação de mercado, agenda de passatempos,
somos todos coniventes disto. Meu antigo parceiro na editoria da <i>Agulha Revista de Cultura</i> discordava de mim
quando eu dizia que somos todos responsáveis pelo estado atual de pobreza espiritual
em que nos encontramos no Brasil e que nos faz refém de toda investida vagabunda,
seja na política, na cultura, já não importa. Vamos piorar. Estamos a meio passo
de um desastre. Não se trata de campanha política, e sim da vergonhosa ausência
de um norte, de algo em que acreditar. Nunca a política e a cultura no Brasil estiveram
tão sócias da mesma fraude de circunstância. <span style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> [2010]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 8pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">[Entrevista
concedida a Márcio Simões. Originalmente publicada na <i>Revista Triplov de Artes, Religiões e Ciências</i> # 01, Lisboa, maio
de 2010. Integra o livro <i>O hábito do abismo (Entrevistas com Floriano
Martins)</i>, de Márcio Simões (ARC Edições: Fortaleza, 2013).]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
http://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/http://www.blogger.com/profile/15464755224800829626noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5262314379244716711.post-59787482832270984322014-10-12T06:07:00.001-07:002014-10-12T06:07:24.461-07:00FESTA DA MESTIÇAGEM | Entrevista a José Anderson Sandes<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/--XwaICqvaNM/VDp84WWT1JI/AAAAAAAABOQ/hk6RL5mqipg/s1600/Floriano-Martins.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/--XwaICqvaNM/VDp84WWT1JI/AAAAAAAABOQ/hk6RL5mqipg/s1600/Floriano-Martins.jpg" height="318" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 14.2pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A Oitava Bienal Internacional do Livro do Ceará abordará
o tema Aventura Cultural da Mestiçagem. No entanto, diante de sua vasta programação
o evento será múltiplo. Múltiplo e repleto de sentidos. São setenta convidados estrangeiros
e mais de 100 participantes do campo editorial brasileiro. Ao todo virão escritores
de 23 países. Talvez, seja o maior número de convidados já reunidos numa Bienal
no Ceará. O curador do evento, escritor Floriano Martins, afirma que a formatação
da Bienal tem uma nova lógica. Sua configuração é “essencialmente cultural de defesa
da produção, circulação, difusão do livro e estímulo geral à leitura”. Leia a seguir
entrevista que o curador da Bienal, Floriano Martins, concedeu ao <i>Caderno 3</i>. [<b>JAS</b>]<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>JOSÉ
ANDERSON SANDES</b>
Como surgiu a ideia de fazer a bienal reunindo escritores de países de língua portuguesa
e espanhola? O desconhecimento por parte do público de grande parte dos escritores
não vai gerar certo estranhamento?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FLORIANO
MARTINS</b>
A ideia surgiu da necessidade de dar uma orientação mais consistente ao panorama
cultural deste nosso tempo. O Brasil é o único país da América Ibérica que fala
português. É injustificável, para dizer o mínimo, a nossa ausência em relação aos
temas culturais que configuram esta comunidade ibero-americana. Eu defendo a urgência
desse “estranhamento”, pois tê-lo adiado acarreta uma reserva crescente de prejuízos
culturais. Tomaremos um imenso susto diante da saborosa diversidade cultural que
encontraremos na Bienal, de tal forma que o “estranhamento” nos dirá o seguinte:
mas como pudemos passar tanto tempo sem conhecer tudo isto? Como é possível? Esta
é a minha convicção, que é também a de todos – no Ceará, no Brasil e nos demais
países envolvidos – os que trabalham para que esta Bienal alcance um alto padrão
de qualidade, visitação e reação de público e crítica.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>JAS</b> Como se desenvolverá este
diálogo? A barreira da língua – já que teremos vários escritores de língua espanhola
– não será um problema?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Eu tenho conversado frequentemente
com todos os convidados e nenhum deles manifesta preocupação a este respeito. As
mesas estão formadas mesclando autores nos dois idiomas e os mediadores são todos
bilíngues. Sugeri a todos que conversassem entre si, para estabelecer um plano de
diálogo para cada mesa. Além disto, o publico terá à sua disposição um sistema de
tradução simultânea. Por último, temos a mais plena convicção de que este aparente
obstáculo será vencido pelo sentido envolvente de integração cultural que define
a Bienal em si.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>JAS</b> O que diferencia esta Bienal
das anteriores? Por exemplo, a última reuniu escritores da Espanha e de Portugal,
mas também brasileiros como Moacir Scliar e Nélida Piñon, entre muitos outros. Tivemos,
também, uma Bienal sobre as Mil e Uma Noites. Mas sempre com escritores nacionais
de renome tendo uma dimensão maior dentro do evento. Como se deu a escolha tanto
de escritores brasileiros, quanto de estrangeiros, ou seja, qual foi o critério
adotado? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Atendemos primeiramente
à necessidade de se estabelecer um conceito que revelasse uma determinação da cultura
e não do mercado. O passo seguinte seria dar a esse conceito uma configuração consistente
em termos de abrangências de temas, particularidades que poderiam funcionar como
traços de união entre alguns países e/ou entre gerações etc. Por último, buscar
os nomes e não renomes, ou seja, saímos em busca do substantivo e não do adjetivo,
o que não significa dizer que tenhamos rejeitado este ou aquele autor por se tratar
de um nome “conhecido”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>JAS</b> Todos os países da América
Latina foram contemplados? E os da África e Europa de língua portuguesa e espanhola?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> A representação não se dará
em todos os casos com a presença física de escritores. há alguns países que estarão
presentes através de suas revistas ou através de vídeos. ao todo virão escritores
de 23 páises, porém em termos de representação ficaram ausentes apenas uns poucos
países, a exemplo de Honduras, El Salvador e Macau. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>JAS</b> Na sua concepção, quais
os escritores, entre todos convidados, têm maior representatividade?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Há destaques em áreas distintas
e complementares: a criação literária, a tradução, a edição, a pesquisa acadêmica,
a gestão cultural. Cada um de nossos convidados está aqui na condição de altos representantes
de suas áreas de atuação, de maneira que não haveria justiça ou eficácia em tal
julgamento.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>JAS</b> Quase todos são desconhecidos
dos brasileiro. as editoras brasileiras não têm interesse em publicar escritores
da América Ibérica?!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Conhecemos muito bem o comportamento
do mercado editorial brasileiro, cuja rejeição ao risco se enlaça com certa subserviência
a cânones viciados, fazendo com que a oferta seja no mínimo oscilante em termos
de qualidade e coerência editorial. Tem havido nos últimos anos editoras interessadas
na publicação de autores de língua portuguesa, de Portugal e da África, porém isto
graças a um convênio estabelecido pelo governo português que investe recursos na
divulgação dessa literatura no Brasil. Eu sei de algumas editoras que começam a
manifestar interesse na publicação de autores hispano-americanos. A minha expectativa
é de que este cenário comece a tornar-se mais frequente e que descubramos maneiras
de anularmos este indesculpável hiato existente entre essas literaturas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>JAS</b> Foi criada para a Bienal
a “Ilha dos Continentes”, um espaço que reunirá pequenos estandes de editoras que
jamais teriam oportunidade de participar de bienais fora de seus países. Explique
melhor este espaço.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Uma das grandes dificuldades
das pequenas e médias editoras diz respeito ao muro invisível que separa nossos
países: os altíssimos custos de traslado, impostos etc. Pensando nisso, tentamos
minimizar este obstáculo cedendo estandes para editoras individuais ou representações
de editoras em cada país envolvido com a Bienal. Também buscamos o apoio das embaixadas,
solicitando a utilização de sua mala diplomática para o traslado dos livros. Estas
foram tentativas que na prática permitiram a vinda de estandes de apenas 10 países,
o que significa que persistiram alguns obstáculos e que o apoio diplomático é algo
ainda não de todo factível em âmbito cultural. De qualquer forma, teremos aqui um
espaço amplo e pioneiro envolvendo 24 estandes com uma variedade comovente de editores
que se reuniram e virão ao Brasil representar seus países. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>JAS</b> Tanto a Bienal de São Paulo,
quanto a do Rio se transformaram em grandes feiras de livros. os preço praticados
geralmente são os mesmos das livrarias. Ou seja, o mercado editorial tem grande
força nestes eventos. A Bienal Internacional do Livro do Ceará segue o mesmo padrão?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Não há como estabelecer
regras para a marcação de preços. O mercado deve ser livre nesse sentido. Evidente
que deveria falar mais alto o bom senso. No caso da Ilha dos Continentes nós sugerimos
aos seus coordenadores que viessem com preços bem abaixo do mercado, o que certamente
provocará um valioso confronto. O que tratamos de fazer é com que a Bienal Internacional
do Livro do Ceará não se restrinja unicamente à área de vendas, dando-lhe uma configuração
essencialmente cultural de defesa da produção, circulação, difusão do livro e estímulo
geral à leitura em todo o Ceará.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>JAS</b> Por falar em “Ilha dos Continentes”,
quais são os demais espaços da Bienal?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Ao contrário da Bienal de
Artes Plásticas de São Paulo, não teremos nenhum espaço dedicado ao vazio. Ou seja,
atividades é o que não nos falta. Porém não entendamos isto como uma overdose desenfreada
de atrações. O roteiro de atividades foi desenhado de tal forma que esta é a sua
principal característica: a estruturação consciente e coesa de um conjunto de ações
culturais que possam envolver a diversidade do público que certamente teremos. O
nosso principal espaço chama-se a Bienal como um todo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>JAS</b> Aliás, foram criadas várias
salas para conferências, debates, oficinas e exposições. Exemplifique melhor cada
espaço. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> É fato que o Centro de Convenções
tornou-se insuficiente do ponto de vista de espaço e até mesmo de formatação deste
espaço. Graças ao apoio da Universidade de Fortaleza podemos então ampliar a Bienal,
o que significa poder lhe dar uma configuração mais ousada e diversificada. Neste
sentido, estabelecemos espaços próprios para a realização de mesas reflexivas, tanto
de conferências e debates quanto também de leitura de textos, considerando que estas
envolverão também o comentário sobre obras e a participação do público. Na ala expositiva
criamos uma série de salas dedicadas à mostra de vídeos, revistas, gravuras, arte
postal, cordel etc. São ambientes que permitirão ao público um convívio mais íntimo
com a realidade cultural dos países convidados. A sala de vídeos, por exemplo, possui
uma programação intensa de exibição de quase 200 títulos (entre curtas de ficção
e animação e documentários) de um total de 18 países. A sala de revistas é um espaço
de convívio, de leitura, onde o visitante conta com centenas de revistas de vários
países. A sala de música possui uma particularidade fascinante, ao abrir-se para
o espontâneo, criando uma programação aberta, que permite uma maior participação
do público e um elenco variado e por vezes inesperado de presenças que inclusive
virão de outras áreas. Aliás, esta é também uma ideia nossa, a de criar um enlace
possível entre as diversas áreas, cuja costura será feita por duas outras salas,
a de rádio e a de imprensa, no sentido de se estimular troca de experiências não
somente entre público e convidados, mas também entre os próprios convidados. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>JAS</b> O tema da Bienal é Aventura
Cultural da Mestiçagem. Quer dizer, um tema que foi bastante discutido no início
do século passado por pensadores como Oliveira Viana e Gilberto Freire. Por que
retomá-lo?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Não estamos propondo nenhuma
revisão sociológica do termo. Não se trata de uma leitura científica do tema. A
mestiçagem é um traço de união que marca toda a história ibérica. Nossa pretensão
é a de chamar a atenção para a perspectiva de uma nova dimensão cultural com uma
harmonia intensa entre essas culturas todas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>JAS</b> Vocês homenagearão Chico
Anísio. Cearense, autor de vários livros, mas um escritor não canônico. Por que
Chico Anísio? A Feira do Livro de Porto Alegre, por exemplo, homenageou Pernambuco
com uma exposição de Gilberto Freyre e Ariano Suassuna…<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> O fato de não ser canônico,
porém ter obra consistente, já seria uma valiosa razão. A mítica Macondo da obra
do colombiano Garcia Márquez, por exemplo, é uma aparentada da Chico City criada
por Chico Anísio, cada uma com suas peculiaridades e dimensões próprias, porém unidas
pela genialidade de seus criadores. Chico é um fantástico criador de tipos diversos
e marcantes. É preciso lançar sobre ele este olhar, como algo que nos deveria encher
de orgulho. Como brasileiros, também nos sentimos orgulhosos por Gilberto Freyre
e Ariano Suassuna. Mas esta é a Bienal de uma especialíssima galeria de personagens
que reunidos conformam um satisfatório exemplo de nossa diversidade cultural, dando
um sentido muito particular à nossa mestiçagem. Refiro-me naturalmente à galeria
dos tipos criados por Chico Anísio.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>JAS</b> Vocês elaboraram uma extensa
programação de debates e palestras. O senhor não acha que poderá haver um esvaziamento
de público com tantas atividades e também por envolver autores desconhecidos no
Brasil? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Em termos quantitativos
a programação não é tão intensa em relação a outras Bienais. As atividades não se
chocarão em termos de horários, o que permitirá ao público um aproveitamento maior
das mesmas. O tema do desconhecimento nos preocupa em outro sentido, o da constatação
do abismo existente no Brasil em relação a essas culturas. É uma situação tão alarmante
que há que entender como meritória e inestimável a ousadia do Governo do Estado
em busca solução para tanto. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>JAS</b> Mesmo assim a programação
envolvendo palestras, debates e oficinas é bastante vasta e pode cansar o público.
Vocês não estão correndo o risco de promoverem tantas atividades entre debates e
palestras?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> O termo “correr o risco”
precisa deixar de ser visto sob a ótica de um aspecto negativo. Eu prefiro falar
em ousadia, não esquecendo de afirmar que se trata de ousadia consciente. A diversidade
de opções que estamos dando ao público, considerando o universo cultural que abrange
a Bienal, teria mesmo que ser pautado por este desconhecimento tão aludido pela
imprensa. Por outro lado, a própria imprensa sabe que desempenhará um papel importante
ao situar-se como parceira essencial da Bienal no que diz respeito à divulgação
de nosso projeto. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>JAS</b> Os temas também são inúmeros
– vão dos debates sobre suplementos literários, passando pelas questões envolvendo
pequenas editoras até problemas mais complexos de mercado. Temas acadêmicos também
serão debatidos como a Perspectiva de Mestiçagem da Obra de José de Alencar. Isso
não tirará um pouco o foco central da Bienal?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Mas o foco central da Bienal
é justamente essa múltipla aventura da busca de integração entre nossas culturas.
Diversificar o diálogo, expor os conflitos de cada um, destacar suas excelências.
Também aqui ouviremos sobre temas que são pertinentes à cultura de cada um dos países
presentes. Tudo isso será novo para nós, novo e fascinante. Quanto mais intensa
a irradiação e envolvimento alcançada, mais nítida será a constatação de que atingimos
o alvo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>JAS</b> Aliás, quais foram as principais
linhas mestras que conduziram as escolhas para esta Bienal?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 16.5pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> O Alvo? Estamos conversando
a respeito dele o tempo todo. O sinal de alerta para a urgência, inadiável, de uma
integração cultural entre esses povos que ultrapasse a fronteira da retórica política
ou oportunismo do mercado de entretenimento. É isto o que perseguimos: a descoberta
real de uma Ibéria que ainda estamos por inventar. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> [2008]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 8pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">[Entrevista
concedida a José Anderson Sandes. Originalmente publicada no <em>Diário do Nordeste</em>, <em>Caderno 3</em>. Fortaleza,
09/11/2008. Integra o livro <i>O hábito do abismo (Entrevistas com Floriano
Martins)</i>, de Márcio Simões (ARC Edições: Fortaleza, 2013).]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
http://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/http://www.blogger.com/profile/15464755224800829626noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5262314379244716711.post-66069859950622352812014-10-12T05:53:00.001-07:002014-10-12T06:08:35.113-07:00UMA CONVERSA COM O CURADOR DA 8ª BIENAL INTERNACIONAL DO LIVRO DO CEARÁ | Entrevista a Lira Neto<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<br /></div>
<div align="center" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: center; text-indent: -14.2pt;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 14.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-67R49kvlKms/VDp9PH8c4rI/AAAAAAAABOY/ZszqGS9M1vc/s1600/floriano5.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-67R49kvlKms/VDp9PH8c4rI/AAAAAAAABOY/ZszqGS9M1vc/s1600/floriano5.jpg" height="320" width="239" /></a></div>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A mestiçagem será o tema central da 8ª Bienal Internacional
do Livro do Ceará. “<em>Nossa cultura
é mestiça em sua essência. É exatamente para isto que estamos chamando a atenção,
para um melhor conhecimento, aceitação e integração de nossas raízes</em>”,
diz o escritor Floriano Martins, que responde pela curadoria do evento, que será
realizado de 12 a 21 de novembro, em Fortaleza. Antes de aceitar o desafio de ser
curador da Bienal cearense, Floriano fez questão de saber se teria carta branca
para poder alterar rotas e ajustar formatos que julga esgotados em relação a outras
feiras do livro país afora. O próprio conceito de “feira” está sendo reavaliado
e posto em questão. “<em>Acho que há
um desequilíbrio nas razões culturais e de mercado que atuam em eventos desta natureza</em>”,
argumenta. Garantida a desejada autonomia para proceder a uma reformulação conceitual
da Bienal, Floriano faz uma aposta ousada: em vez de privilegiar nomes midiáticos
para compor a lista de palestrantes e de autores convidados para as costumeiras
sessões de autógrafos, dará preferência a mesas redondas e iniciativas que privilegiem,
sobretudo, o exercício da reflexão. “<em>Trata-se
de equilibrar as relações entre cultura e mercado. Evidente que não se quer dar
importância menor ao setor comercial, muito menos à circulação de um grande público.
O que nos cabe acrescentar é a necessidade de maiores qualificação e diversidade
daquilo que se vai ofertar ao público, bem como das perspectivas de negócios</em>”,
pondera. A programação, que conta com um bom número de autores e produtores culturais
de diversos países da América Latina, evidencia que será dado amplo destaque ao
diálogo entre duas comunidades linguísticas: a de língua portuguesa e a hispânica.
“<em>É indispensável ousar, de maneira
a apresentar soluções para uma política cultural consistente</em>”, resume
Floriano. A seguir, os melhores momentos de uma conversa, por e-mail, com o curador
da 8ª Bienal Internacional do Livro do Ceará: [<b>LN</b>]<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>LIRA NETO </b>As feiras do livro, país
afora, têm se transformado na verdade em grandes saldões, nos quais livreiros e
principalmente distribuidores aproveitam a oportunidade para desovar estoques e
encalhes a preços de ocasião. Em que medida a Bienal do Ceará pretende se diferenciar
desse modelo viciado, que já dá sinais visíveis de esgotamento?<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FLORIANO MARTINS </b>Começamos aqui a tratar da
Bienal por sua área comercial, embora o esgotamento a que te referes esteja, para
mim, mais na sua outra área, geralmente identificada como a das sessões literárias.
De qualquer maneira, penso que o grande dilema da área comercial está em sua ausência
de organização, no estabelecimento – e cumprimento – de regras mínimas de organização
que sejam redigidas contratualmente em nome da totalidade do projeto Bienal e não
para atender a casos particulares. Houve já uma conversa entre Curadoria, Sindilivros
e RPS Eventos. Todas as editoras e livrarias inscritas assinaram um contrato onde
consta um novo conjunto de regras de organização que recupera a qualificação do
setor de vendas, regras que tratam da arrumação ambiental dos estandes, da utilização
de aparelhos de som, dos balcões de saldos, dos limites de venda sobre produtos
que não sejam livros (material de papelaria, brinquedos etc.). Uma vez definido
o mapa geral das editoras e livrarias que participarão do evento, pretende-se ainda
ter com todas elas uma nova conversa, esclarecendo sobre a importância do conceito
atual e propondo uma maior integração ao mesmo.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>LN </b>Você sugere, no início de
sua resposta à pergunta anterior, que identifica um esgotamento também nas sessões
literárias. Onde você vê os sintomas mais nítidos desse esgotamento? E quais os
antídotos de que pretende lançar mão para evitá-los?<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM </b>Acho que há um desequilíbrio
nas razões culturais e de mercado que atuam em eventos desta natureza. Maior acento
na área de mercado implica em demasiada dependência de suas cotações e exposições
de mídia. Estes aspectos podem, em geral, assumir uma conotação negativa em um ambiente
cultural fragilizado como o que temos hoje no Brasil. Posso ser acusado de eufemismo,
porém tento aqui apenas evitar cair em seu revés, o sentido catastrófico derrotista.
O fato é que é preciso evitar simplificações e reiterações temáticas na formatação
das sessões literárias, inclusive qualificando o mediador das mesas de maneira a
não permitir que as explanações dos convidados caiam no vazio, sem que os encontros
produzam tanto um enriquecimento crítico no público quanto perspectivas de parcerias
entre as partes envolvidas. Posso dar aqui dois exemplos, referentes a mesas de
debate: uma delas reúne diretores dos mais atuantes Centros de Estudos Brasileiros
existentes na América Hispânica, o que nos permitirá uma avaliação do comportamento
do Itamaraty e sua política cultural no tocante à integração continental; uma outra
mesa, com dupla jornada, reúne algumas das principais editoras universitárias do
país, ocasião em que evocará aspectos como planejamento editorial e distribuição.
As próprias sessões de leitura de poemas serão mais abrangentes, permitindo aos
poetas comentarem sobre sua poesia e responder a perguntas do mediador e do público.
Enfim, trata-se de dar mais substância ao evento.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>LN </b>Como avalia o formato que
tem sido levado a efeito pela organização da feira do livro de Parati, a Flip? Parece-me
que eles buscam exatamente fugir do esquema tradicional e sonolento das tardes de
autógrafos das bienais, estabelecendo-se como uma verdadeira festa literária ao
ar livre – em que as atrações naturais e a arquitetura histórica da cidade são elementos
de atração para o público – mas sem esquecer o lado da reflexão e da discussão de
ideias. O que este modelo tem a nos dizer, quando pensamos em uma bienal do livro
realizada em um estado solar como o Ceará? Seria ingenuidade demais supor que um
evento desse tipo, desde que planejado convenientemente, poderia vir a contribuir
também, de alguma forma, para a qualificação do turismo regional? <o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM </b>Talvez haja no tema mais
de armadilha do que propriamente de solução consistente. Se acaso tivéssemos um
planejamento educacional em curso – refiro-me em termos federais –, neste caso seria
salutar contar com a adesão de uma agenda turística. Como é outro o cenário, a solução
passa a ser um artifício que interessa mais ao imediatismo de mercado do que propriamente
à cultura. É quando menos uma solução fácil e temporária. Evidente que caberia aproveitar
melhor a condição solar do Ceará, e neste caso seria uma fortuna poder contar com
ações integradas das áreas de Educação, Cultura e Turismo. Soa quase como um milagre,
porém um milagre que nos traria um bem imenso. Recentemente eu estive em Sidney
e fiquei impressionado como um ousado planejamento urbanístico pode trazer benefícios
sólidos para uma comunidade.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>LN </b>Para o leitor que quer garimpar
nas bienais, os estandes das editoras universitárias e internacionais reservam sempre
boas surpresas. Contudo, quase sempre, é relegado a elas um espaço quase marginal
nas feiras do gênero. Há algum plano específico para valorizar essas editoras?<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM </b>Na área das sessões literárias,
como recordei há pouco, foi criada uma série de mesas de debates envolvendo editores
universitários de vários estados brasileiros. No caso das editoras internacionais,
foi estabelecida uma área de 234 m² dedicada a um conjunto de editoras dos países
hispano-americanos. Estas editoras participarão pela primeira vez de uma feira no
Brasil, e aqui estarão reunidas através de acordos que estamos definindo com suas
entidades de classe (redes, alianças, câmaras setoriais etc.). Muitos dos editores
também participarão de mesas de debate sobre mercado editorial na América Latina.
Evidente que também teremos aqui editoras de Espanha e Portugal, através de seus
representantes legais, como já é feito habitualmente. <o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>LN </b>A nova edição da bienal cearense
movimenta-se em torno de um grande eixo, o da mestiçagem. Não há o risco de um evento
monotemático, que deixe de contemplar outros campos de interesse mais amplo do público
leitor e dos visitantes?<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM </b>Mas é monotemático apenas
tecnicamente. Afinal, nossa cultura é mestiça em sua essência. É exatamente para
isto que estamos chamando a atenção, para um melhor conhecimento, aceitação e integração
de nossas raízes. Trata-se de uma concentração que permite uma expansão em larga
escala. Criar condições para um diálogo entre as culturas de língua portuguesa e
espanhola, culturas espalhadas por quatro continentes, é exatamente uma forma de
evitar políticas discricionárias dessas culturas, de evocar a diversidade com consistência,
de sugerir novos mecanismos de tratamento com a produção do livro etc. Ao contrário
do que temes, público leitor e visitantes encontrarão um leque mais amplo de oferta,
tanto no que diz respeito aos livros expostos quanto à presença de temas e autores
em contato direto com eles.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>LN </b>No ano passado houve um encontro
preparatório ao evento, que teve como objetivo estabelecer a agenda geral da Bienal.
Quais as grandes conclusões e quais os rumos decididos naquele encontro prévio?<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM </b>Tão logo foi aceito o projeto
apresentado pela curadoria à Secretaria da Cultura, tratei de eleger um convidado
em cada um dos 30 países envolvidos, no sentido de obter informações precisas sobre
autores, instituições, perspectivas de parcerias etc. Tínhamos então em mente a
ideia de realizar uma série de eventos preparatórios, reunindo em cada um deles
sete ou oito desses parceiros eleitos. A primeira edição trouxe a Fortaleza produtores
culturais de Chile, Colômbia, México, Peru, República Dominicana e Venezuela. Todos
os convidados contavam em seu currículo com experiências de curadorias de feiras
e encontros internacionais de escritores, em seus respectivos países. Ali comentamos
sobre as estratégias necessárias para um diálogo entre nossas culturas que não fosse
mais tangencial ou retórico. Então definimos a abrangência conceitual da Bienal
do Ceará e sua estrutura, aspectos que foram sendo realçados, enriquecidos, na medida
em que fomos conversando – através de correio eletrônico – com os parceiros de outros
países que não puderam estar conosco fisicamente e com instituições brasileiras
(sobretudo instituições ligadas ao Governo do Estado do Ceará). Este primeiro e
único encontro foi o suficiente para definir toda uma política cultural que se caracteriza
por uma abertura não somente em seu eixo temático, mas também em sua maneira de
legitimar parceiros que possam contribuir para o engrandecimento do evento.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>LN </b>O material de divulgação
do evento, já distribuído à imprensa, menciona a existência de um “pavilhão especial”,
dedicado a Cuba e Venezuela. Qual o sentido dessa iniciativa? Não estaremos diante
de uma politização explícita de um evento eminentemente público?<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM </b>Em geral, feiras de livros
costumam eleger um país como homenageado. O Brasil mesmo já foi convidado em tal
condição por alguns eventos internacionais, e aqui antecipo que será o país convidado
da Feira do Livro da República Dominicana, a se realizar em maio de 2009. Jamais
se considera como – politização explícita – um convite dessa natureza, sendo ou
não. O que há de visível no que estamos fazendo é que passamos a tratar por – pavilhão
especial – o que costumeiramente se chama – país convidado –, e que em nosso caso
escolhemos dois países e não apenas um. Isto além do vício ideológico que limita
a compreensão que temos a respeito desses dois países. Contudo, pensemos no que
não está visível: Cuba e Venezuela possuem destacada importância em termos de integração
cultural na América Latina, especialmente na área do livro. Há 50 anos surgiu em
Cuba a Fundação Casa das Américas, seguida 10 anos depois pela venezuelana Monte
Ávila Editores. Também na Venezuela é fundamental o trabalho realizado pela Fundação
Biblioteca Ayacucho, sem falar na criação recente da Fundação Editorial El Perro
y La Rana. São aspectos relevantes que necessitam ser reconhecidos internacionalmente
e, mais do que isto, que necessitam de ampla discussão, para que assim possamos
redefinir perspectivas do mercado editorial em todo o continente. Que haja implicações
políticas nisto tudo, não resta dúvida. Este será um bom momento para discutir as
políticas relacionadas ao livro e à leitura no Brasil, por exemplo, ou seja, como
a nossa democracia tem enfrentado este tema.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>LN </b>Pelo que se lê também no
material de divulgação, a Bienal do Ceará pretende romper com outro hábito arraigado
nas demais feiras espalhadas pelo país. Irá valorizar a discussão, a cultura e a
reflexão, em detrimento das costumeiras tardes e noites de autógrafos com autores
midiáticos e geradores de grande público. É, sem dúvida, uma opção ousada. Houve,
até agora, alguma reação manifesta em relação ao novo formato? <o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM </b>Trata-se, como já frisei,
de equilibrar as relações entre cultura e mercado. Evidente que não se quer dar
importância menor ao setor comercial, muito menos à circulação de um grande público.
O que nos cabe acrescentar é a necessidade de maiores qualificação e diversidade
daquilo que se vai ofertar ao público, bem como das perspectivas de negócios. Trata-se
de uma ousadia, sabemos, porém pode alcançar um efeito imenso se contarmos com o
empenho de todos os parceiros – sobretudo, neste caso, a própria mídia – na definição
de uma escala maior de abrangência e renovação deste evento maior do Estado do Ceará.
É preciso ousar, e a Bienal em si é já um projeto consistente, que existe há 16
anos, ou seja, que naturalmente permite – e até mesmo exige de todos nós que a fazemos
– um avanço, uma inovação. Eventuais reações manifestas em relação ao formato atual
serão recebidas como parte valiosa de um processo de renovação. Até o momento, no
entanto, temos recebido uma completa e declarada simpatia de todos os parceiros
envolvidos.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>LN </b>Nesse caso, qual o critério
que será estabelecido para o convite de autores estrangeiros? Serão privilegiados
os grandes nomes da literatura americana de língua hispânica ou, ao contrário, dar-se-á
preferência a autores não tão conhecidos assim do público brasileiro ? se é que
nós, leitores brasileiros, podemos dizer que conhecemos algo dela? <o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM </b>Tua pergunta já traz consigo
a resposta. A única literatura hispano-americana que conhecemos é aquela que se
internacionalizou via mercado editorial europeu ou estadunidense. Nosso critério
será, antes de tudo, o de criar uma rede atuante de referências literárias envolvendo
todos os países. Buscamos nomes expressivos do ponto de vista estético e que ao
mesmo tempo sejam influentes produtores culturais, estejam à frente da direção de
revistas ou de quaisquer outros projetos editoriais, incluindo traduções, ensaios
etc. Buscamos assim desenhar uma agenda com desdobramentos, que não se defina unicamente
por uma festa em isolado. Claro que estamos cientes dos riscos, pelo quase total
desconhecimento desses autores da parte do público, porém o desafio é fascinante
e requer uma atenção maior quanto ao plano de difusão da Bienal.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>LN </b>Qual o papel que caberá à
revista <i>Mestiça</i>, a ser lançada durante o evento? Qual a linha editorial desta
publicação? Será um número isolado ou há a possibilidade de se pensar em uma periodicidade
para ela?<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM </b>A revista <i>Mestiça</i>
encontra-se em fase de definição estrutural e formação de equipe. Foi originalmente
pensada para ser uma publicação de circulação quadrimestral, com distribuição gratuita,
que funcione como veículo informativo não apenas da Bienal em si (em suas atual
e futuras edições), como também de toda uma política do Estado do Ceará ligada ao
livro e à leitura, abrangendo ainda os diálogos com eventos similares em outros
lugares do país e no exterior. Informativa e reflexiva, cabendo ainda em sua pauta
recuperar e destacar aspectos relevantes de nossa cultura.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>LN </b>Anuncia-se também a criação
da “Coleção Biblioteca Bolivariana”, cujo nome de batismo já embute uma orientação
explícita de natureza política e ideológica. Há títulos definidos? Quais os critérios
de escolha?<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM </b>Novamente o ardil de natureza
política e ideológica. O nome foi pensado como uma espécie de reconhecimento ao
trabalho de mapeamento cultural latino-americano desempenhado, na Venezuela, pela
Fundação Biblioteca Ayacucho. E encontra na figura de Simon Bolívar um ícone ideal
na representação de esforços por uma integração continental. A pauta editorial primará
por títulos que correspondam a esta perspectiva, autores que tenham escrito sobre
origens, integração, mestiçagem, ao lado de um conjunto de obras que permitam uma
aproximação do leitor brasileiro da produção intelectual e literária da América
Hispânica. E naturalmente a recuperação de acervo literário cearense. Há um planejamento
editorial de lançar 10 primeiros títulos na Bienal, em novembro. Dentre os autores
encontram-se o argentino Juan Gelman, o nicaraguense Pablo Antonio Cuadra e o brasileiro
Thomaz Pompeu Sobrinho. Em boa parte são obras coligidas, acompanhadas de estudos
críticos. O que não impede a publicação de títulos independentes.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>LN </b>A maior parte dos visitantes
das feiras dos livros são crianças, que quase sempre chegam em grandes caravanas
escolares. Isso é sempre bastante louvável, já que a Bienal funciona também como
uma formadora de potenciais leitores do futuro. Contudo, nem sempre as visitas desses
estudantes são feitas de forma organizada e devidamente orientada, o que gera mais
congestionamentos nos corredores do que propriamente um contato efetivo das crianças
com o mundo dos livros. Não seria a hora de avaliar esta questão?<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM </b>Retomamos o tema da desorganização.
Não vou minimizar o problema, porém não se pode fugir da necessidade de estabelecer
uma agenda de visitação que seja cumprida com rigor. Ao mesmo tempo, há que se compreender
que é insuficiente tal iniciativa, que exige um cuidado prévio que envolve contatos
com setores do ensino público e privado, a elaboração de uma cartilha a ser distribuída
nas escolas etc. Há todo um trabalho preparatório que demanda empenho e atenção.
Temos um setor da curadoria cuidando especialmente disto.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>LN </b>É curioso notar que Chico
Anysio, mais conhecido por sua atuação na televisão, seja o grande homenageado do
evento. Recentemente, em entrevista, ele próprio afirmou que gostaria de ser mais
valorizado pelo escritor que, de fato, também é?<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM </b>Chico Anysio é um desses
casos típicos nacionais. Livros como <i>O batizado da vaca</i>(1972), <i>O enterro
do anão</i> (1973), <i>A borboleta cinzenta</i> (1985), <i>Feijoada no Copa</i>
(1987) e <i>O tocador de tuba</i> (1990) jamais foram devidamente avaliados como
a notável contribuição à narrativa brasileira que efetivamente são. Porém o público
o recebeu sempre muito bem, pois em grande parte sua bibliografia alcançou grande
vendagem. Mesmo que fosse apenas um criador de tipos para o teatro e a televisão,
ainda assim seu universo é o da literatura, seja como dramaturgo ou roteirista.
É essencialmente um escritor, além de ator fabuloso. Sob todos os aspectos, merece
nosso declarado reconhecimento como um dos mais expressivos nomes ligados à arte
e à cultura no Ceará em todos os tempos. O curioso é que não tenha sido até aqui
declarado motivo de orgulho nosso, como sempre deveria ter sido.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>LN </b>Pelo que se depreende do
conjunto de suas respostas, teremos uma bienal diferente de todas as outras já realizadas
no Ceará. Você espera que os resultados dela sejam visíveis e politicamente animadores
a curto prazo, para que não se caia na tentação e no risco de se buscar de novo
o caminho do mais fácil e da mesmice? <o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM </b>Esperar é insuficiente. A
rigor, se considerarmos o cenário do que se poderia chamar de políticas culturais
no Brasil, este é absolutamente desalentador. Não me cabe a ingenuidade – aqui sim
– de acreditar que tal situação possa mudar a partir de um evento em isolado. Esta nova
configuração que vem sendo dada à Bienal Internacional do Livro do Ceará se trata
de uma grande ousadia que, ao mesmo tempo, reconhece os riscos de vir a cair no
vazio. De qualquer maneira, é preciso fazê-lo, enfim, é indispensável ousar, de
maneira a apresentar soluções para uma política cultural consistente. <span style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> [2008]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 8pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">[Entrevista concedida a Lira Neto.
Originalmente publicada em <i>Agulha Revista
de Cultura</i> # 65, Fortaleza/São Paulo, setembro de 2008. Integra o
livro <i>O hábito do abismo (Entrevistas com Floriano Martins)</i>, de Márcio
Simões (ARC Edições: Fortaleza, 2013).]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
http://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/http://www.blogger.com/profile/15464755224800829626noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5262314379244716711.post-27838821710794418222014-10-12T05:46:00.002-07:002014-10-12T05:46:55.943-07:00A OUTRA MÁQUINA DO MUNDO | Entrevista a Belkys Arredondo<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-nG4CyijmEDE/VDp4E3ywzFI/AAAAAAAABN4/0y1EWUnRjZI/s1600/%5BFoto%5D%2B2006%2BFortaleza%2B01.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-nG4CyijmEDE/VDp4E3ywzFI/AAAAAAAABN4/0y1EWUnRjZI/s1600/%5BFoto%5D%2B2006%2BFortaleza%2B01.jpg" height="223" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 14.2pt; text-align: justify;">
<span lang="ES"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Dentro de la era de la globalización, los poetas se leen en Internet. Están
los muertos y los vivos, los conocidos y los que se descubren, los trascendidos
y los que podrían trascender. Una buena cantidad de revistas entregan sus preferencias.
Entre las de habla ibérica, destacan la revista <i>Agulha</i> junto con el Proyecto Banda Hispânica que dirigen los poetas
Claudio Willer y el entrevistado Floriano Martins. Descrito como iconoclasta, prestidigitador,
de espíritu libertario, es decir, surrealista. Múltiple en sus haceres literarios
y entregado de cuerpo entero, nos expresa sus pareceres sobre diferentes tópicos
del mundo de las letras. [<b>BA</b>]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">BELKYS ARREDONDO</span></b><span lang="ES"> De todas tus actividades relacionadas al mundo literario
quisiera en este dialogar que tratemos tu asimilación a la filosofía de vida del
Surrealismo, la particular, y el oficio del traductor para relacionarlo con la publicación
en diciembre de la Fundación Biblioteca Ayacucho de tu traducción del trabajo del
valioso poeta Carlos Drummond de Andrade.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FLORIANO MARTINS</b> Não vejo a menor relação possível
entre as três referências, ou seja, de maneira alguma minha aproximação do Surrealismo
se vincula diretamente com meu trabalho de tradutor e menos ainda as duas coisas
têm em comum com a obra de Drummond. O trabalho de tradução se inicia nos anos 80,
buscando apresentar aos leitores brasileiros poetas de várias latitudes. Traduzi
livremente para periódicos literários poemas de autores como Pasolini, Blake, Huidobro,
Borges, Lezama Lima, Pablo Antonio Cuadra, dentre inúmeros outros. Curiosamente
nestes primeiros momentos não havia nenhum poeta surrealista. E jamais cheguei a
traduzir nenhum poeta surrealista francês. A rigor o Surrealismo entrou primeiramente
em minha vida pelo mundo plástico. Drummond, por sua vez, foi poeta fundamental
em minha adolescência. Um largo volume intitulado <i>Reunião</i> (1969), que recolhia seus primeiros 10 livros, foi uma das aventuras
mais presentes e valiosas neste momento inicial de minha descoberta da poesia. Posteriormente,
quando inicia a fase memorialista, a série intitulada <i>Boitempo</i>, afasto-me de sua poesia. É bem possível que o fato da FBA
haver me procurado para organizar justamente a obra poética de Drummond possa ser
visto como um caso típico de acaso objetivo [risos]. De qualquer maneira, acho que
a seriedade com que tenho pautado minha vida sugere essas valiosas aproximações
e desdobramentos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">BA</span></b><span lang="ES"> Podrías contarnos cuándo te interesaste en el surrealismo,
cómo fue, cómo se dio la lectura del Conde de Lautréamont y la de los manifiestos,
qué edad tenías, qué pasó?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Ainda na infância eu li autores como Dostoievski e
Sade, que me marcaram acentuadamente. Lautréamont eu fui ler já na plena adolescência,
juntamente com Blake e Rimbaud. São fontes distintas de impactos, que se somavam
a uma experiência de vida itinerante, afeita a viagens, nesta época eu já havia
largado a escola e percorria diversas partes do Brasil à moda <i>hippie</i>, mais interessado em viver o surrealismo
do que a estudá-lo. Li os manifestos posteriormente, o mesmo se dando com a poesia
de Breton, Char, Eluard, dentre outros. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">BA</span></b><span lang="ES"> ¿Cuál poema surrealista viene a tu memoria y cuáles
anécdotas recuerdas significativas?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Não tenho a memória de poemas. Tenho sempre que andar
com os meus impressos, se os quero ler em público. Minha memória se inclina por
outros rumos, por assim dizer, o que lamento, uma vez que a atividade teatral muito
me fascina e foi mesmo uma das minhas grandes fontes de leitura nos primeiros momentos.
Mas recordo aqui um momento em torno do poema <i>Union libre</i>, de André Breton, lido em <i>off</i>, por mim, André Coyné e Ricardo Martinez, em versos saltados em
português, francês e espanhol, respectivamente, enquanto em cena aberta dançava
a atriz Norma Suzal. Isto se deu em 1996, em um espaço expositivo da Universidade
de São Paulo, em evento que comemorava o centenário de nascimento do próprio Breton.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">BA</span></b><span lang="ES"> ¿Cómo vinculas esa postura de vida que surgió para
oxigenar una sociedad golpeada en la Europa de los 40, cómo la vinculas o relacionas,
o la propones con la latinoamericana y en qué fundamenta en la actualidad su vigencia?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> A rigor, o que era renovação na Europa dos anos 20,
na América assume a característica de uma carta de fundação. E se considerarmos
o ambiente diverso, em termos de continente americano, em que se dão as relações
com o Surrealismo, seria falso e quando menos ingênuo evocar uma condição tardia
de sua presença em alguns países. Acerca da atualidade do Surrealismo, certa vez
respondi a uma pergunta similar considerando esse princípio irredutível de liberdade que
orienta o Surrealismo, não sem destacar ser “também possível que se veja aí algum
artifício de certo <i>facilismo</i> da criação
poética; daí a leitura equívoca de que tudo o que não faz sentido é surreal, como
se costuma ouvir com relativa freqüência”. Enfim, a atualidade do Surrealismo está
ligada aos mesmos parâmetros de expansão da realidade, de afirmação da essencialidade
da imaginação e de uma indispensável liberdade para criação, sem que estabeleçam
aí barreiras ou abismos que separem arte e vida, sonho e realidade, razão e loucura.
Não há como pensar que tais perspectivas não influam diretamente nas relações entre
ética e estética. O colombiano Carlos Martín disse em um importante estudo sobre
o Surrealismo que “a única via que conduz a um novo humanismo, capaz de restituir
ao homem sua dignidade perdida, é a que mescla e identifica em si mesma poesia e
vida”. Daí que o argentino Enrique Molina se referia ao Surrealismo como um “humanismo
poético”. Trato agora apenas de reafirmar o que disse antes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>BA</b> Cómo definirías el oficio del traductor?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Em boa hora faço menção
a este belo livro preparado por Chefi Borzacchini sobre Alfredo Silva Estrada (Eclepsidra,
2005), em que o poeta e tradutor chama a atenção para o que considera o perigo máximo
da tradução, ou seja, que a mesma “não seja fiel à voz do poeta”. Cabe ao tradutor,
portanto, tratar de evitar a sedução de sobrepor ao subjetivismo da obra o seu próprio.
Desnecessário mencionar as exigências técnicas, pois de outra maneira este trabalho
não se realizaria. Objetivar ao máximo a função prática desta atividade, sem incorrer
em autolatria de espécie alguma. No Brasil, por exemplo, alguns notórios tradutores
não resistem à presunção de <i>querer</i> melhorar
o original.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">BA</span></b><span lang="ES"> </span><span lang="ES">Habiendo realizado la traducción
al portugués de poetas españoles como Federico García Lorca, cuentos de Guillermo
Cabrera Infante, ensayos sobre el estudio de dos poetas cubanos y otros, qué ha
significado llevar al español el trabajo poético de uno de los poetas más significativos
e importantes de Latinoamérica, Carlos Drummond de Andrade?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> São duas perspectivas distintas,
porque não estou traduzindo Drummond para o espanhol, como o fiz, no ano passado,
com a portuguesa Ana Marques Gastão (<i>Nudos</i>,
Ed. Gótica, 2004). De qualquer maneira, sinto-me honrado de estar podendo contribuir
para a circulação, nos dois idiomas, das obras de autores fundamentais. Cabrera
Infante está muito bem traduzido no Brasil, graças a Stela Leonardos e João Silvério
Trevisan. O mesmo não se passa com García Lorca, havendo uma imensa oscilação de
qualidade nas traduções oferecidas a público. No caso do Drummond se passa algo
interessante: ao escrever o estudo introdutório desta edição de Ayacucho tomei por
base o papel central que desempenha em sua poesia o poema “La máquina del mundo”
e, após observar que nenhuma das edições da obra poética de Drummond, em país algum,
havia utilizado este poema para título geral da publicação, feliz com a descoberta,
defini: eis o título perfeito para a edição venezuelana. Didier Lamaison havia publicado,
em <st1:metricconverter productid="1990, a" w:st="on">1990, a</st1:metricconverter>
poesia de Drummond pela Gallimard, sob o título simples de <i>Poésie</i>. 25 anos depois Gallimard surge com uma 2ª edição deste livro,
e curiosamente muda seu título para <i>A máquina
do mundo</i>. Trata-se de uma afinação mágica onde importa apenas que a obra de
Drummond seja reforçada em dois valiosos âmbitos editoriais.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">BA</span></b><span lang="ES"> </span><span lang="ES">En la poesía de Drummond de
Andrade ¿cuáles rasgos consideras de su poesía lo enlazan con este presente tan
complejo y le dan su permanencia, su universalidad?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Tenho bem presente uma observação
de Paulo Rónai com que trato de concluir o estudo introdutório de <i>La máquina del mundo</i>, no sentido de que Drummond
“carregava consigo uma sentença de origem desconhecida, que o condenava ao
mesmo tempo à estranheza e a viver entre os homens”. Este tenso equilíbrio alcançado
é o que lhe deu a fabulosa dimensão humana de sua poética.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">BA</span></b><span lang="ES"> </span><span lang="ES">¿Qué poetas consideras necesario
traducir para llevar a los lectores hispanos?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Há que planejar editorialmente
autores que já estão publicados em alguns países e quais perspectivas geracionais
podem ser abrangidas, por exemplo, se tratamos de uma antologia mais ampla. Eu já
organizei pequenas mostras de poesia brasileira para revistas mexicanas, chamando
a atenção para alguns de nossos principais nomes dentre aqueles nascidos dos anos
40 para cá. Algo idêntico deve estar saindo na revista <i>Poesía</i>, da Universidad de Carabobo. Agora mesmo estou preparando para
editoras no Chile e na Espanha antologia de brasileiros nascidos a partir de 1950.
Fazer circular bastante essas antologias me parece uma boa estratégia para se despertar
interesse editorial em antologias pessoais e mesmo, em alguns casos, na publicação
de obras completas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">BA </span></b><span lang="ES">Cómo organiza su vida cotidiana un poeta hiperquinético
como tú, que busca siempre estar conectado con el mundo y con lo que él acontece?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Esta é minha vida cotidiana. É o que faço. Como um
mergulhador ou um arqueólogo, é isto o que faço, toda a vida, a vida inteira. Não
há mistério algum. Organizo minha vida no estabelecimento de horas dedicadas à pesquisa,
ao diálogo, às viagens. É o que sou. Apenas isto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>BA</b> ¿Existe una literatura femenina? <span lang="ES">¿Qué
poetas femeninas te gustaría traducir para llevar a los lectores hispanos cuyo trabajo
se desconoce?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Eu não penso jamais na poesia
em termos de gênero, mas é evidente que temos algumas vozes femininas cuja difusão
internacional se impõe. Penso em nomes como Dora Ferreira da Silva, Hilda Hilst
e Astrid Cabral, dentre outras.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">BA</span></b><span lang="ES"> </span><span lang="ES">¿Por qué en los diccionarios
de hacedores de poesía abundan los nombres masculinos habiendo mujeres con un valioso
trabajo realizado y que se desconoce. En el caso de Brasil podríamos nombrar a la
poeta Hilda Hilst que murió recientemente el año pasado?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Não dá para generalizar,
porque há tanto um fator bastante comum, a presença do machismo, postura arbitrária
do homem em relação à mulher, quanto a ausência, em determinadas tradições líricas,
de uma presença mais constante e substanciosa de vozes femininas. No Uruguai, por
exemplo, onde há uma riquíssima tradição neste sentido, é impossível não constar
o nome de mulheres poetas em quaisquer listas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">BA</span></b><span lang="ES"> </span><span lang="ES">¿Son necesariamente negativas
las dificultades que obstruyen la labor del escritor? ¿Es preferible que el acto
de escribir tenga la serenidad de un río cristalino? ¿Haz tenido y cómo has resuelto
el bloqueo ante la página en blanco?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Jamais experimentei nenhum
tipo de bloqueio diante da criação. Em geral, penso em meus livros como um corpo
único e raramente me ponho a escrever poemas esparsos. De qualquer maneira, não
acho que a serenidade de um rio cristalino possa ser entendida sempre como uma condição
positiva. Tal serenidade pode trazer em si demasiado conforto. E há um mínimo de
combate na criação, o que por muitas vezes torna bem vindas essas eventuais dificuldades
traçadas pelo cotidiano do poeta.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">BA</span></b><span lang="ES"> </span><span lang="ES">¿Qué consideras qué es un poema
vivo y cuál uno muerto?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Do modo mais simples, diria
que todo poema deve fundar um diálogo com seu leitor. Talvez não esteja demais dizer
que o leitor é uma invenção do poema. Resta saber qual a capacidade de proliferação
dos poemas mortos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">BA</span></b><span lang="ES"> </span><span lang="ES">¿Quién es el peor enemigo de
un poema?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Se acaso houver algum, decerto
que será o próprio poeta, ao incorrer em excessos de ansiedade, atropelos estilísticos,
insuficiência existencial, ou seja, todos os males tradicionais de fundo e forma.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">BA</span></b><span lang="ES"> </span><span lang="ES">¿Cuáles poetas venezolanos han
llamado tu atención y cuáles llevarías al portugués para entregarlos a la audiencia
brasileña?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> O Brasil desconhece por
completo a poesia venezuelana. Duas breves antologias de Gerbasi e Montejo publicadas
há mais de 10 anos não tiveram circulação devida e em nada alteraram este lastimável
quadro. Sempre lastimo que isto aconteça justamente com a Venezuela, e por duas
razões: por sua valiosa tradição lírica e pelo fato de que através da Fundación
Biblioteca Ayacucho há inúmeros brasileiros publicados em teu país. Por editora
de grande circulação acaba de sair uma antologia de Juan Calzadilla, que não deixa
de ser um início valioso, por se tratar de voz poética tão rica e atual. Eu traria
ao Brasil com urgência antologias de Gerbasi, Peláez, Silva Estrada, dentre muitos
outros, mas me parece que o mais acertado, editorialmente, é que se publicasse uma
ampla antologia de toda uma trajetória desta tradição ao longo do século XX.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">BA </span></b><span lang="ES">¿Cuál
es tu opinión en relación a la poesía que se está publicando en Latinoamérica?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> É um painel demasiado amplo
para se abarcar aqui. Nos lugares em que ainda sobrevivem, por exemplo, as apostas
malogradas em um <i>neobarroco</i>, o cenário
é infértil e enfadonho. Há poetas que vivem à sombra das vanguardas, outros que
se movimentam dentro de um espectro bastante antiquado. Uma coisa que me chama bastante
a atenção, em nossos países, é esta filiação forçada ao oriente, sobretudo no que
diz respeito ao hai-kai. Nossa realidade é outra e há que descobrir a medida certa
de sua expressão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">BA</span></b><span lang="ES"> ¿Podrías nombrarme tres poetas latinoamericanos del
cincuenta para acá que te gusten?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Sim, há muitos poetas que vêm construindo uma obra
à margem dos vícios geracionais e das induções de turno. Resumi-los a três nomes
pode soar como algo precário, mas tenho uma particular consideração pela poesia
do brasileiro Contador Borges (1954), do mexicano José Angel Leyva (1958) e do equatoriano
Edwin Madrid (1961).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">BA</span></b><span lang="ES"> </span><span lang="ES">Háblanos un poco sobre cómo
percibes la función actual de las revistas en Internet y lo que ha llevar adelante
junto con el poeta Claudio Willer un un proyecto como la revista Agulha que ya tiene
más de cuatro años de creada con una actividad constante de intercambio literario
con escritores de todas partes del mundo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> As revistas sempre cumpriram
um nobre e audacioso papel de aproximação cultural, hoje facilitado pela eficácia
da circulação através da Internet. Há que aproveitar este momento, buscando ampliar
os vasos comunicantes, elos, conexões etc. Agulha não se limita a um intercâmbio
literário, por se tratar de uma revista de cultura, possivelmente a única que sobrevive
hoje em um Brasil desafortunadamente disperso, desagregado. Eu tenho que mencionar
que a Agulha soma-se ao projeto da Banda Hispânica, do Jornal de Poesia, e que esta
parceria nos torna a maior fonte de referência no que diz respeito à poesia de língua
portuguesa e espanhola em todo o mundo. Isto naturalmente nos anima – a mim, a Claudio
Willer e Soares Feitosa – a dar continuidade a um projeto que nos últimos 5 anos
vem se dedicando a estabelecer elos entre diversas culturas, no âmbito dos dois
idiomas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">BA </span></b><span lang="ES">¿Consideras tu poesía marcada con los signos surrealistas,
es decir, el encuentro de imágenes contrarias que al juntarse iluminan el entendimiento
y amplían el universo del poema?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Os signos surrealistas não
se limitam ao plano das aproximações insólitas. Há também a perspectiva onírica,
o humor, as fontes do maravilhoso. Na minha poesia, por exemplo, certa exaltação
lírica incorpora elementos do humor negro e da tragédia, e o automatismo não deixa
de dialogar com a complexa estrutura bem pensada que desenho para os livros. Trata-se
de surrealismo, sim, porém sem limitar-se a ortodoxias de espécie alguma. Eu diria
que um surrealismo que se mescla com uma ontologia muito particular que inclusive
difere de toda a tradição lírica de meu país.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">BA </span></b><span lang="ES">Una característica cada vez más pronunciada es de cómo
los diferentes géneros, literarios o plásticos, poesía, narrativa, imagen ya sea
fija o en movimientos tienden a borrar sus límites mezclándose, el artista los utiliza
de acuerdo a lo que desea testimoniar. </span>Tengo entendido que realizas
unos <i>collages</i>, háblame de ellos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Lembro que em minha infância
havia na casa de meus pais aquelas fotonovelas, que eram adaptações para quadrinhos
de clássicos da literatura universal. Eu tinha comigo uma série de <i>comics</i>, outra leitura fundamental para mim,
juntamente com uma coleção de peças de teatro. Isto sem falar na música e nas artes
plásticas, algo que sempre esteve presente em minha vida, não esquecendo ainda o
fato de que assisti à chegada da televisão no Brasil, com os desenhos animados e
o cinema mudo, que me provocou grande impacto. Posteriormente descobriria a ópera,
que consolidaria essa mescla de gêneros que hoje se verifica indiscriminadamente.
O trabalho com as colagens é um desdobramento natural de tudo isto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">BA</span></b><span lang="ES"> ¿En una entrevista concedida al mexicano José Ángel
Leyva esbozaste que en el acto de escribir imaginabas al poema-libro como algo que
se construía tridimensionalmente. </span>¿Podrías ampliarnos la
idea?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Eu me referia justamente
a esta soma de elementos, onde o livro pudesse saltar de suas páginas para um palco,
e a trama viesse ter conosco em um cenário vibrante, intenso, onde o componente
lírico andasse de mãos dadas com a plasticidade e a representação figurativa. A
rigor, toda a minha poesia caminha para o teatro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">BA</span></b><span lang="ES"> ¿Actualmente escribes un nuevo libro?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Estou sempre escrevendo,
mas confesso que não gosto de adiantar projetos de livro, pois eles costumam ser
caprichosos e por vezes tomam um curso distinto daquele que planejamos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">BA</span></b><span lang="ES"> ¿En tu participación en la XII Semana Internacional
de la poesía que impresiones te llevaste del evento?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Defendo que eventos desta
natureza devem se multiplicar, consolidando essa irradiação mágica da poesia, que
nos leva a inúmeras formas de convívio. Perceber eventuais falhas e lidar com sua
correção faz parte da trama, como os demais obstáculos à produção. O trabalho realizado
pela Casa de la Poesía Pérez Bonalde possui já um lugar de destaque em nosso continente
e deve ser respaldado por todos nós e ampliado em seu vigor valioso.<span style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> [2006]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 8pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">[Entrevista
concedida a Belkys Arredondo. Originalmente publicada na revista <i>Imagen</i> # 5 – año 39. Caracas, Venezuela,
maio-junho de 2006. Integra o livro <i>O hábito do abismo (Entrevistas com
Floriano Martins)</i>, de Márcio Simões (ARC Edições: Fortaleza, 2013).]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
http://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/http://www.blogger.com/profile/15464755224800829626noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5262314379244716711.post-81703138081363077782014-10-12T05:40:00.000-07:002014-10-12T05:40:16.119-07:00VERTIGENS DO OLHAR: AUTORRETRATOS | Floriano Martins conversa consigo mesmo<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-g8GZHknmfL4/VDp2MZn65VI/AAAAAAAABNs/eIHwzrmWLog/s1600/002%2Bdisfarce.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-g8GZHknmfL4/VDp2MZn65VI/AAAAAAAABNs/eIHwzrmWLog/s1600/002%2Bdisfarce.jpg" height="320" width="275" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 14.2pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Caminhava por uma dessas ruas virtuais, pescando
fragmentos de imagens em pontos distintos da paisagem e recordava uma conversa com
o amigo Nicolau Saião, na qual fizera uma acertada observação: Dizia ele: “As tuas
colagens, tal como a tua poesia e – arriscaria dizer – até a tua pessoa, são demonstrativas
de uma mente diversificada, imaginativa e com uma alegria que classificaria de surreal.
Há sempre nas colagens que compões, mesmo as que são percorridas por um halo dramático,
uma espécie de música, diria, de <i>joie de vivre</i> perceptível até nas cores
que lhe são próprias.” Serão duas alegrias, a de viver e a de criar? Não, não há
motivo para disfarçar o que é idêntico. Mas no que diz respeito às colagens, certa
fragmentação do viver ocasionou uma debandada de ideias, dispersou as conexões que
bem poderiam ser estabelecidas com outras facetas criativas. E a volúpia da recuperação
desta paixão perdida talvez realce o que Nicolau segue acertando: “Mais do que uma
<i>estória</i>, a meu ver as tuas colagens descrevem um fragmento de existência”.
Por mais que o fragmento se mostre como uma poética, se atentarmos para um conjunto
de colagens, sugere também o fragílimo despedaçar da existência. Risco, sim, ao
mesmo tempo em que vitalidade, de quem busca a intensa alegria de viver de uma pincelada
única. A conversa com Nicolau Saião, sendo ele um artista tão sensível, trouxe ao
meu espírito este pequeno zelo, com o cuidado de não convertê-lo em veleidade, de
montar breve entrevista, um tipo de auto-retrato, não de todo incomum. Algumas indagações
são frutos de observações de outros cúmplices valiosos e muitas das colagens aqui
apresentadas foram preparadas a partir da elucidação obtida por este diálogo que,
à maneira de cada um dos interlocutores – Claudio Willer, Hélio Rola, Mário Montaut,
Rosa Alice Branco, Soares Feitosa, Susana Giraudo, Vicente Franz Cecim –, soube
recobrar a paixão perdida a que me referi. Quando mostrei ao Nicolau Saião o conjunto
de colagens que pretendia publicar nesta edição da Agulha, ele logo observou: “estas
são colagens diferentes das clássicas, digamos. Refletem um mundo aparentemente
estático, na verdade cheio de movimentos interiores.” Eu acho que a distinção básica
está naquilo que ele próprio chamou de alegria de viver. Há quem seja possuído pela
mesma alegria sem que lhe preocupe ligar os pontos entre um gesto e outro, entre
uma viagem e outra, entre um movimento interior e outro. É como observar o movimento
do estilo em dois poetas: independente do caráter estético que define a cada um,
eles se distinguem pela maneira como se deixam tocar pela vida: um deles escreve
um poema que se concentra em si mesmo, enquanto que o outro vai preparando poemas
com base em um cenário mais amplo. Eu sou um filho do teatro, da tragédia, de crença
ontológica, e mesmo neste palco ressarcido da paixão dispersa, não veremos outra
coisa senão a mesma obsessão por dissipar de vez qualquer distinção entre arte e
vida. [<b>FM</b>]<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>PERGUNTA</b> Por onde a <i>colagem</i>
entra em teus planos de criação?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FLORIANO
MARTINS</b>
O encantamento plástico não se inicia propriamente pela <i>colagem</i>. O mundo
da imagem, a maneira como a vida invade nosso olhar, o modo como a imagem nos encara,
de alguma maneira nós também somos vistos fragmentariamente por ela, pois devolvemos
ao mundo toda a sensação que temos diante dele. Há certa reciprocidade que naturalmente
reflete a percepção esfacelada da realidade. Somos devotos da interpretação, para
o homem nada no mundo existe sem motivo. Claro que há nuanças, que vão das experiências
capitais às notas de rodapé. Mas somos essencialmente tópicos. Nos identificamos
às custas dos lugares-comuns, pois sempre nos incomoda não saber precisamente do
que se trata esta ou aquela coisa. Evidente que tamanha exigência delata um desconforto
imenso, e não há criação artística que não o acentue, espreitada de qualquer margem,
pois o homem acaba sendo a medida de seu desconsolo, de sua aflição. A <i>colagem</i>
entra como recurso, o recurso que naturalmente é: de enfrentamento com a imagem
e nossa obsessão pelo comentário.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>P</b> Isto quer dizer que já escrevias
antes de começar a fazer <i>colagem</i>. Agora, a <i>colagem</i> está intrinsecamente
ligada ao Surrealismo. Até que ponto há coincidências nessas descobertas para ti?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Quando garoto, texto e imagem
eram uma grande mescla na biblioteca de meu pai, que tinha um pouco de tudo, uma
espécie de sublevação de qualquer método de leitura ou pesquisa. A desordem plena.
Então eu fui criado no leito dessa algazarra interpretativa. Sutilmente instado
a… interpretá-la (risos). Curiosamente, havia muito pouca poesia ali. Recordo o
<i>Paraíso perdido</i> de Milton ou aquele volume dos sonetos que compunha a obra
completa de Shakespeare. Fecho os olhos e não me lembro de mais nada além disto.
Mas havia um sem número de histórias em quadrinhos, de adaptações de romances para
fotonovelas, que na ocasião era uma novidade imensa em termos de popularizar a literatura.
Isto sem falar no fato de que eu peguei os primórdios da televisão, onde o recorte
estático das revistas em quadrinhos era substituído por uma dinâmica frenética.
Como a fotografia em si nunca me atraiu – reafirmo o que disse certa vez de que
não a vejo senão como um recurso para a <i>colagem</i> –, a imagem em movimento
exerceu sobre mim um fascínio imenso, ou seja, foi graças ao gibi, à televisão e
ao cinema que cheguei à <i>colagem</i>, à ideia de fotograma que aquilo representava,
de desdobramento de um mesmo sentido, um saboroso caldo de vertigens, digamos. A
interpretação para mim tinha um ritmo próprio, era este o acento que a distinguia
entre si, as infinitas maneiras de comentar o mundo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>P</b> Especificamente como se
relacionam surrealismo e tuas colagens?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Os mesmos sinais vitais
que encontramos em minha poesia, a busca por iluminar certas zonas obscuras do ser,
o choque entre realidades aparentemente distantes entre si, os entrelaçamentos entre
o onírico e o desperto, o recurso ao desconcertante como algo que pode nos permitir
uma visão menos preconcebida do mundo etc. Substituir o método da interpretação
pelo do conhecimento. Não aprendi isto exclusivamente com o Surrealismo, mas é claro
que esta preocupação se encontra em sua raiz, assim como igualmente claro que a
liberdade de espírito para deixar-se tocar por tudo à volta foi a fonte maior desse
conhecimento que, a rigor, não se dá sem convívio. Este é exatamente o dilema da
arte em nosso tempo, quando lastimavelmente volta a desaparecer a ideia essencial
de convívio entre vida e obra.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>P</b> Remetendo a esta “desordem
plena” a que te referes, em entrevista com o Moacir Amâncio mencionas que talvez
tenhas sido menos influenciado pela leitura do que por qualquer outra situação.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Não é bem assim. Eu disse
que os estímulos à criação não vieram tanto da leitura do poema quanto de outras
instâncias, aí incluindo a leitura de romances, gibis, ensaios. Na ocasião comentávamos
sobre esse vício de limitar à leitura o mundo do escritor. A vida me entra por todos
os sentidos, assim como meu diálogo com ela se manifesta de diversas maneiras e
não apenas através do que escrevo, ou do poema que escrevo, o que é ainda mais redutor.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>P</b> E com as colagens?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Exatamente a mesma coisa.
Não se pode restringir à audição a maneira como o mundo invade a vida de um músico.
Isto me lembra aquela defesa do argentino Aldo Pellegrini, de que “em toda verdadeira
poesia está latente ou manifesto um protesto do homem contra sua condição”, o que
vale para toda a criação artística. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>P</b> Mas de alguma maneira se
pode localizar alguma influência, em teu caso, oriunda da poesia ou da colagem?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Claro. O que eu não saberia
detectar é uma presença marcante de um determinado autor, até mesmo pela maneira
pouco sistemática com que fui tendo contato com uma e outra obra. Todos aqueles
pintores do século XVII que lidavam com naturezas mortas sempre me impressionaram
muito, principalmente o velho Jan Brueghel – e também Rembrandt, Velázquez, Pieter
Aertsen. Mas quando comecei a fazer <i>colagem</i> não pensei exatamente neles e
de muitos ainda nem identificava o nome à obra. No final dos anos 80, fiz algumas
poucas <i>colagens</i> que estavam impregnadas de entrelaçamentos com gibis e fotos
de jornal. Tudo em preto e branco. Mas foi quando o poeta Sérgio Campos (1941-1994)
me convidou para fazer a capa de seu livro <i>O lobo e o pastor</i> (1990), que
me senti verdadeiramente desafiado a uma aventura plástica mais contundente. E ali
então se revela aquele apetite por uma fuga constante que me parece ser um traço
de minha <i>colagem</i>, uma espécie de sensualidade incessante descoberta nas brechas,
nos pontos de fuga, no imprevisível latente. Também a minha poesia está repleta
dessas zonas de escape, onde tudo se dá de forma dissimulada.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>P</b> É curioso que faças uma
colagem que remete à ideia clássica da pintura e que, ao mesmo tempo, tenha pouco
a ver com as colagens surrealistas assim identificadas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Não estou bem certo disto.
Há um equívoco em pensar que a maneira de dialogar com o mundo que lhe é contemporâneo
implica em adaptação ou mesmo subordinação a determinada linguagem. Assim aceita,
o que temos é uma linearidade plena. A criação – e não apenas a <i>colagem</i> –
age por incisão, muito mais do que por ajuste ou hábito. Veja bem no que foi dar
a ideia de natureza morta do século XVII, num <i>still life</i> completamente apreendido
pelo <i>design</i> e que hoje causa mais bocejo do que encantamento. Pela mesma
razão, toda a arte contemporânea desfigurou-se. Um notável artista que trabalha
com <i>colagem</i> é o chileno Ludwig Zeller, e nunca recorreu ao que se possa chamar
de utilitário contemporâneo, se me permites a ironia. Mesmo Max Ernst mantinha uma
relação intensamente abissal no que diz respeito à idade do material empregado em
seus <i>recortes</i>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>P</b> Mas utilizas material ligado
ao <i>design</i> em algumas de tuas colagens…<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Até mesmo o presente está
ao dispor do artista, ao que parece. Em meio a tantos videntes e passadistas, é
possível somá-los sem criar ojeriza pelo instante em que vivemos, com suas aberrações
lapidares, sua hipocrisia manifesta, as alegorias da vaidade que acabam mesclando
os tempos. A arte é um detalhe da lâmina com que ponho em dúvida a imortalidade
da cena. Minha colagem é tão epigramática quanto minha poesia. Divertem-se juntas
em tornar mais picante o molho de cada imagem. Qual a idade daquela caveira em um
Pieter Claesz do século XVII? Qual a idade da lagartixa presente na colagem identificada
como logo da Agulha? A arte contemporânea perdeu essa relação ampliada com o que
se pode chamar de pan-tempo, e acabou se tornando pontual, reduzida a uma única
e recorrente maneira, em depreciativa constância. Constatar a lamentável resultando
deste processo é fácil: a visita a um Museu de Arte Contemporânea mais próximo.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>P </b>E assim utilizas recursos
técnicos atuais para negar teu próprio tempo?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Não, não. Dito assim parece
que perco meu tempo a me indispor com a volubilidade diária. Confesso que sinto
mais tesão em uma mescla de colagem e poema do que propriamente em um ou outro em
separado. Pelo aspecto teatral de minha poética, certamente me articularia bem na
montagem de uma peça onde texto e cenário fossem meus. Já tive duas experiências
neste sentido, mas tenho um volume muito grande de trabalho que chamei para mim
em relação à poesia, e isto dificulta, em parte, atuar em outras áreas. O recurso
técnico a que te referes imagino que seja a foto digitalizada tratada em computador.
Sim, venho trabalhando com ela. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>P</b> Com isto propões uma nova
modalidade de colagem?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> A ideia é chamar atenção
para o fato de que os recursos – que são infinitos – estão ao nosso dispor e não
o contrário. A ficção científica tende a tornar o homem refém da máquina, mas em
grande parte, quando deve ser considerada séria, é um alerta para o fato de que
não podemos abrir mão do que somos, da paixão exaltada que nos leva ao sublime e
ao erótico, e que jamais faz de nós seres mordazes e vingativos. Não se trata de
recurso novo – sim, sim, claro, há essa mescla de recortes de fotografias tratados
em computador –, mas de chamar a atenção para o fato de que não importa, se através
de um romance, um crime, uma frustração, um acidente, a vida nos escapa de todas
as maneiras. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>P</b> A arte não pode nada, então?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Pode nos lembrar isto a
todo instante, que ela não pode nada e que essencialmente estamos por nossa conta.
Chega dessa ideia de salvação de algo, já de todo avacalhada por Hollywood e deturpada
pela violência inquestionável da Casa Branca. Ou a salvação prometida por essas
igrejas abjetas que infestam o país de uma ponta a outra. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>P</b> Vejo que misturas tudo em
tua fala, talvez por uma compulsão de montagem. Não fantasias demasiado o mundo?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Não há arte sem imaginação,
está claro. Mas tampouco há imaginação sem realidade. Ou seja, uma coisa está enfiada
na outra. Até que ponto a realidade segue modelos fixos, que ela se mantém fiel
a determinados padrões? Somos sobreviventes da fantasia ou da realidade? Que estranha
mitologia vem inventariando nosso tempo? O fato de que a grande indústria do entretenimento
se confunda com outra não menos totalitária, a da violência, da guerra, do terror,
não nos preocupa em nada? A rigor, a imaginação no artista não o devia confundir
com um mitômano, mas sabemos que não é bem assim, ou seja, com tantas luzes, cenas,
atrações, egos inflamados, não há como não perder a noção da realidade. No mais
dos casos, a noção de sua fantasia. Penso que a arte, e não somente a <i>colagem</i>,
deveria alertar para a necessidade desse paralelo, entre real e imaginário.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>P</b> E até que ponto a colagem
o faz?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Toda a arte meteu-se em
um beco sem saída, aparentemente pelo volume estonteante de propostas estéticas
surgidas com as vanguardas, mas essencialmente pela usurpação de inúmeras técnicas
pelo <i>design</i>, a propaganda e alguns mercados novos que incluem tanto a cenografia
teatral ou cinematográfica quanto os gibis e as capas de disco, por exemplo. Neste
sentido, o artista plástico deve ter sido muito mais atordoado do que o músico ou
o escritor, embora não tenha se mostrado mais deslumbrado que os demais. Os artistas
que lidam com a <i>colagem</i> estão muito apensados ao Surrealismo, ou seja, são
observados criticamente como uma decorrência. Desnecessário remontar à ideia de
fusão de arte & vida que permeava o Surrealismo. O fato é que a técnica acabou
sendo caudatária do Surrealismo. Mesmo novos artistas que a cultuam, o fazem à maneira
surrealista, o que dá a todos os trabalhos um certo ar <i>déjà vu</i>, um tipo de
epilepsia artística, sem que desgrudem de algumas matrizes hoje dadas como clássicas.
A técnica, de certa maneira, ficou a reboque de uma visão historicista do Surrealismo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>P</b> Todo este jogo de corta
& cola não foi se embrenhando em novas formas de criação, onde tanto se pode
falar no romance de um William Burroughs quanto nessas utilizações que mencionas?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Sim, claro. Houve uma percepção
acentuada do recorte, do rasgo na pele do tempo como grande recurso narrativo, que
acabou dando no <i>flashback</i> abusivo do cinema e do romance. Mas estes são elementos
colados – ainda que recortados – à pele de uma narrativa, digamos. Não são a subversão
da própria. Sob este aspecto, penso que a <i>colagem</i> está para as artes plásticas
como o verso livre está para a poesia. Incluindo todos os seus vícios, deturpações
e acomodações estéticas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>P</b> Segundo Claudio Willer,
é “acadêmica a distinção entre collage e colagem, além de lexicalmente insustentável
(uma colagem, <i>c'est une collage, c'est ça</i>)”, não cabendo argumentar que em
Picasso e Braque, por exemplo, ela fosse ilustrativa. Segundo ele, “se o parâmetro
fosse esse, teriam que mudar o nome de todos os demais procedimentos: gravura, óleo,
desenho, etc.” Estás de acordo?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Completamente de acordo,
embora eu próprio tenha usado o termo por diversas vezes, fazendo-o, sobretudo,
para situar a <i>colagem</i> como uma técnica, para que não fosse confundida com
uma simples operação de aderir objetos entre si. Mas evidente que atende a um capricho
acadêmico de lidar com estrangeirismos como se atestassem inteligência superior,
ou seja, estrangeirismos ajudam a detectar caipirismo do mundo acadêmico.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>P</b> Há um testemunho sobre teu
trabalho dado por Rosa Alice Branco que eu gostaria aqui de reproduzir. Diz a poeta
portuguesa: “As <i>colagens</i> de Floriano Martins articulam-se com a sua poética
<i>escrita</i> de uma forma inesperada, já que naquelas a dimensão estética se sobrepõe
aos seus demônios, oferecendo-nos um universo mais pacificado. À primeira vista
esta constatação surpreende-me, no sentido em que se trata de um trabalho que compõe,
desconstruindo, através de associações livres, mas não podemos esquecer que se trata
também de um trabalho de apuramento rigoroso. A partir de um suporte literalmente
imagético, Floriano Martins deixa-se cativar pela singularidade do fragmento e pela
harmonia sempre imprevisível da composição. Em cada <i>colagem</i> há um universo
em miniatura, delimitado pela moldura e infinito pela fractalização das inserções
figura/<i>fundo</i>. Desta forma, as texturas justapostas e sobrepostas conjugam-se
para o encantamento do olhar entre o todo e o pormenor, sem lugar para a crueldade
nua e para o profano desencarnado que habitam vários dos seus textos poéticos. Aqui,
o jogo entre o profano e o sagrado apaga-se na redenção de tão humana beleza.” Gostaria
de um comentário teu a respeito.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.25pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Uma delícia de leitura.
É bom que o acasalamento entre sagrado e profano não se converta em um desses processos
de reprodução em cativeiro. A que mais pode aspirar a arte senão a criar possibilidades
de uma “harmonia sempre imprevisível”? Olha, nisto da relação com os demônios, eu
não sei se está correta a versão do crime aqui apresentada. Por vezes desconfio
que o efeito aparente seja resultante apenas do fato de que o poema me domina mais
do que a <i>colagem</i>. Evidente que não falo em domínio técnico, mas sim naquele
sentido de entrega absoluta que nos leva a um conhecimento interior. E o que extraímos
bem de dentro de nós, no mais fundo de nosso íntimo, não se restringe apenas ao
indivíduo. Ali bem dentro entranhada e envolta em máscaras infinitas se encontra
a natureza humana que, por mais perversa e raramente bela que seja, é sempre humana.<span style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> [2005]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 8pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">[Autoentrevista,
originalmente publicada em <i>Agulha Revista de Cultura</i> # 47. Fortaleza,
São Paulo. Setembro de 2005.Integra o livro <i>O hábito do abismo (Entrevistas
com Floriano Martins)</i>, de Márcio Simões (ARC Edições: Fortaleza, 2013).]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
http://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/http://www.blogger.com/profile/15464755224800829626noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5262314379244716711.post-26402659045206720732014-10-12T05:30:00.000-07:002014-10-12T05:30:11.138-07:00SOMOS O QUE BUSCAMOS | Entrevista a Ana Marques Gastão<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-Vy1JVDF8ypo/VDpzGuvDwRI/AAAAAAAABNg/Evz9n1k85Fw/s1600/%5BFoto%5D%2B2005%2BAtacama%2BChile%2B01.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-Vy1JVDF8ypo/VDpzGuvDwRI/AAAAAAAABNg/Evz9n1k85Fw/s1600/%5BFoto%5D%2B2005%2BAtacama%2BChile%2B01.JPG" height="240" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 14.2pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O poeta moderno é perplexo
porque se tornou crítico, para além de ser um artífice da língua. Nem sempre escreve
apenas poemas, dir-se-ia, por vezes, também uma <i>figura</i>, cujo estatuto varia. Floriano Martins (Fortaleza, 1957) é essa
figura, nome que assina uma obra e que a obra constrói, mais do que o homem que
simplesmente a fabrica. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 14.2pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Autodidacta, iconoclasta,
desconcertante, resistente, poliédrico, o autor de <i>Alma em Chamas</i> (Letra & Música, 1998) exerce ainda as funções de
ensaísta, editor, tradutor, de Lorca a Cabrera Infante. Estudioso da literatura
hispano-americana, no domínio poético, especialista do surrealismo, sobretudo na
América Latina, dirige, com Claudio Wiiler, a revista <i>Agulha</i>,<i> </i>coordenando o projecto
<i>Banda Hispânica</i>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 14.2pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Floriano Martins é, todavia,
sobretudo poeta. Poeta perplexo perante o estremecimento do mundo, em cuja escrita
se fundem géneros. Consciente da importância crítica da cultura enquanto compreensão
distanciada e, no entanto, acesa, o escritor de <i>Estudos de Pele</i> (Lamparina, 2001) veste a pele da astúcia ensaística
no seu caminho de palavras que trata como seres vivos. Sabe que nelas há uma força
não domesticada, maldita, privilegiando, no diálogo entre trevas e luz, as relações
de vizinhança, próximas ou dissemelhantes, com a arte dos outros. Proclama a máxima
surrealista, o autor de <i>Sábias Areias</i>
(Mundo Manual, 1991): “Quero que se calem quando deixarem de sentir”, sabendo que
a linguagem anuncia o mundo. Pensar o poema significa, pois, procurar que a memória
se transcenda num jogo entre imaginação e entendimento. [<b>AMG</b>]<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>ANA MARQUES GASTÃO</b> <i>Estudos de
Pele</i> é o
seu mais recente livro de poesia. Pele do corpo, pele da página. Textos do corpo,
corpo do texto, da criação. Entre tudo o mais, dir-se-ia também uma obra sobre a
escrita, a linguagem, e ainda sobre a memória? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FLORIANO
MARTINS</b>
Um livro mestiço. Em toda a criação não damos um passo sem a memória e a linguagem.
São aspectos intrínsecos, indissociáveis. Quanto à pele, sendo o que nos recobre,
pensamos nela apenas em sua exterioridade. Não a vemos como um conjunto de tecidos,
e menos ainda suspeitamos do que lhe passa por dentro. Isto porque caímos no ardil
de perceber o mundo de forma fragmentada, alheios às infinitas conexões existentes
entre os fragmentos. O livro se volta para este conhecimento, a identificação do
todo por meio do convívio com as suas partes, a busca dos elos entre elas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AMG</b> Estamos perante um livro polifónico que actua na reconstrução
de um mundo, sendo o seu conteúdo o imaginário poético encontrado entre o real referencial
e o discurso do fabuloso, do fantástico, do onírico, até do maldito?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> O mundo que busca reconstruir
é justamente o dessa unidade perdida, porém sem saudosismo de espécie alguma. Neste
caso a polifonia é indispensável, bem como a presença desses discursos todos. O
imaginário, mesmo em sua conotação de ilusório, é real. Não faço essa distinção
entre uma coisa e outra. Somos também aquilo que sonhamos e desejamos. E dentro
dessa mescla não caberia esquivar-se do maldito. A perversão nos define, sobretudo
nas maneiras menos percebidas como tais. Basta pensar nas fábulas e nas cantigas
de roda, por exemplo. É uma estranha relação a que o homem mantém, tão íntima, com
as trevas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AMG</b> Entrelaça na sua obra delírio e lucidez, corpo e espírito. Quando
perguntaram a Max Ernst o que pensava de Kant, ele respondeu: “A nudez da mulher
é mais sábia do que o ensinamento do filósofo”. Poderia ter tido uma resposta tão
desconcertante como esta, ou não?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> O desconcerto é um dom,
sim, porém causa hoje um efeito retórico, no sentido de que há uma hipocrisia reinante
que busca nele apenas um divertimento, a figura circense, engraçadinha, previsivelmente
“desconcertante”. Era outro o cenário em que agiu o Surrealismo dentro de tuas referências.
Equivalências? Teríamos que pensar na maneira violenta como a privacidade tem sido
assentada como uma mercadoria. E o que a filosofia e a arte têm feito a respeito.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AMG</b> Referia-me também ao diálogo
que encontro na sua obra entre o pensar e o sentir, entre o ensaístico e o poético,
tendo em conta essa nudez a que se refere Ernst…<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b>
São vasos comunicantes que estabelecem uma íntima relação entre arte e vida, desde
que não se comportem como se o pensar e o sentir estivessem desligados. Tampouco
o faço por puro modismo de quebra de barreira entre gêneros. Há muito empastelamento
anódino sob tal artifício. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AMG</b> Pode entender-se <i>Estudos
de Pele</i> como um enredo ficcional, viajando entre os diversos géneros literários
(poema em verso ou em prosa, drama, ensaio…), em que as vozes das mulheres nos contam
como o mundo as abandonou e nos falam da possessão?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Foi pensado exatamente assim,
no que diz respeito ao primeiro aspecto de tua abordagem, ou seja, um enredo ficcional,
não linear, mesclando gêneros e técnicas e mesmo apropriando-se, ainda que raramente,
de algumas anônimas sutilezas alheias. Contudo, não se trata de livro atento apenas
às “vozes das mulheres”, mas sim essencialmente ligado à expressão do feminino,
à sensibilidade – essa metade arrancada de todos nós.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AMG</b> Mas há uma intensidade que
se reflecte mais, a seu ver, no mundo feminino?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> A grande violência advinda
deste aspecto se reflete na mulher, sendo ela quem a sofre de maneira mais intensa.
O livro dá às personagens femininas uma especial atenção – inclusive porque vem
delas uma réstia de sensibilidade que talvez se mantenha exatamente pela consciência
do padecimento. Essas mulheres, no entanto, desconhecem a raiz do sofrimento. Diferem,
sob este aspecto, das personagens femininas de um livro que está por sair, <i>Duas
mentiras</i>, onde notamos a presença não mais da perplexidade diante de tópicos
como crime, violência, dor, sujeição, mas sim entonações de sarcasmo, manipulação,
escárnio… Se observarmos bem, em <i>Estudos de Pele</i>, as figuras masculinas,
anônimas em boa parte do livro, mas identificadas em algumas passagens (Alfredo,
D. Leopoldo, o garoto do capítulo “Rastros de um caracol”), são plenamente ativas,
enquanto as mulheres representam a parte passiva.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AMG</b> Atravessa este livro toda
uma herança da história feminina, na opressão e na astúcia que se lhe juntou. Ou
não?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Há bem menos sinais da astúcia
do que da opressão, eu diria. Os capítulos que abrem (“Sombras raptadas”) e encerram
(“Modelos vivos”) o livro reúnem as mesmas personagens bíblicas: Ester, Madalena,
Maria, Marta, Raquel, Rute e Sara – isto dá uma falsa ideia de circularidade, intencional,
onde embaralho os conceitos de opressão e astúcia, como sugeres. Peguemos um caso,
o de Madalena. Na primeira parte a personagem é demasiado ingênua ao mostrar-se
por inteiro – a certo momento indaga a Deus: “O que fui, senão tua prisioneira,
bastarda e incestuosa, crente pusilânime de que o prazer reanima a fé?” Ela retorna
na parte final com uma grande voltagem de astúcia, confundindo-se no poema duas
vozes femininas, ou seja, quem é a verdadeira Madalena que ressurge em “Flagrantes
da fé” – a que se assemelha à personagem histórica Erzsébet Báthory, a <i>condessa
sangrenta</i> tão bem retratada por Alejandra Pizarnik, ou a anônima esposa de Gustavo,
que narra a história e deixa escapar que há mais ênfase no olhar de seu marido quando
ela o faz cativo? Acho que essencialmente atravessa o livro o componente opressivo,
através do qual a astúcia se prepara para o momento seguinte, em que é sugerida
como uma decorrência, sem que se faça tão presente quanto a opressão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AMG</b> Erzsébet Báthory que Valentine
Penrose, tão acarinhada pelos surrealistas, tratou de forma esplendorosa no seu
livro dedicado à condessa sanguinária, espécie de Gilles de Rais no feminino… De
facto, <i>Estudos de Pele</i> tem esse lado do
romance negro, essa luminosidade terrífica com aroma a açafrão húmido e a sangue.
Ambos tratam o mal com cintilância…<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> A própria Alejandra Pizarnik
escreveu seu belíssimo <i>La condesa sangrienta</i> a partir do livro de Valentine
Penrose, claro. E tocas aqui em algo que não se percebeu ainda na leitura do livro,
sua intimidade com o romance negro, o entrelaçamento entre erótico, místico, criminal,
recursos sombrios, as cartas de prisão, a crônica policial descrevendo cenas e estilos
de crime, feitiçarias, raptos, confissões, tudo isto que se encontra também em Sade,
cuja leitura na adolescência foi fundamental para mim.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AMG</b> Detecta-se, talvez por isso, um erotismo poderoso em <i>Estudos de Pele</i>, como, aliás, na sua restante
obra: “Extinta a vida dos sentidos, nada mais nos resta no espírito” como refere
Aquinauta que cita no seu <i>Alma em Chamas</i>?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Toda escrita é resvaladiça.
Nada faz sentido além do escorregadio. O homem está sempre a fugir de si, e há algo
de erótico neste jogo de máscaras. Mas o efeito do crime tem inocentado inúmeros
assassinos. O erotismo em <i>Estudos de Pele</i> é utilizado de várias maneiras,
incluindo a lascívia, um tipo discreto de suborno, o encantamento mágico. Evidente
que já em <i>Alma em Chamas</i> Aquinauta compreendia que o sentido extrapola o
juízo e o objetivo. Daí que o aproximes tão bem de uma erótica. Está perfeita a
tua leitura. Mas recordemos que Aquinauta não se referia a um sentido encontrado,
mas antes a um sentido buscado. Eis o que somos, inclusive eroticamente: aquilo
que buscamos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AMG</b> Diria que somos mais aquilo
que desejamos do que o que buscamos. Não é esta uma civilização do desejo?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Em uma sociedade pautada
pela conquista, a concorrência, a ganância etc., não se pode falar em desejo. O
próprio termo civilização já não tem mais cabida nas sociedades contemporâneas,
mais afeitas à barbárie. A rigor, nem seria correto falar em busca, porque somos
induzidos a um sistema de rivalidades. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AMG</b> Há excesso de realidade, de razoabilidade. O poeta procura-se,
por isso, fora de si?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> A crônica policial é o nosso
livro sagrado. Se fôssemos hoje tratar de um <i>Novo Testamento</i> ele seria formado
por uma recolha de nossa crônica policial. Vivemos em uma sociedade criminal, recheada
de seqüestros, subornos, falsos depoimentos, prevaricações, terrorismo, e crimes
passionais – sim, ainda se mata por essa falsa ideia de amor. Podemos chamar a isto
de excesso de realidade? Os velhos monstros da razão, sim.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AMG</b> E quando o poeta se procura,
fá-lo dentro de outras vozes como as deste livro recheado de intertextualidades
(da Bíblia à crónica policial)?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> A intertextualidade, essa,
não me interessa como um recurso da modernidade, um exercício de afetação intelectual,
mas sim como uma afirmação de diálogo, da busca de cumplicidade com a voz que me
é alheia, mas que procuro incorporar não propriamente ao meu discurso, mas antes
à minha vida, que é – aceitem ou não – a de todos. Jogo de tal forma com este aspecto
da intertextualidade que chego a criar uma personagem fictícia apenas para citá-la.
A citação não é apenas transcrição ou intimação judicial. Trata-se também de uma
confissão, a de que não me quero sozinho no mundo. Pensada como uma transgressão
ou mero recurso técnico, a citação reflete o caráter, como qualquer outra atitude.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AMG</b> Então como relaciona autobiografia
com ficção?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Como um recurso para pôr
em xeque a vida do leitor, que é invariavelmente um prolongamento da escrita. A
ficção como um cadinho de realidades e vice-versa. Bem sei que tudo isto se tornou
complexo porque a ficção romanesca já de muito foi atropelada pela voracidade da
mídia em forjar realidades. Neste caso, o autobiográfico vem à tona como um resgate
da essência do ser, embora também possa ser apenas um ardil a mais para a anulação
desta mesma essência. Isto requer atenção maior da parte do leitor e responsabilidade
ainda maior da parte do escritor.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AMG</b> A escrita como prolongamento
de um Eu, ou a vida como prolongamento da escrita? Que vem antes, primeiro? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM </b>A dúvida impera sempre, a
inquietude, o desconforto, a curiosidade, estes são os princípios motores dessa
complexa relação entre vida e escrita. A rigor nenhuma das duas personagens se sente
menos protagonista que o outro. Tratássemos de um filme – e de certa forma não passa
disto – nenhum dos dois ia querer o papel de bandido.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AMG</b> É seu um discurso das origens e da origem do discurso que se
materializa numa poética da decifração, à semelhança do seu “pai” Blake?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Tradução, premeditação,
compreensão, leitura – tudo isto é decifrar as origens. Não faço a menor ideia do
que pode motivar as pessoas a escrever nem quero abordar aquela ideia do sujeito
que se sente feliz sendo um artista somente quando essa condição coincide com a
glória… A toda hora, nos empanturramos de experiências, o encontro casual na rua,
um filme, o som de algum objeto que nos remete a uma lembrança, uma frustração,
tudo. Para mim, essas sensações todas formam uma grande malha de conexão com o que
sou.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AMG</b> Vê-se, então, como?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> A resposta está sempre na
pergunta, naquilo que se indaga. Vejo a mim de muitas maneiras, mas isto se passa
com toda a gente. Há a existência comum, vulgar, trivial, cuja origem compartilhamos
inconscientemente. William Blake tinha esta percepção, embora acentuadamente sob
um aspecto místico. Não foi a minha primeira leitura, mas sim o primeiro impacte
dentro deste âmbito de uma polifonia de vozes. Temos que provar do outro para tocar
o que somos. Tenho que me misturar ao mundo para identificar-me. Não procuro uma
origem comum, mas sim me inteirar do que seja Floriano Martins o suficiente para
garantir um diálogo honesto com o outro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AMG</b> Não deixa de existir um trabalho de colagem em <i>Estudos de Pele</i>, que curiosamente, se alia
a uma outra faceta sua, a de artista plástico. Como se fundem palavra e imagem?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> A exemplo do que se passou
com <i>Alma em Chamas</i> (1998), <i>Estudos de Pele</i> teria na capa uma colagem
minha, que dava continuidade a um entrelaçamento entre gêneros e técnicas, o que
acabou não sendo possível por falta de sensibilidade da editora. Um raro aspecto
negativo. O livro está escrito, e isto importa além de sua publicação. Toda a minha
geração cresceu sobre o influxo do cinema. E cinema é essencialmente colagem. O
cinema põe em xeque uma arte purista, no sentido dela originar-se de uma só matéria.
Evidente que pode seguir sendo realizada por alguém em isolado, mas a ideia de fonte,
as origens, isto o cinema ajudou a questionar tanto quanto a máxima de Lautréamont
de que a poesia deve ser feita por todos. E isto só funciona se cada um de nós fizer
de tudo. Se perdermos a ideia estanque das propriedades sem comunicação entre si.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AMG</b> As suas colagens são, de
alguma, forma diarísticas, espécie de anotações, memórias, teatro de imagens? São
poemas?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Sim. São essencialmente
poemas, um tipo de caligrama que já não se limita ao arranjo tipográfico. A imagem
continua sendo uma representação da escrita. Vivemos em uma sociedade esmagada pela
imagem, mas em grande parte essa condição opressiva vem de nossa relação mal digerida
com a escrita. A rigor, somos sufocados pela ignorância. Quanto à referência às
anotações, é tudo o que fazemos, por mais que esteticamente estabelecido como arte,
tudo não passa de anotação.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AMG</b> Há um lado visceral e aparentemente
torrencial na sua escrita poética, aliado a um fulgor ensaístico. Ligam-se, portanto,
imaginação transformadora, loucura e razão?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Entendeste bem a questão,
o que prova a menção ao “aparentemente torrencial”. Sei dos riscos de se confundir
a intensidade de um discurso com sua entoação verborrágica. Muito do que se tem
hoje alardeado como pós-moderno ou neobarroco não passa disto. Não é só a imaginação
que é transformadora; também o são a loucura e a razão. E todas podem ser apenas
deformadoras. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AMG</b> No fundo, vive dentro dos
propósitos da acção surrealista, recusando o naturalismo e a expressão unicamente
interpretativa do real?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Breton dizia que os naturalistas
eram demasiado otimistas. Eu me considero um pessimista produtivo, mas tenho certa
rejeição a essa terminologia que resulta ser excludente. De um lado ou de outro.
Breton propunha um risco tão intenso, que não dava para deixar de fora quem não
o atendesse em sua verticalidade. Nem ele próprio o fez, e o princípio era mesmo
outro. É inaceitável a forma grosseira com que se tem buscado reproduzir o real.
É um tipo falseado de naturalismo, hoje orquestrado por uma indústria que o anula
justamente na maneira como o evidencia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AMG</b> De alguma forma há um lugar
da infância que assalta os seus textos?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Nunca estamos longe da infância.
Há quem prefira dizer de outra maneira: jamais nos livramos da infância. A psicanálise
adora esta nossa má compreensão do assunto. Há todo um capítulo em <i>Estudos de
Pele</i>, “Rastros de um caracol”, em que se tem a presença de um garoto às voltas
com o que lhe foi determinante para o resto da vida. Mas a todo instante as personagens
deste livro estão voltando à infância. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AMG</b> Ou seja, é o mesmo livro
que tem vindo a escrever, igualmente oriundo desse lugar do menino, sempre aliando
drama e lirismo?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Sempre estamos neste embate
interminável com nossos fantasmas. Há autores em que a variedade estilística denuncia,
mais do que uma voracidade, certa instabilidade emocional. Mas há também o risco
de retórica, diluição, nesse repetir-se à exaustão. Interessa-me sobremaneira expressar
conjuntamente drama e lirismo porque esta é a nossa existência, não extraímos de
nós um ouro puro, mas sim uma pedra mestiça que nos devolve à vida justamente pela
mistura.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AMG</b> “Tudo que somos está fora
de seu lugar,/ festim de simulações,/ sistema sem princípio”? Por isso escreve?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> É um conjunto de ações e
reações, não simplifiquemos. Por mais que eu tente esclarecer o motivo por que escrevo,
haverá sempre algo em mim que escreve por outra razão. Apenas escrevo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AMG</b> E onde persiste o amor,
como questiona um dos seus poemas?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Em toda parte, é um dos
mais obstinados e crédulos dos sentimentos. Tem resistido a tudo em toda a história
da humanidade. Em nome da igreja, da política, sobretudo da dúvida. Creio que mais
temos duvidado do amor do que o afirmado. Convertido em veneração, negociação, saudosismo,
andou por todas as partes e atualmente é apenas fílmico, embora a crônica policial
esteja repleta de crimes passionais. Lendo a poesia que se publica hoje é bem possível
algum cronista futuro enunciar que os poetas estavam muito aquém do amor.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AMG</b> Amor, liberdade e poesia
lado a lado na definição do amor de Breton citado no seu prefácio a <i>O Começo da Busca – O Surrealismo na poesia da
América Latina</i> (2001), que inverte o título da obra de Octavio Paz, <i>La Búsqueda del Comienzo. </i>Trata-se de uma
antologia de poetas acompanhada de um estudo, um historial da prática do Surrealismo
na América de Língua Portuguesa e castelhana, incluindo ainda um conjunto de entrevistas.
Essa busca de que fala mal começou?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Este é um livro isolado
se fizermos um mapa editorial brasileiro e buscarmos suas relações com a América
Latina. O abismo entre as duas culturas – se definidas apenas do ponto de vista
idiomático – constitui já um vício histórico, um tipo de droga legalizada. Eu posso
publicar 10 livros iguais a este e nada se altera. O que se passa é que a cultura
brasileira não pode propor diálogo com outra cultura enquanto não existir por si
mesma, e não existirá enquanto não compreender suas raízes e brigar por elas. Não
importa quanta exceção se produza aqui, seguimos colonizáveis. Não nos livramos
de tal estigma.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AMG</b> A presença do Surrealismo
do Brasil (com pouca penetração, no seu entendimento, por causa da tradição positivista)
não só é desconhecida, mas ocultada (e por vezes negada) pela crítica e pelo poder
cultural?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> É a tal relação de intimidade
que o Surrealismo propunha entre vida e obra. Isto é um inferno para a intelectualidade
brasileira, que jamais viu na criação uma razão de ser. Antes ao menos havia uma
reação por conta do catolicismo aqui imperante, mas hoje é apenas ignorância, repetição
acrítica de um modelo preconceituoso.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AMG</b> Enquanto estudioso do Surrealismo,
tem procurado, de alguma forma, evitar aquilo que chama “falseamento da história”?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> [risos] Eu tenho cobrado
isto a todo instante, inclusive de mim. A memória é subornável. É mais: é uma grande
cafetina. A história está nas mãos desta Sra. Agora, não nos esqueçamos que a história
tem um relator: o homem.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AMG</b> Considera ter havido negligência
brasileira para com a cultura dos seus vizinhos? E em Portugal, cuja poesia tem
acompanhado de perto, que fizeram da herança surrealista?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Lendo as cartas do António
Maria Lisboa se percebe o quanto que ele chamava a atenção para os riscos da ortodoxia.
Este sempre foi o grande dilema da recepção do Surrealismo em outras culturas, evitar
a tentação de ser mais real que o rei. Os dois nomes fundamentais do Surrealismo
em Portugal estão ainda vivos: Mario Cesariny e Cruzeiro Seixas. O desdobramento
proposto por ambos, distinto entre eles, foi bastante construtivo e evidente, o
que surpreende que um estudioso como Perfecto Cuadrado trate do assunto como um
capítulo vencido da história portuguesa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AMG</b> Molina disse, numa entrevista,
que “nenhum poeta pode deixar de querer o Surrealismo”. Entendida como referência
histórica, e na acepção de um humanismo poético, a afirmação faz sentido, mas não
será excessiva?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Mas o que não é excesso
no Surrealismo? Considerando os inúmeros exemplos de uma poesia hispano-americana
que hoje caiu no ardil de um novo formalismo, como é o caso do neobarroco, que faz
esta poesia retroceder aos seus primórdios modernistas – o que equivale, em termos
brasileiros, ao parnasianismo –, eu acho que Molina estava correto ao afirmar aquilo,
pensando não propriamente em uma receita surrealista, mas sim no espírito de liberdade
que permeava o Surrealismo, enfim, que o poeta, qualquer, não seria poeta sem defender
aqueles princípios, que em circunstância alguma se pretendiam escolásticos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AMG</b> A dimensão política da arte
tem sido motivo de reflexão sua, bem como tem feito uma crítica feroz à poesia que
se tem vindo a praticar no Brasil há algumas décadas. Mais uma vez solitário?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> É que os poetas acham que
dão em árvore ou que compram joguinhos de construção poética em livrarias. Uma gente
sobrenatural, talvez. Alienados ou cínicos? É irritante o fato de que ninguém se
compromete com nada neste país. Vivemos um estado de letargia da indignação. Engraçado
é que, a todo instante, um tolo se auto-proclama a antena da raça. O poeta não faz
ideia do quanto é cúmplice do crime que nos deforma.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AMG</b> Poeta, ensaísta, tradutor,
editor, jornalista, director com Claudio Willer, da revista <b>Agulha</b>, coordenador do projecto editorial
<i>Banda Hispânica</i>… Qual a faceta que impera
em todas as suas actividades, a do poeta?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Nenhuma dúvida. Tudo isto
são decorrências do poeta. Não tenho formação acadêmica. Sou o franco-atirador,
o autodidata. Esta postura se reflete em tudo o que faço, onde a versão oficial
é a primeira a ser posta em questão, mas em momento algum evidenciando o <i>underground</i>
apenas por sua condição marginal. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AMG</b> Como escreveu André Breton,
“a poesia faz-se na cama como o amor”? Ou seja, é nesse estado de “beleza convulsiva”
que se escreve para “salvar” a vida?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Eu não diria <i>salvar</i>,
termo já melodramaticamente incorporado por Hollywood. Mas é evidente que a poesia
se faz na cama como o amor. Ela se torna presente em nós não apenas no verso, mas
na maneira como nos identificamos com cada coisa em nossa vida, uma canção, aquela
imagem de repente referida de uma exposição, o amor, caminhar pela rua com um amigo,
um sonho, saudade, esta entrevista… Onde a intensidade do que fazes? Brincando com
os filhos, pesquisando sobre qualquer tema, abrindo um vinho, recordando a cena marcante
de um filme… Por onde a vida se torna convulsiva? A poesia não responde. A poesia
é a grande fonte de inquietudes. Trate de viver, não de vivê-la. Ninguém consegue
viver a poesia. Mas que delícia que é cada um tratando de viver a si mesmo…<span style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> [2005]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 8pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">[Entrevista concedida a Ana Marques Gastão.
Originalmente publicada no portal <i>Cronópios</i>, São Paulo, 19/04/2005.
Integra o livro <i>O hábito do abismo (Entrevistas com Floriano Martins)</i>,
de Márcio Simões (ARC Edições: Fortaleza, 2013).]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
http://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/http://www.blogger.com/profile/15464755224800829626noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5262314379244716711.post-83182621059540341022014-10-12T05:17:00.002-07:002014-10-12T05:17:58.955-07:00UMA AGULHA NA REDE DA MESTIÇAGEM | Entrevista a José Ángel Leyva<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<br /></div>
<div align="center" class="ecxmsonormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: center; text-indent: -14.2pt;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-XU8stdk7_jY/VDpxO8B35tI/AAAAAAAABNU/knZsnBlPLuk/s1600/FM%2B%26%2BJos%C3%A9%2B%C3%81ngel%2BLeyva%2B(Fortaleza%2C%2B2004).jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-XU8stdk7_jY/VDpxO8B35tI/AAAAAAAABNU/knZsnBlPLuk/s1600/FM%2B%26%2BJos%C3%A9%2B%C3%81ngel%2BLeyva%2B(Fortaleza%2C%2B2004).jpg" height="316" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-TRAD">JOSÉ ÁNGEL LEYVA</span></b><span lang="ES-TRAD">
Comencemos por el poeta Floriano Martins, un cosmopolita en su Aldeota, Fortaleza,
donde reside para dispararse incesante al mundo de los cibernautas. </span>En esa perspectiva ¿qué significa
novedad para Floriano?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FLORIANO
MARTINS</b>
A novidade é uma colheita, ou seja, há que plantá-la. Mas é também uma colheita
do espanto, pois o que mais me atrai nela é sua capacidade de surpreender. Para
tanto, é preciso estar conectado ao mundo com todos os sentidos, entregue a essa
permuta de alta voltagem do espírito que a vida nos ensina a viver. Curioso é que
a <i>mídia</i>, que mais afirma interesse na novidade, esteja sempre amparada no
estabelecido. Inclusive o que ali se apresenta como novo é sempre uma diluição,
do ponto de vista estético, sempre um retrocesso, uma máscara, uma fraude. Evidente
que a viagem pela Internet permite o encontro com inúmeras formas da <i>novidade</i>.
Mas há que saber navegar, sempre. Há que saber navegar…<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-TRAD">JAL</span></b><span lang="ES-TRAD"> Reconoces en tu
escritura poética el embelezo por el discurso surrealista en lo que a la estética
se refiere. Muchos poetas influenciados por ese <i>ismo</i> han negado su participación
e influencia, incluso el haber pisado alguna vez sus terrenos. Tú no sólo recorres
dicho territorio sino que exploras su subsuelo en América Latina. </span>¿Puede decirse que insistes
en cultivarlo? ¿por qué?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM </b>Incontáveis motivos: as imagens
cortantes, vertiginosas, estimulantes; o caráter da escrita; a atenção pelos grandes
abismos da realidade; a percepção intensa de um sentido de recusa; a incessante
aventura exploratória dos mistérios que definem a existência humana; o diálogo audacioso
com os lugares comuns… Evidente que a relação com o Surrealismo não pode se restringir
ao ingresso em uma formação grupal. Eu já vivi uma experiência de grupo e ela foi
algo desastrosa, porque há filamentos da ortodoxia que se enredam na prática das
relações. Mas observemos como certa indeterminação, no que diz respeito à afinidade
de alguns poetas e artistas com o surrealismo, esteja ligada mais a um sentido de
oportunismo do que propriamente a um questionamento adequado. O que em muitos casos
poderia ser uma crítica consistente em relação às falhas eventuais – e sabemos que
elas são inúmeras –, acaba por se transformar em um jogo desqualificado de egos
indomáveis. A percepção do Surrealismo no continente americano tomou um caminho
algo distinto, sobretudo considerando o fato de que a estadia dos franceses (sempre
capitaneados por Breton) nos Estados Unidos e no México esteve pautada pela formação
de um gueto, uma espécie de colônia europeia, onde o francês era mantido como língua
única. Uma contradição com a ideia de Artaud ao considerar o surrealismo como uma
“nova espécie de magia”, ou da esperança – que acabou sendo frustrada – de César
Moro, de que se tratasse de uma “cita de las tormentas portadoras del rayo y de
la lluvia de fuego”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-TRAD">JAL </span></b><span lang="ES-TRAD">Empleas la imagen
del espejo para indicar la insensatez del hombre ¿Qué ves ven esas criaturas? ¿Su
engañosa figura endiosada o su camino inevitable hacia la muerte?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM </b>O que o espelho reflete de
cada um de nós nem sempre está visível em nosso próprio entendimento do ser. Se
as relações humanas foram se tornando um quase inquebrantável jogo de aparências,
isto se deve ao fato do homem haver tecido um abismo entre imagem e identidade.
Para reconhecer a si mesmo é preciso agora deformar espelhos? Mas quem diabos é
esta criatura que a todo instante se evita e cobra identidade apenas nos demais
da espécie? Estas são leituras clássicas da poesia em todos os tempos. Mas quem
garante que o homem em nossos dias esteja interessado em refletir (sobre) sua humanidade?
O fato de havê-la perdido, já nos dá a resposta. Por outro lado, o que tem feito
a arte – quando o faz seriamente –, senão põe o homem diante de um espelho? Talvez
o homem mereça mesmo o estado em que chegou, e não esteja mesmo interessado em quem
se preocupe com essa humanidade perdida, cuja relevância jamais percebeu.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-TRAD">JAL </span></b><span lang="ES-TRAD">¿Qué le preocupa
al poeta Floriano: la muerte o la palabra muerte?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM </b>Preocupa-me esta separação
que tua pergunta sugere, como se acaso uma coisa fosse a experiência de vida e outra
a linguagem. Ruína ou pesar, essa entidade é parte de nossa vida no momento mesmo
em que a iniciamos. Consciente ou não, está presente em nós. As crianças não têm
consciência da morte nem da linguagem. Qual dos dois choques de consciência será
mais determinante na vida delas? Não será um único abismo? Os poetas desafiam a
morte ou a palavra morte? E por onde se alastra o conceito de <i>morte</i>? Considerando
certa primazia do domínio da linguagem, descartando sua relação intensa com o viver,
eu diria que estamos nos afastando tanto da morte que um dia ela não será mais do
que uma palavra. Então já estaremos demasiado mortos para perceber o equívoco em
que nos metemos. Por outro lado, o que tem feito o homem em prol da palavra no sentido
de que a mesma o salve de si mesmo? São questões filosóficas, no geral. No livro
de registros de uma delegacia de polícia a situação é outra. A rigor o homem chegou
a uma dicotomia grosseira: autor e vítima do mesmo crime. A criminalidade tornou-se
um dado assustador e determinante de nossas vidas – não me refiro simplesmente ao
jogo passional dos disparos, mas a uma sofisticação que envolve tanto corrupção
quanto pedofilia. Nada mais <i>débil</i> hoje em dia do que a ideia de um transgressor.
Evocar a transgressão é não conhecer os códigos em que essa linguagem atua. Como
é possível dizer:<i> ah tudo o que eu queria era um poema de amor</i>? Então não
distingo uma coisa da outra, porque posso estar vivo ou morto pela palavra, e isto
não fazer sentido algum.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-TRAD">JAL</span></b><span lang="ES-TRAD"> ¿Qué papel desempeñan
en tu poesía la plástica y la música, ¿Cómo las incorporas o las refieres?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM </b>Talvez eu pudesse dizer que
se trata de uma questão de oportunidade, considerando o fato de que meus pais ouviam
muita música e que era igualmente intenso o acesso a edições de obras plásticas.
Mas o que havia de mais impressionante em casa, para uma criança, era a quantidade
de livros da biblioteca de meu pai. Então eu presumo que a diversidade com que as
coisas se apresentavam diante de mim tenha sido determinante. Mas claro que tudo
isso se encaixava em certa natureza insaciável, algo que segue caracterizando tudo
o que faço. O fato é que o mundo não nos absorve através do que lemos, mas antes
através do que ouvimos, vemos, tocamos, cheiramos, degustamos. A leitura – compreendida
em seu aspecto habitual – não é um dos sentidos humanos, mas sim a conseqüência
da atuação plena desses sentidos. Em grande parte a fixação dos intelectuais pela
leitura vem de seu temor de misturar-se à matéria queimante da existência. Quando
escrevo – e nisto é preciso que se diga que não penso senão raramente em um poema
em isolado – estou sempre imaginando toda uma plasticidade, dinâmica, argumento
etc. É como se me sentisse mais um dramaturgo do que propriamente um poeta. <span lang="ES">Imagino o poema-livro como algo que aja tridimensionalmente. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-TRAD">JAL </span></b><span lang="ES-TRAD">Entre una poesía
del lenguaje y una poesía inquieta aún por el hecho mismo de la vida, más preocupada
por conmover, tocar al lector, es que advierto se mueve tu poesía. Quiero decir
que no es experimental hasta sus últimas consecuencias, no pretende el balbuceo,
el juego fonético o la segmentación semántica, sino que se desliza por una lógica
más o menos incluyente. </span>¿Qué
opinaría un surrealista de ello?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM </b>Muitos surrealistas diziam
– dizem ainda – que a poesia está em outro lugar. Mas qual seria este outro lugar?
Quantas vezes <i>o estado de verdade imediata</i>, defendido por Tristan Tzara,
foi além das obras de circunstâncias a que se referia André Breton? O primeiro leitor
que um poeta deve arriscar-se a tocar é ele próprio. É impressionante a quantidade
de poetas que andam pela vida sem se deixar tocar pela poesia. Apesar do surrealismo
a poesia continua sendo percebida como um jogo de palavras, apenas. Para mim, o
experimental não dissocia instrumento e sensação. Quando digo que o que nos impressiona
se imprime em nosso espírito isto não é de todo apenas um jogo de linguagem. Mas
é necessário que haja uma verdade nisto. Caso contrário, a comoção torna-se panfleto,
regra. O instrumento é um recurso. Entendemos bem quando o assunto é um piano. Ah
sim, trata-se de música… Mas quando o verbo está em questão… É a minha vida que
supera a escrita e nunca o contrário, por mais que eu tenha pleno domínio da linguagem.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-TRAD">JAL </span></b><span lang="ES-TRAD">Tus poemas a menudo
se presentan como un panteón lírico, donde uno puede seguir puntualmente la huella
de tus afectos y tus influencias, o mejor digamos tus lecturas, no siempre vanguardistas.
¿Qué hay de cierto en lo que digo?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES">FM </span></b><span lang="ES">Não cabe essa distinção. </span>Não vejo em que circunstância
a poesia não se identifique com o lírico. Claro que não me refiro a panteão, mas
antes ao simples ato da escrita. Estamos a conversar – o poema é uma forma de diálogo,
não? – com o que se passa diante (e dentro) de nós. Tivemos uma sobrecarga no que
diz respeito ao termo vanguarda e isto por vezes gerou um mal-entendimento do que
possa ser substancioso. O conceito de vanguarda foi tanto explorado que vive hoje
um desgaste excepcional. Mas há que entender que uma coisa é o recurso, o diálogo,
a caixa de Pandora, e outra a maneira como o objeto final, saído desse diálogo,
se apresenta. Da maneira como colocas a questão, há uma distinção fundamental em
termos de caráter da escrita no que diz respeito a sua estrita relação com quem
a escreve.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-TRAD">JAL </span></b><span lang="ES-TRAD">Para darle paso
a otra temática, evoco la pregunta que te haces en un verso de tu poemario <i>Alma
en chamas</i> (<i>Alma en llamas</i>): “Qué hombre habita en mí?” ¿Tiene respuesta
esa cuestión?, ¿hay alguien diferente a Floriano que ocupa su existencia y dicta
su poesía?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM </b>Há inúmeros. Não diria que
propriamente distinto de mim ou que dite, em isolado, o que escrevo. Não creio em
voz própria que não seja a consonância de uma multidão de vozes. Algum crítico já
observou a condição sinfônica de minha poética e devo estar de acordo. Somos, ao
menos em parte, aquilo que nos consome. E pôr em dúvida o homem que lhe habita é
o mínimo que um poeta pode exigir de si antes de pretensamente declarar-se uma <i>antena
da raça</i>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-TRAD">JAL </span></b><span lang="ES-TRAD">Me has dicho, en
nuestras largas conversaciones por las calles y las playas de Fortaleza, que Brasil
sólo mira a Brasil, asombrado, quizás, por su propio gigantismo geográfico o quizás
confuso por su enorme y bello mestizaje. Tú mismo eres una muestra de que hay búsquedas
para tocar y ser tocado en y por el exterior. </span>¿Excepción o regla?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM </b>Em boa hora esta menção à
mestiçagem. A rigor sempre estivemos na alça de mira de uns obcecados pela pureza,
os tementes de todo tipo de miscigenação, racistas que buscam eliminar a fusão,
o encontro, o encantamento que somente o mergulho no outro propicia, e o fazem por
incompetência, por apego a uma condição mesquinha que nada tem a ver com o argumento
de defesa de uma cultura. O que há de mais forte na cultura brasileira está em sua
mistura, o que acaba por atropelar a muitos a quem simplesmente falta fôlego para
compreender o mundo em pleno torvelinho de experiências inesgotáveis. Não temos
problema de arritmia. O que temos é um excesso, de ritmos e deuses, cuja mescla
tempestuosa por vezes atordoa. Somos a terra plena do transbordamento. A ideia de
um <i>gigantismo</i> tem uma conotação dúbia: por um lado nos cega em relação às
afinidades culturais evidentes e por outro lado desperta certa inveja no tocante
ao que nos é aparentemente superior. Não é que só olhamos para nós mesmos. Muito
pelo contrário: somos cegos de tudo, inclusive de nós mesmos. Tudo o que era mais
visceral e sofisticado nas imagens poéticas de autores como Celso Luiz Paulini,
Claudio Willer, Rodrigo de Haro e, sobretudo, Roberto Piva, poetas identificados
como de uma geração dos ’60, por exemplo, nada foi percebido pela crítica, e isto
se deu porque essa poesia rompia com certo padrão de formalismo, sobretudo considerando
então a passagem de bastão da Geração de 45 para o Concretismo. Então não é nossa
mestiçagem que suscita uma confusão, mas sim a linha dura de um positivismo que
temos entranhado em nós, cujo beletrismo é apenas uma de suas facetas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-TRAD">JAL </span></b><span lang="ES-TRAD">Además de poeta,
traductor, ensayista y editor electrónico eres un fuerte crítico de la poesía en
tu país, el cual hay que reconocerlo posee una rica tradición poética ¿Qué rescatas
de esa herencia?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM </b>A ideia de uma tradição implica
em transmissão, em reconhecimento. Neste sentido, não se pode falar em tradição
lírica no Brasil, exceto se pensarmos na grande linha parnasiana que define toda
a nossa trajetória poética. Temos que pensar bem nisto. O formalismo ornamental
e edulcorado seria então a nossa tradição? Nas últimas décadas tivemos uns rapazes
que retalhavam a sintaxe, primavam pela incompreensão, simpatizantes da ruptura
a todo custo, inclusive a custo do entendimento dela própria. Ainda estão por aí
alguns desses rapazes. Não, não possuímos uma rica tradição poética. O que se passa
é que em alguns casos a poesia brasileira é melhor conhecida no exterior do que
em casa. Temos uma tradição <i>outra</i>, um rio subterrâneo que tem sido grosseiramente
desprezado. Talvez os mexicanos se lembrem ainda de José Santiago Naud (1935), cujo
livro <i>Piedra Azteca</i> teve unicamente uma edição mexicana (Papeles Privados,
1985). O próprio Jorge de Lima, para muitos a maior expressão poética do país, é
nome de pouca circulação. Ao contrário, abundam as louvações a poetas nitidamente
de segunda linha, como Mário e Oswald de Andrade. A melhor herança a ser resgatada
não é aquela que se detém em nomes, mas sim no caráter que a determina. A cultura
brasileira está muito perigosamente contaminada – o que se acentua mais e mais nos
dias de hoje – por um sentido muito particular de decomposição. Não se trata apenas
dessa avalanche de corrupção que a mídia anuncia a todo instante. Trata-se de uma
depravação de senso ulterior, estamos nos desfazendo por falta de acreditarmos em
nós mesmos. Estamos colhendo agora o fruto de toda uma história de falta de atenção
para o que verdadeiramente somos. Fazer a defesa agora de uma identidade cultural
– a despeito de toda a instância retrógrada que envolve o tema – é de um cinismo,
de um oportunismo descarado, coisa de gente que não quer senão seguir descarnando
o cadáver dessa cultura. Até o último instante, sem drama ou carnaval, quando então
se mudam todos para um outro paraíso fiscal. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-TRAD">JAL</span></b><span lang="ES-TRAD"> ¿Cómo se conforma
desde tu punto de vista la República de las letras (de la poesía) en Brasil?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM </b>Toda casta intelectual se
organiza sempre no sentido de cooptação com o poder. Tal concubinato fez de nossa
república das letras uma jovem senhora muito dedicada aos prazeres da carne, relutante
em considerar a existência do espírito. A ausência de uma tradição crítica – e refiro-me
não à crítica de circunstâncias, mas àquela área da percepção interessada em evidenciar
eventuais equívocos de um texto, propondo-se a iluminar suas zonas escuras, sem
uma determinação judicial que venha a eliminar a obra em questão por discórdia estilística
ou outro mazelo existencial qualquer –, pois bem, essa ausência, já clássica entre
nós, brasileiros, contribui para a persistência pasmada nos mesmos erros, em muitos
casos os mais primários.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-TRAD">JAL </span></b><span lang="ES-TRAD">Sin ánimo de competencia
y de comparación, pero tomando en cuenta tu trabajo editorial y tu larga experiencia
como entrevistador ¿Cómo percibes el desarrollo de la poesía en tu país con respecto
al resto de Iberoamérica (incluyendo a Portugal y a España)?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM </b>Creio até que seria irresponsável
a comparação. Uma coisa é uma seleção de grandes poetas – e isto se pode achar na
Espanha, em Portugal, no Brasil e na América Hispânica (não esquecer que aí a aventura
teria que enveredar por 19 países, com suas peculiaridades magníficas). É bem provável
que os nomes sejam desconhecidos para além de sua restrita área de atuação. Ainda
que de gerações distintas, não creio que gozem do conhecimento internacional que
merecem poetas como José Ángel Valente (Espanha?), Luís Miguel Nava (Portugal?),
Roberto Piva (Brasil?) e Ludwig Zeller (Chile?). Outra coisa é acreditar que essa
resplandecente minoria possa vir a constituir uma competência. Uma característica
marcante do espírito dos poetas brasileiros, em linhas gerais, é o provincianismo,
e digo isto no sentido de que jogam muito com as aparências – da escrita e do caráter,
posto que separam uma coisa da outra. Isto faz com que se tornem reféns de uma compulsiva
novidade, que mudem de roupa (a linguagem, ah esse garfo e faca da linguagem!) ao
sabor do convite que recebem para um evento de turno. Há os que não, sim, há os
que não. Agora me lembro que antes de iniciarmos nossa conversa eu havia me decidido
a não citar nomes. Isto causa uma confusão medonha, porque somos propensos a nos
identificarmos com os personagens errados. Imagine se digo aqui um nome, por exemplo
Hilda Hilst (uff!, esta por sorte já morreu), e ela própria, sim, ela própria, não
entende que essa minha afirmação é uma maneira de me preocupar com algo que me é
afim… Chega de citar nomes. Todos são os brilhantes poetas que se imaginam ser.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-TRAD">JAL </span></b><span lang="ES-TRAD">Por último. ¿Estás
convencido de que el proyecto <i>Agulha</i>, además de poner en contacto
a los escritores de América Latina y el mundo, pueda ser un factor de calidad y
avance en nuestras letras, digamos ¿una aguja sobre el globo de la complacencia
y la endogamia?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM </b>Não tenho dúvida alguma quanto
a isto. A leitura conjunta dos editoriais da <i>Agulha</i> aponta neste sentido,
confirmando a pauta abrangente que temos propiciado em 4 anos de atuação. Decerto
que temos um número de leitores que deve ser considerado. Contudo, pertencemos a
um mundo virtual, com suas rejeições da parte de uma realidade impressa que ainda
não percebeu que fere a si mesma ao nos refutar. Evidente que o que a Internet nos
propicia possui em si a mesma carga de ambigüidade que qualquer outro instrumento.
Sempre será possível salvar ou ceifar uma vida com a mesma arma. <span style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">[2004]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="font-size: 8pt;">[</span><span style="font-size: 8pt;">Entrevista concedida a
José Ángel Leyva. Originalmente publicada em <i>La Jornada Semanal</i>. Suplemento cultural do jornal <i>La Jornada</i>. México, 10/10/2004.</span><span style="font-size: 8pt;"> Integra o livro <i>O
hábito do abismo (Entrevistas com Floriano Martins)</i>, de Márcio Simões (ARC
Edições: Fortaleza, 2013).]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
http://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/http://www.blogger.com/profile/15464755224800829626noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5262314379244716711.post-22139164960425511282014-10-09T17:19:00.000-07:002014-10-12T05:08:35.889-07:00SÁBIO IMPREVISTO | Entrevista a Álvaro Alves de Faria<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<br /></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-ZOYzQpBDveU/VDcl4lbLA8I/AAAAAAAABNA/jjT62pC4flE/s1600/2004%2BFM%2B%5BCaracas%5D%2B1.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-ZOYzQpBDveU/VDcl4lbLA8I/AAAAAAAABNA/jjT62pC4flE/s1600/2004%2BFM%2B%5BCaracas%5D%2B1.JPG" height="256" width="320" /></a></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>ÁLVARO ALVES DE FARIA</b> O que representa este <i>Estudos
de pele</i> na sua obra?<o:p></o:p></span></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FLORIANO MARTINS </b>Gosto do
que diz sobre este meu livro o artista plástico Valdir Rocha, atento ao fato de
que o mesmo “contém versos que carregam poesia, versos típicos de prosa e até despidos
da poesia corrente, prosa que leva poesia, prosa que é prosa mesmo, e por aí vai.
Diz-se a certa altura, com razão, que ‘Não estou bem certo se o domínio de uma linguagem
afiança uma poética'. Reúne poemas e alguns não-poemas; jamais antipoemas. Ilude
sempre. Sinceramente, é muito difícil indicar-lhe o gênero. E isso está longe de
ser defeito porque é virtude. Diria – só para não omitir uma classificação – que
está embebido de poesia. Cabe a quem recebe as confissões do texto ‘aprender a lidar
com o imprevisto'“. Isto é o que se poderia dizer de minha poesia como um todo,
Álvaro, desde que acentuando que à medida que avanço na escritura de novos livros
se vai cavando mais abismo sob os pés, tanto do autor quanto do leitor. O que temos
então em <i>Estudos de pele</i> – e logo o teremos também em <i>Duas mentiras</i>,
livro que será publicado em seguida – é uma intensificação dessa aprendizagem com
o imprevisto. Gosto dessa provocação constante do imaginário, de provocar a mim
mesmo para que não incorra nunca na cristalização de um discurso. <o:p></o:p></span></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AAF</b> No início do livro, você
escreve que “toda a criação está feita de equívocos, exageros, precárias aproximações
da realidade, falsas suspeitas”. Peço que se estenda nesse assunto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM
</b>Quando publiquei
<i>Cenizas del sol</i> (Andrómeda, 2001, Costa Rica), Alfredo Fressia, em resenha
na imprensa uruguaia, considerou que “o discurso, como costuma ocorrer na poesia
de Martins, parte de um não-saber, a ignorância que precede e provoca as reiteradas
perguntas, como em um infinito diálogo interior, para encerrar-se com respostas
intuídas por um <i>observador</i>”. Pode-se dizer que também em <i>Estudos de pele</i>
a mesma trama estética está presente, embora com mais complexidade, pois tanto se
desdobram e rearticulam as vozes convocadas como se multiplica a natureza do discurso,
recorrendo a passagens bíblicas, crônicas policiais, fragmentos autobiográficos,
evocações míticas e relatos de possessão. A linguagem poética ganha em astúcia quando
acentua o que não anda bem nela mesma.<o:p></o:p></span></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AAF
</b>O que me
parece imensa beleza é ler seu livro como se fosse um romance com começo, meio e
fim. Ao mesmo tempo, quero destacar imagens poéticas marcantes, escritas por quem
conhece seu ofício de escrever. Você afirma que não houve nenhuma caridade na escritura
de seu novo livro. O que significa isso?<o:p></o:p></span></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM
</b>A primeira
observação diz respeito à estrutura do livro, que se não é propriamente romanesca
tampouco se trata de uma simples coletânea de poemas soltos. Todo o livro se encontra
<i>montado </i>partindo da ideia de uma polifonia. E aqui cabe recorrer uma vez
mais ao que mencionas na pergunta anterior, sobre os exageros e fantasias que neste
caso, à diferença de um livro como <i>Dom Quixote</i>, não se concentram na voz
única de um narrador, mas sim num caudal de tramas secundárias que acabam conformando
aquele “rio onírico”, digamos, evocando a aguda leitura que Milan Kundera faz da
poética de Kafka, remetendo-nos a um “longo fôlego da imaginação” que tão bem se
descortina na obra do autor de <i>Castelo</i>. Já em relação à caridade aludida,
situemos o contexto em que ela se dá, sempre considerando esse jorro incessante
de vozes que ambienta os cenários constitutivos do livro. Isto nos leva à ideia
de visitação que menciono no início, lembrando que todas as vozes femininas estão
por conta própria, que me procuraram para que eu lhes desse passo a seus depoimentos
viscerais. São elas que fazem do autor seus inesgotáveis estudos. As mulheres de
<i>Estudos de pele</i> são um retrato de nossa perda de sensibilidade. É do que
nos acusam em todo momento. Tanto recorro a personagens bíblicos, pela notória violência
sofrida pela mulher nas tábuas fundamentais do catolicismo, quanto à atualização
desses padrões de sofrimento induzido. Estão presentes tanto as discordâncias cotidianas,
na maneira de compartilhar a vida, quanto suas perspectivas míticas, as estranhezas
manifestas, por vezes místicas. Estas mulheres não têm medo de dizer do que padecem:
do abandono completo por parte de uma irracionalidade que assume o comando como
sendo a supremacia humana.<o:p></o:p></span></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AAF</b> Repito a você a pergunta
que faço a todos os poetas que entrevisto: afinal, a poesia serve para quê?<o:p></o:p></span></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM
</b>A rigor,
já sabemos a resposta, conhecimento que também não serve para nada, pois a perversão
se encontra na pergunta, que pode muito bem ser contestada com outra indagação:
por que deveria servir a poesia para alguma coisa? Por aí não chegamos nunca a parte
alguma. Já chega de tanta tolice que <i>serve</i> apenas para a pirotecnia de quem
exibe malabares como sendo sua razão de ser. A <i>serventia</i> está ligada à ideia
de manipulação. O que perdemos, poetas? Perdemos o prazer pela existência, o mergulho
intenso no inapropriado, no inesperado, a cumplicidade com o imprevisto, até com
o indesejável, e saber tratar disso como quem se dispõe a receber novos ensinamentos,
abrir-se ao mundo, sim, Álvaro, abrir-se ao mundo, fugir da manipulação desonesta
que separa arte e vida, por exemplo, porque não há mesmo vida sem forma, existência
desgovernada em um plano estético. Então, a questão não é para que serve a poesia,
mas sim para que servimos nós, seres humanos. E para que servimos nós?<o:p></o:p></span></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AAF
</b>Os poetas
de sua região [o Nordeste] sofrem de preconceitos especialmente pela região sul
do país tropical de tantas alegrias e misérias? Quais são as dificuldades dos poetas
dessa região brasileira?<o:p></o:p></span></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM
</b>Não vamos
acentuar caipirismos e regionalismos. As dificuldades do país não afetam aos poetas
mais do que a qualquer outro cidadão. Evidentemente que as oportunidades de trabalho
confluem para o que se chama de eixo Rio-São Paulo, especialmente, no caso dos escritores,
no âmbito editorial. Não é diferente em outros países, diferenciados por aspectos
como dimensão territorial e condições econômicas e culturais. Trata-se basicamente
de uma aposta reincidente, viciada e desgastada de manutenção de um grande centro
produtor, centro de referência, barreira que requer um esforço maior para ser dissipada,
uma atenção no sentido de não se importar um mesmo modelo, para cada região, digamos,
de novo caipirismo. É difícil, porque a grande imprensa comanda o espetáculo e distribui
a todos, indiscriminadamente, o mesmo <i>santinho</i>, a mesma carta marcada de
seu baralho de futilidades existenciais. Mais difícil ainda porque todos sonham
em virar carta marcada.<o:p></o:p></span></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AAF
</b>Eu penso
que a crítica literária brasileira – honradas algumas raríssimas exceções – já morreu
há muito tempo, ficando no seu lugar um bando que prima pela desonestidade e pela
desinformação cultural. O que você pensa da crítica literária dos jornais brasileiros,
especialmente no trecho Rio-São Paulo?<o:p></o:p></span></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM
</b>Não te esqueças
que as exceções servem apenas para confirmar a regra. Quem se preocupa com a crítica?
Evidente que o leitor é um refém dela, um cliente a quem o marketing de venda trata
com o mesmo desapreço que qualquer outro consumista. A ausência de reflexão sobre
livros e autores em nossa imprensa não denuncia carência de visão crítica, como
se o país estivesse momentaneamente desprovido de certa falta de argumentação e
acuidade. O dilema central é o do comportamento de nosso intelectual, ou seja, há
conivência por toda parte, todos sonham com o apogeu, a glória, buscam – até com
incontrolável exasperação – um lugar ao sol, confundindo causa e efeito, sempre.
Não se trata de setorizar a questão. Não há uma crítica <i>regional</i>, pois o
que se veicula, a título de crítica – que não passa de um bolsão de resenhas definidas
e apanhadas à pressa, além de mal pagas e com atraso – é assinado por gente de qualquer
credo ou região. Eu sinto a tua preocupação, quase uma zanga, com o que se passa
entre Rio e São Paulo, mas agora mesmo estamos em diálogo aberto em um jornal no
Paraná, o que significa expressivamente que é possível buscar algo além do que chamei
de caipirismo. O exercício da crítica tem a ver com despojamento, com clara intenção
de diálogo, e não com o impositivo. Qual crítica morreu há muito tempo? Dois grandes
estilos de crítica ganharam terreno no Brasil: o adjudicatório, onde a vítima paga
pelos erros de sua eventual vinculação com o criminoso, seja uma escola literária
ou uma mera preferência declarada em entrevista; e o evocatório, que – mais astuto
– dispensa explicações. Em resumo: aos amigos da corte, tudo; a seus desafetos,
nada. isto é crítica? Chegou a ser algum dia?<o:p></o:p></span></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AAF
</b>Por que
e para quem escrever poesia? Quem lê poesia no Brasil?<o:p></o:p></span></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM
</b>Isto me
recorda o Fellini. É como se alguém ao final de um filme – e este filme representasse
não apenas a sua vida, mas toda a existência humana – indagasse: mas afinal, para
que serviu este filme? E então se poderia refletir que algo se passou de errado,
de muito errado com o filme, pois ele não deveria suscitar tal indagação, porque
todo o filme havia padecido da <i>pretensão</i> de olhar o mundo por uma outra lente
que não fosse a do <i>sentido histórico</i>. E então Fellini, numa entrevista a
Giovanni Grazzini, nos dá a chave: “Olho para o cotidiano, enquanto estou vivo.
O resto é especulação”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AAF</b> Explique o seu trabalho
na poesia de vários países latino-americanos, desenvolvido há tanto tempo, organizando
antologias e eventos, levando a poesia brasileira para fora do país. Por incrível
que possa parecer, ainda existem na literatura pessoas como você.<o:p></o:p></span></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM
</b>Não sou
dado a falsas modéstias, mas tampouco me atrai a ideia de ficar a enumerar feitos.
Gostaria que este meu trabalho ao menos provocasse um mal-estar, no sentido que
houvesse uma atenção para a indagação-chave: por que evitamos o diálogo entre nossas
culturas? Por que mesmo escritores, intelectuais, artistas, jamais promoveram a
aproximação dessas culturas? Por que os acordos recentes entre países latino-americanos
desconsideram a cultura desses povos? Por que reagimos de forma tão apática quando
a pauta trata da cultura do país, em contrapartida à maneira efusiva com que saltam
de órbita nossos olhinhos quando a única peça em questão no tabuleiro é o umbigo?
Evidentemente que as estratégias do mercado artístico, por exemplo – se pensarmos
em cinema ou música – delineiam-se buscando novos clientes, nada mais. Se nos submetemos
todos a essa regra básica, tudo está perfeito. E como em um negócio qualquer, se
a qualidade do produto foi substituída pela eficácia da apresentação do mesmo, sua
retórica, digamos, como esperar da música ou do cinema, que queira voltar a ser
arte? Pelo contrário, toda a arte agora quer ser cinema ou música. É uma grande
enrascada em que nos metemos, e com a plena conivência dos artistas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AAF
</b>E o seu
trabalho de tradutor?<o:p></o:p></span></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM
</b>Imaginemos
a cena em que um tradutor tenta obsessivamente evitar o original que está a traduzir.
A todo custo tenta construir ali um objeto outro, o mais longe possível do original.
Este será – segundo pensa – seu grande mérito. A lição – a não ser repetida por
ninguém – é de que a tradução quer fazer com que o original desapareça por completo.
Porém, sua grande perversão consiste no fato de que, mesmo <i>ausentado</i>, ele
esteja sempre presente, com sua nova máscara, porque afinal a linguagem se transmite
de máscara em máscara. Existem três determinantes estilísticas no trabalho de um
tradutor: o estilo comum, o estilo do tradutor e, finalmente, o estilo do autor.
É possível reduzir as <i>transgressões</i> de um autor a um mero idioma bem escrito,
dialogar intensamente com elas ou destroná-las em nome da hipotética transgressão
do tradutor. Teríamos aí os três estágios em que se movimenta a tradução: sufocação,
despojamento, presunção. Creio que há apenas uma<i>originalidade</i> na tradução:
a de perceber – e jamais será exata essa percepção – o grau de transgressão do que
se está a traduzir. O resto é traquinagem, ou crime de lesa linguagem.<o:p></o:p></span></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>AAF
</b>A poesia
brasileira atual, em muito casos, deprime, tal a inconseqüência de alguns nomes
que têm respaldo da festividade do jornalismo cultural sem compromisso. Isso ocorre
também em outros gêneros da literatura, mas no que diz respeito à poesia essa questão
é alarmante. Então, para concluir, como anda a poesia brasileira hoje?<o:p></o:p></span></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="ecxmsonormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM
</b>Desconfio
que a poesia feita no Brasil sempre levou o que se poderia chamar de uma vida dupla:
de um lado a vertente explícita, encorajada pela crítica acadêmica e a mídia, ou
seja, sua agradável estação formalista, onde Semana de Arte Moderna e Concretismo,
eventos de maior circulação internacional, representam uma mescla de conservadorismo
e alheamento em termos de contato com a realidade. Observe-se que manifestos de
uma tendência e outra se aproximam na estratégia de não reconhecimento do que está
à volta ou atrás. Se o Modernismo simplesmente apaga as pistas que lhe são mais
caras, no caso do Concretismo há uma presunção em negar tudo o que lhe antecede.
Por outro lado, há a gestão solitária de eclosões que acabam por traçar um mapa
mais denso de nossa cartografia poética. Evidentemente que isto se passa em qualquer
parte. Mas por vezes me impressiona a maneira como um ilusório <i>status quo</i>
da poesia encanta o que há de mais medíocre, catadores de versos que perseguem uma
condição que, a bem da verdade, quem a tem, de fato, se sente incomodado com ela.
Os poetas são uns chatos, que sempre alertam para as tolices cometidas pela espécie
humana. Como alguém pode sentir prazer em ser poeta? É de uma morbidez impecável.
Mas todos querem se sentir poetas. É o lado espetacular da coisa, onde a sensação
tem mais importância do que o poema em si. O personagem ganha a parada. O poeta
em nossos dias não busca senão tornar-se personagem de si mesmo. Nem precisa escrever
versos. É tão simples e ao mesmo tempo todos parecem felizes com a situação: críticos
e editores e poetas se felicitam por esse acerto de ocasião. Nas outras artes também
se passa o mesmo. O que antes se poderia pensar que era uma fábrica discreta de
autores, agora ganha uma logística mais apurada: trata-se de uma fábrica de leitores.
Pensemos no cinema, por exemplo, naqueles atores que estão sempre a estragar as
cenas porque exibem um patético olhar de quem se sente extasiado com a própria –
e suposta, claro – genialidade: Antonio Banderas e Hally Berry são boas lembranças
deste caso. Para melhor compreensão, misturemos as artes – já não seria sem tempo.
Acabaríamos percebendo que, no geral, uma vez que estamos falando de Brasil, o poeta
tornou-se um grande canastrão.<span style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> [2004]<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 8pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">[Entrevista concedida a Álvaro Alves de Faria. Originalmente
publicada no <i>Jornal<span class="ecxapple-converted-space"> </span>Rascunho</i><span class="ecxapple-converted-space"> </span># 54. Curitiba, outubro de 2004. Integra
o livro <i>O hábito do abismo (Entrevistas com Floriano Martins)</i>, de Márcio
Simões (ARC Edições: Fortaleza, 2013).]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
http://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/http://www.blogger.com/profile/15464755224800829626noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5262314379244716711.post-56829926596868658962014-10-09T17:13:00.001-07:002014-10-12T06:10:20.283-07:00PALAVRAS PRELIMINARES | Entrevista a Jorge Ariel Madrazo<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-DQ31ASkOYwI/VDp9mH-H7bI/AAAAAAAABOk/3oGEjSoaZtw/s1600/FliPorto%2B%5B2007%5D%2BJorge%2BAriel%2BMadrazo%2B(Argentina)%2B%26%2BFloriano%2BMartins.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-DQ31ASkOYwI/VDp9mH-H7bI/AAAAAAAABOk/3oGEjSoaZtw/s1600/FliPorto%2B%5B2007%5D%2BJorge%2BAriel%2BMadrazo%2B%28Argentina%29%2B%26%2BFloriano%2BMartins.JPG" height="240" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-AR">JORGE ARIEL MADRAZO</span></b><span lang="ES-AR"> Comienzo asombrándome por tu entrega a un apasionado y
doble andarivel. En efecto, junto a tu quehacer creativo cumples una inusual tarea
de difusión y crítica de otros poetas<b>:</b>
brasileños y, en mayor medida aun, hispano-hablantes. Muchos de ellos, mal conocidos
inclusive en nuestra lengua. Un puente inter-cultural que abarca libros y espacios
como <i>Agulha</i> y <i>Banda Hispánica</i>. Desusado, además, por tu conocimiento de esas poéticas
y tu voltaje polémico. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FLORIANO MARTINS</b> O mais importante aqui é manter o ego no
lugar, não deixá-lo de todo solto. Sempre que posso, venho chamado a atenção para
nomes essenciais, na cultura de meu país, e também em toda a América Hispânica,
e creio que assim vamos contribuindo para a difusão de suas obras. O que estamos
tentando fazer na <i>Agulha</i>, Claudio Willer
e eu, é não somente recuperar alguns autores do passado, mas, sobretudo, revelar
algumas novas fontes de reflexão. Estamos carentes de reflexão, de apostas mais
profundas em buscar soluções para velhos problemas numa margem e outra da América
Latina. Já a <i>Banda Hispânica</i>, nela o que
conta é sistematizar uma zona de pesquisa sem privilégios de qualquer ordem. A intenção
é formatar um imenso banco de dados, disponível para pesquisa em área acadêmica
ou artística, um lugar de encontro onde essa cultura múltipla possa se expressar
livre das demanda casuística que já bem conhecemos. Como vês, nada de intencionalmente
polêmico. São áreas esvaziadas e que necessitam ser recuperadas. E te digo que estou
apenas começando. Há uma grande rede de conexões se preparando para um envolvimento
maior, uma difusão mais ampla e sólida.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>JAM</b> En tu libro <i>O Começo da Busca – O Surrealismo na poesia da América latina</i> (2001)
te ocupas de más de una docena de autores, y rechazas cualquier fosilización del
Surrealismo como mera escuela o grupo históricamente datado. <span lang="ES-AR">¿Qué rasgos permiten hoy, entonces, tal adscripción? ¿Fidelidad
a la fascinante utopía de borrar las fronteras entre arte y vida, o incluso “cambiar
la vida”? ¿El poeta -y el poema- como ejes de una subversiva <i>alma en llamas</i> individual-colectiva? ¿La
priorización del automatismo psíquico? ¿Perseguir el punto donde se unan real e
imaginario, sueño y vigilia, razón y locura?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-AR">FM</span></b><span lang="ES-AR"> Em carta remetida a Osiris Troiani, disse Aldo Pellegrini
que “el surrealismo no es la creación de un solo hombre y en su formación han confluído
todas las corrientes que señalan la insurrección esencial del hombre del siglo XX”.
</span>Naturalmente que essa insurreição requer uma fidelidade a si
mesmo – a fidelidade ao outro é um sofisma cristão – e o homem é livre para cometer
suas contradições. O que se passa com o Surrealismo é que parte de uma aposta muito
profunda e ampla onde o dogma pode levar a certos prejuízos ou riscos. Como apagar
as fronteiras entre arte e vida hoje? Como <i>mudar
a vida</i> em meio a essa dinâmica estática que rege nossa época? É possível como
sempre o foi: na fluidez solitária e silenciosa de uma obsessão. O anúncio de qualquer
coisa sempre privilegiou o superficial, o leviano. A comunicação de massas não passa
de customização de massas. Com isto percebemos que a melhor maneira de ser surrealista
é recusar-lhe o dogma. As experiências com sonho hipnótico em Robert Desnos de alguma
maneira se entrelaçam com a busca de iluminação em René Daumal, e penso que os dois
casos podem ser aqui lembrados por um único motivo consistente: a fidelidade a si
mesmo. Esta me parece a maior contribuição do Surrealismo: a afirmação insubornável
do mais íntimo em nós, a grande convulsão do ser. Não é preciso tirar carteira de
clube para isto, ou restringir-se a um tempo dado, histórico.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-AR">JAM</span></b><span lang="ES-AR"> ¿Es válido llamar surrealistas, sin reservas, a poetas
inclusive de la relevancia de un Enrique Molina, cofundador con Pellegrini de <i>A partir de Cero</i>, que reconoció con fervor
la impronta surrealista pero reticente -salvo quizás en tramos de <i>Amantes Antípodas</i> y <i>Las Bellas Furias</i>- a la alogicidad y desenfreno asociativo del Surrealismo
(distanciamiento más acentuado aun, creo, en Olga Orozco, por su parte más cercana
al gnosticismo y a la nostalgia de un absoluto religioso)? ¿Y qué pasaría con los
poetas cuya obra mayoritaria se alejó de esta corriente? ¿O los que se amoldaron
al sistema? ¿Por qué rechazar las expresiones <i>para-surrealismo,</i> <i>afin al surrealismo,
</i>etc?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Aldo Pellegrini era possuidor dessa mescla
de visão e revelação que somente cabe aos grandes espíritos. É admirável esse momento
na história de nosso continente em que se pode contar com um antagonismo confluente
da ordem do que regiam Pellegrini e Raúl Gustavo Aguirre. Creio que devemos considerar
do Surrealismo, em suas origens, a inúmera possibilidade de expansão. Lamentavelmente
no Brasil havia uma presunção em curso que impedia perceber a ideia central já oferecida
por Lautréamont de uma poesia feita por todos. O gnosticismo de Olga Orozco ou o
orfeísmo de Rosamel del Valle devem ser considerados como identificações valiosas.
Definem-se por uma liberdade intensa e aportam com imagens surpreendentes. As religiões
sempre possuíram um caráter restritivo, no que difere o sentido do religioso. Ainda
hoje cabem cuidados para que o Surrealismo não seja confundido com uma doutrina.
As denominações aproximativas que sugeres são quimicamente inaceitáveis. Mas não
há um sistema surrealista que se imponha como a desejada escola cultuada por alguns
equívocos. Cabe deixar-se tomar por essa fúria valiosa do contato de realidades
à volta, a maneira como estou dentro e fora do mundo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-AR">JAM</span></b><span lang="ES-AR"> ¿Cabrá rescatar, como postula el poeta español Angel Pariente
en el diálogo que transcribes en <i>O Começo
da busca</i>, que el Surrealismo sería en esencia libertad y contradicción, y querer
acotarlo es vano afán escolástico, o que bien puede hallars</span><span lang="SK">e en ciertas etapas de un poeta y ausente en otras? ¿Y sería
surrealista sólo en esas obras? ¿Ello no invalida, en tales casos, su inclusión
como “poetas surrealistas”?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Ángel Pariente é um estudioso sério do Surrealismo
e sua antologia publicada na Espanha é um momento admirável de busca de integração
entre as duas margens do Atlântico, Espanha e América Hispânica. Tem minha completa
admiração por isto. Entende que o fogo surrealista não estava fadado a queimar,
mas antes a iluminar. Foi Artaud exatamente a dizer que “o surrealismo é antes de
tudo um estado de ânimo”, e não há como por em dúvida o estado de ânimo de um poeta
como Artaud. Há uma presença do Surrealismo na obra de um poeta como o chileno Enrique
Gómez-Correa que vai além de qualquer declaração do próprio poeta em sua defesa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-AR">JAM</span></b><span lang="ES-AR"> ¿Qué opinas de la observación de Louis Aragon, para la
entrevista de F. Cremiéux en 1963: “Se tiene la idea equivocada de considerar al
Surrealismo sólo en función de una de sus actividades experimentales, a la que habíamos
dado el nombre de <i>escritura automática”, </i>la
que a su juicio sería uno entre otros motores de arranque de las grandes “cacerías
interiores”?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Breton disse em <st1:metricconverter productid="1952, a" w:st="on">1952, a</st1:metricconverter> respeito de Aragon,
que “o único perigo que corre é seu grande desejo de agradar”. Sempre achei curiosa
esta observação e confesso que me levou a não considerar muito os ditos de Aragon.
Percebo agora que era mais dado a declarações coletivas do que pessoais. Mesmo sua
poesia da juventude surrealista não possui grande substância – apesar da rara beleza
de um poema como <i>Licantropia contemporânea</i>.
No entanto, Aragon está correto: o Surrealismo propôs uma abrangência inabarcável
e teve como resultado o esfatiar-se produzido por aplicadas restrições a essa amplitude.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-AR">JAM</span></b><span lang="ES-AR"> En el puzzle llamado Latinoamérica impera el desconocimiento
sobre nuestras culturas y potencialidades. Hasta especialistas como Saúl Yurkievich
practicarían recortes erróneos, según dices en “La modernidad de la poesía en Hispanoamérica”.
Pero a la vista de nombres y movimientos renovadores en Brasil y que traspasaron
con fuerza sus fronteras, ¿por qué afirmas que, “salvo excepciones, la tradición
poética brasileña se vincula a un formalismo inocuo y exacerbado?”. ¿O en tu diálogo
con el poeta Harold Alvarado Tenorio: “En Brasil padecemos de una miseria cultural
de la que todos somos cómplices?”<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> As declarações atendem a dois momentos específicos,
ainda que confluentes. Se somarmos todos os recortes, digamos, estéticos da poesia
brasileira teremos uma presença marcante do que chamo de esvaziamento de discurso,
lugar onde a forma importa mais que o fundo, e raramente se verifica a afirmação
pretensa de uma verdade, o postulado de uma inquietude existencial etc. Tem-se uma
instância decorativa. E me lembra aqui uma afirmação do Roberto Piva, em 1964, que
então se manifestava “contra a inibição de consciência da poesia oficial brasileira
a serviço do instinto de morte (repressão)”, ou seja, a poesia se mostrando enclausurada
pelo que Aldo Pellegrini chamava de “círculo muerto de las posibilidades gramaticales,
semánticas o sonoras”. A miséria cultural aludida em outra ocasião refere-se à nossa
cegueira para o que se passa fora, no sentido de sairmos em busca de algo. Aqui
se encaixa aquela distinção observada por Octavio Paz entre fazer a história ou
sofrê-la. Quando situo a existência de uma cumplicidade é porque observo, inclusive
em conversa com muitos escritores, sobretudo os que se dizem poetas, que essa “inibição
da consciência” de que falava o Piva tornou-se uma consciência dirigida, que atende
a conveniências e nada mais. Há algo mais miserável do que isto? Particularizo o
assunto brasileiro, mas cabe aqui uma menção ao que chamo de visão equivocada em
Saúl Yurkievich. Por um lado propõe uma leitura das origens da poesia latino-americana
deixando de fora o Brasil; por outro, recai no lugar-comum de utilizar-se levianamente
de um cânone recorrente, falho em aspectos ligados a leituras cronológicas, éticas
e estéticas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>JAM</b> Gilberto Freyre, Lins do Rego, Jorge de Lima,
Drummond, Mario y Oswald de Andrade y el “Tupy or not tupy”, el “Verde-amarelismo”,
el “Luso-tropicalismo”, Portinari, Glauber Rocha… <span lang="ES-AR">¿No hay en Brasil un frecuente interrogarse por las raíces
de la identidad, una búsqueda de lo propio y/o popular en los lenguajes literario,
pictórico, fílmico, musical? </span>¿Cómo te ubicas en relación a esto?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Jamais senti necessidade alguma de me afirmar
pelo nacional, de buscar nas entranhas de minha criação um caráter nacional. A discussão
freqüente em minha poesia do estar no mundo encontra-se ligada mais aos espaços
interiores do ser. Não estou bem certo se a América de um Allen Ginsberg, por exemplo,
está ligada especificamente à realidade estadunidense ou se à veemente indignação
do poeta em relação à condição humana. Me parece que a segunda opção seria mais
fiel à poesia. A afirmação do nacional já extrapolou todos os limites do aceitável
em sua relação com a arte. O século XX foi pródigo em diversas formas de fascismo.
Em tua pergunta destaca-se o verde-amarelismo, em cujo manifesto, datado de 1929,
se falava em “liberdade plena de cada um ser brasileiro como quiser e puder”, em
contradição com a aposta integralista de alguns de seus firmantes. Tomava-se então
o índio como símbolo nacional, “justamente porque ele significa a ausência de preconceito”,
mas simplesmente não havia mais índio, mesmo nas primeiras décadas do século passado
o índio já se encontrava em pleno processo violento de folclorização. Não espelha
a realidade, mas antes um falseamento dela. A presença indígena, a consciência de
uma nação indígena, tudo isso já fora liquidado, e a coragem maior, mais decisiva,
era justamente a de realçar essa chacina. Para mim o “Tupy or not Tupy” não passa
de um trocadilho infame, desses que desgraçadamente se ramificaram por toda a cultura
brasileira, tanto é que o próprio Oswald de Andrade, que o cunhou, no Manifesto
da poesia pau-brasil (1924) defendia uma brasilidade “sem ontologia”. Não te soa
contraditório? Pois nunca ninguém deu pela conta entre nós. Em uma carta dirigida
ao cineasta Cacá Diegues, em 1971, Glauber Rocha dizia o seguinte: “Oswald estava
metido com os partidos liberais vigaristas e a única coisa política conseqüente
que deu a Semana [de Arte Moderna] foi o integralismo”. Glauber comentava particularidades
dos anos 20, de uma casta intelectual ainda hoje bastante influente em nossa cultura:
“se comem uns aos outros, fazem tráficos de prestígio, informação, concorrência
social e cultural, traem as ideias do núcleo biológico fundamental e se amesquinham
na transação complacente com o regime”. Não há nada mais atual em nossa realidade
brasileira.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>JAM</b> Es muy interesante tu observación, y los
planteos de Claudio Willer, de que un <i>contradiscurso
</i>enfrentado al oficial-canónico implica más que el sarcasmo o la distorsión.
<span lang="ES-AR">Si he entendido bien, no
se trataría de un simple binarismo (discurso-contradiscurso), sino de una interacción
dentro de una red de nuevos códigos, y de intervenir en el complejo mosaico social-cultural.
Si es así, ¿cómo podría darse en el Brasil de hoy?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> O cânone funda uma falsa identidade. Sua
rejeição alimenta-se dessa falsidade. Não percebendo isto, ficamos a administrar
o que está à direita ou à esquerda de um determinismo que se impõe indiscutível.
Ora, a experiência humana multiplica-se em tantos fenômenos a ponto de anular a
fenomenologia em sua perspectiva científica. Agora, essa ambientação de uma interferência,
não a sentimos jamais, não se dá no mesmo plano de um falseamento do real, como
operado pela mídia, por exemplo. Mas para que serve o dinheiro e no que tem sido
utilizado? Estamos a fabricar cânones de interesses privados. A mesma política de
sempre. O Brasil tem uma percepção mínima do que se passa na esfera virtual. Nossa
ideia de intervenção é no sentido de preparar terreno para o futuro. Aos poucos
estamos nos convertendo na maior rede nacional de produção cultural na Internet.
Mesmo aí rejeitamos o cânone, espécie de mito de ocasião, e diante de nós o maior
de todos os obstáculos: celebrar bodas entre essas duas mídias: a impressa e a virtual.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-AR">JAM</span></b><span lang="ES-AR"> ¿A cuáles autores de la poesía brasileña pasada o contemporánea
te sientes más ligado, más allá de líneas estéticas? </span>¿Y
por qué?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Ainda em garoto lia mais a narrativa de José
de Alencar do que propriamente nossos poetas. Em casa meu pai ouvia muita música
brasileira e me levava a ver filmes com freqüência. Claro que tudo isto coincidia
com a leitura de livros, conversas com amigos etc. Os dois poetas brasileiros que
primeiro me chamam a atenção são Ferreira Gullar e Carlos Nejar, mas isto em meio
a uma adolescência onde era muito forte o convívio com a prosa (Sade, Dostoievski),
o teatro (Ionesco, Weiss, Shakespeare), as artes plásticas (Bosch, Brueghel, Goya)
e a música pop (Frank Zappa, Rolling Stones, Led Zeppelin). Contudo, há um tempo
ligado a incansáveis leituras, freqüentado por inúmeros poetas. Através dessas visitações
é que vamos tecendo uma singularidade, que me parece ser algo importante na vida
de um artista. Muito me interessa a poesia de um Jorge de Lima ou de um José Santiago
Naud, pela vertigem barroca e a vertente surrealista. É um dos raros momentos em
que as encontramos juntas em nossa tradição lírica, o que se pode ver também em
minha poesia. Mas sou um poeta dado ao trágico, a acentuar a dor, a chafurdar no
sofrimento para ver o quanto resiste. E a tradição poética brasileira é mais decorativa
– pensemos no peso impressionante do Parnasianismo até os dias de hoje –, quando
não pende para um lirismo mais adocicado, de pequenas paixões frustradas ou ânsias
amorosas reveladas por entre véus.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-AR">JAM</span></b><span lang="ES-AR"> ¿Cómo entiendes el misterio y la magia poéticos? ¿Crees
que palpite en igual grado en la manzana que tapa, o tacha, el rostro de un hombre
ataviado con sombrero de copa -para evocar el célebre cuadro de Magritte-, como
en la aparentemente nada misteriosa<i> piedra
en medio del camino</i> de Drummond?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-AR">FM</span></b><span lang="ES-AR"> Paul Nougé já observou, a respeito de Magritte, que “una
constante meditación crítica sobre las relaciones del mundo exterior con el hombre,
en la forma dialéctica en donde el hombre y el mundo exterior constituyen los términos
en perpetuo devenir, ha llevado esta pintura a la unidad viva y a la expresión eficaz”.
</span>A pintura de Magritte e o poema de Drummond hoje se encontram
convertidos em ícones, naturalmente repletos de excessos de leitura, do oportunismo
à idealização. Não são bons exemplos nem para a magia nem para o mistério. A peça
de Magritte converteu-se em uma fonte de lucros para a indústria da propaganda (aí
incluindo o cinema). A de Drummond dilacera-se entre leituras de menor influência.
Talvez originariamente as duas tenham sido obras de um ouvido interno, porém ditadas
pela entrega ou pela busca? Aí temos a distinção entre magia e mistério. Aliás,
Magritte já dizia que o mistério “'é absolutamente necessário para que exista o
real”. Não me parece que Drummond tenha recorrido ao mistério em sua poética. Entregou-se
por completo em cada poema, crisol de suas expectativas, sim, mas distanciando-se
da ideia de assumi-lo. Me parece que há um abismo intencional entre ser e obra,
um racionalismo que o aproxima mais de Valéry, por exemplo. Ainda que tivesse em
Verlaine uma clara fonte de identificação.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-AR">JAM</span></b><span lang="ES-AR"> También trabajas el collage. ¿Cuáles son tus relaciones
con la imagen visual? ¿Cuáles sus lazos con el hechizo onírico? ¿Cómo juega esto
en tu poesía y tu vida?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Não compartilho a ideia de segmentações estéticas.
Isto quer dizer que não vejo diferença alguma entre meus poemas, collages, ensaios.
A menor freqüência de collages se dá em função de uma exigência maior no plano ensaístico,
onde tenho que abranger uma área muito extensa (tradução, edição, conferências).
No Brasil não temos uma tradição nessa área de collages. Há casos isolados – Jorge
de Lima, Tereza d'Amico, Sérgio Lima –, compreendidos justamente pela recusa de
toda uma casta intelectual a admitir a presença do Surrealismo em nossa cultura.
Há dois entendimentos que se distanciam entre si em relação à imagem. Fujamos dos
lugares-comuns. A imagem é uma bifurcação de interesses, como sugere a propaganda,
ou então uma afirmação de novas perspectivas existenciais. Não posso mais falar
em “feitiço onírico”, como sugeres, porque vivemos em uma época de <i>feitiços construídos</i>, onde nos arrastamos
sofregamente a caminho de uma falsa ideia de nós mesmos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><span lang="ES-AR">JAM</span></b><span lang="ES-AR"> En tu poema “Tratados de la sombra” aludes al “espectáculo
de nuestras ruinas”, escenario “donde / el hombre actúa como el gusano de la propia
especie”. En “A outra ponta do homem” dices: “¿De qué muere al final un hombre?
/ Sufre con sus animales espantosos, / escrituras encrespadas, / viscosas/, pobre
mimo de la propia memoria…”. En “A la Sombra del Origen”: “¿Quiénes somos? ¿Los
magníficos restos de la especie, / sacerdotes de ruinas, vastas y frustrantes?”.
Y en otros poemas: “Lo que veo en el jardín son detalles del horror…”, “¿Con quién
hablas en tu camino hacia el abismo…?”. Crepitan en tus versos palabras como <i>cenizas, muerte, dolor, alma, ruinas, cadáver,
vacío, equívocos, </i>sin olvidar <i>Dios…</i>
Por otro lado, tu <i>Natureza Morta</i> exhibe
una muy ambiciosa estructura en forma de tríptico, forma que como señalaste hasta
remite al Dante, y yuxtapone poemas y estrofas de gran intensidad encantatoria y
variedad incluyendo reminiscencias salmódicas o rapsódicas. ¿No ves en tu obra rasgos
románticos y metafísicos, en la familia de algún <i>raro</i> como José Antonio Ramos Sucre?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> A leitura de Ramos Sucre foi algo impressionante
para mim e acho tua referência fascinante. Há um recorte entre o mundano e o metafísico
neste poeta que o aproxima de uma poética que eu já vinha desenhando, sobretudo
graças a uma mescla de convivência com textos teatrais e tratados filosóficos. É
comum em Ramos Sucre o personagem saltar de uma cena trivial em uma taberna, por
exemplo, para o centro abissal de uma discussão metafísica, por ele apenas sugerida.
É um poeta impressionante e me parece que ainda não compreendido de todo, sobretudo
nessa vertente que mencionas. Possui obra mais densa do que Tablada, Girondo, Eguren
e Huidobro, para citar aqueles predecessores do Surrealismo apontados por Stefan
Baciu. Até onde não me engano, minha poesia estrutura-se em uma complexidade que
soma lirismo e metafísica, que põe o arquétipo a dialogar com as mais obscuras aparições
do cotidiano. Deus é nossa grande fonte de equívocos e descobertas. Está presente
em minha poesia mais pelos abusos conceituais do que propriamente por uma reverência.
Tens razão quanto ao tríptico, forma a que recorro com curiosa permanência em meus
escritos, ensaios e poesia. O dobrado em três como uma abertura para novas percepções,
não apenas como tábulas soltas, mas trazendo já em si a chave para uma recorrência.
O tríptico tem sido recurso plástico, mais ligado à pintura, pensemos em Bosch ou
Francis Bacon, que praticamente constituiu sua obra dentro dessa opção ou obsessão.
Mas é claro que o recurso a esses grandes painéis segue o curso de uma busca metafísica,
desde que aclarado que a transcendência só se realiza na imanência, e vice-versa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> [2003]<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 8pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">[Entrevista
concedida a Jorge Ariel Madrazo. Originalmente publicada em <i>Poéticas</i>. Buenos Aires, 2003. Integra o
livro <i>O hábito do abismo (Entrevistas com Floriano Martins)</i>, de Márcio
Simões (ARC Edições: Fortaleza, 2013).]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
http://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/http://www.blogger.com/profile/15464755224800829626noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5262314379244716711.post-8714472765524618402014-10-09T17:03:00.000-07:002014-10-12T05:09:31.094-07:00O MERGULHO EM TODAS AS ÁGUAS | Entrevista a Rodrigo Petronio<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-Jo2CisFVfLU/VDchXHU6-6I/AAAAAAAABMs/JRClpc05LKk/s1600/%5BFoto%5D%2B2004%2BM%C3%A9xico%2B02.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-Jo2CisFVfLU/VDchXHU6-6I/AAAAAAAABMs/JRClpc05LKk/s1600/%5BFoto%5D%2B2004%2BM%C3%A9xico%2B02.jpg" height="320" width="240" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 14.2pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Se a inteligência de um homem é proporcional à sua
capacidade de estabelecer recusas, ao conversar com o cearense Floriano Martins
tem-se a nítida sensação de estar diante de um homem muito bem dotado dessa faculdade
tão mal distribuída entre os seres humanos, sobretudo entre os intelectuais. Autor
do livro de poemas <i>Alma em Chamas</i>, certamente
um dos acontecimentos poéticos das últimas décadas, e de uma obra volumosa que abrange
ensaios, crítica, tradução e entrevistas com poetas, além de uma série de inéditos,
Floriano é um dos maiores conhecedores da poesia latino-americana moderna e contemporânea
entre nós, e vem fazendo pontes das mais estimulantes entre essas literaturas e
o Brasil. Mas, para nossa surpresa, é uma voz solitária e praticamente isolada em
sua proposta. Pela importância e amplitude desse trabalho, veiculado, sobretudo,
nas revistas virtuais <i>Agulha </i>e <i>Banda Hispânica</i>, das quais é editor, assusta
sabermos que ele não tenha maior repercussão. [<b>RP</b>]<b><o:p></o:p></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>RODRIGO PETRONIO</b> O segundo volume de <i>O Começo da Busca</i> vai ser uma continuidade
do primeiro ou vai propor outras diretrizes poéticas e conceituais que convirjam
para o Surrealismo? Fale um pouco do projeto como um todo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FLORIANO MARTINS</b> A princípio não havia nenhuma
ideia de segundo volume, por mais que o assunto não pudesse ser responsavelmente
resolvido em 300 páginas. Confesso que já foi um obstáculo e tanto vir a editar
este livro. A acolhida da Escrituras foi providencial e o objeto final me é bastante
simpático. Ao vê-lo publicado é que comecei a pensar em lacunas que deveriam ser
preenchidas, todas dentro da mesma perspectiva. Não há porque buscar uma ótica outra
se estamos tratando de um tema de tamanha amplitude e ainda não de todo ambientado.
Há uma pressa entre nós brasileiros de mudar de assunto ou diretriz que reflete
apenas uma frivolidade. Somente agora é que começo a pensar no que chamas “do projeto
como um todo”. Em carta enviada, pouco antes de morrer, ao grupo surrealista de
Chicago, escreveu Pierre Naville “que o mundo atual deverá conhecer uma explosão
surrealista muito maior do que aquela que se deu em Paris, em <st1:metricconverter productid="1924”" w:st="on">1924”</st1:metricconverter>. Isto foi em 1992, e até
então o Brasil não conhecia absolutamente nada do surrealismo em suas vertentes
hispano-americanas. Mesmo hoje há ainda muito a ser revelado e bem sabes que sou
uma voz praticamente isolada nesse processo. Na continuidade de meu trabalho vou
chamar a atenção sobre outros poetas, frisar as relações entre vários deles – em
termos de ação e poética – e apresentar novas entrevistas. Além disso, estou escrevendo
um volume apenas de ensaios, em que vão se revelando cronologicamente os dados essenciais
para uma leitura dessa explosão a que se refere Naville, já em ambiente latino-americano.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>RP</b> Em <i>O Começo da Busca</i> você demonstra justamente que é possível traçar uma
história da literatura latino-americana a partir do Surrealismo. Você defende um
Surrealismo policêntrico, que emergiu por aqui em diversas etapas e sob diversas
circunstâncias, ao contrário da ideia de um movimento epicêntrico, com sua origem
datada nos manifestos de André Breton. Fale um pouco sobre isso.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Não havia ideia de epicentrismo
nem mesmo naquele bando mesclado de ex-dadaístas que se reunia em torno de Breton.
Acho que há algo em comum, o princípio libertário que norteia o Surrealismo, não
resta dúvida. Mas a manifestação desse princípio na América Latina se deu investida
de um otimismo, inclusive uma crença voluptuosa na linguagem e não apenas na ação.
Não cabe falar em emancipação porque a relação entre os países latino-americanos
e a Europa possui vários matizes. Não há o que se possa chamar de “nossa história”.
Não temos uma história comum, no sentido em que jamais a percebemos sob tal ângulo.
No caso brasileiro, nossa relação com a Europa estava mais acentuadamente ligada
à França de Claudel, Verlaine, Valéry. Desnecessário dizer que me refiro a um mapa
oficial dessa cultura. Tzara, Reverdy ou Breton eram nomes pouco mencionados por
aqui. E uma imediata aproximação entre Surrealismo e marxismo, por exemplo, afastou
de vez toda possibilidade de uma filiação do Brasil a essa corrente libertária que
se anunciava. Nenhuma história corre independente, pois a história é uma mescla
de fatores, e sequer pode ser tão levianamente lida como tardia ou antecipatória
em relação a qualquer aspecto que se coloque. Quando se pretende um recorte isolado
o que se está fazendo é falsear a história – a exemplo do que tivemos tanto na Semana
de Arte Moderna quanto no Concretismo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>RP</b> Como você situa algumas
vozes fortes como César Vallejo e Vicente Huidobro nesse panorama?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Grande dilema o de atestar
vínculos. O Surrealismo procurou romper com a ideia de clubismo, e mesmo assim muitos
se aproximaram dele como se buscassem apenas uma carteira. Essa ambigüidade – se
cabe o termo – gerou rejeições famosas, manifestas de várias maneiras. Vallejo e
Huidobro são dois casos paradigmáticos. O chileno é apontado pelo romeno Stefan
Baciu como um dos precursores do Surrealismo na América Latina. Já o espanhol Ángel
Pariente situa o livro <i>Trilce</i>, de Vallejo,
como sendo de recorte surrealista. Huidobro tinha um ego assombroso e jamais admitiria
influência de quem quer que seja, o mundo começava nele. Creio que foi o poeta que
mais redigiu manifestos – há um largo volume que recolhe todos eles –, manifestos
de um homem só. Já o peruano estava tão impregnado de comunismo que a própria ruptura
de linguagem que alcança em <i>Trilce</i> seria
posteriormente enfraquecida em outros livros. De qualquer maneira, creio que a desconstrução
neste livro do Vallejo tende mais ao dadaísmo – embora não tão nítida como no caso
de <i>En la masmédula</i>, de Girondo – do que
ao Surrealismo. E Huidobro estava, como o sabemos, demasiado impregnado de Cubismo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoBodyTextIndent2" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>RP</b> No Brasil, nosso conhecimento
da literatura latino-americana se restringe à trinca Borges, Paz e Neruda. Quanto
a Lezama Lima, há ainda o agravante de ter penetrado aqui por intermédio do Concretismo,
que importou a imagem deformada e afetada que o <i>Neobarroso</i> de Nestor Perlonguer fez dele. Fale de outros poetas e poéticas
americanos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Talvez seja melhor começarmos
falando dos prejuízos advindos da limitação e, sobretudo, do falseamento dentro
desse âmbito restrito. É precário aceitar a presença de Borges, Paz e Neruda como
grandes poetas, ainda mais sob o crivo de fundadores da modernidade na poesia hispano-americana.
Borges era um fabulista, mestre imbatível na arte de tornar a si mesmo o grande
personagem de sua obra e, por conseqüência, da tradição literária moderna. Gerardo
Deniz está completamente correto ao dizer que se trata de um poeta de imagens e
recursos previsíveis, enfadonhos. Paz possuía uma aguda percepção da realidade à
sua volta – soube ser inicialmente o crítico dessa realidade, mas acabou por converter-se
em cúmplice dela. Poeticamente cristalizou-se muito cedo. Neruda jamais buscou outra
coisa que não fosse tocar a imensidão do ego, e não reside em outro aspecto a máscara
<i>cosmogônica </i>com que revestiu sua poética
nos incontáveis experimentos estéticos a que a submeteu. Já o caso de Lezama possui
uma graça particular: há <i>algo</i> de enciclopédico
na visão de mundo do cubano que o aproxima de figuras como Peter Greenaway ou Haroldo
de Campos. A verdade é que todos querem ser Deus. E cada vez me parece que a grande
tradição poética é consubstanciada por quem se recusa a sê-lo. O venezuelano José
Antonio Ramos Sucre, por exemplo, matou-se por não suportar mais a presença de visões
que lhe assombravam a existência. Não vivia em um plano literário, mas sim na mesma
dimensão excessiva de um Artaud. Após o suicídio, em 1940, não foi mais lembrado
de maneira consistente. O Chile possui uma vertente múltipla que encontra em Pablo
de Rokha, Rosamel del Valle e Humberto Díaz-Casanueva uma fonte de renovação que
não desconsidera o autóctone e se manifesta no diálogo com a Europa. No colombiano
León de Greiff encontramos o mais surpreendente caso de polifonia na tradição poética
latino-americana. O guatemalteco Luiz Cardoza y Aragón soube buscar na algazarra
da modernidade uma voz que fosse a soma de todas; uma nova relação com o mito proposta
pelo nicaragüense Pablo Antonio Cuadra etc. O que me pedes não é fácil, toma um
livro. Sobretudo quando no Brasil desconhecemos toda essa tradição. Acho que a todo
momento atestamos a infelicidade de nossa ausência de mundo. Toda a sociedade brasileira
desmonta-se por esse desconhecimento de si mesmo, um mínimo estalo que nos leve
à relação com o outro. Sem ele, não há nada.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>RP</b> Você é dos poucos poetas
brasileiros que se preocupam com a dimensão política da arte, o que é, mais do que
louvável, necessário, em um momento em que intelectuais, escritores e artistas oscilam
entre uma burocracia mental aviltante e um espírito gregário cada vez mais acentuado,
ou, na pior das hipóteses, em seu idiotismo, mal sabem o que vem a ser a dimensão
política de uma poética. Como você vê a articulação entre essas duas esferas?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Se não me falha a memória
certa vez o Augusto de Campos referiu-se ao afazer poético como uma afasia. Isto
é curioso porque carece de autocrítica, ou seja, a quem exatamente ele estava se
referindo? Por aqui começamos nosso curso de <i>idiotismo</i>. Este é um formoso termo de alheamento da realidade, de criação
de uma linguagem isolada, que não se relaciona com nada. O idiotismo é a anti-poesia,
mas tem sido a tônica da poesia que se pratica no Brasil de algumas décadas para
cá. É curioso observar as maneiras distintas do ser idiota no poeta brasileiro.
Há os que se tornam reféns da pós-modernidade, que fazem questão de serem reconhecidos
como contemporâneos, por mais desarticulada ou retrógrada que seja essa pós-modernidade.
Na outra ponta estão aqueles que detestam a atualidade, os passadistas de carteira
e louvor, que pousam em bando como uma equipe de resgate da história. Evidente que
em um cenário desses, reforçado por uma tradição positivista, brigadas da TFP, política
cartorial, <i>amiguismos</i>, uma relação responsável
de complementaridade entre poética e política está fadada ao ideário das <i>charges</i>. Não te parece que o mais importante
na vida dos brasileiros é que algo te faça rir? Rir da própria miséria pode ser
uma tática de resistência, mas ser levado a isto é aceitar-se como instrumento de
uma perversão, com o qual somos todos coniventes. A chamada arte tornou-se mecanismo
de idiotização de uma sociedade carente de si mesma. O pão convertido em circo e
vice-versa. Somos todos absolutamente responsáveis por esse crime em larga escala.
A maneira como tocadores de violão são aceitos como músicos, modelos fotográficas
como atrizes, músicos como romancistas, jornalistas e redatores publicitários como
poetas ou roteiristas de cinema, enfim, a forma espúria como a mediocridade ascende
ao poder cultural em nosso país já se tornou um caso de polícia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>RP</b> Você diz que o Surrealismo
teve pouca penetração no Brasil exatamente por causa de nossa tradição positivista,
o que eu considero uma análise agudíssima e correta. O que é curioso é essa estética
ter se imiscuído entre nós pelas mãos de dois poetas católicos e com interesses
místicos: Murilo Mendes e Jorge de Lima. Ao mesmo tempo, você tece algumas críticas
a esses poetas e sugere outros nomes. Isso está relacionado às eternas idiossincrasias
brasileiras? Como você analisa esse fato?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> O Surrealismo estava na
pauta de rejeições de todas as culturas que buscavam uma identidade em meio àquela
eclosão destemperada de ismos das primeiras décadas do século XX. Basta pensar que
Lezama Lima ou Gaitán Durán possuíam articulações essenciais com o Surrealismo,
mas que não as admitiam em circunstância alguma, imbuídos que se sentiam da necessidade
de fundar algo em Cuba e Colômbia, respectivamente. É possível que o mesmo tenha
se dado com o Mário de Andrade, conhecedor que era dos vislumbres anunciados ao
mesmo tempo em que não lhes correspondiam – nem ele nem Oswald – em termos estéticos.
Então nos pegamos com réstias ou pequenos sinais de vida. Basta ler manifestos assinados
por ambos. Já em relação a Jorge de Lima e Murilo Mendes, façamos o seguinte: troquemos
catolicismo por cristianismo e misticismo por ocultismo, por exemplo, e já teremos
aí um novo ambiente conceitual onde o assunto começa a ganhar clareza. Vincule-se
cristianismo a comunismo e ressalte-se o interesse do Surrealismo pelas ciências
ocultas e ganhamos ainda mais em nitidez nessa relação por ti sugerida. O que chamas
de “idiossincrasias brasileiras”, é sempre o mesmo fruto podre de nosso desconhecimento
de causa. Eu não tenho nenhuma rejeição aos dois poetas. Acho impressionante que
se mencione tão amiúde o Drummond como nosso grande poeta, este sim tão católico,
tão conservador, tão transigente, tão acomodado às circunstâncias, sob quaisquer
aspectos que se mencione. O que digo em meu livro é que nossa crítica literária
necessita sair do lugar comum de tratar o Murilo como único surrealista no Brasil.
Isto não passa de um refúgio para evitar referir-se à questão como ela merece. Murilo
foi um grande transgressor, e mesmo naquele ambiente interiorano de uma Jandira,
por exemplo, já se ressaltava uma visão mais profunda de mundo, com um recorte filosófico
que não tínhamos em nós nem mesmo de maneira caricatural. É leviano – quando não
criminoso de vez – reduzir a poética de ambos ao que se chama de “poesia em Cristo”.
Como esperar que se manifestasse a explosão do ser em poetas marcados por uma exasperada
chaga católica que tanto define a história brasileira? Diante da irrelevante obra
poética de nomes como Mario e Oswald de Andrade, por exemplo, tento buscar outra
explicação, que não de ordem estética, para que poetas como Jorge de Lima e Murilo
Mendes não tenham sido até hoje lidos com a isenção que a obra de ambos cobra de
nossa crítica.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>RP</b> Falando em idiossincrasia,
há uma curiosa. Enquanto na América do Norte o fenômeno Walt Whitman já tinha acontecido
há décadas e na Europa tínhamos uma plêiade composta por Rilke, Valéry, Eliot, Pound,
Apollinaire, Joyce, Lorca, Breton e Proust (desconto Kafka e Pessoa por causa do
seu anonimato incipiente), Mário de Andrade resolve se agarrar a uma estrela cadente,
e importa a tagarelice de um italiano cuja fortuna mental e o talento irrisórios
deixaram para a posteridade um manifesto e algumas frases tão ridículas quanto ele
próprio: Tommaso Marinetti. Sabemos que o futurismo estava no <i>front</i> de toda a proposta modernista, e que
esse mesmo Modernismo, por razões muitas vezes meramente ideológicas, é a cartilha
sobre a qual reza a maior parte da arte que se fez e faz até hoje. À parte o valor
inquestionável da obra de Mario e Oswald de Andrade, há um legado bastante negativo
da Semana de 22, não? Como você avalia isso?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> O legado da Semana de 22
equivale à leitura de curso das águas em uma lagoa. É nossa principal metáfora da
permanência, com a ambígua leitura de que é nossa entrada na modernidade. Mário
estava menos interessado nela do que em um projeto pessoal de afirmação de leitura
dessa modernidade. Os nomes ligados à Semana eram os do rebanho possível. Como Alberto
Nepomuceno morrera dois anos antes, embora deixando volumosa pesquisa sobre cantos
populares em todo o Brasil, e mesmo tendo posto o pescoço a prêmio ao colocar a
Sinfônica brasileira a tocar com Catulo da Paixão Cearense, por exemplo, inúmeros
fatos foram apagados e hoje cabe ao modernismo e em especial a Villa-Lobos essa
aproximação entre o popular e o erudito em nossa música. Também nas artes plásticas
teríamos muito a conversar sobre o injustamente reduzido prestígio de um artista
como Vicente do Rego Monteiro. Não se trata de “legado negativo”, mas sim de falseamento
da história e com a larga conivência de toda uma casta intelectual envolvida. O
mais curioso é quando escuto dizer do nacionalismo exacerbado do Nepomuceno, por
exemplo. Ora, ninguém fala em tal coisa quando se trata dessa íntima relação que
o Mário assumiu com o Futurismo, nitidamente de ordem nacionalista. Nacionalismo,
ressalte-se, no sentido de preparação para regime de exceção. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoBodyTextIndent2" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>PR</b> Fale um pouco mais desse
falseamento da história e desse regime de exceção. É ele que endeusa o Fernand Léger
de saia (Tarsila do Amaral) e praticamente risca do mapa um artista excepcional
como Ismael Nery? Que devolve o Concretismo ao centro do seu próprio umbigo cósmico
e torna opaca uma série de coisas em volta? Que eclipsa Augusto dos Anjos e confere
qualidade à versalhada de Mario de Andrade? Tenho a impressão que se Augusto dos
Anjos tivesse escrito em alemão haveria uma miríade de pedantes usando-o como epígrafe
em seus estudos sobre o expressionismo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Acho que podemos rir um
pouco. Em uma das edições de dezembro de <st1:metricconverter productid="2002, a" w:st="on">2002, a</st1:metricconverter> revista <i>Época</i> publica um artigo de Antonio Gonçalves
Filho onde menciona a decorrência ingênua da pintura de Anita Malfatti, o realismo
socialista para onde escorreu a obra de Tarsila do Amaral, a decadência suburbana
de Di Cavalcanti e o exílio no academicismo em Brecheret. A princípio este é um
atestado de que a Semana de Arte Moderna não manteve a chama acesa nem mesmo enquanto
o bolo do primeiro aniversário era cortado. Ora, mas de que nos servia o cubismo
de Fernando Léger e a concisão de Brancusi, se não sabíamos o que propor, a partir
deles, em termos de um Brasil aclamado como bandeira da (nossa) modernidade? Trocar
xenofobia por xenofilia? Ismael Nery sabia o caminho. Mas ia de encontro à pretensa
<i>ousadia nacionalista</i> de nossos modernistas.
O mesmo vale para Cícero Dias. Uma coisa que tenho observado nessas leituras comemorativas
de nossa entrada na modernidade é que uma crítica de arte se manifesta de maneira
mais efetiva do que o correspondente, por exemplo, na música ou na literatura. Nem
falar em Niemeyer, que tornou-se um mito intocável de nossa arquitetura, uma curiosidade
na perspectiva de uma arquitetura funcional esse encantamento por um declarado comunista
que planejou espaços onde é bastante dificultado o encontro entre duas almas. Bom,
no caso da música o <i>lobby</i> de Mário de
Andrade em favor de Villa-Lobos foi decisivo. Agora, por que aceitamos tão passivamente
a importância de Mário e Oswald como poetas se não atendem, em circunstância alguma,
a uma perspectiva estética em que deveriam quando menos apontar certos traços renovadores?
O falseamento da história é exercido por um corte abrupto em relação ao passado.
Nossa modernidade parte do nada. O mesmo se repetiria no plano-piloto do Concretismo,
décadas depois. O regime de exceção é decorrente desse comportamento. Basta cotejar
cronologia artística e política – como se fossem entidades inconciliáveis! – e veremos
que a Semana de Arte Moderna é precursora do Estado Novo e que o Concretismo e o
Golpe de 64 são consangüíneos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>RP</b> A propósito, temos no Brasil
duas correntes que se desenvolvem paralelamente e que parecem formar a esquizofrenia
fundamental de nossa <i>intelligentsia</i>. De
um lado, uma forte tradição dialética advinda do Idealismo Alemão, mais especificamente
de Hegel, busca o <i>Bildung</i>, o caráter formativo
da nossa nacionalidade por intermédio da análise da literatura. De outro, há uma
via que finca raízes na lingüística, na semiologia <i>in nuce</i>, na ciência positiva do século XIX e mais tarde no Estruturalismo,
que se preocupa com os aspectos imanentes da arte, e que nos deu os jogos florais
e formais de toda essa poesia de véu e grinalda feita nas últimas décadas. Em decorrência
disso, ora fazemos da literatura um mero instrumento que expressa uma hipotética
essência (a nacionalidade), ora a tomamos nela mesma e reduzimos seu sentido a um
enunciado discursivo (a linguagem), em contraste com o “mundo”, que confesso francamente
não ter a mínima ideia do que venha a ser. Isso demonstra que as duas grandes diretrizes
do pensamento e da produção poética estão concentradas na dualidade Forma versus
Conteúdo. No seu livro <i>Fogo nas Cartas</i>,
você diz que a poesia, mesmo sendo intransitiva, é filha da alteridade. Essa definição,
além de ser muito bonita, parece negar de saída essas ambigüidades falazes. Como
você se posiciona diante dessas questões?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Tua leitura é cristalina
e incontestável. Quem primeiro me chamou a atenção para isso foi o Roberto Piva.
Não podemos nos tornar reféns ou cúmplices dos crimes de lesa pátria ou língua.
A rigor, a poesia é a contestação desses conceitos. Há um aspecto aparentemente
negativista na poesia, o de recusa essencial. Mesmo a afirmação é uma negação, e
isto porque ela parte do princípio de que algo deve ser contestado. Condição ambígua?
Não se trata propriamente de um sofisma. Não posso me pôr dentro da linguagem se
não estou dentro de mim mesmo, com as implicações naturais do cidadão que sou. Mesmo
que vivesse isolado do mundo, essa seria uma forma de relacionar-me com o mesmo.
Então não tenho como fugir de mim e de minha circunstância – por mais que o deseje.
É por isso que me refiro a muitos de nossos poetas como autistas. A pretensa autonomia
– ou voz própria, seja lá que nome se queira dar – é fruto não de isolamento, mas
de mergulho em todas as águas. A rigor não escolhemos o inferno onde queremos ser
Dante. Mas jamais chegaremos a gare alguma pela via inexpressiva de nossos poetas
incultos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>RP</b> Você defende a união indissolúvel
entre a vida e a arte. Isso não pode gerar algumas dificuldades de avaliação da
obra artística e seu valor objetivo, na medida em que a liga de maneira muito direta
a seu criador e à sua biografia?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Não creio nisto. A biografia
de um poeta está intrinsecamente ligada a uma perspectiva de errância, do matutar
em peregrinação, de maneira que não vejo como dar à vida ou à obra uma dimensão
inquestionável. Os valores objetivos são um encargo da sociedade de consumo. A criação
artística possui um valor intrínseco, soma do objetivo e do subjetivo. É o retrato
falado de quem a cria. Prova maior do que falo a obtemos quando do encontro com
o autor de qualquer um desses versos anódinos que se publicam a rodo. Qual a biografia
possível dos poetas brasileiros, por exemplo, da minha geração?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>RP</b> Boa parte da nossa miséria
econômica deita raízes na e coroa a nossa dependência cultural. Mesmo assim, parece
que há cada vez menos debate artístico em âmbito civil, ou seja, motivado por projetos
impessoais e coletivos sobre a arte. Qual o seu diagnóstico da poesia brasileira
atual, com o perdão da amplitude do tema e da questão?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Não há perdão para a amplitude.
Não padecemos propriamente de uma dependência cultural nos moldes de uma invasão,
se cabe o termo. Há cultura suficiente no país para torná-lo uma grande nação. Eu
sempre penso no caso da música e me indago como é possível que o choro tenha se
convertido em algo de quase nenhuma percepção em nossa tradição musical. Ora, o
choro praticamente funda um legado essencialmente brasileiro. A bossa nova vem depois.
Mas claro, é música de branco universitário. Eu acho um absurdo que não se consiga
conversar com poetas brasileiros sobre música ou teatro ou cinema, por exemplo.
Que espécie de mundo à parte eles estão construindo? E mesmo sobre a matéria queimante
da poesia, raros cruzam os cercados dos lugares comuns, e alguns ostentam ainda
com peculiar parvoíce sintomas de obsessão enciclopédica. Ora, vivemos em um país
onde a miséria intelectual determina a miséria social. Bem podemos compreender todo
o despejar de preconceitos ou rejeições em torno de qualquer maneira distinta de
tratar do assunto. Para que fosse possível um diagnóstico teríamos que evocar toda
uma tradição fraudada, o que significaria revolver túmulos, reconsiderar decretos
de genialidade, rever diários de bordo etc., pois de outra maneira não alcançaríamos
uma justa relação entre passado e presente. Teríamos, enfim, que enfrentar um largo
processo de desmi(s)tificação. Acontece que os novos talentos são dados à luz dessa
deformação cultural, gerando um círculo vicioso que a ninguém interessa romper.
Não quero dizer com isto que padecemos de um mal incurável. Cabe, no entanto, lembrar
que somente através da revolta, da negação, da insubmissão, em relação a quaisquer
cânones é que encontramos uma razão de ser da poesia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>RP</b> Pela primeira vez, desde
a instituição da República, vamos ter um governo de esquerda gerido pelo maior partido
de esquerda do mundo. No que isso pode mudar o curso do Brasil e dos países dependentes?
Você arriscaria alguma opinião sobre a América Latina?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Tenho a impressão de uma
dádiva queimante. Um grande dilema da América Latina tem sido a recusa a entender
que a solução encontra-se em casa. Este é nosso maior desafio. Não vejo isoladamente
o assunto como de ordem política. Caberá ao novo presidente o que sempre coube a
seus antecessores: buscar vínculos substanciosos, que não sejam regidos apenas por
uma falácia de crise. Não arrisco opinião alguma. Afirmo um caminho que já trilho
com meu trabalho. Mínimo sinal, mas que considera uma relação continental até então
inexistente. O mundo deixou-se tragar pela falácia econômica, sempre cartorial,
onde a ameaça terrorista possui até um dado positivo, que é o de nos despertar dessa
hipnose estatística. Mas não cabe apelar a uma antevisão agora. Há muito o que ser
inicialmente conversado. Lula naturalmente tem suas prioridades. É aguardá-lo, antes
de qualquer outra coisa.<span style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> [2003]<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 8pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">[Entrevista
concedida a Rodrigo Petronio. Originalmente publicada em <i>Agulha Revista de Cultura</i> # 32. Fortaleza/São Paulo, janeiro de
2003. Integra o livro <i>O hábito do abismo (Entrevistas com Floriano Martins)</i>,
de Márcio Simões (ARC Edições: Fortaleza, 2013).]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
http://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/http://www.blogger.com/profile/15464755224800829626noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5262314379244716711.post-27747609684576017222014-10-09T16:55:00.001-07:002014-10-12T05:10:06.718-07:00HUMANISMO POÉTICO | Entrevista a Fabricio Carpinejar<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-IPidtGi2rGg/VDcftkdLEaI/AAAAAAAABMg/Bja21al-iw0/s1600/%5BFoto%5D%2B2004%2BM%C3%A9xico%2B01.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-IPidtGi2rGg/VDcftkdLEaI/AAAAAAAABMg/Bja21al-iw0/s1600/%5BFoto%5D%2B2004%2BM%C3%A9xico%2B01.jpg" height="235" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 14.2pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O surrealismo está ainda marcadamente ligado ao francês
André Breton e seus pares, que fundaram o movimento em 1924 com o primeiro manifesto
em Paris. O crítico, tradutor e poeta cearense Floriano Martins, 44 anos, resgata
a expansão hispano-americana surrealista. Mostra que a escrita automática, em que
falar é pensar, não se restringiu à Europa, muito menos à primeira metade do século
XX, ganhando expressões singulares no Peru, Chile, Argentina, Venezuela e Brasil
até os dias atuais. O esplendor verbal, a magia vocabular, o espírito transgressor
e a palavra como realidade total estiveram também presentes nas obras de Aldo Pellegrini,
César Moro, Enrique Molina, Emilio Adolfo Westphalen, Enrique Gómez-Correa, Juan
Sánchez Peláez, Ludwig Zeller, Juan Calzadilla, Roberto Piva, Sérgio Lima e Raúl
Henao. Tais nomes não soam conhecidos, familiares, parecem não sintetizar a enciclopédia
surrealista, assim como os batidos verbetes Philippe Soupault, Paul Éluard, Artaud,
Crevel e Robert Desnos. Mas uma revisão está sendo feita. É preciso ampliar desde
já o vocabulário. Se o surrealismo era proclamado por Breton como o que será, Floriano
Martins busca antes decifrar o que ele realmente significou. Invertendo sabiamente
o título <i>La Búsqueda del Comienzo</i> de Octavio
Paz, <i>O Começo da Busca</i> (Escrituras, 288
págs., R$ 13) desvela os mais autênticos surrealistas da língua portuguesa e espanhola,
desfazendo as aparências do passado e abrindo o futuro. Martins empreende uma viagem
imaginária digna de um antropólogo do inconsciente. Traz traduções impecáveis dos
principais poemas de 12 autores, informações epistolares, entrevistas e defesas
estéticas de várias correntes. Demonstra que houve surrealismo no Brasil e na América
Latina, com amadurecimento orgânico a partir das peculiaridades de cada país, e
que isso não foi uma extensão espúria nem tardia e periférica do grupo de Breton.
Em entrevista exclusiva ao <i>Rascunho</i>, Floriano
Martins, autor de <i>Escritura Conquistada</i>
(1998), promove um novo horizonte de discussão e comenta os enganos da crítica.
[<b>FC</b>]<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FABRICIO CARPINEJAR</b> Quais foram os entraves
para sua pesquisa, que tenta revelar os mais diferentes movimentos surrealistas
na poesia hispano-americana até então obscurecidos pela historiografia?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FLORIANO MARTINS</b> As relações culturais entre
Brasil e América Hispânica são inexistentes. Não há uma particularidade envolvendo
o Surrealismo. Trata-se de uma grande cegueira dos governos de ambos os lados. E
para tanto têm contribuído artistas e intelectuais, com um fascínio provinciano
seja pela França ou pelos Estados Unidos. Há um isolamento sistemático e o rompimento
dessa situação não é algo que se possa esperar vindo de uma visão acadêmica de mundo.
Como praticamente parti do zero, nem cabe considerar os entraves. De qualquer maneira,
o maior entrave existente para um descuidado leitor é a <i>Antología de la poesía surrealista latinoamericana</i>, organizada por Stefan
Baciu. Trata-se ainda hoje de livro de referência, com equívocas colocações, não
compreendendo ser distinta da matriz parisiense a perspectiva de um Surrealismo
na América Latina. O mais curioso neste livro é que fomenta o conceito do “mas nem
tanto”, estabelecendo uma condição “para-surreal” para aqueles que não firmaram
manifestos. Claro está que alimenta a grande ruína de nosso tempo: a falácia conceitual
e a conseqüente derrocada de sentido.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FC</b> Apesar de sempre reforçar
a ideia de movimento, <i>O Começo da Busca</i>
qualifica, em várias passagens, o surrealismo de <i>aventura</i>. Isso não é uma caracterização inapropriada, de algo fugaz
e passageiro?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> A etimologia do termo nos
leva ao que está por vir, uma entrega ao desconhecido, o que é inaceitável em nossa
formação positivista. O culto do permanente liga-se a uma vida eterna prometida
por senhores suspeitos e soa como contradição risível ante o frenesi do mercado.
A existência humana não se limita a preceitos. O surrealismo é essa entrada na matéria
real da existência humana: o abismo, o assombro, o inesperado, o vertiginoso, o
maravilhoso. Trata-se, a rigor, de uma aventura.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FC</b> O argentino Enrique Molina
define o surrealismo como um humanismo poético. O fato de propor uma nova conduta
de vida dentro e fora da poesia não acabou partidarizando o movimento, conduzindo-o
para incursões que não condiziam com o texto propriamente dito? (Um exemplo são
os surrealistas franceses que sucumbiram ao Partido Comunista, transformando sua
irracionalidade em militância racional).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Disse certa vez o Octavio
Paz que há um momento em que se tem que escolher entre vida e obra. Talvez venha
daí a ressalva essencial que teria em relação ao Breton. Me parece ingênuo achar
que a escritura automática, por exemplo, implicasse em um desnorteamento de si mesmo.
A melhor poesia de Paz, rigorosamente, está impregnada de surrealismo, apesar dele
haver apagado as pistas nas notas finais que acompanham a publicação das <i>Obras Completas</i>. O vínculo entre surrealismo
e comunismo se recrimina hoje, em parte, pelo distanciamento histórico, mas não
se pode restringir a compreensão do Surrealismo a uma multiplicação sistemática
de erros. Lembro que, no Brasil, já em 1930, Alceu Amoroso Lima falava em uma “inextinguível
sedução comunista”. Enrique Molina dizia que “a poesia tem que nascer, não de ideias
intelectuais, mas sim de vivências profundas”. Decerto vem daí a dificuldade dos
poetas brasileiros compreenderem esse <i>humanismo
poético</i>: uma ausência de vida própria mesclada a um artificialismo que sempre
caracterizou nossas letras.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FC</b> A poesia surrealista é uma
das mais refinadas, em que o pensamento se faz por imagens. Esse é o principal motivo
que dificulta sua difusão?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Há uma ideia de refinamento
que nos leva a um cálculo a frio. Não creio que caiba aí pensar em Surrealismo.
A imagem no sentido que nos interessa refere-se a um transbordamento de visão. Há
um mínimo de sentido plástico, de percepção estética, que nos permite dizer de um
rabisco qualquer que se trata de uma obra de arte. Muita poesia dada como surrealista
pode ser ingênua ou infeliz. O grande ponto de cegueira de nosso tempo radica em
uma promiscuidade. O mercado determina a abrangência da imagem. Artistas e críticos
dizem amém. E tua ideia de refinamento torna-se apenas decorativa ou circunstancial.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FC</b> O poeta brasileiro Roberto
Piva debochou da produção contemporânea: “o que temos no campo da poesia é a riminha
safada de véu e grinalda para embalar devaneios universitários”. Piva está se referindo
a que poesia? Não é errado defender grupos destruindo outros?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Antes quero ter um cuidado
de não cair nesse ardil sectário. Há uma precariedade existencial em nossa tradição
poética, sempre determinada por uma feição parnasiana. Piva referia-se àquela poesia
<i>pós-tudo</i>, de uma garotada encharcada de
Concretismo e fruto de uma leitura deformada da obra da João Cabral. A situação
piorou bastante e bem imaginamos o que não diria hoje dela o Piva. A realidade da
cultura brasileira – e não me refiro aqui apenas à arte – tem sido o sectarismo
de gabinete, a exclusão a portas fechadas. Piva troa sua voz abertamente. E sofreu
por conta toda forma de exceção.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FC</b> É possível arrolar os motivos
que levaram o mexicano Octavio Paz e o chileno Gonzalo Rojas a pedirem a desvinculação
de suas poesias do surrealismo? Por que o movimento virou um estigma?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Não sei se o correto seria
falar em estigma. Há erros de leitura, distorções etc., mas não propriamente um
estigma. Paz estava tomado de si, vivia em um mundo onde ele era o próprio centro
triunfante. O caso do chileno Rojas relaciona-se com uma grave discussão com Enrique
Gómez-Correa, quando da criação do grupo Mandrágora, os dois ficaram décadas sem
se falar. Mas não se pode transformar briga de rua em estigma. Esses deslizamentos
são ocorrências verificáveis em outros <i>ismos</i>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FC</b> Uma das acusações ao movimento
surrealista brasileiro era sua tardia manifestação nos anos 60, tendo em vista a
eclosão do movimento em 1924, na França. Seu livro demonstra que o surrealismo brasileiro
já era um desdobramento, tinha atualidade, sincrônico à produção realizada pelo
Cesariny e Helder em Portugal e Paz no México.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Gosto muito da imagem de
uma sociedade “providencialmente analfabeta”, expressão cunhada por Alcântara Machado.
Por vezes me parece que nossa crítica é <i>providencialmente</i>
alheia. Nos anos 60 importava sobretudo relações com argentinos e venezuelanos.
Um grupo como <i>Techo de la Ballena</i>, de
Caracas, estabelecia uma afinidade com a crítica corrosiva defendida por Willer
e Piva. Muitas formações grupais foram sendo estabelecidas ao longo de duas ou três
décadas sem que esse distanciamento de 1924 constituísse um empecilho. O próprio
<i>surrealismo bretoniano</i>, por assim dizer,
sofreu diversas acomodações e datações. É preciso entender que o problema brasileiro,
assim particularizado, nada tem que ver com o Surrealismo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FC</b> Percebo em seu ensaio uma
crítica velada ao modernismo. Os modernistas teriam sido o principal obstáculo para
o fortalecimento surrealista no Brasil? Pensamos, por exemplo, na adoção de Benjamin
Péret e Blaise Cendrars (que estiveram no Brasil) pelos modernistas? Houve tal confusão?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Já em 1927 dizia o Alcântara
Machado: “O modernismo brasileiro hoje em dia mais parece centro de debates do que
movimento criador”. Não se trata de fortalecimento do Surrealismo, como dizes, mas
de debilitação sistemática de uma cultura que estava em plena fase de amamentação.
O mesmo Alcântara situava a “exuberância livresca” e a “ignorância frondosa”, como
sendo “dois males do modernismo brasileiro”. Stefan Baciu, por sua vez, diz que
em uma conversa com Péret, no Rio de Janeiro, em 1955, acerca “do surrealismo no
mundo e na América Latina”, definiu o plano daquela antologia dele. Acaso essa conversa
teria sido decisiva na ausência de brasileiros em uma antologia de âmbito latino-americano?
Quantos desfoques estavam sendo processados naquele momento. Precisamos rever nossa
história toda. Não é somente o modernismo que é falho de contextualização, claro,
mas que há ali uma série de fatores que devemos reconsiderar, isto sim.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FC</b> Claudio Willer, Roberto
Piva e Sérgio Lima são subestimados no cenário poético atual?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> A seco, eu responderia que
sequer são percebidos, mas há uma distinta consideração em torno de cada um. Roberto
Piva sempre foi um notável franco atirador. Dentre todos os poetas brasileiros é
o que melhor sabe mesclar Surrealismo e Beat Generation, sem limitar-se a mera cópia.
Sérgio Lima fez clara opção pela historiografia, saindo de cena o poeta que até
meados dos 80 ainda publicava. Claudio Willer fortaleceu a natureza de agitador
cultural e por aí foi. Também ficou sem publicar poesia, embora tenha publicado
uma narrativa autobiográfica na década passada e tenha sempre participado de leitura
de poemas. Enfim, apenas o Piva seguiu publicando poesia, o que nos força a rever
essa leitura de uma subestimação. Não creio que haja uma particularidade de cunho
surrealista envolvendo o tema, insisto. É preciso não criar mais saco de pancadas,
entende? Aos poucos criamos uma história de <i>coitadinhos</i>.
O Brasil não se percebe, é um país às avessas. E geralmente os resmungos são fortuitos
e incabíveis.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FC</b> Murilo Mendes é um caso
de falso surrealista? Há, por sua vez, surrealistas ocultos na poesia brasileira?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Eu não diria propriamente
de Murilo que se trata de um <i>falso surrealista</i>.
Malandramente brasileiro descobriu um ponto de não se indispor com ninguém. Tem
uma obra admirável, o que não encontramos nos dois Andrade, Mário e Oswald. O desdobramento
da poesia brasileira não teria necessariamente que dar no Surrealismo, não vamos
trocar um sectarismo por outro. As figuras ocultadas dizem respeito a um programa
mais austero, onde o Surrealismo não era senão um ponto. Em ensaio recente Fábio
Lucas menciona que a essência da proposta surreal de Murilo Mendes “vem da inspiração
onírica entrelaçada com a rebeldia antiburguesa”, mencionando ainda que “o seu surrealismo
ora apresenta um transbordamento barroco, ora é contido e seco como um clássico”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FC</b> De que forma o surrealismo
influenciou sua poesia?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Uma afinidade vinculada
à ideia de desprendimento. O verso somado à existência, sim, mas cobrando valor
para ambos. Tal identificação não anula outras presenças essenciais à minha poética.
A própria relação entre Surrealismo e Barroco na tradição poética hispano-americana
– o que não houve no caso brasileiro – reforçou em muito minha percepção. Desde
uma primeira leitura senti uma afinidade enorme, por exemplo, com a poesia de Enrique
Molina e Ludwig Zeller, e em ambos se pode pensar nessa mescla de Barroco e Surrealismo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FC</b> O Sr. trocou correspondência
e manteve laços estreitos de convivência intelectual com a maioria dos poetas analisados
em <i>O Começo da Busca</i>. A ligação afetiva
não pesou no julgamento estético?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Há sempre o risco. Contudo,
o livro apresenta uma mostra substanciosa de poemas desses poetas e a diversidade
estética que os define cuida de negar interferência dessa condição afetiva. Inclusive
recupero vozes como Juan Sánchez Peláez, Juan Calzadilla e Roberto Piva, que já
não se encontravam mais percebidos como surrealistas. O assunto é inesgotável, e
gostaria de mostrar ao leitor brasileiro poetas como Julio Llinás, Carlos Latorre
e César Dávila Andrade, por exemplo. Creio que este livro é um primeiro momento
para se eliminar certo vício de isolamento e conseqüentes distorções de leitura.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FC</b> Quanto tempo demandou de
entrevistas, ensaios e traduções para finalizar <i>O Começo da Busca</i>, que faz um apanhado inédito das expressões mais originais
na Argentina, Chile, Venezuela, Peru, Brasil?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> É sempre difícil precisar
isto, pois não se trata de um contrato editorial ou de uma tese acadêmica. Há quase
duas décadas mergulho em textos fora de circuito que dizem respeito à poesia e à
crítica dessa poesia em âmbito hispano-americano. O Surrealismo é, portanto, parte
disto. Mas sempre me chamou a atenção, confesso, a maneira como certa rejeição ao
que fira a razão foi tomando corpo em nossa poética. O mais interessante é que a
realidade do país sempre feriu a razão. E o resultado dessa química foi uma razão
ferida sem consciência de, ou talvez uma razão preferencialmente ferida. De qualquer
maneira, o livro é fruto de um largo acompanhamento, viagens, troca de correspondências.
E traz consigo dois projetos paralelos: um volume de entrevistas a poetas latino-americanos
– cuja primeira versão se publicou em 1998 sob o título de <i>Escritura Conquistada</i> – e um outro de ensaios sobre os principais desdobramentos
estéticos ocorridos na poesia latino-americana no decorrer do século XX. Além disto,
há um segmento virtual, o site <i>Banda Hispânica</i>,
que coordeno para o <i>Jornal de Poesia</i>,
um banco de consultas permanente sobre poesia hispano-americana, onde já se encontram
à disposição do leitor centenas de páginas, e o mantenho constantemente atualizado.
E há ainda a revista <i>Agulha</i>, que dirijo
com Claudio Willer, que está parcialmente empenhada na difusão do Surrealismo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FC</b> Depois da exposição surrealista
no Brasil, parece que vingou uma preocupação revisionista. Não são poucas as obras
que tratam do tema lançadas nos últimos anos: <i>Vanguardas latino-americanas</i>, de Jorge Schwartz, <i>A Aventura Surrealista</i>, de Sérgio Lima, e
<i>Surrealismo e Novo Mundo</i>, de Roberto Ponge.
Como o Sr. situa <i>O Começo da Busca</i> entre
esses livros?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Em 2001, podemos enumerar
o dossiê da revista <i>Cult</i>, o simpósio promovido
pela UNESP e a exposição do CCBB. Este meu livro sai inclusive com data de 2001,
no apagar de luzes do ano. Todo revisionismo está intrinsecamente ligado a uma nova
seção de equívocos, sobretudo quando não consegue escapar de um modismo. O Surrealismo
não foge ao tema. Há uma bibliografia sobre Surrealismo que ainda não se encontra
devidamente assimilada. Valentin Facciolli, por exemplo, tem escrito algo relevante
sobre o assunto. Claudio Willer tem dado contributo impecável em termos de artigos
na imprensa. Jorge Schwartz, assim como José Paulo Paes e Gilberto Mendonça Teles,
apresentam uma cronologia sumária dos acontecimentos, onde claramente se detecta
um esquematismo sem maior conseqüência. O livro organizado por Robert Ponge reflete
bem essa diversidade até aqui aludida. O primeiro volume de <i>A Aventura Surrealista</i>, de Sérgio Lima, requer
a continuidade editorial para que se constate a validade. De qualquer maneira, o
que impera é a necessidade de estabelecer uma discussão aberta sobre os acontecimentos,
desde que colocados com isenção e honestidade. Acho que <i>O Começo da Busca</i> cumpre esse papel.<span style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">[2002]<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 8pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">[Entrevista
concedida a Fabrício Carpinejar. Originalmente publicada no jornal <i>Rascunho</i> # 24. Curitiba, abril de 2002. Integra
o livro <i>O hábito do abismo (Entrevistas com Floriano Martins)</i>, de Márcio
Simões (ARC Edições: Fortaleza, 2013).]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
http://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/http://www.blogger.com/profile/15464755224800829626noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5262314379244716711.post-17387527031110594792014-10-04T19:20:00.000-07:002014-10-04T19:23:33.395-07:00UM OLHAR NA POESIA | Entrevista a Carmen Virginia Carrillo<div align="right" class="MsoTitle" style="text-align: right;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-SY4l9Sn8E0A/VDCqpd9IuMI/AAAAAAAABL4/13mLlb81TZM/s1600/2001%2BFM%2B%2B%5BPanam%C3%A1%5D%2B2.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-SY4l9Sn8E0A/VDCqpd9IuMI/AAAAAAAABL4/13mLlb81TZM/s1600/2001%2BFM%2B%2B%5BPanam%C3%A1%5D%2B2.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>CARMEN
VIRGINIA CARRILLO</b>
O que é a poesia para Floriano Martins?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FLORIANO
MARTINS</b>
Dizia o grego Embeiríkos que “a poesia é o desenvolvimento de sapatos engraxados”.
No mesmo poema dizia ainda: “esta excursão não tem fim”. De alguma maneira, toda
definição limita. A poesia se deixa encharcar de toda a matéria humana. O homem
a anuncia como o canto da gravidade, da vivência. Mesmo assim, como digo ao final
de um poema, “haverá sempre algo ali impossível de se seguir”. Portanto, melhor
será não defini-la, mas antes tomar-lhe o curso, vendo o que se aprende com ela.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>CVC</b> Quais são os autores que
mais influenciaram sua obra?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Não compartilho muito essa
ideia algo imprecisa das influências que, no caso de um escritor, sempre remete
a um plano literário. Compreendo que um autor tem por influência maior a própria
experiência de vida. Em meu caso, acrescentaria um diálogo que quase sempre estabeleço
com algum livro quando estou a escrever. Posso assim pensar em livros como <i>The White Goddess</i>, de Robert Graves, ou <i>Le coupable</i>, de Georges Bataille, ou <i>Diario de muerte</i>, de Enrique Lihn, ou <i>O livro egípcio dos mortos</i>, ou <i>El blasfemo coronado</i>, de Humberto Díaz-Casanueva,
que foram leituras que me acompanharam durante a escritura de alguns de meus livros.
Mas juntamente com essas leituras, posso também referir-me ao <i>Paris Concert</i>, de Keith Jarrett, ou aos carvões
de Goya, ou ao <i>Joe's garage</i>, de Frank
Zappa e a muitas canções de Tom Waits etc., mas com sinceridade não vejo ali o que
se poderia chamar de influência. Agora, como somos a soma de tudo o que fomos e
seremos, é natural que todos os poetas estejam em mim, sem que me caiba destacar
algum. Em todo caso, interessa o mergulho na existência humana, no grande tumulto
originário, alheio a todo tipo de identificações convencionais, literárias ou não.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>CVC</b> Qual relação você encontra
entre filosofia e poesia?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Não creio em nenhuma dessas
duas forças desgarradas de uma imanência que lhes é peculiar, ou seja, a relação
intrínseca que ambas devem ter com o homem e a realidade. Qualquer tentativa de
torná-las distantes dessa imanência, por exemplo, a redução a mera técnica (mística
ou poética), não consegue senão afastar o próprio homem de si mesmo. Mas tenhamos
em conta que poesia é criação, invenção, ao passo que filosofia é reflexão sobre
o criado ou seu desejo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>CVC</b> O tempo e a memória são
dois temas recorrentes em sua obra. Você acredita que o tempo da escritura é um
tempo mágico que eterniza o assombro do poeta diante da vida, suas emoções, vivências
e ansiedades?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Não há propriamente um tempo
mágico. O que se poderia chamar de mágica é nossa relação com o tempo. E esta magia
tem que estar na carne daquilo que escrevemos, pois é afinal o que estamos vivendo.
Tal experiência pulsante, diária, não se separa de uma memória, seja do passado
ou do futuro. A escritura de um poema reflete a vida de seu criador, consequentemente
comporta tanto o sublime quanto o revés, de maneira que o assombro do poeta estará
ligado mais à capacidade de percepção da realidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>CVC</b> O crítico Rolando Toro comentou
que “seu projeto poético é subversivo, alheio aos valores convencionais”. Em que
medida a sua obra se revela contra a tradição poética do Brasil?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Há um componente metapoético
em minha poesia que a aproxima um pouco de autores como Jorge de Lima ou Dante Milano.
Trata-se de uma reflexão constante sobre o próprio pensamento poético, em meu caso
uma crítica à relação entre poeta e sociedade. Por outro lado, participam de minha
poética componentes da tragédia (personagens, diálogo, trama, coro), que lhe dão
uma peculiaridade dramática que não se observa na tradição lírica brasileira. A
subversão a que se refere Rolando Toro diz respeito a um vício formalista, beletrista,
parnasiano, que caracteriza a poesia brasileira, somente rompido em raros momentos
em toda a história.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>CVC</b> Você se considera um poeta
surrealista? Qual a importância da analogia em seu processo criador?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Devo aclarar essa questão.
Tenho com o Surrealismo uma relação entranhável, sobretudo se pensarmos em alguns
poetas hispano-americanos, a exemplo de Enrique Molina ou Ludwig Zeller, que sempre
me interessaram muito. Agora, não me considero um surrealista, e sim alguém que
chamou para si a defesa do Surrealismo, levando em conta que se tinha dele uma ideia
bastante distorcida em meu país. Além desse aspecto, não caibo nas classificações
habituais.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Já no tocante à analogia, é naturalmente a chave
de todos os conflitos que encarno em meu processo criador, as relações entre visível
e invisível, possível e impossível, mundo criado e mundo por criar. A analogia como
uma transgressão do facilmente perceptível, do que se mostra apenas em aparência.
Como destacou Rolando Toro, vemos em minha poética uma “linguagem que para viver
deve consumir seu corpo”. Em tal consumição reflete sobre as formas que encarna,
averiguando inferno e paraíso, Eros e Tanatos, todos os pares que conformam a grande
aventura humana, reconhecendo as semelhanças ocultas, restituindo o mistério da
imagem, uma mística profunda que transgride todas as leis de um pensamento lógico.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>CVC</b> De seus primeiros livros
de poemas à sua última produção poética houve alguma mudança estilística fundamental?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Naturalmente. Por muito
tempo confesso não haver encontrado uma voz própria. Tanto em forma como em conteúdo,
vivia um pouco à sombra de algo já escrito. Em um primeiro momento, escrevi muito
pautado pelo discurso, despreocupado com a forma. Logo me deixei influenciar bastante
pela <i>Beat Generation</i> e o universo dos
<i>comics</i>, mesclando essas duas leituras
em painéis que buscavam já alguma aproximação com o que escrevo hoje. Mas somente
a princípios dos 90 é que defini uma poética que fosse a grande soma de todas as
vivências e percepções, uma escritura polissêmica cuja complexidade estrutural não
fosse apenas uma articulação retórica, mas sim uma estratégia essencial à própria
resolução dos desafios impostos, definida por um sentido natural de abrangência
de códigos, quase uma volúpia da escrita.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>CVC</b> Quando e por que motivo
surge seu interesse pela literatura hispano-americana?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Vem originalmente da curiosidade
que logo vai se mesclando com uma indignação. Ao ler o prólogo de uma edição da
<i>Obra Completa</i> de Vallejo vi ali menção
a dois ou três outros poetas que eu desconhecia. Ao procurar pistas me deparei com
vários, o que me foi levando a averiguações cada vez mais intensas, até que se descortinasse
diante de meus olhos um mundo completamente outro, fascinante em sua raiz e desdobramentos.
Desde então persigo um encontro possível entre essas múltiplas poéticas que constituem
a América Latina.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>CVC</b> Como se vê no Brasil a poesia
hispano-americana atual?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Sigo lamentando que não
se veja no Brasil a poesia hispano-americana, a menos que importe falar de iniciativas
isoladas ou de algum exercício tradutório entre jovens poetas. Em um plano editorial,
não se leva em conta, em meu país, a existência de uma poesia hispano-americana.
Raramente surge alguma edição, desprovida de qualquer caráter programático que nos
faça acreditar na existência de um diálogo entre duas culturas. Reflexo disso é
que criamos um entendimento desnorteado do que seja a poesia na América Hispânica.
Caso recente é o de fascínio de alguns poetas brasileiros pelo que se chama de neo-barroco
(ou <i>neobarroso</i>, como preferem), o que
se justifica apenas em função de ignorância nossa em torno dos grandes postulados
poéticos de gerações anteriores.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Como o Brasil encarna uma vez mais o <i>mito</i> beletrista, com todos os vícios formalistas
que o caracterizam (em qual outra tradição poética seria possível o Concretismo?),
o que percebemos da atual poesia hispano-americana é justamente aqueles acentos
que facilmente identificamos como um retrocesso em uma densa e iluminada tradição.<span style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> [2002]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 8pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">[Entrevista
concedida a Carmen Virginia Carrillo. Originalmente publicada na revista <i>Orpheu Digital</i> # 7. Porto Alegre,
janeiro de 2002. Integra o livro <i>O hábito
do abismo (Entrevistas com Floriano Martins)</i>, de Márcio Simões (ARC
Edições: Fortaleza, 2013).]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
http://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/http://www.blogger.com/profile/15464755224800829626noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5262314379244716711.post-8244736454841682452014-10-04T19:13:00.000-07:002014-10-04T19:13:04.065-07:00FLORIANO MARTINS TRAZ POETAS HISPANO-AMERICANOS AO BRASIL | Entrevista a José Castello<div align="right" class="MsoBodyText" style="text-align: right;">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-vSgg4aZtV5I/VDCni-R6TcI/AAAAAAAABLs/o_GnaT4MTmw/s1600/%5BMidia%5D%2B1998%2BS%C3%A3o%2BPaulo%2B01.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-vSgg4aZtV5I/VDCni-R6TcI/AAAAAAAABLs/o_GnaT4MTmw/s1600/%5BMidia%5D%2B1998%2BS%C3%A3o%2BPaulo%2B01.jpg" height="232" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 14.2pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Um cearense de 42 anos, autodidata
de formação, assina aquele que foi, provavelmente, o mais interessante livro de
entrevistas lançado no País em 1998. <i>Escritura
Conquistada (Diálogos com Poetas Latino-Americanos)</i>, um respeitável volume de
407 páginas, foi publicado em complicada, mas eficaz, co-edição entre a Fundação
Biblioteca Nacional, a Universidade de Mogi das Cruzes, de São Paulo, e a editora
Letra&Música, de Fortaleza. Traz longos diálogos, densos e bem meditados, do
autor, o poeta e crítico literário cearense Floriano Martins, com 24 poetas do continente,
entre eles nomes importantes, mas absolutamente desconhecidos entre nós, como o
nicaraguense Pablo Antonio Cuadra, o peruano Javier Sologuren, o chileno Pedro Lastra,
o cubano José Kozer e o argentino Leónidas Lamborghini. Há quatro brasileiros na
lista de entrevistados: o poeta, tradutor e crítico Ivan Junqueira, que não é preciso
apresentar; Sérgio Lima, um raro representante do surrealismo na poesia brasileira;
Sérgio Campos, poeta falecido precocemente em 1994, aos 53 anos, que se definia
praticamente de uma “arte arcaica”; e o poeta mineiro radicado em São Paulo Donizete
Galvão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 14.2pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">É
curioso, primeiro, que um trabalho de tal qualidade necessite de uma verdadeira
operação de guerra editorial para, finalmente, vir à luz. E depois, mais curioso
ainda, que seja um crítico e poeta de Fortaleza, em ponto tão distante da fronteira
hispânica, quem venha a realizar esse esforço de confronto, mas também conjunção
entre as duas Américas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 14.2pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Floriano
Martins é bem um intelectual nordestino. Vive das críticas que escreve para a imprensa
local, de projetos gráficos (pois é também projetista gráfico autodidata) e de traduções,
fazendo verdadeiras contorções para levar à frente seus projetos literários. É um
escritor de luta – e é isso, antes de qualquer outra coisa, o que causa respeito.
Recentemente, aliás, chegaram ao mercado seus dois mais recentes trabalhos como
tradutor: uma antologia de poemas de Federico García Lorca e um livro de contos
do cubano Cabrera Infante, ambos editados pela Ediouro, do Rio, volumes que também
organizou e prefaciou.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 14.2pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Como
poeta, Floriano Martins já tem dez livros publicados, o primeiro em 1979. Livros,
reconhece, que como costuma ocorrer com a poesia brasileira, caíram no esquecimento
quase completo, sobretudo por causa do eterno problema da distribuição. <i>Alma em Chamas</i> (Letra&Música), o mais
recente, acaba de chegar às livrarias nordestinas. Floriano Martins circula sempre
que pode pelo Rio, onde frequenta poetas e críticos como Marco Lucchesi, Ivan Junqueira
e Antonio Carlos Secchin, e por São Paulo, onde morou entre 1982 e 1987 e deixou
amigos e interlocutores assíduos como Claudio Willer e Donizete Galvão. Mas é, por
princípio, um grande solitário – ainda mais agora que trabalha em casa e vive apenas
para escrever.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 14.2pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">E
não pára de escrever. No fim do ano passado, publicou pela Fundação Memorial da
América Latina um belo ensaio, <i>Escrituras
Surrealistas</i>, dedicado ao estudo (bastante desprezado, é bom recordar) do surrealismo
na América hispânica. Somado ao volume de entrevistas, ao livro de poemas e às duas
traduções, foram cinco livros publicados em apenas um semestre. Não satisfeito,
Floriano trabalha agora em <i>O Fogo nas Cartas</i>,
um volume que reúne entrevistas com escritores brasileiros e algumas das resenhas
críticas que publicou na imprensa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 14.2pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Em
parceria com o poeta chileno Pedro Lastra, trabalha ainda na organização de uma
antologia da obra do poeta chileno, já falecido, Enrique Lihn – a ser publicada
simultaneamente no Chile e no Brasil. Dedica-se também a traduzir uma novela do
escritor costa-riquenho Alfonso Peña. E faz anotações, já bastante avançadas, para
um volume de ensaios sobre os modernistas na América hispânica. “Nesse caso, em
vez de entrevistas, pois todos já morreram, eu os apresento por meio de ensaios”,
explica.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 14.2pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Desde
que abandonou um emprego público, há três anos, para dedicar-se integralmente à
literatura, Martins parece tomado pela febre de escrever. Mas não vê nada demais
em seu ritmo avassalador de trabalho. “São projetos que eu vinha desenvolvendo devagar
e agora chegaram à hora de concluir”, diz. É hora também de falar sobre o que finalmente
está concluindo. [<b>JC</b>]<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>JOSÉ
CASTELLO</b>
Como começou sua paixão pela poesia hispano-americana?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FLORIANO
MARTINS</b>
Isso surgiu pelos idos de 83, 84, ao receber de um amigo na Espanha, de presente,
a <i>Poesia Completa</i> de Cesar Vallejo. Logo no prólogo encontrei referências ao chileno
Vicente Huidobro e ao uruguaio Julio Herrera y Reissig, poetas que eu desconhecia,
ambos da lavra modernista, da virada do século – o modernismo na América hispânica
equivale, aproximadamente, ao nosso simbolismo. São poetas que me despertaram grande
curiosidade e me estimularam a descobrir as trilhas invisíveis dessa poesia. A partir
deles, em um ou dois anos, estabeleci uma vasta rede de correspondência com escritores
do continente. Nas primeiras cartas, eu me identificava como um autor brasileiro
curioso a respeito da literatura hispânica e me dizia interessado em me corresponder.
As respostas foram, no geral, muito acolhedoras. Em pouco tempo, eu me correspondia
com dezenas, centenas, mesmo, de poetas de todo o continente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>JC</b> Em que época começou a fazer
as primeiras entrevistas?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Já entre 1985 e 88, comecei
a fazer entrevistas com escritores brasileiros, que publiquei em parte no <i>Suplemento Literário do Minas Gerais</i> e também
no Suplemento do <i>Diário do Nordeste</i>, de
Fortaleza. Só agora eu as estou reunindo em um livro, <i>Fogo nas Cartas</i>, que acabo de organizar. Esse não é só um livro de entrevistas:
é uma seleção dos textos que publiquei na imprensa. Há também resenhas, comentários
e artigos críticos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>JC</b> Viajou pela América Latina
para fazer as entrevistas?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Todas elas foram feitas
por carta. Em alguns casos, houve um vaivém: eu recebia um lote de respostas e remetia
em seguida novas perguntas, num diálogo lentíssimo. Com os escritores brasileiros,
afora raras exceções como o Cláudio Willer e o Roberto Piva, que foram feitas pessoalmente,
trabalhei da mesma forma. A técnica que passei a exercitar, e que hoje prefiro,
é a da entrevista epistolar. Pode-se pensar que optei por ela só por força das contingências,
mas não é só isso. As entrevistas feitas por cartas proporcionaram-me uma profundidade
maior e as conversas tornaram-se também textos literários.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>JC</b> Quando você começou a trabalhar
nas entrevistas?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> As entrevistas com os hispano-americanos
foram feitas entre 1988 e 1995, portanto ao longo de quase oito anos. Foi preciso
ter paciência. Há a demora natural da correspondência internacional. E também houve
outros autores que, por uma razão ou outra, acabaram por recusar-se a responder
minhas perguntas e perdi longo tempo esperando por isso. O livro só ficou pronto
em 1995. Foi entregue à gráfica em julho de 1998 e em agosto estava pronto – uma
década depois da primeira entrevista. Foi uma edição pequena: 2 mil exemplares foram
entregues à própria Biblioteca Nacional e a tiragem restante, não mais que 700 exemplares,
ficou com a editora, que teve de enfrentar as dificuldades de distribuição. Fiz
lançamento em Natal, São Paulo, Rio e Brasília, ocasião em que as pessoas puderam
comprar o livro. São os exemplares que sobraram dessa leva, não sei quantos, que
ainda estão nas livrarias.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>JC</b> Que critérios usou para
a escolha dos entrevistados?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Todos os entrevistados representam,
de alguma maneira, momentos inestimáveis da poesia contemporânea em seus países.
Representam muitos gêneros, estilos, escolas. O chileno Enrique Gómez-Correa, ou
o venezuelano Juan Calzadilla, ou o colombiano Fernando Charry Lara foram, por exemplo,
os fundadores de importantes movimentos literários em seus países. Além disso, há
a importância muito grande que alguns deles deram ao ensaísmo e à tradução, como
é o caso do peruano Javier Sologuren, ou o do chileno Pedro Lastra, ou o do boliviano
Eduardo Mitre. É a multiplicidade que define a existência do poeta em nossa sociedade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>JC</b> Esses poetas consagrados
confirmaram seu prestígio?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Tive mais confirmações que
desilusões. Tive, sim, algumas frustrações. O chileno Enrique Lihn, por exemplo,
às vésperas de nosso encontro, morreu. Não pude entrevistar o peruano Emilio Adolfo
Westphalen, que, ao lado de Cesar Moro, outro peruano que já morreu, é um dos mais
destacados nomes do movimento surrealista do Peru. Ele queria receber-me, mas está
muito velho, com problemas de saúde, e não foi possível.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>JC</b> Por que estamos tão isolados
da poesia da América hispânica?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Segundo alguns dos entrevistados,
o isolamento dá-se por causa da ineficiência das ações diplomáticas de seus países.
Outros acham que há um desinteresse mútuo, expresso na frase “nós não nos interessamos
por eles porque eles não se interessam por nós”, o que, além de não resolver o problema,
é um argumento falho. Basta pensar que em alguns países como o México, o Peru e
a Venezuela se publicam coleções importantes de autores brasileiros. A Biblioteca
Ayacucho, da Venezuela, por exemplo, tem um programa editorial com obras completas
de autores da a América Latina, entre eles vários brasileiros, como Drummond, José
Lins do Rego e Machado. Além do mais, há o mais inaceitável dos argumentos: o da
falta de mercado. A verdade é que não temos nenhum programa editorial para a publicação
da poesia hispano-americana. E os poucos poetas que chegam até nós, chegam às vezes
de forma bastante estranha. O argentino Enrique Molina, por exemplo, entrou no Brasil
por meio do único romance que escreveu, um romance histórico! Ele morreu há dois
ou três anos, deixando dez excelentes livros de poesia, mas só conhecemos seu único
romance, de menos importância. As editoras parecem, às vezes, trabalhar às cegas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>JC</b> Isso, provavelmente, produz
uma visão distorcida da poesia hispano-americana contemporânea.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Sim, há um desconhecimento
em relação ao que se passa lá fora e, em consequência, há, como eu costumo chamar,
um “desprograma” editorial. O nicaraguense Ernesto Cardenal, bastante conhecido
no Brasil, é, na verdade, um poeta de menor importância em sua geração. Basta confrontar
sua obra com a de Pablo Antonio Cuadra, um de meus entrevistados em <i>Escritura Conquistada</i>, e também com a de
Luiz Alberto Cabrales, e se verá a diferença. E, no entanto, enquanto esses dois
são absolutamente desconhecidos no Brasil, já temos pelo menos uma antologia de
Cardenal em português. O mesmo se dá em relação ao Chile. Enquanto se disseminam
as traduções do pior Neruda, desconhecemos poetas como Pablo de Rokha, Rosamel del
Valle ou Humberto Dias Casanueva, que são da mesma geração de Neruda e muito aclamados
pela crítica chilena. Do mesmo modo, modernistas de importância do mexicano Lopes
Verlarde, ou do peruano José Maria Eguren, ou do argentino Leopoldo Lugones, continuam
desconhecidos no Brasil.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>JC</b> E quais seriam os motivos
de tantos enganos?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Não consigo encontrar nada
que justifique esse isolamento e esses enganos a não ser uma desprezível tendência
brasileira de considerar a América hispânica mais próxima do Terceiro Mundo do que
nós. O que é apenas um efeito cascata no âmbito do colonialismo cultural. Nós somos
uma nação sem <i>paidea</i>, desfigurada culturamente,
e aí não aceitamos que possa haver identidade na cultura peruana, na uruguaia, na
mexicana. E cometemos um grave erro. O importante seria que os escritores brasileiros
concordassem em discutir abertamente o que se passa conosco.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>JC</b> Não persistem também zonas
de isolamento interno? Apesar de todos os avanços das telecomunicações e da informática,
uma cidade como Fortaleza não está ainda culturalmente isolada?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> A verdade é que só temos
dois grandes centros editoriais, São Paulo e Rio, e tudo o mais é periferia. E o
que se produz aqui só existe se desaguar e ecoar nesses dois centros. É lamentável,
mas é uma realidade. No caso cearense, por exemplo, temos dois poetas que se poderia
mencionar nacionalmente: Gerardo Mello Mourão e Adriano Espínola. Mas ambos moram
no Rio e, além disso, têm suas obras editadas por grandes editoras do Rio ou de
São Paulo, que fazem seus livros existir. A publicação de um livro já não garante
sua existência. Um livro só existe quando é lido e para isso precisa ser distribuído.
No caso do Ceará, temos poetas como um Francisco Carvalho, e no passado tivemos
José Albano e Américo Facó, já mortos, que foram em seu tempo nomes de grande importância.
Mas eles não tiveram obras reeditadas. Eu mesmo estou cuidando da reedição da obra
do Facó, um poeta esquecido que morreu só há 40 e poucos anos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>JC</b> Ivan Junqueira diz que os
poetas cearenses brigam muito entre si – e aponta, assim, para um isolamento interno
também.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Isso é verdade, mas se dá
mais no plano existencial, até porque a inveja é um dos componentes mais característicos
do perfil do cearense – e ao revelar isso num artigo na imprensa de Fortaleza, certa
vez, eu quase fui apedrejado, mesmo risco que corro agora. A verdade é que no nosso
caso a inveja é um componente forte e não diz respeito só aos artistas. Eu não saberia
dizer qual é a origem desse sentimento, francamente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>JC</b> Se há pouco espaço, é natural
que a competição se acirre.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> De fato, de uma maneira
geral, os poetas são invejosos. Mas é curioso ver até que ponto essa briga se dá
entre bons e maus poetas. Não me vem à memória o caso de nenhum bom poeta que participe
desse tipo de atitude, mas posso estar enganado. O fato é que não nascem bons poetas
todo dia, mas todo dia há alguém querendo ser poeta e isso cria um ambiente propício
para esse tipo de atitude. A poesia que se divulga hoje em raros momentos vai além
de superficialidade, de maneirismo retórico, e o que se vê é uma ausência quase
absoluta de identidade. Os poetas, hoje, são sempre epígonos de alguma determinada
circunstância, escrevem sempre “à maneira de”. Boa parte desses poetas mais divulgados
é, além disso, refém da imagem. Brinco dizendo que se tirassem o vaso de flor da
janela não teriam mais sobre o que escrever.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>JC</b> O contato pessoal com os
poetas que entrevistou não teria sido importante?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> De todos os poetas o único
que conheci pessoalmente foi o chileno Rolando Toro. E isso porque ele esteve em
Fortaleza e veio à minha casa. Poetas da América hispânica raramente aparecem no
Nordeste. Mas as cartas permitem uma aproximação muito boa e também que se faça
muita coisa a partir delas. No ano passado, por meio de uma correspondência intensa
com a revista literária <i>Blanco Móvil</i>,
do México, fizemos uma edição da revista inteiramente dedicada à literatura brasileira
contemporânea, organizada e apresentada por mim.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>JC</b> Como é o contato entre os
poetas nordestinos?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> A grosso modo, os poetas
não se comunicam entre si. Mais do que a disputa, há o isolamento. Isso é do temperamento
dos poetas? Do meu não é. Não faço parte disso, não entendo, mas os escritores têm
dificuldade de ir à imprensa, acham que a imprensa é que deve ir a eles. Depois
reclamam que não há espaço para eles… Muitas vezes isso é verdade, mas outras vezes
vejo o oposto: o escritor acha que tem de vir alguém atrás dele, a começar pelo
próprio colega, o outro escritor. Isso é pela vaidade, pelo orgulho, ainda muito
fortes no temperamento do escritor brasileiro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>JC</b> Só do brasileiro?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Nas entrevistas com os hispano-americanos
não transparece esse tema do orgulho. Há, no entanto, alguns casos bem parecidos.
Os colombianos também são um tanto quanto desunidos. De um modo geral, não vejo
esse orgulho e essa vaidade em outros países, não quero dizer que não exista. Vejo,
sim, o inverso disso, como é o caso dos poetas peruanos, que são muito unidos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>JC</b> Não são as condições adversas,
de mercado, que provocam tanta competição?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Isso pode ser uma boa defesa
dos escritores, mas não é justificativa. Com condições editoriais mais favoráveis,
num local com uma tradição de publicação de revistas poéticas, etc., podem competir
menos. Aqui as revistas ainda são sazonais, sem consistência, sem durabilidade.
Logo, há menos espaço para os escritores e os ânimos se acirram. Países pequenos
como a República Dominicana ou Porto Rico têm, ao contrário de nós, grande tradição
de revistas literárias. O México, nesse sentido, é insuperável. Não há mais espaço
para a aventura literária, três amigos juntarem-se para fazer uma revista. Hoje,
uma revista é uma empresa, tem de ser feita em outras bases. E, quando há a oportunidade
de uma revista se firmar, sempre aparece alguém disposto a invalidar o trabalho.<span style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> [1999]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 8pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">[Entrevista
concedida, por telefone, a José Castello. Originalmente publicada no <i>Caderno 2</i>, do jornal <i>O Estado de S. Paulo</i>. São Paulo,
06/02/1999. Integra o livro <i>O hábito do
abismo (Entrevistas com Floriano Martins)</i>, de Márcio Simões (ARC Edições:
Fortaleza, 2013).]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
http://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/http://www.blogger.com/profile/15464755224800829626noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5262314379244716711.post-749895291379791192014-10-04T18:44:00.000-07:002014-10-04T19:15:07.887-07:00A NECESSIDADE DA POESIA | Entrevista a Emmanuel Nogueira<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 14.2pt; text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-uxC9OYiLNlY/VDCklEO5zKI/AAAAAAAABLg/6kpGZ6gvaAo/s1600/%5BMidia%5D%2B1998%2BFortaleza%2B01.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-uxC9OYiLNlY/VDCklEO5zKI/AAAAAAAABLg/6kpGZ6gvaAo/s1600/%5BMidia%5D%2B1998%2BFortaleza%2B01.jpg" height="232" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Há uma sintomática impressão que há mais poetas do que leitores. Não pelo
fato dos poetas continuarem desempregados, sem importância para uma sociedade que
cultua outros valores, mas, e principalmente, porque os leitores começam a desaparecer.
Uma frase rebuscada, uma palavra que não se escute na televisão e já não há mais
leitores, por sua vez, a poesia navega numa longa estiagem de pouca criatividade
ou descoberta. Mas quem se preocupa com isso? Quem se deteria a ler uma matéria
sobre poesia se há os seios de Carla Perez e da Xuxa para se pensar? É melhor se
deleitar na ode dos simulacros do que na aridez e tragédia dos poetas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 14.2pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Talvez isso justifique que raros poetas não permitam
a completa extinção da espécie. Floriano Martins é um desses raros escultores da
palavra. Um poeta atento e ético, apegado desde cedo à leitura; a uma descoberta
do mundo pela formalidade e criação da linguagem. Em seu novo livro <i>Alma em chamas</i>, uma obra que levou dez anos
para ser construída, Floriano revela o zelo com a linguagem, comportamento típico
de um diletante profissional. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 14.2pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A poesia não pode ser considerada sua morada, pois
o poeta vive de aventura, de caminhadas por mundos recônditos e íntimos. <i>Alma em chamas</i> revela uma aventura em reconstruir
a visceralidade da escrita poética, fugindo dos temas conjunturais e penetrando
em problemas da linguagem e do homem moderno.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 14.2pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">E se você leitor conseguiu atravessar esses íngremes
parágrafos, dê chance a você mesmo, leia algo desinteressante como poesia, como
a entrevista que vem logo a seguir. Assim, quem sabe, a gente passa a deixar de
lado tanta coisa que interessa, mas que não tem a menor importância. [<b>EN</b>]<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>EMMANUEL NOGUEIRA</b> Você teve desde cedo o contato com os livros e em seguida o distanciamento
da sua geração. Para o exercício do poeta é preciso esse isolamento do senso comum?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FLORIANO MARTINS</b> Não sei se é necessário. Pode-se ter condições benéficas
ou não. Tudo depende muito de que circunstâncias vive a geração. Às vezes, se tem
a sorte de viver numa geração riquíssima e isso pode lhe trazer muitos benefícios,
mas também se tem verdadeiro empastelamentos, momentos de transição, então não há
muito o que oferecer. De qualquer forma as duas coisas são importantes: o distanciamento
teve uma importância pelo fato de ter permitido ler muitos livros e a minha geração
não tinha muito o que oferecer. A minha geração é dos anos 70, no qual vivíamos
toda aquela celeuma em torno da geração mimeógrafo, que é na verdade um brutal retrocesso.
Embora muitos críticos tenham ressaltado aquilo como um ponto a mais, um momento
de salto na literatura, na verdade tudo ficou empastelado. Passados mais de vinte
anos, percebe-se que não ficou nada daquela geração. Sabe-se que alguns nomes funcionam
como falsos mitos, mas em termos de obra literária não há nada de substancial originado
por aquela geração.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>EN</b> No seu caso o distanciamento e a leitura demarcaram uma trajetória importante
para o aparecimento do Floriano poeta. É possível ter uma ideia de que é feito a
textura da poesia. Ou cada poeta tem sua forma, seus mistérios?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> A poesia é tão diáfana, que talvez a sua substância
venha<span style="color: #c00000;"> </span>exatamente dessa diafanidade, quase que
invisível, ininteligível, intocável. Essa é a sua grande substância. Mas é evidente
que vem também de leituras, vem de diálogos com o mundo, de experiências, mas nada
que possa pensar como sendo uma coisa sobre a outra.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>EN</b> No seu livro, <i>Alma em chamas</i>, qual a substância que o constitui?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> O <i>Alma em chamas</i>
reúne todo o desdobramento do fazer poético que aprendi durante esses últimos anos.
Evidentemente essa obra não está aí no sentido de encerrar círculo ou ser testamento
poético ou coisa do gênero. Nesse livro eu jogo todo o manancial de experiências
que colhi durante esses anos, daí o fato de ser um livro não só extenso, mas complexo
na sua tessitura. Apresenta-se como cinco livros reunidos, mas pode ser lido como
um poema único, dividido em cinco capítulos e cada um abrangendo uma circunstância
diferente. Mesmo porque, por trás desses poemas existem sempre uma preocupação em
recuperar a linguagem poética no sentido de ligação com uma linguagem lírica e uma
linguagem trágica, o que, portanto, nos remete a uma recuperação da linguagem épica.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>EN</b> Quando você atesta que há complexidade inerente na tessitura desse livro
você está se referindo basicamente a que?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Me refiro àquelas duas coisas indissociáveis na poesia:
a forma e o conteúdo. Em “Alma em Chamas” há uma complexidade formal, no sentido
que o livro trabalha, em um mesmo capítulo, uma série de ousadias formais. Na mesma
composição de capítulo, você tem décimo, tercetos, sonetos, prosa poética mesclada
a diálogos; tem a presença de personagens; trechos confessionais; trechos líricos;
trechos de abordagens trágicas; trechos que lembram peças de teatro. Aliado a isso,
encontra-se também uma complexidade conteudística, pois, não há nenhuma abordagem
circunstancial sobre determinando assunto e sim todo um encadeamento de situações
que querem discutir a dimensão humana. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>EN</b> O tempo ajudou na arquitetura dessa complexidade, afinal, foram dez anos
mexendo, aprimorando, o fazer poético para que surgisse o <i>Alma em chamas</i>?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> São acumulações de experiências, mas o livro não é
uma coletânea de textos soltos, escritos ao longo dos anos, como é, por exemplo,
a obra “Crisantempo”, do Haroldo de Campos. Na verdade foram poemas pensados numa
trajetória. Os três mais antigos foram publicados porque surgiram circunstâncias
editoriais que permitiram publicações em livretos individuais [que são os três últimos
trechos do livro], mas eles não foram pensados isoladamente, para posteriormente
constituir uma coletânea, uma miscelânea, que depois de montada você pode desvelar
uma poética. Pode-se perguntar: “por que tanto tempo?” Foi o necessário para se
chegar ao término dessa aventura poética. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>EN</b> Você faz uma crítica veemente à poesia brasileira, chegando a afirmar que
desaprendemos a fazer poesia? Você se refere a uma época específica ou é uma crítica
generalizada?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Abranger a literatura como um todo seria demasiado
extenso. Um dia estava lendo uma resenha do jornalista Nilton Santos, da Gazeta
Mercantil, na qual ele comenta nove romances que tinham sido publicados nos últimos
meses. A razão de juntar todos os livros numa única resenha, dizia o jornalista,
é porque nenhum deles mereceria uma resenha isolada. Existe tamanha fragilidade
na tessitura do romance que se faz hoje no Brasil que chega a preocupar os críticos
e até jornalistas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>EN</b> Há alguma explicação para a ausência de criação na linguagem poética?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> A grosso modo, não nascem bons poetas a cada dia,
nós ficamos muito aflitos, principalmente num final de século que somos tomados
por novas formas de tecnologia. Nos afligimos diante da história como se fôssemos
uma parte isolada da história, quando somos um todo. A história é um tecido único.
Assim é natural que tenhamos períodos de baixa, afinal, não surgiram poetas como
Eliot, Pound, Pessoa, aos montes. Vivemos um período de baixa e não se sabe por
quanto tempo isso dura.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>EN</b> Nessa sociedade que vive sob a égide do sucesso, parece que o poeta não
está mais desempregado, como em outros períodos, mas em via de extinção?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Vendo a produção poética pelo ponto de vista da necessidade,
diria que o poeta vive um feliz ostracismo e nunca como uma condenação. Evidentemente
que a poesia é absolutamente desnecessária. Só não sei até que ponto a necessidade
pode ser situada como algo positivo e a desnecessidade como um valor negativo. Acho
que o básico da discussão é saber até que ponto a necessidade é realmente o que
interessa. O poeta terá sempre que ser um arrimo de família, pela simples razão
de que poeta, a partir da descida em sua própria intimidade, sai estabelecendo elo
de ligação com a intimidade de toda a humanidade e é daí que ele pinça as coisas
trágicas. Enfim, as coisas que teriam que ser corrigidas. O poeta de volta da sua
viagem não traz nenhuma boa notícia, por isso nunca é bem recebido.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>EN</b> Falemos de sua aventura. De um criador que se define numa aventura estoica,
na qual a ambição é o reconhecimento de si mesmo. Qual o lugar do leitor nessa aventura.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Cabe ao leitor encontrar um lugar no interior da obra.
Aqui voltamos àquela velha questão: a título de que e para quem se escreve? Em função
do leitor, da mídia, de uma circunstância editorial? O que orienta essa escrita?
Acredito que se escreve em função de duas coisas: da vivência e da escrita.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>EN</b> Tem-se então que acrescentar aí um dado ético seguido de estético.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> O poeta tem que ter um compromisso declarado com a
linguagem. O poeta não pode usar a poesia em benefício de uma outra situação. Se
você pegar qualquer escrita de um grande poeta, observa-se um diálogo com o mundo,
expressado e determinado a partir de uma linguagem, na qual pode-se observar todas
essas situações reunidas com muita coesão, sem preocupação de natureza moralista,
esteticista, as coisas funcionam como um todo.<span style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> [1998]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="font-size: 8pt;">[Entrevista
concedida a Emmanuel Nogueira. Originalmente publicada no <i>Caderno 3</i>, do </span><em><span style="font-size: 8pt;">Diário do Nordeste</span></em><span style="font-size: 8pt;">. Fortaleza, 21/11/1998. Integra
o livro <i>O hábito do abismo (Entrevistas
com Floriano Martins)</i>, de Márcio Simões (ARC Edições: Fortaleza, 2013).]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
http://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/http://www.blogger.com/profile/15464755224800829626noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5262314379244716711.post-24466515842561509662014-10-04T18:38:00.000-07:002014-10-04T18:38:10.820-07:00A MODERNIDADE NÃO É UM CADERNO DE RECEITAS | Entrevista a Rodrigo de Souza Leão<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-ZmcTv1kmcSQ/VDCglS2YCpI/AAAAAAAABLA/O5q3KYT8l-o/s1600/%5BFoto%5D%2B1999%2BFortaleza%2B01.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-ZmcTv1kmcSQ/VDCglS2YCpI/AAAAAAAABLA/O5q3KYT8l-o/s1600/%5BFoto%5D%2B1999%2BFortaleza%2B01.jpg" height="238" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>RODRIGO DE SOUZA LEÃO</b> Você acaba de lançar um livro de entrevistas com escritores latino-americanos.
Qual a importância de ouvir as vozes da poesia latino-americana?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FLORIANO
MARTINS</b>
Trata-se de um livro de diálogos com poetas latino-americanos. Este é o primeiro
registro em livro de um encontro assim tão amplo entre estes poetas. A maioria nem
se conhece entre si, sobretudo os brasileiros. Nosso conhecimento da poesia hispano-americana
é grosseiramente limitado. A razão de um diálogo não é exatamente a de se saber
quem é o mais importante ou quem antecede quem neste ou aquele assunto. O diálogo
radica justamente na troca de experiências. Trata-se tão-somente de ouvir o outro.
Claro, esta audição implica sempre um sentido crítico. No caso da poesia latino-americana,
creio que a importância maior de se ouvir essas vozes vem do fato de podermos descortinar
um mundo até então desconhecido. Reunir, como fiz, 24 poetas de dez países em um
mesmo lugar de encontro, cumpre o papel de apresentar ao leitor uma nova maneira
de observar o fato poético na América Latina. A partir daí é possível entender que
esta poesia não se limita àquelas circunstâncias mínimas equivocadamente delineadas
pela crítica ou por nossa falta de programação editorial. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>RSL</b> O que não pode faltar
em uma entrevista? O que busca saber do entrevistado?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Obviamente, uma comunicação
fluida entre as duas partes que a compõem. Uma entrevista falha quando o entrevistador
não possui uma carta de indagações ou quando o entrevistado desanda a esquivar-se
a todo instante. Enfim, quando não há compromisso, de um lado ou de outro, com a
integridade do diálogo. Evidente que há alguns casos de inexpressividade, mas não
é disto que tratamos. De minha parte, entrevisto pessoas a partir de um plano de
trabalho, de maneira que o que busco saber de um entrevistado é justamente sua relação
intrínseca com o que faz. Também busco uma cumplicidade na tessitura de um texto
final, de maneira que a entrevista (diálogo) resulte em uma espécie de ensaio a
quatro mãos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>RSL</b> Quanto tempo levou para
realizar este seu trabalho? Quais foram as maiores dificuldades?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> A publicação de <i>Escritura Conquistada (Diálogos com Poetas Latino-americanos)</i>
funciona como a primeira colheita de um largo plantio, que atravessa a contagem
de uma década. Ali há entrevistas realizadas entre 1988 e 1996. Contudo, antes já
realizara algumas outras não incluídas neste volume, assim como sigo preparando
novas. A intenção central é a montagem de um vasto painel crítico em torno da poesia
latino-americana em todo este século. Além das entrevistas, há o preparo paralelo
de duas outras instâncias: uma Antologia da Poesia Hispano-americana no Século XX
e uma seleção de ensaios sobre esta mesma poesia. Claro, a partir daí surgem inevitáveis
desdobramentos. Exemplo disto é o libreto <i>Escrituras
Surrealistas (O Começo da Busca)</i> (Fund. Memorial da América Latina. São Paulo.
1998) – um ensaio sobre o surrealismo na América Hispânica. Quanto às dificuldades
encontradas no preparo de <i>Escritura Conquistada</i>,
naturalmente contei com algumas inomináveis recusas por parte de poetas que não
quiseram ser entrevistados. Além disto, lamento a morte prematura do excepcional
poeta chileno Enrique Lihn (1929-1988), cuja entrevista seria algo indispensável
para este livro. Contudo, sua grande dificuldade foi de natureza editorial. O livro
passou por várias editoras, situação que me parece absurda, dada a indiscutível
sugestibilidade do trabalho em si. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>RSL</b> Como foi o processo de
escolha dos entrevistados para o livro?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Sendo um livro que vem a
partir de um projeto mais amplo de difusão da poesia latino-americana, a seleção
de autores entrevistados buscou tanto uma abrangência do maior número possível de
países assim como destacar a importância desses poetas no universo literário de
seu país. Em um primeiro momento, como já disse, reuni dez países. Agora estou trabalhando
no complemento deste painel iniciado em Escritura Conquistada. Cabe aqui uma digressão
interessante. Quando tive recentemente uma breve conversa com alunos e professores
na UnB, um professor nicaragüense indagou-me por qual razão havia incluído no livro
um “poeta de direita” como é o caso, segundo ele, de Pablo Antonio Cuadra. Disse-lhe
da absoluta inconsistência de seu enfoque, uma vez que não relevo a política e sim
a poética. Neste território sagrado é indiscutível a contribuição de Cuadra (1912),
que renovou todo um cenário literário em seu país, seja na poesia, no teatro ou
no ensaio. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>RSL</b> Qual foi o entrevistado
mais arredio? Teve alguma decepção? Um poeta ou escritor que se revelou aquém de
suas expectativas intelectuais?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> A leitura do livro mostrará
que os verdadeiros poetas não se furtam ao diálogo. Não há, portanto, nenhuma passagem
em que se verifique uma postura arredia. Conversamos claramente sobre os diversos
assuntos colocados em pauta. Tomei o cuidado de fazer com que, de alguma maneira,
todos participássemos do livro como um todo. Neste sentido, teci uma extensa rede
de citações, um entremeado de referências que iam ligando cada entrevista às demais,
repetindo propositadamente algumas indagações, buscando um entrelaçamento das diversas
opiniões, para que assim o livro tomasse uma consistência maior. Não houve, como
indagas, decepção alguma. O livro está repleto de notáveis satisfações. O crítico
espanhol Jorge Rodríguez Padrón me escreveu dizendo que tracei “um panorama da poesia
menos habitual, e portanto da mais necessitada de leitura”, completando: “para que
vejam os experts que nem tudo começa e acaba nos quatro de sempre”. Este feliz espaço
de comunhão, por assim dizer, não teria mesmo como permitir a decepção. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>RSL</b> Qual a diferença de uma
entrevista por e-mail ou carta e a cara a cara?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Não há diferença alguma.
Tudo irá depender sempre da postura das duas partes envolvidas. Evidentemente que
há sempre uma possibilidade de maior reflexão no texto escrito, ao contrário do
imediatismo da resposta falada. Por outro lado, há aqueles que defendem que no primeiro
caso se perde a espontaneidade. Não creio que o leitor sério esteja interessado
apenas na espontaneidade de uma entrevista. A mim interessa sobretudo a reflexão
que ela possa propiciar. Mas isto também se pode conseguir em uma entrevista ao
vivo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>RSL</b> Os poetas têm espaço devido
na mídia?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Jamais terão. Há uma incompatibilidade
clara entre a Poesia e toda forma de massificação de valores. Nem creio que seja
exatamente a este tipo de situação que os poetas aspiram. Claro que tua pergunta
indaga mais sobre o reconhecimento público do trabalho poético. Mesmo aí, quando
observada melhor a circunstância em que se dão algumas evidências, compreendemos
que sua raiz não é justamente a do reconhecimento, mas antes a do manejo hábil com
a matéria em questão. De uma maneira geral, a mídia não pode mesmo esboçar reconhecimento
algum pela Poesia. Nem mesmo é esta sua tarefa usual. A Poesia implica concentração,
recolhimento, iluminação, ao passo que a mídia tem-se mostrado empenhada na dispersão
e distorção de valores, ou seja, é mero obscurantismo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>RSL</b> Qual é o melhor caderno
cultural brasileiro?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Seria irresponsável uma
resposta tão a seco, e nada traria de construtivo a essa discussão. Em um país imenso
como o nosso, devemos observar também aqui com uma lente mais ampla. Há os jornais
que circulam em todo o país, ao mesmo tempo em que aqueles de circulação restrita
à região em que atuam. Entre eles muitos possuem suplementos culturais. Cada um
a seu tempo, dentro das circunstâncias da empresa jornalística a que estão vinculados,
buscam realizar um trabalho digno. Para não deixar de mencionar nomes, posso citar
alguns destes suplementos: Pensar, do Correio Brasiliense (DF), Cultura, do Jornal
da Tarde (SP), Prosa & Verso, de O Globo (RJ), A Tarde Cultural, de A Tarde
(BA), Viver, do Diário de Pernambuco (PE), Sábado, de O Povo (CE). Não há importância
alguma em se discutir qual seja o melhor. Antes importa assinalar que uma distorção
conceitual entre cultura e entretenimento faz com que alguns suplementos culturais
mais se pareçam com os chamados cadernos de variedades. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>RSL</b> Quem é mais importante:
o poeta Floriano ou o jornalista?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Não existem essas duas figuras
ou quaisquer outras. Sou essencialmente poeta. Não sou jornalista de profissão.
O trabalho jornalístico (artigos, resenhas, entrevistas etc.) surge como uma opção
de reflexão crítica em torno da produção cultural de meu tempo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>RSL</b> Como surgiu o poeta? Quais
são as suas influências?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Poetas surgem do nada, de
um mesmo magma escaldante de onde surge todo artista. Da plenitude negra do mistério.
Não surgem essencialmente de textos ou desejos alheios, embora se alimentem de ambos.
São naturalmente a grande soma de todas as vertigens, porém só firmam sua voz ao
distingui-la das demais. Há um elo mágico entre o poeta e a biblioteca. Não a biblioteca
imaginária, mas antes a real, que é composta de suas leituras, de suas identificações.
Poetas herdam sempre algo de perdido. São uma invisível ponte entre as inúmeras
instâncias imperceptíveis do cotidiano. Pegam, escutam, cheiram, ouvem, vêem. Claro
está que minha poesia encontra-se impregnada de todas as substâncias que compõem
os sentidos humanos. Posso particularizar algumas identificações – a exemplo das
canções interpretadas por Agostinho dos Santos, Dolores Duran ou Nat King Cole,
que meu pai ouvia durante minha infância; minhas leituras das tragédias de Shakespeare
e alguns romances de Dostoievski, sobretudo Crime e Castigo; ou mesmo a paixão que
me despertaram pouco depois as obras de Goya, Dürer, Velázquez, Brueghel e Bosch
–, mas a verdade é que essas identificações não funcionam em isolado, nem tampouco
podem dispensar a vivência humana, ou seja, o entremeado de sentimentos de que somos
feitos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>RSL</b> Como é o seu processo
criativo?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Já os poemas não surgem
do nada. Têm sua origem em algo bastante concreto: a busca de identificação do criador
consigo mesmo – isto evidentemente não quer dizer a tessitura de uma camisa-de-força
da egolatria – e não se realizam senão na condição de objetos de linguagem. Interessa-me
unicamente uma escritura de exceção. Não creio em arte de escolas, assim como desprezo
os epigonismos de toda ordem. Não se pode criar nada sem que se imponha alguns desafios.
Toda a discussão atual em torno de pós-isto ou aquilo não justifica senão uma debilidade
estética contagiante, o mesmo que essa obsessão pelo resgate de alguma instância
perdida. Passado ou futuro devem ser guiados por princípios mais sugestivos. O processo
criativo de um poeta não justifica a qualidade de uma obra de arte. Apenas ilustra
seu entorno. Há os que escrevem mascando cravo, os que se encharcam de uma droga
qualquer, os obsessivos pela realidade, aqueles cuja pena é movida unicamente pelas
desventuras amorosas, os que não dispensam a presença de um metrônomo etc. Tudo
isto ajuda a compor a mitologia em volta do poeta. Não mais que isto. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>RSL</b> Você vive de literatura.
Conte-nos um pouco.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Francamente, não sei de
onde se tirou esta ideia. É verdade que não tenho uma profissão paralela (funcionário
público, professor de curso de letras, redator publicitário etc.), porém crio uma
série de afluentes que ajudam a regar o trigo e a cevada. As opções foram por instâncias
que funcionassem como desdobramentos de um universo poético já bastante definido.
A partir daí firmam-se os trabalhos de pesquisa, as traduções, os ensaios, os textos
críticos para imprensa etc. Porém este conjunto de ações implica uma série de riscos.
O mais acertado, ao menos no momento, seria dizer que estou vivendo de riscos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>RSL</b> Os grandes polemistas
morreram. A polêmica morreu. Faz falta?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Não creio nesses obituários
inconseqüentes. É claro que estamos nitidamente enfrentando uma entressafra, sobretudo
de valores. Ao mesmo tempo, somos avassalados por alguns impérios parasitas de meros
catalogadores de plantão. A polêmica pertence ao reino do diálogo e não da exposição
barata de preconceitos ou à vulgaridade da espetacularização das fraquezas humanas.
Em uma época em que a transgressão tornou-se uma falácia banal, o polemista pode
naturalmente ser confundido com o moralista, o conservador, o careta. Possivelmente
esta confusão terá alguma participação em uma característica bastante peculiar de
nossa sociedade contemporânea: a inação. Vivemos em um estado pleno de diluição
de valores, onde passado e futuro não se tocam, pela simples razão de que não há
compromisso com o presente. Vivemos em um estado de congelamento da história. A
humanidade posta em freezer. Não é exatamente o polemista que faz falta. Faz falta
essencialmente recuperarmos nossa vontade de viver. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>RSL</b> Por que a crítica literária
migrou para as universidades? Qual a importância da teoria literária?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Não vejo isto exatamente.
Ao que parece estamos de volta ao universo da mera catalogação. Claro que há uma
ambientação acadêmica algo rançosa que empobrece toda discussão crítica. Poderíamos
chamar a isto de síndrome do viés, aquela retórica risível da “questão de… passa
por”. Contudo, há uma forma inteligente de discurso, sobretudo quando busca fundar-se
no diálogo, no exercício de abrir-se à experiência alheia, à voz do outro. Pode-se
dizer da universidade que tenha erguido muros que a impedem de relacionar-se com
o restante da comunidade que efetivamente a sustenta. Por outro lado, escritores
também são dados a fundar guetos, ao mesmo tempo em que igualmente perderam um norte
crítico, no caso acentuadamente autocrítico. O que um perde acaba sobrando para
que a outra faça dele o pior uso. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>RSL</b> O Nordeste produz uma
poesia de qualidade. O que falta para torná-la ainda mais conhecida? Como vê a internet?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Não me agrada o que há por
trás disto de se dizer que o Nordeste produz uma poesia de qualidade e que não é
conhecida ou reconhecida. Isto pode conduzir àquele nocivo sentido do pária sem
fundamento, do enjeitado, do ‘tadinho’. Sem falar nos riscos de um redutor ideário
regionalista. Creio que é bem conhecida a poesia de João Cabral de Melo Neto, Gerardo
Mello Mourão ou Sebastião Uchoa Leite. Se há casos de desconhecimento ou falta de
reconhecimento, isto não se dá exatamente pelo fato de se ser nordestino ou sulista.
Quando surgem compilações da poesia de Joaquim Cardozo ou Raul Bopp tudo nos parece
um espanto. E quase nada sabemos da poesia de Henriqueta Lisboa, Augusto Meyer e
Américo Facó. Isto se dá, antes de qualquer outra coisa, pelo simples fato de que
o país se desconhece a si mesmo. E não me refiro unicamente a (falta de) atitudes
governamentais. Somos dados a transferir responsabilidades. É nossa herança cabralina.
Adoramos mandar ou por a culpa nos outros. Governos devem cuidar de um mínimo de
administração pública. Poetas, de um mínimo de administração poética. E há também
papéis fundamentais a serem desempenhados por editores, críticos literários, jornalistas
etc. Se tudo é bem comum, então cuidemos de cada coisa com igual zelo. Nossos governos
são tristes e não trocam uma lâmpada de praça sem interesse próprio. De uma certa
forma, os poetas brasileiros também agem assim. Enquanto não aprendermos a ouvir
o outro, nenhuma internet nos salvará. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>RSL</b> Qual o futuro do objeto
livro?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Creio que a melhor felicidade
que se pode alcançar em um livro é a da identificação com seu universo. Descobrir
afinidades entre si e a leitura de um livro é um momento de extrema grandeza. Assim
o é com qualquer outra forma de convívio, de doação, de diálogo. Não entendo porque
nos preocupa tanto o futuro do objeto livro e não mencionamos o futuro de nossa
própria humanidade. O livro não é determinante desta e sim o contrário. Se mantivermos
uma garantiremos a perenidade do outro, assim como de quaisquer objetos que sejam
sua expressão verdadeira. Toda discussão fora deste plano me soa como um catastrofismo
vulgar. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>RSL</b> Você detectou inveja no
meio literário e mostrou isto através de um ensaio. A inveja tem cura? Neste mesmo
ensaio você pede união. Isto é possível?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Naquele meu artigo (“A inveja,
essa Ibijara”, publicado no suplemento <i>Sábado</i>,
do jornal <i>O Povo</i>, em 11/01/97, e que estou
recolhendo agora em livro) denunciei a presença da inveja e da presunção como duas
gritantes características negativas do cearense. Isto reflete uma baixa cultura
e uma carência alarmante de auto-estima. Naquela ocasião me escreveram algumas pessoas
dizendo que estas não se tratavam de características essencialmente cearenses. Isto
é claro, porém entre nós elas são por demais imperativas. A inveja é um desejo desmedido
pelo que nos é alheio. Só se justifica, portanto, em quantos não se conhecem a si
mesmos. A presunção, por sua vez, é uma forma de desprezo pelo alheio, justamente
por falta de autocrítica. Em um caso cobiçamos aquilo que não sabemos ao certo se
temos ou não, enquanto que no outro nos supomos aleatoriamente superiores, sendo
ou não. Daí que nossa grandeza é a medida do que se tem e nunca do que se é. Nisto
de adorarmos o alheio, acabamos não identificando nossos reais e vitais valores
e só os reconhecemos em segunda mão. Se há cura para a inveja? Esbocemos uma aparente
digressão. Há pouco tempo, uma campanha movida pelos Correios em Brasília fez com
que os carros parassem diante das faixas de pedestre. Uma outra campanha reduziu
bastante o cruzamento indevido de sinal vermelho em Salvador. Talvez pudéssemos
descobrir uma maneira de fazer com que cearenses reduzissem o volume da música em
sons de carro, bares etc. Assim como candangos ou baianos, cearenses precisam ser
ensinados a ouvir o outro. A cidade de Fortaleza é uma cidade imperativamente ruidosa.
Como sabemos, o ruído interfere na comunicação. Talvez esta tenha que ser nossa
grande campanha, a de redução do ruído a um nível aceitável, de maneira que a reabsorção
do silêncio nos ensine a percepção do que está dentro de nós e à nossa volta. Se
aparentemente embaralho os assuntos, isto se dá porque vejo todas essas coisas muito
interligadas. Se escrevo um poema, publico um livro, assino um texto na imprensa,
traduzo outro poeta etc., estas são formas de compromisso. Tenho que estar ciente
do que faço, assim como do que se faz ao meu redor. Não pode então haver espaço
para inveja, presunção ou qualquer outro aspecto redutor. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>RSL</b> Qual a principal característica
da poesia cearense?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Não há isto. Não há a “principal
característica” da poesia tailandesa ou da peruana. Devemos abominar toda forma
de regionalismos ou nacionalismos. A princípio, não há uma poesia cearense, mas
antes, bem antes, uma poesia feita no Ceará. O poeta está aqui, sendo ou não daqui,
identifica-se com esta ou aquela circunstância, nada mais. Basta imaginar dois casos
pertinentes: Gerardo Mello Mourão e Francisco Carvalho. O que ambos têm em comum?
Este tipo de falsa identificação pertence ao mundo escolástico, aos manuais ou cartilhas
similares. Há uma poesia sendo escrita hoje no Brasil que muito se assemelha a esta
ambientação retórica das cartilhas. Se observarmos bem, temos hoje uma poesia que
é refém absoluta de uma imagem. Costumo dizer, a título de boutade, que se tirarmos
o vaso de plantas da janela cai por terra grande parte da poesia que se escreve
hoje no Brasil. Além disto, perdemos o radical da identidade da voz poética. Se
embaralharmos os poemas em uma dessas ocasionais mostras em periódicos nacionais,
ninguém dará pela troca de autores. Não há mais voz poética, e sim uma mera articulação
de sintomas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>RSL</b> Estamos além do moderno.
No pós-moderno, onde está a novidade? Qual a novidade?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Não, não. Não estamos além
do moderno. Já é um milagre estarmos nos mantendo na modernidade. Temos andado para
trás. A modernidade implica uma ampliação de diálogo. O moderno significa abrir-se
à compreensão do outro. Uma arte que seja mais abrangente, e que isto não se limite
a uma pecha meramente estatística. Creio que o Surrealismo – acima dos ismos de
quermesse – imprime o grande sentido de modernidade, na medida em que recusa toda
forma de catalogação. No entanto, a amplidão proposta pela modernidade desandou
em um desnorteamento, coincidindo com uma série de outras quedas de valores no decorrer
desta fatia final do século. Não há uma novidade propriamente dita, no sentido corrosivo
em que este termo se encaixa hoje. As verdadeiras novidades não se anunciam. Elas
vão se dando bem além de nossa conta. Quando leio um poeta como o irlandês Seamus
Heaney, vejo ali uma modernidade fundada justamente no diálogo que mantém com a
tradição, no caso a literatura celta. É preciso entender que a modernidade não é
um caderno de receitas. Não vamos alcançá-la recortando o verso segundo orientações
terceiras. O moderno será o reflexo de nosso diálogo com o mundo. Não há novidade.
Nunca houve novidade. O que há são desdobramentos e não são visceralmente o cerne
da questão. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>RSL</b> O que mais lhe agrada
em um poema?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Semanas atrás, quando estava
em São Paulo, fui ver a estreia do filme <i>Kenoma</i>,
de Elianne Caffé. Saí dali irritado pelo fato de que apenas uma das partes havia
funcionado. É excepcional ver como o ator José Dumont extrai leite das pedras. O
mesmo se dá na encenação de Jeromy Irons na versão cinematográfica de Adrien Lyne
para o romance <i>Lolita</i> de Nabokov. Não
há soma, não há abrangência de recursos. Aspectos como roteiro ou definição de personagens,
isto nos parece não ir além de uma falácia ordinária. No entanto, não se pode sair
de uma sessão de cinema dizendo “oh que maravilhosa fotografia”, como uns hippies
abestados ecoavam ao final dos anos 70. Se leio um poema e tenho a impressão que
a ausência de José Dumont ou de Jeromy Irons pode liquidar com seu valor aparentemente
intrínseco, então não estou lendo nada. Não se trata de uma demagogia da forma,
mas antes de uma essencialidade de valores constitutivos de uma expressão artística.
Então o que me agrada em um poema é sua completude, sua ousadia por abranger, a
um só tempo, as inúmeras estações de que é feito. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>RSL</b> Qual o papel do ensaísta
para a literatura?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Suponho que indagues pela
função da crítica. Neste sentido, prefiro valer-me do que já havia dito em um artigo
meu justamente sobre a crítica literária no Brasil, publicado no jornal <i>O Povo</i> (15/03/98). Assim começava aquele
texto: “Disse Heine que o historiador é aquele que profetiza o que já aconteceu.
Borges nos lembra que é desta difícil arte de adivinhar o passado que surgem as
histórias da literatura. A estimativa do valor de uma obra não pressupõe um equívoco.
O crítico espanhol Jorge Rodríguez Padrón refere-se à revelação de uma 'quietude
sacramental' que centraliza toda inquietude da escritura poética como sendo o 'ofício
sagrado' da crítica. Ou seja, não uma crítica que domine (detenha) o sentido de
uma obra, mas que o habite, que se permita fazer parte dele. Não há a determinação
do sentido e sim sua celebração. A crítica literária não pode aspirar a ser uma
sentença. Trata-se, a bem da verdade, de um exercício de perplexidades. O crítico
tem que descobrir a mesma trilha singular do objeto de sua crítica. Seguir as pistas,
investigar ideias, formas, técnicas. Em última instância, estabelecer um diálogo
com o texto.” Eis o que penso. <span style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">[1998]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 8pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">[Entrevista concedida a Rodrigo de Souza Leão.
Originalmente publicada na revista eletrônica <i>Balacobaco</i>,
setembro de 1998. Disponível para consulta em: <a href="http://www.gargantadaserpente.com/entrevista/florianomartins.shtml">www.gargantadaserpente.com/entrevista/florianomartins.shtml</a>.
Integra o livro <i>O hábito do abismo
(Entrevistas com Floriano Martins)</i>, de Márcio Simões (ARC Edições:
Fortaleza, 2013).]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
http://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/http://www.blogger.com/profile/15464755224800829626noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5262314379244716711.post-25631854690290985282014-10-04T18:30:00.000-07:002014-10-04T18:30:45.888-07:00A FAVOR DO CONTRA | Entrevista a Lira Neto<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-oE-IB1F7GTg/VDCezcCJ6dI/AAAAAAAABK0/k2-1Zat6EXA/s1600/%5BFoto%5D%2B1998%2BFortaleza%2B03.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-oE-IB1F7GTg/VDCezcCJ6dI/AAAAAAAABK0/k2-1Zat6EXA/s1600/%5BFoto%5D%2B1998%2BFortaleza%2B03.jpg" height="157" width="200" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 14.2pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Ele largou a escola aos 16
e nunca mais entrou em uma sala de aula. Independente por vocação, jamais colocou
os pés numa universidade: estabeleceu para si próprio um rigoroso projeto de estudo,
enquanto devorava toda a literatura que podia encontrar pela frente. Autodidata,
o ensaísta, poeta e tradutor cearense Floriano Martins, 42 anos, tem hoje um generoso
currículo de publicações nos principais países de língua hispânica. Colaborador
sistemático de jornais e revistas literárias da Espanha e América Latina, Floriano
diz construir seu nome à margem das “igrejinhas intelectuais cearenses”. Nesta entrevista
ao <i>Sábado</i>, ele justifica sua fama de polemista
e enfrenta a unanimidade de meio mundo das letras ao sol. [<b>LN</b>]<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>LIRA NETO</b> Você sempre optou por uma
carreira literária à margem das principais igrejinhas literárias cearenses. O que
você lucrou, perdeu ou deixou de ganhar com este tipo de atitude?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FLORIANO MARTINS</b> De uma maneira geral, não
tenho nada a reclamar do meu isolamento em relação ao chamado <i>status quo</i> da literatura cearense. Esse “isolamento”
foi necessário para a elaboração de dois projetos fundamentais: a definição de um
projeto poético e, sobretudo, de um projeto ensaístico, que demandam um tempo enorme
de trabalho e pesquisa. Além disso, minha natureza não é muito dada ao universo
de festejos a que está vinculado o poder literário. O que me soa estranho é que,
quando tento me posicionar a respeito de uma ou outra circunstância da literatura
cearense contemporânea, sou considerado “o magoado”, “o ressentido”, “o resmungão”,
“o provocador”. Mas eu mesmo busquei esse isolamento. Não me sinto alijado de coisa
nenhuma. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>LN</b> Foi justamente esse isolamento
em relação ao meio literário local que o levou a buscar outros interlocutores, a
travar esse dialogo com a literatura hispano-americana, por exemplo?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Se o objetivo fosse fugir
daqui, seria muito mais fácil pra mim buscar o dialogo com a literatura francesa,
inglesa ou norte-americana. Isso me facilitaria muito mais a vida. Mas fui mexer
justamente com o universo mais obscuro de todos, o da literatura hispano-americana.
Inquieta-me o fato de sermos absolutamente desconhecidos entre nós mesmos, apesar
de estarmos todos dentro do mesmo continente e termos sido vítimas do mesmo processo
histórico de colonização.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>LN</b> Qual a importância da poesia
latino-americana no quadro da literatura universal contemporânea? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Seja nos EUA ou Europa,
não há hoje exemplo de uma poesia tão renovada e reveladora quanto a hispano-americana.
Tanto temática quanto estilisticamente ali se produziu uma multiplicidade de vozes
que não encontra correspondência em nenhum outro círculo poético. E o pouco que
conhecemos caiu nas mãos de péssimos tradutores ou teve uma leitura descontextualizada.
Grave exemplo é o livro <i>Pedra de Sol</i>,
do mexicano Octavio Paz, um dos marcos da poesia hispano-americana, que foi criminosamente
depredado por um cidadão chamado Horácio Costa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>LN</b> Quando não são depredados
são simplesmente ignorados… <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> É inadmissível que não se
encontre entre nós, por exemplo, a tradução da poesia de José Lezama Lima, embora
se comente muito sobre o barroco hispano-americano e até mesmo tenhamos inventado
um tal de “neobarroco”. Haroldo de Campos acredita ter escrito o que chama de um
“manifesto da estética neobarroca”. Ora, o barroco é a grande singularidade estética
da poesia hispano-americana, desde sua origem. Uma linha que vem do barroco ao surrealismo
– fortalecida pela supremacia da mestiçagem – define esta poesia de maneira notável
e transcendente. Não há “neobarroco”, a não ser como limitação, como uma das formas
de nossa obsessão escolástica. A poesia dispensa o “neobarroco”. Tal delimitação
pertence à vila dos acadêmicos e à horda anêmica de subpoetas que tanto prolifera
entre nós.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>LN</b> Atualmente, o escritor Bruno
Tolentino vem alimentando uma acirrada polêmica nas folhas dos principais jornais
e revistas brasileiras, ao tentar dessacralizar algumas unanimidades intelectuais
brasileiras. Você concorda com as teses de Tolentino?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Tolentino não passa de uma
estratégia autopromocional. É preciso ser ingênuo para não perceber isso. Bruno
não tem absolutamente nada a apresentar em contrapartida ao que reclama. Seus dois
livros de poesia, sobretudo o segundo, são lastimáveis. Mas o que interessa discutir
neste episódio é o quanto Tolentino conseguiu perturbar o cenário intelectual brasileiro.
Nisso, ele e suas polêmicas são saudáveis e trazem grande utilidade. Como quando,
por exemplo, conseguiu provocar – ou revelar – uma atitude extremamente baixa de
quem até então era um monstro sagrado, o senhor Augusto de Campos. Para responder
às provocações de Tolentino, Augusto gerou um abaixo-assinado ridículo, com assinaturas
de artistas e intelectuais a seu próprio favor. Isso, no máximo, só conseguiu mostrar
o estado de indigência em que o fundador do Concretismo se encontra. Ou pouco mais
que isso: revelou o estado da dependência intelectual brasileira em relação a nomes
intocáveis. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>LN</b> Recentemente, aqui mesmo
no <i>Sábado</i>, você assinou uma resenha crítica
pegando pesado na antologia <i>Poesia Cearense
no século XX</i>. Em entrevista na semana passada ao <i>Vida & Arte</i>, o escritor Assis Brasil (organizador da antologia)
rebateu de forma virulenta a resenha. Até que ponto seu artigo também não poderia
ser considerado apenas uma “estratégia autopromocional”? Você está querendo ser
o “Tolentino do Ceará”?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Há uma delicada diferença.
(Pausa longa). Do ponto de vista jornalístico, os dois fatos até não parecem diferentes.
Mas são duas circunstâncias. Reclamei, de forma objetiva, da falta de idoneidade
crítica, no preparo de uma obra que, de uma maneira ou de outra, define um perfil
da literatura cearense. Já Tolentino é apenas uma personagem de quermesse, de gincana.
Isso ficou claro desde o início, quando ele afirmou que traduzia melhor que Augusto
de Campos. Ele não reclamou de alguém por ser mal tradutor, mas disputou qualidade
de tradução. Se deu mal: apresentou ao público algo tão ruim como a tradução do
Augusto. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>LN</b> Como você classifica a reação
de Assis Brasil à sua resenha?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> A reação de Assis Brasil
foi infinitamente menor de que a de Augusto de Campos. No entanto, posso afirmar
que as duas têm o mesmo princípio. Os dois são pessoas acostumadas a viver no Olimpo,
cercadas de bajuladores, onde ninguém os questiona de nada. Ora, o mais importante
para se manter o padrão de uma cultura é justamente o questionamento. Caso contrário,
cultura vira cristalização. E isso não interessa a ninguém. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>LN</b> Você tem preparada uma antologia
de poetas latino-americanos, intitulada <i>Mundo
Mágico</i>. Como antologista, que critérios adotaria para não cair nos “equívocos”
de que acusa Assis Brasil?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Toda antologia corre riscos.
No fundo, livros desse tipo acabam caindo na tentação de se basear em critérios
estritamente pessoais. Veja só: 75% dos poemas que Assis Brasil colocou na antologia
são sonetos, sua preferência em poesia. Só a título de exemplo: ele representou
minha obra com dois sonetos. E posso ser tudo na vida, menos sonetista. Outra falha
visível: o desconhecimento de seu objeto de pesquisa. Colocou por exemplo José albano
como parnasiano, tudo o que Albano não foi. Albano foi, na verdade, nosso único
grande momento simbolista. Entenda: não reclamo dos equívocos naturais e comuns
à maior parte dos antologistas. O que reclamo é do fato de Assis Brasil não ter
definido criteriosamente o que estava avaliando. É como se ele não soubesse realmente
do que estava falando. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>LN</b> E quem entraria em sua lista
de bons poetas cearenses?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> A poesia cearense começa
pra valer com José Albano. Logo em seguida, há dois poetas que não podem ser esquecidos:
Edigar de Alencar e Sidney Neto, embora não tenham a mesma dimensão que Albano.
Mas creio ser indiscutível situar o Clã, na década de 40, como o ápice de nossa
história literária, mais especificamente na poesia. Posterior ou simultaneamente
a isso, nada mais, exceto as presenças isoladas de Gerardo Mello Mourão, Francisco
Carvalho e José Alcides Pinto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>LN</b> Estes teriam livre conduto?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Sim, mas cada um tem lá
seus problemas. O carvalho repete-se muito, o que tem o peso de um grande desgaste
na leitura conjunta de sua obra. Quanto ao Alcides, sempre padeceu de uma oscilação
incrível. Mas acaso Drummond também não incorreu no desgaste da repetição, ao ponto
de diluir-se por completo em seus últimos livros? Outro autor que também considero
importante é Adriano Espínola, com seu <i>Lote
Clandestino</i>. Um livro que se insurge, com sua linguagem cosmopolita e uma notável
ironia, contra a estética do cangaço, contra essa obsessão cordelista, que impera
em nossa poesia, cujo maior prejuízo foi haver adotado Patativa do Assaré como uma
expressão poética nacional. A meu ver, o Adriano seria o único poeta de minha geração
que se deveria citar. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>LN</b> Você não considera extremada
a afirmação de que não tenha surgido praticamente nada depois do Clã? Em seu artigo
você afirmava, por exemplo, que não sobrou nada da Geração Siriará…<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Insisto na mesmíssima pergunta
do artigo: o que deixou o tal Siriará, senão uma revista circunstancial em torno
de uma reunião da SBPC, uma peça de teatro também montada em torno da mesma circunstância
e, sobretudo, um manifesto que não se manifesta sobre nada? O que o Siriará deixou
de obra para que alguém possa fazer sua defesa? Absolutamente nada. O Siriará foi
outra circunstância autopromocional. Aquilo interessava a todos. É o mesmo caso
do grupo SIN. Alguém me responda: o que a poesia de Horácio Dídimo ou de Roberto
Pontes representa, pelo menos, no nível mínimo dos poetas municipais?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>LN</b> No final do ano passado,
uma antologia da poesia brasileira dos anos 60, organizada pelo cearense Pedro Lyra
e publicada no Rio de Janeiro, também rendeu alguma polêmica, pelo menos nas páginas
do <i>Jornal do Brasil</i>. Você conhece o livro?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Essa antologia do Pedro
Lyra peca na sua própria concepção, ao inventar uma geração que não existe. Certa
vez, para justificar a existência de um cidadão chamado Carlos Nejar, a ensaísta
Nelly Novaes Coelho referiu-se a uma suposta “Geração <st1:metricconverter productid="60”" w:st="on">60”</st1:metricconverter>. Essa coisa ganhou corpo e um
bando de gente que não tinha onde se meter na história da literatura brasileira
acabou tratando de arranjar seu lugarzinho nela. No grande prédio chamado Brasil
– e sabe-se lá quem é o síndico disso – exige-se carteirinha e crachá de acesso
para todo mundo. Inventam-se departamentos do nada, como essa tal “Geração <st1:metricconverter productid="60”" w:st="on">60”</st1:metricconverter>, que é o crachá que o Pedro
Lyra arranjou para entrar na literatura brasileira. Ele inventou um andar inteiro
no prédio para poder entrar. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>LN</b> O que significa sua afirmação
de que não existiu a “Geração <st1:metricconverter productid="60”" w:st="on">60”</st1:metricconverter>?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> A falha do Pedro é considerar
que a poesia brasileira se tornou outra após o golpe de 64. Isso é uma piada. A
nossa indigência cultural é muito anterior a <st1:metricconverter productid="64. A" w:st="on">64. A</st1:metricconverter> gente vive querendo gancho
para alguma coisa e o golpe foi o gancho que arranjamos para justificar a inação
crônica da cultura brasileira. Recentemente, na revista da Academia Brasileira de
Letras, Domingos Carvalho Silva faz referência ao fato de que não existe geração
literária sem a presença de manifestos e inimigos literários. Assim, a Geração de
45 seria o último marco geracional da literatura brasileira, por mais que alguém
possa se insurgir estilisticamente contra ela. Carvalho Silva está certo. O que
põe por terra a tese de nosso Pedro Lyra. Uma tese acadêmica, que por sinal – é
bom que se diga – só não foi reprovada na banca da UFRJ por uma simples questão
de afeto. Ele <i>passou raspando</i>, com a menor
nota permitida para aprovação.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>LN</b> Você é um autodidata, que
aos 16 anos abandonou a escola e nunca chegou à universidade… Você considera que
por isso exista alguma lacuna na sua formação?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>FM</b> Pelo contrário. Ora, o grande
problema hoje é que a literatura foi tomada pela universidade. É isso que está gerando
uma série de equívocos do que de fato seja a evolução poética no Brasil. Os acadêmicos
estão criando uma leitura distorcida da realidade da literatura no Brasil. A universidade
é prejudicial à poesia. <span style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">[1996]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="font-size: 8pt;">[Entrevista
concedida a Lira Neto. Originalmente publicada no</span><span style="font-size: 8pt;"> suplemento <i>Sábado</i>, do jornal <i>O Povo</i>.
Fortaleza, 30/03/1996.</span><span style="font-size: 8pt;">
Integra o livro <i>O hábito do abismo
(Entrevistas com Floriano Martins)</i>, de Márcio Simões (ARC Edições:
Fortaleza, 2013).]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
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